Alice Weidel surge como uma figura paradoxal no seio do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), a economista desafia noções preconcebidas sobre a composição ideológica do partido e a perceção pública.
A trajetória pessoal e profissional de Weidel desafia a narrativa típica dos políticos da ala mais conservadora. Apesar da reputação do AfD como um partido de extrema-direita, anti-imigração, dominado por homens, e que enfatiza os valores tradicionais da família, a sua história de vida apresenta-se como um contraponto a esses ideiais.
A economista de 45 anos disse que iria colocar a economia do país de novo no caminho certo, voltar atrás na transição energética alemã favorável ao clima e reduzir drasticamente a imigração. No sábado, Weidel descreveu a migração irregular para a Alemanha como “a fonte de todo o mal”.
Weidel é uma profissional da Alemanha Ocidental que criou dois filhos com a sua parceira, uma mulher nascida no Sri Lanka. É fluente em mandarim e tem um doutoramento em economia chinesa, tendo trabalhado anteriormente com prestigiadas empresas internacionais como a Goldman Sachs e a Allianz Global Investors.
“Queremos fazer a Alemanha progredir novamente. Queremos voltar a estar no topo a nível mundial”, afirmou Weidel ao aceitar a nomeação para concorrer a Chancelor nas próximas eleições da Alemanha.
Os analistas políticos defendem que o perfil único de Weidel é estrategicamente vantajoso para a AfD. A sua forma sofisticada de se apresentar e a sua vasta experiência profissional dão ao partido uma aparência de respeitabilidade que contrasta fortemente com os seus elementos mais extremistas.
Oliver Lembcke, um cientista político da Universidade de Bochum, sugere que Weidel pode apelar a um grupo demográfico mais vasto, particularmente à burguesia da classe média, apresentando-se como uma líder calma e competente no meio daquilo que ele caracteriza como “lunáticos e extremistas”.
Como co-líder da AfD, Weidel supervisionou um aumento significativo da popularidade do partido. As sondagens atuais indicam que a AfD é o segundo partido político mais popular na Alemanha, com cerca de 17% de apoio. Esta situação contrasta com a dos sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz, com 15%, e a dos Verdes, com 14%.
As próximas eleições antecipadas, a 23 de fevereiro, representam um momento crítico para o partido. Embora Weidel reconheça a pouca probabilidade de entrar no governo - dada a relutância dos outros partidos em trabalhar com o AfD - a sua nomeação como a primeira mulher candidata a chanceler do partido assinala um importante desenvolvimento estratégico. Esta é, também, a primeira vez que o partido AfD nomeia o seu próprio candidato a chanceler.
A coligação governamental do chanceler Olaf Scholz foi desfeita no mês ado. Scholz, que dirige atualmente o país com um governo minoritário, tenciona convocar um voto de confiança no Bundestag a 16 de dezembro. Espera-se que o perca, abrindo caminho para novo sufrágio.
Polémica e intrigante
O papel de Weidel não é isento de controvérsia. Os críticos descrevem-na como um “lobo em pele de cordeiro”, sugerindo que o seu exterior sofisticado esconde intenções políticas mais radicais.
A sua capacidade de navegar em cenários políticos complexos, mantendo a posição ideológica central da AfD, torna-a uma figura política particularmente intrigante.
Alice Weidel exemplifica a natureza colorida e por vezes contraditória da política europeia de extrema-direita contemporânea.