O ressurgimento dos liberais canadianos, que começou com a presidência de Donald Trump, parece tê-los reconduzido ao poder.
Os primeiros resultados das eleições gerais canadianas indicam que o primeiro-ministro Mark Carney deverá formar governo, o culminar de uma reviravolta impressionante nas perspetivas políticas do seu Partido Liberal, após o fim sombrio do reinado do outrora popular primeiro-ministro Justin Trudeau.
As emissoras canadianas CBC e CTV previram a permanência de Carney no seu cargo, conseguindo uma vitória dramática depois de ter herdado um Partido Liberal que estava a perder nas sondagens por dois dígitos em relação ao Partido Conservador, o principal partido da oposição.
O Partido Liberal superou o seu rival Conservador na Câmara dos Deputados.
De acordo com as projeções, o partido de Carney soma 168 lugares, um pouco abaixo dos 172 necessários para a maioria parlamentar. Os conservadores de Poilievre seguem em segundo lugar, com 144 assentos. Os votos continuam a ser contados e não é claro ainda se Carney terá um governo maioritário ou se terá de procurar apoio entre os restantes partidos.
As eleições marcam também uma derrota desagradável para os conservadores canadianos, que, sob a liderança de Pierre Poilievre, esperavam regressar ao poder até que uma crise diplomática e comercial provocada pela reinauguração de Donald Trump minou drasticamente o apelo de uma viragem populista para a direita.
A popularidade de Trudeau tinha caído a pique nos últimos anos do seu mandato de primeiro-ministro e uma vaga de derrotas em eleições parciais e de demissões de altos funcionários levou-o a anunciar a sua demissão em janeiro deste ano, duas semanas antes da tomada de posse de Trump para o seu segundo mandato.
No entanto, Trudeau respondeu às intensas ameaças de Trump contra o Canadá na fase inicial da sua presidência com uma retórica inesperadamente dura e patriótica que lhe recuperou imediatamente o apoio que tinha perdido.
Carney, antigo governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra, obteve uma vitória esmagadora na corrida para suceder a Trudeau como líder dos liberais e conseguiu aproveitar a onda do aumento dramático do apoio ao partido.
O Bloc Québécois (BQ) deverá ganhar 23 lugares, o New Democratic Party (NDP) 8 lugares, enquanto os Verdes deverão ganhar apenas um lugar.
O fator Trump
Desde que chegou ao poder no final de janeiro, Trump colocou o Canadá na mira. Ele e outras figuras da sua istração começaram a referir-se ao país como o potencial 51º estado dos EUA e ironizaram com o antecessor de Carney chamando-lhe "governador Trudeau".
Trump também ameaçou impor tarifas agressivas sobre vários produtos canadianos que entram nos EUA. Algumas dessas tarifas foram decretadas, enquanto outras foram suspensas ou retiradas pouco antes de entrarem em vigor.
Este facto, combinado com as observações vagas mas ameaçadoras de Trump sobre uma potencial anexação, levou Carney a declarar que a relação entre os dois países aliados tinha mudado fundamentalmente.
"A antiga relação que tínhamos com os Estados Unidos, baseada no aprofundamento da integração das nossas economias e numa estreita cooperação militar e de segurança, acabou", afirmou num discurso proferido a 28 de março.
"É evidente que os EUA já não são um parceiro fiável. É possível que, com negociações abrangentes, possamos restabelecer um elemento de confiança, mas não haverá retrocesso".
Poilievre perde mandato
A derrota dos conservadores não é, porém, a única dor de cabeça para o seu líder.
Segundo aponta uma projeção da CBC News, Pierre Poilievre deverá perder o seu mandato no círculo eleitoral de Carleton, em Ontário.
O conservador segue atrás do liberal Bruce Fanjoy.
Se confirmada a projeção, Poilievre perde o oitavo mandato parlamentar consecutivo.