A visita de Carney à Casa Branca ocorre em pleno conflito comercial entre os dois países, que se junta às ameaças de Trump de anexar o Canadá como o 51º estado dos EUA.
O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, anunciou na sexta-feira que vai reunir-se com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca, na próxima terça-feira.
A próxima visita de Carney surge no contexto dos atuais conflitos comerciais entre os dois países, juntamente com as ameaças de Trump de anexar o Canadá como o 51º Estado dos EUA.
"Na terça-feira, tive uma conversa muito construtiva com o presidente Trump e concordámos em reunir-nos na próxima terça-feira em Washington", disse Carney. "O meu governo vai lutar para conseguir o melhor acordo para o Canadá".
"Estamos a reunir-nos como chefes do nosso governo", sublinhou Carney, acrescentando que não estava a "fingir que essas discussões seriam fáceis".
Na segunda-feira, o Partido Liberal de Carney registou uma vitória impressionante numa eleição parlamentar federal que foi vista em grande parte como uma resposta a Trump, cujo conflito comercial e críticas à soberania canadiana irritaram o eleitorado.
Os liberais obtiveram 168 dos 343 lugares na Câmara dos Comuns do Canadá, o que lhes permite estabelecer um governo minoritário, embora não tenham atingido os 172 lugares necessários para uma maioria.
Após a noite das eleições, Carney afirmou que os canadianos elegeram um novo governo para se opor a Trump e construir uma economia forte.
O presidente do Parlamento canadiano afirmou ainda que a próxima visita do Rei Carlos III lhe permitirá proferir um discurso sobre as prioridades do Governo canadiano no dia 27 de maio, data em que o Parlamento canadiano será retomado.
"Isso sublinha claramente a soberania do nosso país", disse Carney sobre a próxima visita, em comentários dirigidos ao apelo repetido de Trump para que o Canadá seja o 51º estado dos EUA.
O monarca britânico é o chefe de Estado do Canadá, membro da Commonwealth britânica das antigas colónias.
A Rainha Isabel II pronunciou o discurso duas vezes, em 1957 e 1977.
A velha relação entre o Canadá e os EUA acabou?
Desde que se tornou Primeiro-Ministro, após a demissão de Justin Trudeau, Carney tem destacado as nações fundadoras do Canadá, o Reino Unido e a França. Repetiu que a antiga relação com os Estados Unidos, baseada numa integração cada vez maior, chegou ao fim.
Não foi a primeira vez que Carney se manifestou nesse sentido. Já tinha dito anteriormente que o período de 80 anos em que os EUA abraçaram o manto da liderança económica mundial e forjaram alianças baseadas na confiança e no respeito mútuo tinha terminado.
Enquanto Trump gozou com o antecessor de Carney, Justin Trudeau, chamando-lhe Governador Trudeau, não gozou com Carney e, em vez disso, descreve-o como "o menos odiador de Trump". No entanto, alguns analistas acreditam que isso pode não contar muito a favor de Carney.
Segundo Robert Bothwell, professor de história canadiana e de relações internacionais da Universidade de Toronto, a visita de Carney a Washington foi mal aconselhada, porque se arrisca a que Trump insulte o Canadá e também a ele.
"Não há absolutamente nenhuma razão para o fazer. Não se pode negociar com Trump. A palavra dele não é o seu vínculo. É como escrever na água de uma lagoa, uma lagoa nojenta. Não temos nada a ganhar", disse Bothwell.
Novo governo tomará posse a 12 de maio
Entretanto, dias depois de os canadianos terem votado nos liberais para um quarto mandato, Carney delineou na sexta-feira as prioridades do seu novo governo, que tomará posse a 12 de maio.
"Agora que as eleições terminaram, estamos a viver uma crise única na vida. É altura de nos unirmos, vestirmos as camisolas da Equipa Canadá e ganharmos em grande", afirmou Carney.
"Agora é tempo de ambição, de ousadia, de enfrentar esta crise com a força esmagadora e positiva de um Canadá unido."
O novo primeiro-ministro declarou que tenciona convocar imediatamente eleições num determinado distrito se a oposição conservadora desejar que Pierre Poilievre, que não ganhou o seu próprio lugar nas eleições, se candidate a uma eleição suplementar para garantir um lugar na Câmara dos Comuns.
"Nada de jogos, nada disso", disse Carney.
Pouco depois, o Partido Conservador anunciou que um atual membro conservador do Parlamento de Alberta se demitiria para que Poilievre pudesse concorrer nesse distrito.
Carney, antigo governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra, considerado um novato na política, disse que teve uma conversa construtiva com Poilievre sobre a estratégia do Canadá em relação aos americanos.
"Estou na política para fazer grandes coisas, não para ser grande", disse Carney.