{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2019/05/22/os-fantasmas-da-extrema-direita-alema-estao-de-volta" }, "headline": "Os fantasmas da extrema-direita alem\u00e3 est\u00e3o de volta", "description": "A Euronews esteve em Chemnitz, no leste da Alemanha, onde os crimes de \u00f3dio e o apoio ao partido anti-imigra\u00e7\u00e3o AfD est\u00e3o a aumentar", "articleBody": "Nos tempos da Alemanha de Leste, Chemnitz chamava-se Karl Marx . Nos \u00faltimos anos, a cidade alem\u00e3 tem sido palco de profundas mudan\u00e7as pol\u00edticas. Frente \u00e0 est\u00e1tua de Karl Marx, onde h\u00e1 menos de trinta anos os cidad\u00e3os de Chemnitz se manifestaram a favor da queda do regime totalit\u00e1rio, ocorreu um protesto muito diferente em agosto do ano ado: manifesta\u00e7\u00f5es anti-imigra\u00e7\u00e3o que fizeram de Chemnitz o s\u00edmbolo da nova direita radical assertiva. Tudo come\u00e7ou quando um homem, alem\u00e3o, morreu apunhalado. A pol\u00edcia deteve os alegados autores do crime - dois refugiados, do Iraque e da S\u00edria. Seguiu-se uma semana de protestos anti-imigra\u00e7\u00e3o. Neonazis, grupos de extrema-direita e milhares de cidad\u00e3os marcharam lado a lado. O protesto representou um momento de viragem na express\u00e3o p\u00fablica da rejei\u00e7\u00e3o da imigra\u00e7\u00e3o. O efeito da crise migrat\u00f3ria na balan\u00e7a pol\u00edtica A extrema-direita alem\u00e3 tornou-se mais forte desde a chamada crise dos refugiados em 2015. A forma\u00e7\u00e3o pol\u00edtica que mais se destaca na afirma\u00e7\u00e3o dos valores da direita radical \u00e9 a AfD , Alternativa para a Alemanha , uma forma\u00e7\u00e3o euroc\u00e9tica e nacionalista criada em 2013. Em poucos anos, o partido de extrema-direita tornou-se no terceiro maior do parlamento alem\u00e3o. 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Robert Hay, apoiante do partido dos Verdes, considera que os partidos nacionalistas \u0022sempre existiram\u0022 e que o fen\u00f3meno mais recente tem a ver com confian\u00e7a. \u0022Agora est\u00e3o mais confiantes. Saem \u00e0 rua e afirmam que controlam a cidade, mas isso n\u00e3o \u00e9 verdade,\u0022 diz. A euronews assistiu a outro evento da direita radical em Chemnitz. Um churrasco para celebrar a inaugura\u00e7\u00e3o da sede do movimento de cidad\u00e3os anti-imigra\u00e7\u00e3o. Grupos de militantes que se op\u00f5em \u00e0 direita radical estragaram a festa e reuniram-se no local para protestar. A pol\u00edcia interveio para separar os dois grupos. Martin Kohlmann, l\u00edder Pro Chemnitz, explica que ainda se sente o choque de culturas entre o ocidente e o leste na Alemanha. \u0022No Ocidente, os americanos e os ingleses disseram \u00e0s pessoas que o modo de viver e de pensar dos alem\u00e3es levou aos crimes do Nacional Socialismo. 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Os fantasmas da extrema-direita alemã estão de volta

Os fantasmas da extrema-direita alemã estão de volta
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De Ayman Oghanna
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A Euronews esteve em Chemnitz, no leste da Alemanha, onde os crimes de ódio e o apoio ao partido anti-imigração AfD estão a aumentar

Nos tempos da Alemanha de Leste, Chemnitz chamava-se Karl Marx. Nos últimos anos, a cidade alemã tem sido palco de profundas mudanças políticas.

Frente à estátua de Karl Marx, onde há menos de trinta anos os cidadãos de Chemnitz se manifestaram a favor da queda do regime totalitário, ocorreu um protesto muito diferente em agosto do ano ado: manifestações anti-imigração que fizeram de Chemnitz o símbolo da nova direita radical assertiva.

Tudo começou quando um homem, alemão, morreu apunhalado. A polícia deteve os alegados autores do crime - dois refugiados, do Iraque e da Síria. Seguiu-se uma semana de protestos anti-imigração. Neonazis, grupos de extrema-direita e milhares de cidadãos marcharam lado a lado. O protesto representou um momento de viragem na expressão pública da rejeição da imigração.

O efeito da crise migratória na balança política

A extrema-direita alemã tornou-se mais forte desde a chamada crise dos refugiados em 2015.

A formação política que mais se destaca na afirmação dos valores da direita radical é a AfD, Alternativa para a Alemanha, uma formação eurocética e nacionalista criada em 2013.

Em poucos anos, o partido de extrema-direita tornou-se no terceiro maior do parlamento alemão.

A propósito da violência dos protestos anti-imigração, o líder da AfD, Alexander Gauland, originário de Chemnitz, disse "além do mais muitos desses refugiados infrigem a lei. A paciência tem limites"

Uma declaração que chocou o antigo líder do SPD, partido de centro esquerda. Martin Shultz afirmou: "é o tipo de linguagem que já ouvimos neste parlamento, há muitos anos. É altura dos democratas deste país se erguerem. Isto é retórica de rearmamento"

Euronews

A euronews acompanhou a campanha para as eleições europeias da AfD, em Chemnitz.

Maximilian Krah, candidato ao Parlamento Europeu pela AfD, ite que a crise migratória teve um papel fundamental no crescimento do partido. "A Alemanha era um lugar pacífico, longe dos tumultos mundiais até que, no espaço de um ano, Merkel decidiu abrir o país e deixar entrar quase um milhão de pessoas, na maioria muçulmanos e maioritariamente homens. Isso mudou o país. Somos a única força política que se opõe à imigração de massa. Mas, as sondagens dizem-nos que 50% da população é contra a imigração de massa, por isso, obviamente, tivemos um grande sucesso"

Euronews

Tal como em muitas cidades alemães, o tema da imigração divide a opinião pública.

Quando a AfD organiza uma manifestação, os militantes de outros partidos, a esquerda, os liberais e os verdes saem à rua para mostrar que nem todos estão de acordo com as ideias da direita radical.

Robert Hay, apoiante do partido dos Verdes, considera que os partidos nacionalistas "sempre existiram" e que o fenómeno mais recente tem a ver com confiança. "Agora estão mais confiantes. Saem à rua e afirmam que controlam a cidade, mas isso não é verdade," diz.

A euronews assistiu a outro evento da direita radical em Chemnitz. Um churrasco para celebrar a inauguração da sede do movimento de cidadãos anti-imigração. Grupos de militantes que se opõem à direita radical estragaram a festa e reuniram-se no local para protestar. A polícia interveio para separar os dois grupos.

Martin Kohlmann, líder Pro Chemnitz, explica que ainda se sente o choque de culturas entre o ocidente e o leste na Alemanha. "No Ocidente, os americanos e os ingleses disseram às pessoas que o modo de viver e de pensar dos alemães levou aos crimes do Nacional Socialismo. Aqui, no leste, tivemos os russos, que nos disseram que o capitalismo era mau e conduziu ao fascismo. Nós não fomos educados para pensar que ser alemão é um problema," afirma este nacionalista radical.

Em Chemnitz, no churrasco da extrema-direita, não se vêem muitos estrangeiros. Historicamente, a sociedade da Alemanha de Leste era muito mais homogénea que a da Alemanha Ocidental.

"Hitler devia ter-vos posto a todos na câmara de gás, como no ado"

Euronews
Hassan al Nasser, refugiado iraquianoEuronews

A Euronews falou com Hassan al Nasser, um jovem refugiado iraquiano que vive em Chemnitz, com a família, há cinco anos. O adolescente, que sonha em ser arquiteto, afirma que terá de mudar-se para Berlim, porque está cansado do racismo em Chemnitz. "Tive um incidente no elétrico. Um homem idoso estava a filmar uma mulher muçulmana e eu disse-lhe para parar de gravar. E então ele começou a filmar-me, a mim e a outros pessoas de diferentes origens culturais. A situação degenerou e ele começou a gritar dizendo que Hitler devia ter-nos posto a todos na câmara de gás, como no ado," conta.

Euronews
Layla Ahmad, refugiada libanesaEuronews

Hassan não é o único vítima dos preconceitos, em Chemnitz. A refugiada libanesa Layla Ahmad afirma que é alvo de racismo quase todas as semanas.

"Perdi cinco anos. A principal razão para vir para aqui foi a segurança, enquanto mulher com uma criança, mas não me sinto segura. Enfrentamos a mesma situação que na Líbia, e, mais ainda. Deixei a Líbia porque estava em sofrimento psicológico e tinha medo pelo meu filho. Encontrei o mesmo na Alemanha. A Líbia, pelo menos, é o meu país.Independentemente da situação, havia um respeito pelas pessoas, pelos seres humanos. Aqui somos estrangeiros. deixámos o nosso país, sacrificámos tudo, fizemos uma viagem perigoso, foi um sacrifício pelo meu filho. Para mim, o direito mais básico, andar na rua de véu, suscita-me medo, tenho medo que alguém me bata. Eu digo ao meu filho para não falar com as pessoas"

Chemnitz, berço do ódio?

A Alemanha recebeu mais de um milhão e duzentos mil requerentes de asilo desde 2015. Mas, em relação ao resto do país, a cidade de Chemnitz tem poucos residentes nascidos no estrangeiro - apenas oito por cento da população. No entanto, Chemnitz regista mais crimes de ódio contra imigrantes do que o resto da Alemanha.

A euronews falou com um responsável de uma ONG que ajuda vítimas de racismo. André Löscher revela que “em toda a Saxónia houve 317 ataques; desse total, quase 80 aconteceram em Chemnitz.”  Números que representam "um aumento de 40% em relação ao ano ado, na Saxónia, e de 400%, em Chemnitz”.

Em Chemnitz, a insatisfação face à imigração pode manifestar-se de forma violenta.

A euronews falou com um refugiado político iraniano, dono de um restaurante, que foi atacado por três homens.

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Masoud Hashemi, no restaurante onde sofreu as agressõesEuronews

Masoud Hashemi apresenta o testemunho na primeira pessoa: "Um dos homens fez a saudação de Hitler, muito alto, e, depois começou a esmagar coisas. Mandou-me um samovar à cara..Eu fugi para a cozinha.Ele destruiu a cozinha e depois um homem bateu-me. Deu-me pontapés no estômago e eu caí no chão, magoei-me na cabeça e comecei a sangrar".

Masoud Hashemi esteve uma semana no hospital. Não consegue perceber por que foi atacado. "Tenho trabalho, pago o seguro e a renda. Porque me bateram? Será por eu ser persa? o que é que eu fiz?," questiona.

Os imigrantes não são as únicas vítimas dos crimes de ódio. No ano ado, um homem de 27 anos foi torturado até à morte por ser homossexual. Outro dos sinais preocupantes de que o ado alemão está a ressurgir é o aumento do antissemitismo.

Judeus voltam também a ser alvos

O restaurante judaico Schalom abriu em 2000. O proprietário disse à euronews que o local foi alvo de vários ataques antissemitas. Uwe Dziuballa é descendente de uma família que sobreviveu ao holocausto e considera que o contexto atual é muito diferente do dos anos 30 do século XX.

Euronews
Uwe DziuballaEuronews

Uwe Dziuballa tem, apesar de tudo, esperança no presente. "Hoje, se compararmos com 1933, temos as oportunidades da globalização e por essa razão há uma massa crítica positiva capaz de mostrar a força da democracia. A economia era muito mais frágil. O chão era muito mais fértil para as ideias nacionalistas," afirma.

O restaurante foi atacado em Agosto por várias pessoas e Uwe foi apedrejado. "A pedra bateu-me no ombro" - explica - "não foi dramático, mas se tivesse batido na cabeça com força, o desfecho teria sido diferente. É uma das pequenas diferenças em relação à situação em 1933. Eu chamei a polícia e a polícia veio e fez um trabalho muito profissional. Em 1933, os judeus não podiam sequer chamar a polícia".

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