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Assista ao debate entre o eurodeputado h\u00fangaro Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Crist\u00e3os), Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin# e a eurodeputada holandesa do Grupo dos Verdes/ Alian\u00e7a Livre Europeia, Judith Sargentini, com a modera\u00e7\u00e3o da jornalista Sophie Claudet. Euronews Mr Sch\u00f6pflin, come\u00e7amos com o senhor. Os refugiados n\u00e3o s\u00e3o bem-vindos \u00e0 Hungria. Ouvimos o primeiro-ministro Viktor Orb\u00e1n falar dos refugiados como se fossem veneno, uma invas\u00e3o mu\u00e7ulmana, equiparando a migra\u00e7\u00e3o ao terrorismo. Agora, temos o partido For\u00e7a e Identidade, que defende a ideologia nacional socialista. Est\u00e3o a aproximar-se a extrema-direita e o partido Fidesz? Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin De maneira nenhuma. Isso \u00e9 o que dizem os opositores do primeiro-ministro. \u00c9 algo que t\u00eam vindo a dizer durante os \u00faltimos 25 anos. N\u00e3o h\u00e1 novidade nenhuma. 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Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin N\u00e3o se trata apenas disso, mas respondo que sim \u00e0 sua quest\u00e3o. Euronews Muito bem. Senhora Sargentini, o facto de que a Hungria esteja a virar \u00e0 direita, com as limita\u00e7\u00f5es nas liberdades fundamentais, o que implica a discrimina\u00e7\u00e3o contra as minorias, sejam de natureza \u00e9tnica ou sexual, por exemplo,\u00e9 algo que esteja analisar no seu trabalho? Judith Sargentini Analisamos v\u00e1rios casos que sugerem uma fragmenta\u00e7\u00e3o do Estado de Direito. Acontece no caso das leis do ensino superior ou quando a Hungria desrespeita as leis europeias sobre as migra\u00e7\u00f5es ou no caso dos ataques contra a liberdade de express\u00e3o, com o fecho de jornais.Queremos saber se \u00e9 uma mudan\u00e7a estrutural no Estado de Direito e na Democracia. Euronews Senhor Sch\u00f6pflin, como encara estas investiga\u00e7\u00f5es? Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Contente. Estou muito feliz. Acho que o relat\u00f3rio vai ser aceite, de uma forma muito radical o que ser\u00e1 perfeito para a campanha que ter\u00e1 lugar na pr\u00f3xima primavera para as elei\u00e7\u00f5es legislativas. Seguir\u00e1 depois para o Conselho, que ter\u00e1 de confront\u00e1-lo com o artigo 7 (do Tratado Europeu) e acabar\u00e1 esquecido, porque \u00e9 demasiado complicado e o Conselho n\u00e3o ir\u00e1 fazer nada sobre o assunto. Penso que vai demonstrar o qu\u00e3o in\u00fatil \u00e9 o Artigo 7. Euronews Para os nossos espetadores entenderem, o Artigo 7 poder\u00e1 privar a Hungria do direito de voto na UE. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Ou menos do que isso. Se o artigo 7 for ativado, coisa que duvido que aconte\u00e7a, a Hungria poderia ser expulsa do Espa\u00e7o Schengen, pelo que n\u00e3o estou particularmente preocupado. Como membro do partido Fidesz, fico feliz com isso. Euronews O senhor parece quase divertido com a situa\u00e7\u00e3o. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Estou realmente divertido, sim. Euronews E quer explicar-nos porqu\u00ea? Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Com um grande prazer, encantado. Este Governo assumiu o poder em 2010. Desde ent\u00e3o, tem sido alvo de ataques sistem\u00e1ticos da parte das for\u00e7as hegem\u00f3nicas liberais que determinam as opini\u00f5es do Ocidente. Judith Sargentini Acho que o Parlamento Europeu deve permanecer firme ao defender o Estado de Direito e os Direitos Fundamentais. Estamos juntos neste projeto Europeu. Penso que um pa\u00eds como a Hungria \u00e9 um pa\u00eds Europeu. Partilha a Hist\u00f3ria dos Europeus. Enquadra-se na Uni\u00e3o Europeia. Partilhamos os mesmos valores e temos de proteger-nos uns aos outros. Euronews Quando a Hungria decidiu entrar para a Uni\u00e3o Europeia, em 2014, ou a fazer parte de um grupo de Estados com valores comuns, penso eu. Se dissermos isso ao primeiro-ministro Orb\u00e1n, ele fica muito incomodado. Porqu\u00ea parmanecer ent\u00e3o na UE se n\u00e3o am as institui\u00e7\u00f5es? Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Porqu\u00ea ficar? \u00c9 uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a, o que me parece ben\u00e9fico para a Hungria. Ainda que haja diferen\u00e7as fundamentais entre n\u00f3s e a fam\u00edlia Europeia, ainda que o Ocidente n\u00e3o as reconhe\u00e7a. A Europa Central jamais ser\u00e1 a Europa Ocidental e o Ocidente n\u00e3o aceita o nosso ado, que \u00e9 muito diferente. Penso em quase todos os pa\u00edses Ocidentais, talvez n\u00e3o na Su\u00ed\u00e7a, mas os pa\u00edses com ado colonial.Fomos parte de tr\u00eas Imp\u00e9rios e ningu\u00e9m se lembra disso. N\u00e3o temos a chamada culpa colonial, n\u00e3o govern\u00e1mos a \u00cdndia. Euronews Ent\u00e3o defende que os valores de que fala a eurodeputada Sargentini s\u00e3o essencialmente valores europeus Ocidentais. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin N\u00e3o, n\u00e3o \u00e9 isso que estou a dizer. Digo que cada pa\u00eds os interpreta de forma diferente. E n\u00e3o se pode homogeneizar esses valores sem um estilo quase leninista europeu, algo que n\u00e3o vai acontecer. Judith Sargentini \u00c9 a\u00ed que me parece que temos opini\u00f5es diferentes. Poderiamos ter este mesmo debate a prop\u00f3sito dos Direitos Humanos Universais. S\u00e3o algo inventado pelo Ocidente ou v\u00e1lido para todos? Penso que se olharmos para as pessoas e para os cidad\u00e3os, h\u00e1 direitos que s\u00e3o valores universais. Valores Europeus, valores para todos. Acho problem\u00e1tico que, seja na Hungria, seja noutros pa\u00edses da Europa Central, se sugira que esses valores n\u00e3o aplicam a este grupo de cidad\u00e3os. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Alguns desses valores estar\u00e3o sempre em contradi\u00e7\u00e3o. Isso significa que t\u00eam de ser contextualizados localmente, como a justi\u00e7a e a miseric\u00f3rdia, por exemplo. Euronews E os direitos das minorias? Judith Sargentini Com os direitos das minorias, est\u00e1 tudo bem. Mas nem todas as minorias t\u00eam o mesmo grau de prote\u00e7\u00e3o. A comunidade LGBT goza claramente de um elevado grau de prote\u00e7\u00e3o, o que nao acontece com as minorias lingu\u00edsticas. T\u00eam sido escolhidas prioridades. Por exemplo, na Ucr\u00e2nia, com a nova lei de educa\u00e7\u00e3o, a minor\u00eda de l\u00edngua h\u00fangara deixou de ter o Direito Fundamental \u00e0 educa\u00e7\u00e3o na l\u00edngua materna e a Hungria foi abandonada na defesa deste tema. Ningu\u00e9m diz nada, a n\u00e3o ser a Rom\u00e9nia, que tem o mesmo problema. E penso que se os liberais do Ocidente quiserem ser levados a s\u00e9rio neste tema\u2026 Judith Sargentini O problema \u00e9 que duas situa\u00e7\u00f5es erradas n\u00e3o d\u00e3o origem a uma certa Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Exatamente, por isso, porque n\u00e3o fazer alguma coisa sobre o assunto e dizer aos ucranianos que n\u00e3o podem fazer isto. Judith Sargentini E porque n\u00e3o fazemos isso juntos? E poderemos tamb\u00e9m analisar a situa\u00e7\u00e3o noutros pa\u00edses. Eu n\u00e3o me importo de analisar os problemas do meu pa\u00eds. Ter autocr\u00edtica \u00e9 importante para podermos criticar os outros. A Europa \u00e9 um processo de pares, de amigos, amigos que dizem a verdade uns aos outros. Euronews Bem e de amigos que se investigam uns aos outros\u2026 Judith Sargentini \u00c9 a chamada press\u00e3o de grupo, sim\u2026 Euronews Sim e tamb\u00e9m significa que o di\u00e1logo falhou. Felizmente, podemos ter esse di\u00e1logo aqui. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin O problema \u00e9 que a Europa Central n\u00e3o \u00e9 ouvida. Para entendermos tudo o que se a, \u00e9 preciso ouvir as pessoas que dizem o que n\u00e3o gostamos de ouvir. Judith Sargentini Se falamos do facto de que um partido que cresce deve ser ouvido, \u00e9 verdade que deve ser ouvido. Mas para ser levado a s\u00e9rio, \u00e9 preciso que sejam analisadas as pol\u00edticas que leva a cabo. Tendo em contra as leis e os Direitos Fundamentais, para podermos criticar esse partido se n\u00e3o defenderem o que \u00e9 concebido como uma sociedade democr\u00e1tica regida pelas regras de Direito. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin Mas ent\u00e3o a Lei e o Direito devem ser aplicados da mesma forma em toda a Uni\u00e3o Europeia. Deixe-me dar-vos um exemplo: Tem havido v\u00e1rios problemas em Espanha entre os tribunais Constitucional e Supremo. Nada a ver com a Catalunha. Batalhas importantes. Aconteceram situa\u00e7\u00f5es parecidas na Rep\u00fablica Checa e na Eslov\u00e9nia. As decis\u00f5es dos Tribunais Constitucionais foram pura e simplesmente ignoradas. Onde est\u00e1 o Direito nestes casos? Disse isto ao vice-presidente Timmermans e respondeu-me que n\u00e3o poderiam ocupar-se de tudo. Por isso n\u00e3o esse tal imp\u00e9rio da lei e s\u00e3o as decis\u00f5es pol\u00edticas que dominam. Se acontecer na Hungria, temos de analisar o caso, se acontecer na Rep\u00fablica Checa, vamos ignorar as coisas. Veja o que acontece na Eslov\u00e1quia, totalmente disfuncional. Sabia disso? Judith Sargentini N\u00e3o nos importamos nada de analisar as situa\u00e7\u00f5es de todos esses pa\u00edses. Acho que deveriamos faz\u00ea-lo.A lei dos media no tempo de Berlusconi. Os problemas na Pol\u00f3nia. A jornalista assassinada em Malta. Tudo deve ser analisado. Temos de ter a liberdade para falarmos juntos. Sobre tudo o que se a nos nossos pa\u00edses. Mas os erros dos outros n\u00e3o podem ser uma boa desculpa para justificarmos os nossos problemas. Gy\u00f6rgy Sch\u00f6pflin N\u00e3o entendeu o que eu disse. O que quero dizer e que, para esse relat\u00f3rio ser levado a s\u00e9rio, temos de aceitar a ideia de um espa\u00e7o legal comum a toda a Europa. 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Migrantes e refugiados: o confronto entre Bruxelas e Budapeste em debate

Migrantes e refugiados: o confronto entre Bruxelas e Budapeste em debate
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A Euronews convidou dois eurodeputados para debaterem a política de Budapeste face às migrações e o posicionamento da União Europeia.

Esta semana, Insiders analisa a situação na Hungria, cujo Governo parece aproximar-se da extrema-direita no espectro político. Uma posição de confronto com vários Estados membros da União Europeia e instituições de Bruxelas.

Assista ao debate entre o eurodeputado húngaro Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos), György Schöpflin# e a eurodeputada holandesa do Grupo dos Verdes/ Aliança Livre Europeia, Judith Sargentini, com a moderação da jornalista Sophie Claudet.
Euronews Mr Schöpflin, começamos com o senhor. Os refugiados não são bem-vindos à Hungria. Ouvimos o primeiro-ministro Viktor Orbán falar dos refugiados como se fossem veneno, uma invasão muçulmana, equiparando a migração ao terrorismo. Agora, temos o partido Força e Identidade, que defende a ideologia nacional socialista. Estão a aproximar-se a extrema-direita e o partido Fidesz?

György Schöpflin De maneira nenhuma. Isso é o que dizem os opositores do primeiro-ministro. É algo que têm vindo a dizer durante os últimos 25 anos. Não há novidade nenhuma. E claro, os media ocidentais, como vocês, pegaram no assunto.

Euronews Mas quando comparam os migrantes a veneno, a invasões, com uma ameaça à Europa cristã…

György Schöpflin Bem, durante o ano de 2015, parecia realmente que enfrentavamos uma invasão, uma forma de violência estrutural.

Euronews Sim, mas as coisas mudaram. E os são aceites muitos poucos pedidos de asilo e os senhores continuam a falar de migrantes…

György Schöpflin Porque acabou o problema? Porque a Hungria construiu uma defesa. A ideia de uma comunidade significativa de muçulmanos na Hungria, aliás, já lá vivem vários, não é aceitável. Nem para o meu partido nem para a maioria da sociedade. É uma questão de escolha democrática.Queremos ou não queremos uma sociedade multicultural?

Euronews Mas é disso que se trata, então. Os senhores não querem uma sociedade multicultural?

György Schöpflin Não se trata apenas disso, mas respondo que sim à sua questão.

Euronews Muito bem. Senhora Sargentini, o facto de que a Hungria esteja a virar à direita, com as limitações nas liberdades fundamentais, o que implica a discriminação contra as minorias, sejam de natureza étnica ou sexual, por exemplo,é algo que esteja analisar no seu trabalho?

Judith Sargentini Analisamos vários casos que sugerem uma fragmentação do Estado de Direito. Acontece no caso das leis do ensino superior ou quando a Hungria desrespeita as leis europeias sobre as migrações ou no caso dos ataques contra a liberdade de expressão, com o fecho de jornais.Queremos saber se é uma mudança estrutural no Estado de Direito e na Democracia.

Euronews Senhor Schöpflin, como encara estas investigações?

György Schöpflin Contente. Estou muito feliz. Acho que o relatório vai ser aceite, de uma forma muito radical o que será perfeito para a campanha que terá lugar na próxima primavera para as eleições legislativas. Seguirá depois para o Conselho, que terá de confrontá-lo com o artigo 7 (do Tratado Europeu) e acabará esquecido, porque é demasiado complicado e o Conselho não irá fazer nada sobre o assunto. Penso que vai demonstrar o quão inútil é o Artigo 7.

Euronews Para os nossos espetadores entenderem, o Artigo 7 poderá privar a Hungria do direito de voto na UE.

György Schöpflin Ou menos do que isso. Se o artigo 7 for ativado, coisa que duvido que aconteça, a Hungria poderia ser expulsa do Espaço Schengen, pelo que não estou particularmente preocupado. Como membro do partido Fidesz, fico feliz com isso.

Euronews O senhor parece quase divertido com a situação.

György Schöpflin Estou realmente divertido, sim.

Euronews E quer explicar-nos porquê?

György Schöpflin Com um grande prazer, encantado. Este Governo assumiu o poder em 2010. Desde então, tem sido alvo de ataques sistemáticos da parte das forças hegemónicas liberais que determinam as opiniões do Ocidente.

Judith Sargentini Acho que o Parlamento Europeu deve permanecer firme ao defender o Estado de Direito e os Direitos Fundamentais. Estamos juntos neste projeto Europeu. Penso que um país como a Hungria é um país Europeu. Partilha a História dos Europeus. Enquadra-se na União Europeia. Partilhamos os mesmos valores e temos de proteger-nos uns aos outros.

Euronews Quando a Hungria decidiu entrar para a União Europeia, em 2014, ou a fazer parte de um grupo de Estados com valores comuns, penso eu. Se dissermos isso ao primeiro-ministro Orbán, ele fica muito incomodado. Porquê parmanecer então na UE se não am as instituições?

György Schöpflin Porquê ficar? É uma questão de segurança, o que me parece benéfico para a Hungria. Ainda que haja diferenças fundamentais entre nós e a família Europeia, ainda que o Ocidente não as reconheça. A Europa Central jamais será a Europa Ocidental e o Ocidente não aceita o nosso ado, que é muito diferente. Penso em quase todos os países Ocidentais, talvez não na Suíça, mas os países com ado colonial.Fomos parte de três Impérios e ninguém se lembra disso. Não temos a chamada culpa colonial, não governámos a Índia.

Euronews Então defende que os valores de que fala a eurodeputada Sargentini são essencialmente valores europeus Ocidentais.

György Schöpflin Não, não é isso que estou a dizer. Digo que cada país os interpreta de forma diferente. E não se pode homogeneizar esses valores sem um estilo quase leninista europeu, algo que não vai acontecer.

Judith Sargentini É aí que me parece que temos opiniões diferentes. Poderiamos ter este mesmo debate a propósito dos Direitos Humanos Universais. São algo inventado pelo Ocidente ou válido para todos? Penso que se olharmos para as pessoas e para os cidadãos, há direitos que são valores universais. Valores Europeus, valores para todos. Acho problemático que, seja na Hungria, seja noutros países da Europa Central, se sugira que esses valores não aplicam a este grupo de cidadãos.

György Schöpflin Alguns desses valores estarão sempre em contradição. Isso significa que têm de ser contextualizados localmente, como a justiça e a misericórdia, por exemplo.

Euronews E os direitos das minorias?

Judith Sargentini Com os direitos das minorias, está tudo bem. Mas nem todas as minorias têm o mesmo grau de proteção. A comunidade LGBT goza claramente de um elevado grau de proteção, o que nao acontece com as minorias linguísticas. Têm sido escolhidas prioridades. Por exemplo, na Ucrânia, com a nova lei de educação, a minoría de língua húngara deixou de ter o Direito Fundamental à educação na língua materna e a Hungria foi abandonada na defesa deste tema. Ninguém diz nada, a não ser a Roménia, que tem o mesmo problema. E penso que se os liberais do Ocidente quiserem ser levados a sério neste tema…

Judith Sargentini O problema é que duas situações erradas não dão origem a uma certa

György Schöpflin Exatamente, por isso, porque não fazer alguma coisa sobre o assunto e dizer aos ucranianos que não podem fazer isto.

Judith Sargentini E porque não fazemos isso juntos? E poderemos também analisar a situação noutros países. Eu não me importo de analisar os problemas do meu país. Ter autocrítica é importante para podermos criticar os outros. A Europa é um processo de pares, de amigos, amigos que dizem a verdade uns aos outros.

Euronews Bem e de amigos que se investigam uns aos outros…

Judith Sargentini É a chamada pressão de grupo, sim…

Euronews Sim e também significa que o diálogo falhou. Felizmente, podemos ter esse diálogo aqui.

György Schöpflin O problema é que a Europa Central não é ouvida. Para entendermos tudo o que se a, é preciso ouvir as pessoas que dizem o que não gostamos de ouvir.

Judith Sargentini Se falamos do facto de que um partido que cresce deve ser ouvido, é verdade que deve ser ouvido. Mas para ser levado a sério, é preciso que sejam analisadas as políticas que leva a cabo. Tendo em contra as leis e os Direitos Fundamentais, para podermos criticar esse partido se não defenderem o que é concebido como uma sociedade democrática regida pelas regras de Direito.

György Schöpflin Mas então a Lei e o Direito devem ser aplicados da mesma forma em toda a União Europeia. Deixe-me dar-vos um exemplo: Tem havido vários problemas em Espanha entre os tribunais Constitucional e Supremo. Nada a ver com a Catalunha. Batalhas importantes. Aconteceram situações parecidas na República Checa e na Eslovénia. As decisões dos Tribunais Constitucionais foram pura e simplesmente ignoradas. Onde está o Direito nestes casos? Disse isto ao vice-presidente Timmermans e respondeu-me que não poderiam ocupar-se de tudo. Por isso não esse tal império da lei e são as decisões políticas que dominam. Se acontecer na Hungria, temos de analisar o caso, se acontecer na República Checa, vamos ignorar as coisas. Veja o que acontece na Eslováquia, totalmente disfuncional. Sabia disso?

Judith Sargentini Não nos importamos nada de analisar as situações de todos esses países. Acho que deveriamos fazê-lo.A lei dos media no tempo de Berlusconi. Os problemas na Polónia. A jornalista assassinada em Malta. Tudo deve ser analisado. Temos de ter a liberdade para falarmos juntos. Sobre tudo o que se a nos nossos países. Mas os erros dos outros não podem ser uma boa desculpa para justificarmos os nossos problemas.

György Schöpflin Não entendeu o que eu disse. O que quero dizer e que, para esse relatório ser levado a sério, temos de aceitar a ideia de um espaço legal comum a toda a Europa. Sem dois pesos nem duas medidas. Não se surpreenda se as pessoas disserem que se trata de uma decisão política, motivada por um ataque contra a Hungria. As tais leis e o Direito estão a ser utilizados para atacar o Governo do Fidesz.
Com Patrícia Tavares, Ana Serapicos, Francisco Marques, Ricardo Figueira e António Oliveira e Silva

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