{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2020/12/18/entre-o-lapis-e-a-espada-europa-debate-poder-de-caricaturas" }, "headline": "Entre o l\u00e1pis e a espada. Europa debate poder de caricaturas", "description": "Samuel Paty foi uma das centenas de v\u00edtimas do fundamentalismo isl\u00e2mico. Perdeu a vida por mostrar aos alunos uma caricatura de Maom\u00e9. O debate reacendeu-se na Europa: haver\u00e1 limites para a liberdade de express\u00e3o?", "articleBody": "Fran\u00e7a foi abalada recentemente pela morte brutal de Samuel Paty. O assassinato do professor de hist\u00f3ria gerou ondas de choque que j\u00e1 ressoam al\u00e9m-fronteiras. Paty foi decapitado por ter mostrado caricaturas controversas do profeta Maom\u00e9, durante uma aula sobre liberdade de express\u00e3o. Nos Pa\u00edses Baixos, outros professores temem agora pela vida por gestos semelhantes. Numa escola de Roterd\u00e3o, um professor est\u00e1 ausente h\u00e1 semanas. Escondeu-se ap\u00f3s ter recebido amea\u00e7as por ter pendurada na sala de aula, h\u00e1 cinco anos, uma caricatura a apoiar o jornal sat\u00edrico franc\u00eas 'Charlie Hebdo\u00b4'\u0022. O desenho, da autoria de Joep Bertrams , reacendeu o debate na sociedade holandesa ao exibir um caricaturista do \u0022Charlie Hebdo\u0022, sem cabe\u00e7a, a mostrar a l\u00edngua a um jihadista que segura uma espada ensanguentada. No t\u00edtulo, est\u00e1 apenas escrito \u0022Imortal\u0022. V\u00e1rios estudantes do Col\u00e9gio Ema\u00fas associaram, de forma errada, a imagem do jihadista \u00e0 do profeta Maom\u00e9 e a fotografia da caricatura foi publicada nas redes sociais, logo ap\u00f3s a cerim\u00f3nia de Samuel Paty. As intimida\u00e7\u00f5es ao professor holand\u00eas surgiram de imediato e uma jovem estudante foi detida. ado pela Euronews, o Col\u00e9gio Ema\u00fas recusou-se a comentar o assunto. Caricaturas: liberdade ou blasf\u00e9mia? Oito mesquitas e outras tantas escolas, em Amesterd\u00e3o, Roterd\u00e3o e nas cidades lim\u00edtrofes, recusaram-se a conversar com a equipa da Euronews sobre liberdade de express\u00e3o e caricaturas. No final, um professor acaba por concordar em falar connosco. Diz-nos que nunca se sentiu em perigo, mas pede para permanecer no anonimato. Perguntamos se as caricaturas deveriam ser mostradas na escola. \u0022A provoca\u00e7\u00e3o precisa de ter um objetivo. Se a inten\u00e7\u00e3o \u00e9 chocar e depois ter uma conversa com as crian\u00e7as sobre estas coisas, ent\u00e3o talvez seja adequado. Mas, eu tamb\u00e9m falo sobre sexo na minha sala de aula, falamos de filmes pornogr\u00e1ficos, e n\u00e3o estou a mostrar esses filmes. Podemos falar sobre isso sem mostrar os filmes\u0022, responde. Dois im\u00e3s holandeses pediram que a lei da blasf\u00e9mia, cessada em 2013, fosse restaurada no pa\u00eds. Mas h\u00e1 quem acredite que a liberdade de express\u00e3o deve ser protegida a todo o custo. Dilan Ye\u015filg\u00f6z-Zegerius, deputada do principal partido conservador holand\u00eas, defende uma abordagem mais dura \u201c\u00e0s pessoas que amea\u00e7am caricaturistas, jornalistas, advogados e ju\u00edzes\u0022. Tamb\u00e9m quem desenha recusa que a solu\u00e7\u00e3o e por restringir liberdades. \u0022Fazer s\u00e1tira e fazer caricaturas editoriais \u00e9 operar \u00e0 margem da liberdade de express\u00e3o e explorar onde se situam essas fronteiras. A dificuldade hoje em dia, nesta \u00e9poca, \u00e9 que a viol\u00eancia entra na equa\u00e7\u00e3o, quando se fala de consequ\u00eancias para as caricaturas. Mas n\u00e3o creio que colocar novos limites v\u00e1 ajudar, porque se n\u00e3o, nunca mais paramos\u0022, afirma Tjeerd Royaards, chefe de reda\u00e7\u00e3o da plataforma Cartoon Movement. A quest\u00e3o dos limites \u00e0 liberdade de express\u00e2o, defende Royaards, \u00e9 uma constante no trabalho dos caricaturistas. \u0022Os caricaturistas fazem autocensura e t\u00eam temas sobre os quais desenham ou n\u00e3o. T\u00eam refer\u00eancias visuais, que podem ou n\u00e3o utilizar. A liberdade de express\u00e3o n\u00e3o \u00e9 ilimitada\u0022. Europa sob amea\u00e7a J\u00e1 antes do \u0022Charlie Hebdo\u0022, o jornal dinamarqu\u00eas, Jyllands-Posten, tinha sido, em 2005, o primeiro a publicar caricaturas a ridicularizar o Profeta Maom\u00e9. O jornal sat\u00edrico franc\u00eas republicou-as e acrescentou mais. Philippe Val, antigo editor executivo do peri\u00f3dico nega ter havido qualquer provoca\u00e7\u00e3o, alegando que \u0022exercer o direito de liberdade das caricaturas e da liberdade de imprensa n\u00e3o \u00e9 uma provoca\u00e7\u00e3o\u0022. No entanto, o atentado ao Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, marcava o in\u00edcio de uma s\u00e9rie de ataques jihadistas que, no total, ceifaram j\u00e1 cerca de 400 vidas na Europa. S\u00f3 em Fran\u00e7a morreram desta forma mais de 200 pessoas. Samuel Paty est\u00e1 entre as v\u00edtimas, mas n\u00e3o a \u00faltima. Algumas semanas depois do seu homic\u00eddio, tr\u00eas pessoas foram mortas num ataque terrorista islamista dentro de uma igreja cat\u00f3lica em Nice, Fran\u00e7a. Seguiu-se Viena. Em dezembro deste ano, um tiroteio perto de uma grande sinagoga fez quatro mortos. O ataque foi reivindicado pelo autointitulado Estado isl\u00e2mico. Mas qu\u00e3o difundido \u00e9 o Isl\u00e3o radical nos Pa\u00edses Baixos? Ser\u00e1 um terreno f\u00e9rtil para um ataque terrorista? Fizemos a pergunta a uma organiza\u00e7\u00e3o mu\u00e7ulmana, SPIOR, que representa 70 mesquitas em Roterd\u00e3o e trabalha na media\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es entre o Isl\u00e3o e as institui\u00e7\u00f5es seculares. \u0022N\u00e3o posso garantir a cem porcento de que isso nunca acontecer\u00e1 aqui. Tivemos a nossa quota-parte de incidentes nos Pa\u00edses Baixos, n\u00e3o diretamente da comunidade mu\u00e7ulmana, mas por soldados solit\u00e1rios\u0022, responde Zakaria Chii em nome da institui\u00e7\u00e3o. O ru\u00eddo do sil\u00eancio O homic\u00eddio de Theo Van Gogh, uma das figuras mais controversas e famosas dos Pa\u00edses Baixos ainda perdura na mente de todos. Hoje, bicicletas am por cima de um contorno a giz numa rua de Amesterd\u00e3o, sem que algu\u00e9m d\u00ea conta. Mas foi ali que o realizador e produtor de cinema Theo Van Gogh foi assassinado em 2004. O enfant terrible holand\u00eas pagou com a pr\u00f3pria vida as provoca\u00e7\u00f5es ao Isl\u00e3o \u0022. A autora Ebru Umar trabalhou com Van Gogh durante anos. \u00c9 uma defensora convicta da liberdade de express\u00e3o. E aprendeu de forma dolorosa que isso tem um custo. \u0022Tudo o que escrevemos era divertido, mas foi tamb\u00e9m um desafio. Mas havia humor no que escrevemos. Nunca pens\u00e1mos que pudesse levar a um homic\u00eddio por motivos religiosos isl\u00e2micos. Mas depois, aconteceu\u0022, lamenta. Van Gogh era um carism\u00e1tico de direita. T\u00e3o chocante quanto o document\u00e1rio que realizou sobre as mulheres e o Isl\u00e3o. As cenas expl\u00edcitas e provocadoras do filme estiveram na origem do seu assassinato, levado a cabo por um mu\u00e7ulmano nascido na Holanda. Ebru Umar condena o sil\u00eancio que ocorre ap\u00f3s este tipo de acontecimentos. \u0022Aconteceu agora em Fran\u00e7a, mas qualquer dia acontece aqui tamb\u00e9m. N\u00f3s s\u00f3 queremos ignor\u00e1-lo. Desde que n\u00e3o aconte\u00e7a \u00e0 porta de nossa casa, que n\u00e3o nos afete, \u00e9 ficar calado\u0022. Desenhar contra o medo Ap\u00f3s a publica\u00e7\u00e3o das caricaturas com o profeta Maom\u00e9, protestos violentos surgiram em todo o mundo mu\u00e7ulmano, entre 2005 e 2006. Centenas de pessoas foram mortas durante os tumultos. Hoje as cenas repetem-se. Ap\u00f3s o presidente franc\u00eas ter anunciado uma forte repress\u00e3o ao isl\u00e3o radical, houve demonstra\u00e7\u00f5es de rep\u00fadio e viol\u00eancia em v\u00e1rios pa\u00edses mu\u00e7ulmanos como resposta \u00e0s palavras de Emmanuel Macron. As medidas foram anunciadas tanto antes, como depois da morte de Samuel Paty. Mas, apesar de tudo, algo parece ter mudado. \u0022Desde o Charlie Hebdo, tornou-se mais perigoso. Tornou-se mais imprevis\u00edvel. Recebemos mais amea\u00e7as por causa do nosso trabalho. De forma geral, ou a haver um ambiente mais complexo para se fazer caricaturas\u201d, diz Royaards. V\u00e1rias quest\u00f5es s\u00e3o colocadas. Precisa o conceito de blasf\u00e9mia ser reconsiderado pela comunidade mu\u00e7ulmana? Ou ser\u00e1 que o mundo ocidental tem de repensar princ\u00edpios seculares para se adaptar a uma popula\u00e7\u00e3o cada vez mais diversificada? O debate mant\u00e9m-se. ", "dateCreated": "2020-11-26T11:12:48+01:00", "dateModified": "2020-12-18T16:22:10+01:00", "datePublished": "2020-12-18T16:00:03+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F15%2F36%2F92%2F1440x810_cmsv2_0dbf60a2-fa42-5228-b7f2-3eb62347aa58-5153692.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Samuel Paty foi uma das centenas de v\u00edtimas do fundamentalismo isl\u00e2mico. Perdeu a vida por mostrar aos alunos uma caricatura de Maom\u00e9. O debate reacendeu-se na Europa: haver\u00e1 limites para a liberdade de express\u00e3o?", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F15%2F36%2F92%2F432x243_cmsv2_0dbf60a2-fa42-5228-b7f2-3eb62347aa58-5153692.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Pinna", "givenName": "Monica", "name": "Monica Pinna", "url": "/perfis/107", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@_MonicaPinna", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue italienne" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Entre o lápis e a espada. Europa debate poder de caricaturas

Entre o lápis e a espada. Europa debate poder de caricaturas
Direitos de autor euronews
Direitos de autor euronews
De Monica Pinna & Euronews
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Samuel Paty foi uma das centenas de vítimas do fundamentalismo islâmico. Perdeu a vida por mostrar aos alunos uma caricatura de Maomé. O debate reacendeu-se na Europa: haverá limites para a liberdade de expressão?

França foi abalada recentemente pela morte brutal de Samuel Paty. O assassinato do professor de história gerou ondas de choque que já ressoam além-fronteiras.

Paty foi decapitado por ter mostrado caricaturas controversas do profeta Maomé, durante uma aula sobre liberdade de expressão. Nos Países Baixos, outros professores temem agora pela vida por gestos semelhantes.

Numa escola de Roterdão, um professor está ausente há semanas. Escondeu-se após ter recebido ameaças por ter pendurada na sala de aula, há cinco anos, uma caricatura a apoiar o jornal satírico francês 'Charlie Hebdo´'".

O desenho, da autoria de Joep Bertrams, reacendeu o debate na sociedade holandesa ao exibir um caricaturista do "Charlie Hebdo", sem cabeça, a mostrar a língua a um jihadista que segura uma espada ensanguentada. No título, está apenas escrito "Imortal".

Vários estudantes do Colégio Emaús associaram, de forma errada, a imagem do jihadista à do profeta Maomé e a fotografia da caricatura foi publicada nas redes sociais, logo após a cerimónia de Samuel Paty. As intimidações ao professor holandês surgiram de imediato e uma jovem estudante foi detida.

ado pela Euronews, o Colégio Emaús recusou-se a comentar o assunto.

Caricaturas: liberdade ou blasfémia?

Oito mesquitas e outras tantas escolas, em Amesterdão, Roterdão e nas cidades limítrofes, recusaram-se a conversar com a equipa da Euronews sobre liberdade de expressão e caricaturas.

No final, um professor acaba por concordar em falar connosco. Diz-nos que nunca se sentiu em perigo, mas pede para permanecer no anonimato. Perguntamos se as caricaturas deveriam ser mostradas na escola.

"A provocação precisa de ter um objetivo. Se a intenção é chocar e depois ter uma conversa com as crianças sobre estas coisas, então talvez seja adequado. Mas, eu também falo sobre sexo na minha sala de aula, falamos de filmes pornográficos, e não estou a mostrar esses filmes. Podemos falar sobre isso sem mostrar os filmes", responde.

Dois imãs holandeses pediram que a lei da blasfémia, cessada em 2013, fosse restaurada no país.

Mas há quem acredite que a liberdade de expressão deve ser protegida a todo o custo. Dilan Yeşilgöz-Zegerius, deputada do principal partido conservador holandês, defende uma abordagem mais dura “às pessoas que ameaçam caricaturistas, jornalistas, advogados e juízes".

Também quem desenha recusa que a solução e por restringir liberdades.

"Fazer sátira e fazer caricaturas editoriais é operar à margem da liberdade de expressão e explorar onde se situam essas fronteiras. A dificuldade hoje em dia, nesta época, é que a violência entra na equação, quando se fala de consequências para as caricaturas. Mas não creio que colocar novos limites vá ajudar, porque se não, nunca mais paramos", afirma Tjeerd Royaards, chefe de redação da plataforma Cartoon Movement.

A questão dos limites à liberdade de expressâo, defende Royaards, é uma constante no trabalho dos caricaturistas. "Os caricaturistas fazem autocensura e têm temas sobre os quais desenham ou não. Têm referências visuais, que podem ou não utilizar. A liberdade de expressão não é ilimitada".

Europa sob ameaça

Já antes do "Charlie Hebdo", o jornal dinamarquês, Jyllands-Posten, tinha sido, em 2005, o primeiro a publicar caricaturas a ridicularizar o Profeta Maomé. O jornal satírico francês republicou-as e acrescentou mais.

Philippe Val, antigo editor executivo do periódico nega ter havido qualquer provocação, alegando que "exercer o direito de liberdade das caricaturas e da liberdade de imprensa não é uma provocação".

No entanto, o atentado ao Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, marcava o início de uma série de ataques jihadistas que, no total, ceifaram já cerca de 400 vidas na Europa. Só em França morreram desta forma mais de 200 pessoas.

Samuel Paty está entre as vítimas, mas não a última. Algumas semanas depois do seu homicídio, três pessoas foram mortas num ataque terrorista islamista dentro de uma igreja católica em Nice, França.

Seguiu-se Viena. Em dezembro deste ano, um tiroteio perto de uma grande sinagoga fez quatro mortos. O ataque foi reivindicado pelo autointitulado Estado islâmico.

Mas quão difundido é o Islão radical nos Países Baixos? Será um terreno fértil para um ataque terrorista? Fizemos a pergunta a uma organização muçulmana, SPIOR, que representa 70 mesquitas em Roterdão e trabalha na mediação das relações entre o Islão e as instituições seculares.

"Não posso garantir a cem porcento de que isso nunca acontecerá aqui. Tivemos a nossa quota-parte de incidentes nos Países Baixos, não diretamente da comunidade muçulmana, mas por soldados solitários", responde Zakaria Chii em nome da instituição.

O ruído do silêncio

O homicídio de Theo Van Gogh, uma das figuras mais controversas e famosas dos Países Baixos ainda perdura na mente de todos.

Hoje, bicicletas am por cima de um contorno a giz numa rua de Amesterdão, sem que alguém dê conta. Mas foi ali que o realizador e produtor de cinema Theo Van Gogh foi assassinado em 2004. O enfant terrible holandês pagou com a própria vida as provocações ao Islão ".

A autora Ebru Umar trabalhou com Van Gogh durante anos. É uma defensora convicta da liberdade de expressão. E aprendeu de forma dolorosa que isso tem um custo.

"Tudo o que escrevemos era divertido, mas foi também um desafio. Mas havia humor no que escrevemos. Nunca pensámos que pudesse levar a um homicídio por motivos religiosos islâmicos. Mas depois, aconteceu", lamenta.

Van Gogh era um carismático de direita. Tão chocante quanto o documentário que realizou sobre as mulheres e o Islão. As cenas explícitas e provocadoras do filme estiveram na origem do seu assassinato, levado a cabo por um muçulmano nascido na Holanda. Ebru Umar condena o silêncio que ocorre após este tipo de acontecimentos.

"Aconteceu agora em França, mas qualquer dia acontece aqui também. Nós só queremos ignorá-lo. Desde que não aconteça à porta de nossa casa, que não nos afete, é ficar calado".

Desenhar contra o medo

Após a publicação das caricaturas com o profeta Maomé, protestos violentos surgiram em todo o mundo muçulmano, entre 2005 e 2006. Centenas de pessoas foram mortas durante os tumultos.

Hoje as cenas repetem-se. Após o presidente francês ter anunciado uma forte repressão ao islão radical, houve demonstrações de repúdio e violência em vários países muçulmanos como resposta às palavras de Emmanuel Macron.

As medidas foram anunciadas tanto antes, como depois da morte de Samuel Paty. Mas, apesar de tudo, algo parece ter mudado.

"Desde o Charlie Hebdo, tornou-se mais perigoso. Tornou-se mais imprevisível. Recebemos mais ameaças por causa do nosso trabalho. De forma geral, ou a haver um ambiente mais complexo para se fazer caricaturas”, diz Royaards.

Várias questões são colocadas. Precisa o conceito de blasfémia ser reconsiderado pela comunidade muçulmana? Ou será que o mundo ocidental tem de repensar princípios seculares para se adaptar a uma população cada vez mais diversificada? O debate mantém-se.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

França depois dos atentados de 2015

A questão central das eleições alemãs é a transição energética

Certificação do queijo halloumi suscita controvérsia entre UE, cipriotas gregos e turcos