A fábrica da Audi em Bruxelas está a montar um SUV elétrico de 80.000 euros, que é demasiado caro para os europeus. Depois de 2025, a produção será deslocalizada, provavelmente para o México.
O caso desta fábrica no município belga de Forest, em atividade desde 1948 na produção de modelos Volkswagen, e renovada com tecnologia de ponta e de baixas emissões, parece ser uma indicação de uma tendência que já está em curso. As fábricas europeias que produzem automóveis elétricos são demasiado caras em comparação com a procura do mercado da UE.
Uma fábrica descontinuada
A Audi vai, portanto, interromper a produção e a fábrica será vendida. Como explica o diretor de comunicação da fábrica, Peter D'hoore, à Euronews, há duas opções: converter a fábrica para a produção de outros modelos ou componentes do grupo Volkswagen ou vendê-la a outras marcas de automóveis. Ambas as opções são complicadas, porque as ofertas não são consideradas de qualidade.
"Apenas um potencial investidor aceitou reformular a sua proposta e terá agora algum tempo para o fazer. Para nós, é importante que o maior número possível de pessoas continue a trabalhar neste local", afirma D'hoore, sem especificar para onde será transferida a produção.**
A Audi de Bruxelas emprega três mil pessoas, a que se juntam outras mil nas indústrias conexas, e os sindicatos estão em pé de guerra: exigem que a empresa não seja vendida a quem fizer a melhor oferta, mas a quem garantir o maior número de postos de trabalho.
Prometem outras greves, depois da que paralisou a cidade de Bruxelas, a 16 de setembro, e criticam as estratégias da indústria automóvel europeia, que, na transição para os carros elétricos, se concentrou em modelos grandes e caros, fora do alcance do cidadão comum: o preço de tabela do SUV elétrico Q8 e-tron, o modelo de topo da Audi construído em Forest, ronda os 80 mil euros.
"Os fabricantes de automóveis quiseram fazer grandes lucros com os veículos elétricos imediatamente e não aceitaram que a fase de transição gerasse menos dividendos e lucros", diz Hillal Sor, sindicalista do Metallos FGTB, à Euronews.
"Por isso, optaram por modelos grandes, luxuosos e caros que os europeus não podem pagar. Agora temos excesso de produção na Europa e é por isso que grupos como a Volkswagen querem fechar fábricas na Bélgica e na Alemanha".
Os números das vendas parecem dar-lhe razão: nos primeiros oito meses de 2024, foram comprados 902.000 automóveis elétricos na UE, apenas 12,6% do total, enquanto os automóveis a gasolina continuam a ser os mais vendidos.
Crise e (possíveis) soluções
Mas a perspetiva dos sindicatos belgas não é abrandar a transição ecológica e voltar a produzir apenas automóveis com motor de combustão. Pelo contrário, pedem mais fundos públicos para o sector, como ficou patente numa mesa redonda em que vários sindicatos discutiram com quatro deputados europeus do Grupo dos Socialistas e Democratas Europeus.
Na primeira sessão plenária de outubro, no hemiciclo europeu de Estrasburgo, os eurodeputados vão debater precisamente a crise do sector automóvel e as suas possíveis soluções, entre impostos sobre os automóveis elétricos chineses, muito mais baratos do que os europeus, e projectos de investimento difíceis de realizar.
"Precisamos efetivamente de um plano de reindustrialização muito mais ambicioso. Não apenas através de taxas e medidas proteccionistas", disse à Euronews a eurodeputada belga Estelle Ceulemans, uma das quatro pessoas que visitaram a fábrica da Audi.
Para encorajar realmente as empresas europeias e estrangeiras a investir e a criar empregos de qualidade, teremos de intervir a nível fiscal, mas também na formação dos trabalhadores e na investigação e desenvolvimento de novas tecnologias".