As perdas da Rússia aproximam-se de um milhão de soldados desde a sua invasão total em fevereiro de 2022, informou o Estado-Maior ucraniano na segunda-feira, no meio dos preparativos de Moscovo para uma nova ofensiva de verão.
A Rússia perdeu quase um milhão de soldados na sua atual guerra total contra a Ucrânia, informou na segunda-feira o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, depois de as forças russas terem sofrido mais 1000 baixas nas últimas 24 horas.
Kiev não especifica se os números incluem mortos ou feridos, mas a perceção geral é que incluem todas as baixas: mortos, feridos, desaparecidos e capturados.
As autoridades ucranianas têm acompanhado diariamente as perdas de tropas e equipamentos russos desde que Moscovo lançou a sua invasão em grande escala a 24 de fevereiro de 2022. A Ucrânia e a Rússia não revelam publicamente as suas perdas.
Em fevereiro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy afirmou que mais de 46 mil soldados ucranianos foram mortos no campo de batalha desde o início de 2022. O presidente adiantou também que cerca de 380 mil soldados ucranianos ficaram feridos e que "dezenas de milhares" continuavam "desaparecidos em combate" ou detidos em cativeiro russo.
O vice-ministro da Defesa russo revelou acidentalmente, no final do ano ado, que o ministério recebeu 48 mil pedidos de testes de ADN de familiares dos soldados desaparecidos.
Anna Tsivilyova falou sobre o assunto numa mesa redonda na Duma russa a 26 de novembro de 2024, dizendo que o ADN dos familiares tinha sido recolhido e armazenado numa base de dados.
Com uma taxa de perda de cerca de mil soldados por dia, a Rússia já tentou recrutar estrangeiros para o seu exército.
Desde o final de 2024, cerca de 12 mil soldados norte-coreanos juntaram-se às tropas de Moscovo, o que foi confirmado por Pyongyang, depois de várias fontes ocidentais e Kiev terem inicialmente noticiado este desenvolvimento.
Em abril, Kiev também afirmou que as suas forças tinham capturado os cidadãos chineses que lutavam pela Rússia. De acordo com os serviços secretos militares ucranianos, pelo menos 160 cidadãos chineses prestam serviço nas forças armadas russas.
Pequim rejeitou o envio de tropas de forma oficial, alegando que se trata de indivíduos que se ofereceram como voluntários.
Nova ofensiva de verão da Rússia
A Rússia está a preparar-se para uma nova ofensiva, possivelmente durante o verão, segundo os militares ucranianos. Os combates intensificaram-se ao longo da linha da frente da Ucrânia, que se estende por mais de 1.000 quilómetros em várias regiões do país.
As forças de Moscovo têm exercido uma forte pressão em torno de Pokrovsk e Kostyantynivka, na região oriental de Donetsk.
O grupo de reflexão do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), sediado nos EUA, afirmou que Moscovo tem vindo a exercer pressão há meses para capturar as restantes partes da região ucraniana de Donetsk, o seu principal objetivo desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2014.
Pokrovsk tem sido o ponto focal dos ataques terrestres da Rússia, com as tropas de Moscovo a reforçarem os seus ataques nesta região. A sua localização geográfica torna-a indiscutivelmente um dos mais importantes centros logísticos e extremamente próxima da retaguarda da luta da Ucrânia contra a invasão russa.
Kiev afirmou que as forças russas tencionavam alcançar e entrar na região de Dnipropetrovsk até 9 de maio. No entanto, não conseguiram, embora se estivessem a aproximar da fronteira istrativa com a região de Donetsk.
O vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas, Ihor Romanenko, afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, pretendia demonstrar os progressos das suas tropas durante o desfile do Dia da Vitória.
Entretanto, os militares ucranianos alertaram para o facto de a Rússia poder estar a preparar novos ataques a Kharkiv.
Moscovo tem vindo a reunir as suas tropas perto da fronteira com a região ucraniana de Kharkiv.
Andrii Pomahaibus, chefe do Estado-Maior da 13.ª Brigada de Khartiia da Guarda Nacional da Ucrânia, disse que a Rússia está a tentar deslocar as tropas para mais perto da linha de o, mas até agora não conseguiu realizar ataques.
A estratégia da "zona tampão" de Putin
Os planos de Moscovo para a ofensiva de verão parecem refletir os planos de Putin de criar aquilo a que chamou uma "zona tampão de segurança" ao longo da fronteira ucraniana.
Na quinta-feira ada, dirigiu-se ao Governo russo, dizendo que "foi tomada a decisão de estabelecer uma zona tampão de segurança necessária." E acrescendtou, "as nossas Forças Armadas estão atualmente a levar a cabo esta tarefa."
Os seus comentários foram feitos depois de as autoridades regionais da região russa de Kursk terem apelado a medidas fronteiriças mais rigorosas.
Putin referiu que a zona tampão se situaria ao longo das regiões de Kursk, Belgorod e Bryansk, que fazem fronteira com as regiões ucranianas de Sumy, Kharkiv e Chernihiv.
O vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, apelou ao controlo russo de uma zona tampão que abrangesse quase toda a Ucrânia, com exceção de uma área relativamente pequena das regiões de Volyn e Lviv, ao longo da fronteira com a Polónia.
O antigo presidente russo ameaçou que Moscovo se apoderaria de toda a Ucrânia como zona tampão se o Ocidente continuasse a fornecer apoio militar à Ucrânia.
Analisando os seus comentários, o ISW calculou que as forças russas precisariam de cerca de um século para se apoderarem da "zona tampão" proposta por Medvedev, ao seu ritmo atual de avanço, à custa de cerca de 50 milhões de baixas, de acordo com as taxas de perda atuais.
O grupo de reflexão acrescentou que as suas estimativas pressupõem que as forças russas serão capazes de manter o seu atual ritmo de avanço.
"As tropas russas não demonstraram a capacidade de conduzir o tipo de operações ofensivas rápidas e multidireccionais necessárias para atingir estes objetivos desde o início de 2022 e é improvável que melhorem significativamente as suas capacidades num futuro próximo", afirmou o ISW.