A notícia surge depois de o enviado para o Médio Oriente, Witkoff, ter afirmado, no início da semana, que estava otimista quanto à possibilidade de se chegar a um acordo para pôr termo a mais de 19 meses de guerra em Gaza.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou ter aceite a proposta do enviado americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, de um cessar-fogo em Gaza e de uma troca de prisioneiros.
"Israel aceita o novo plano de Witkoff", declarou Netanyahu durante uma reunião com as famílias dos reféns detidos pelo Hamas, de acordo com um comunicado divulgado pelo seu gabinete e recolhido pelos meios de comunicação social israelitas.
O membro do gabinete político do Hamas, Basem Naim, disse Reuters que o acordo nao satisfaz “nenhuma das exigências do nosso povo, a principal das quais é o fim da guerra”.
Contudo, a rejeição não é já clara, "a direção do movimento está a estudar a resposta à proposta com toda a responsabilidade nacional”, acrescentou Naim.
O Hamas responderá na sexta-feira ou no sábado, disse uma fonte do grupo palestiniano à Reuters.
Os detalhes da nova proposta não foram tornados públicos, mas Sami Abu Zuhri, alto funcionário do Hamas, disse à Reuters que a mesma não aborda pontos fundamentais para acabar com a guerra em Gaza, como retirar as tropas israelitas do enclave ou permitir que a ajuda entre livremente no território devastado pela guerra.
Witkoff afirmou, no início da semana, que estava otimista quanto à possibilidade de negociar um acordo para pôr termo a mais de 19 meses de guerra em Gaza e garantir a libertação dos reféns detidos na Faixa de Gaza pelo Hamas.
"Estou muito otimista quanto à possibilidade de chegar a uma resolução a longo prazo - um cessar-fogo temporário e uma resolução a longo prazo, uma resolução pacífica do conflito", afirmou na quarta-feira.
O que contém a nova proposta?
Witkoff não divulgou o conteúdo da última proposta, mas um responsável do Hamas e um responsável egípcio confirmaram, de forma independente, alguns dos pormenores.
Falaram sob condição de anonimato para discutir as conversações sensíveis.
Segundo eles, a proposta prevê uma pausa de 60 dias nos combates, garantias de negociações sérias que conduzam a uma trégua a longo prazo e a garantia de que Israel não retomará as hostilidades após a libertação dos reféns, como aconteceu em março, quando o anterior cessar-fogo foi interrompido.
O Hamas libertaria 10 reféns vivos e vários corpos durante a pausa de 60 dias em troca de mais de 1.100 palestinianos presos por Israel, incluindo 100 que cumprem longas penas depois de terem sido condenados por ataques mortais.
Todos os dias, centenas de camiões que transportam alimentos e ajuda humanitária serão autorizados a entrar em Gaza, onde, segundo os especialistas, o bloqueio israelita, que dura há quase três meses, levou grande parte da população à beira da fome.
O que é que Israel e o Hamas querem?
Conseguir que ambas as partes cheguem a um acordo tem sido complicado, uma vez que tanto Israel como o Hamas divergem em várias questões fundamentais.
O Hamas insiste num cessar-fogo duradouro, numa retirada militar israelita total de Gaza e num afluxo de ajuda humanitária.
Israel, no entanto, tem constantemente rejeitado essas exigências, afirmando que só concordaria com pausas temporárias nos combates para facilitar a libertação de reféns e que o seu objetivo final é a destruição total do Hamas.
O Hamas ainda tem 58 reféns, cerca de um terço dos quais se pensa que ainda estão vivos.
Netanyahu também tem insistido que Israel manterá indefinidamente o "controlo de segurança" sobre Gaza e facilitará aquilo a que se refere como a emigração voluntária de grande parte da sua população.
Os palestinianos e a maior parte da comunidade internacional rejeitaram os planos de reinstalação da população de Gaza, uma medida que, segundo os especialistas, violaria provavelmente o direito internacional.
O Hamas afirmou que só libertará os reféns restantes, a sua única moeda de troca, em troca de mais prisioneiros palestinianos, mas ofereceu-se para ceder o poder a um comité de palestinianos politicamente independentes que poderia supervisionar a reconstrução do enclave.
A disputa sobre se o cessar-fogo deve ser temporário ou permanente tem sido um ponto de discórdia persistente nas conversações, mediadas pelos EUA, Egito e Qatar, que se arrastam há mais de 18 meses.
A guerra começou quando militantes do Hamas atacaram o sul de Israel a 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas, a maioria das quais civis.
A subsequente ofensiva israelita matou, até à data, pelo menos 54.000 palestinianos, na sua maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas, cujos números não distinguem entre combatentes e civis.
O exército israelita afirma que 850 dos seus soldados morreram desde o início da guerra.
A ofensiva destruiu vastas áreas da Faixa de Gaza e deslocou cerca de 90% da sua população de aproximadamente dois milhões de palestinianos, com centenas de milhares a viver em campos de tendas sem condições e em escolas inutilizadas.
O Hamas ficou muito enfraquecido do ponto de vista militar e perdeu quase todos os seus principais dirigentes em Gaza.