O líder dos liberais, Mark Carney, fez da ameaça representada pelo presidente dos EUA um elemento central da sua campanha.
Os canadianos vão às urnas esta segunda-feira para votar numa eleição que está a ser interpretada por muitos como um referendo sobre a relação do país com os Estados Unidos, depois de o seu presidente ter desencadeado uma guerra económica e ter mesmo ameaçado anexar o seu vizinho do norte.
As eleições surgem na sequência de um atropelamento mortal no sábado, em Vancouver. O incidente, que causou 11 mortos, levou à suspensão da campanha eleitoral durante várias horas. A polícia excluiu a hipótese de terrorismo e informou que tinha acusado de homicídio um homem com antecedentes de problemas de saúde mental.
No contexto da corrida entre o atual dirigente liberal Mark Carney e o seu rival, o líder conservador Pierre Poilievre, o primeiro centrou a sua campanha na ameaça existencial representada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“Os americanos querem quebrar-nos para nos poderem possuir”, afirmou Carney, num comício na sexta-feira. “Não se trata apenas de palavras. É isso que está em risco.”
A reeleição de Trump e a sua guerra económica revelaram-se uma vantagem para o partido, com a sua retórica beligerante em relação ao Canadá a provocar indignação entre os eleitores e a colocar em desvantagem o candidato conservador, que tem sido comparado ao presidente dos EUA pelo seu estilo populista.
A demissão do presidente Justin Trudeau e a guerra comercial de Trump marcaram uma clara inversão da sorte para os dois partidos, com o apoio aos conservadores a afundar-se, enquanto os eleitores pareciam apoiar cada vez mais os liberais, que anteriormente pareciam destinados a uma derrota histórica.
Carney, antigo diretor do banco central do Reino Unido e do Canadá, ganhou a votação para a liderança do partido por uma esmagadora maioria.
Os conservadores esperavam capitalizar a impopularidade de Trudeau e a crise do custo de vida no país, mas Trump tornou-se a questão dominante.
Os canadianos boicotaram os produtos americanos e as viagens para os Estados Unidos caíram a pique, uma vez que o presidente dos EUA desencadeou uma guerra comercial que levou Otava a impor contramedidas a Washington. Mais de 7,3 milhões de canadianos votaram antecipadamente para o escrutínio desta segunda-feira, batendo recordes.
Ambos os candidatos prometeram renegociar o acordo de comércio livre entre o Canadá e os EUA, para onde vão 75% das exportações do país.
Na semana ada, Trump reiterou as ameaças à soberania canadiana, afirmando que o Canadá “deixaria de existir como país” se os EUA deixassem de comprar os seus produtos.
A questão também voltou a ser abordada no fim de semana, quando o secretário de Estado Marco Rubio foi questionado sobre se Trump pretende anexar o Canadá. “Penso que o presidente tem afirmado repetidamente que acha que o Canadá estaria melhor enquanto Estado” norte-americano, referiu, em declarações ao programa Meet the Press, da NBC, com Kristen Welker.
Carney pediu aos eleitores que lhe dessem um mandato forte para enfrentar as ameaças apresentadas pelo presidente dos EUA à soberania do Canadá. “O presidente Trump tem algumas ideias obsessivas, e essa é uma delas”, mencionou Carney.
“Não é uma piada. É o seu desejo muito forte de fazer com que isso aconteça. É uma das razões pelas quais esta crise é tão grave.”