{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2016/03/04/amor-que-mata-quando-as-vitimas-de-violencia-conjugal-fazem-justica" }, "headline": "Amor que mata: Quando as v\u00edtimas de viol\u00eancia conjugal fazem justi\u00e7a", "description": "Ap\u00f3s d\u00e9cadas de tortura, Jacqueline Sauvage matou o marido. A justi\u00e7a sa condenou-a a dez anos de pris\u00e3o. Jacqueline tornou-se num s\u00edmbolo da", "articleBody": "Ap\u00f3s d\u00e9cadas de tortura, Jacqueline Sauvage matou o marido. A justi\u00e7a sa condenou-a a dez anos de pris\u00e3o. Jacqueline tornou-se num s\u00edmbolo da luta contra a viol\u00eancia dom\u00e9stica, numa altura em que se registam casos extremos quase a um ritmo di\u00e1rio. Ser\u00e1 que a lei protege realmente as v\u00edtimas? Alexandra Lange foi v\u00edtima de viol\u00eancia dom\u00e9stica durante catorze anos. Os espancamentos e as amea\u00e7as constantes tiveram um desfecho tr\u00e1gico: um dia, esta m\u00e3e de quatro filhos matou o marido. A leg\u00edtima defesa que alegou durante o julgamento por homic\u00eddio acabou por lhe valer a absolvi\u00e7\u00e3o em 2012. Alexandra recorda os momentos mais sombrios do seu casamento. \u201cUm dia chamei os pol\u00edcias. Quando eles chegaram viram-me de p\u00e9 com algum sangue. Tinha um pouco no pesco\u00e7o, \u00e0 volta da boca\u2026 Tinha um dos olhos inchados e um hematoma. Um dos agentes, que n\u00e3o saiu do carro, perguntou-me: \u2018\u00c9 a senhora que quer apresentar queixa?\u2019 Eu disse: \u2018Sim, acabei de ser agredida pelo meu marido, n\u00e3o aguento mais.\u2019 \u2018Mas nem sequer est\u00e1 a sangrar muito\u2026\u2019 Foi o que me disseram. Pensei: \u2018S\u00f3 v\u00e3o fazer alguma coisa quando eu morrer\u2026\u2019\u201d, conta-nos. A est\u00f3ria foi adaptada para um telefilme chamado \u201cL\u2019Emprise\u201d que pode ser livremente traduzido como \u201csob dom\u00ednio\u201d. Durante o processo judicial, Alexandra defendeu-se dizendo que apunhalou o marido quando este a tentava estrangular. Antes de ser libertada, ou 18 meses na pris\u00e3o. \u201cFui parar \u00e0 pris\u00e3o depois do ato que cometi. Achava que era a \u00fanica mulher presa por ter morto um marido agressor. Mas, um dia, estava a ver uma reportagem na televis\u00e3o sobre outra pris\u00e3o no norte de Fran\u00e7a e vejo as est\u00f3rias desta e daquela mulher que tamb\u00e9m mataram o marido por causa da viol\u00eancia conjugal. Pensei: \u2018N\u00e3o sou a \u00fanica\u2026\u2019\u201d TF1 prim\u00e9e avec #LEmprise aux Troph\u00e9es du Film fran\u00e7ais ! #Leonis #Fiction #Recompense https://t.co/dBYyhZgC8a pic.twitter.com/rT189CmIDl— Endemol (Endemol_) 4 f\u00e9vrier 2016 Jacqueline Sauvage e os seus quatro filhos sofreram agress\u00f5es e abusos sexuais ao longo de 45 anos. Um dia depois do suic\u00eddio do filho, Jacqueline pegou numa arma e abateu o marido. A alega\u00e7\u00e3o de leg\u00edtima defesa por risco permanente n\u00e3o convenceu o j\u00fari no tribunal. Jacqueline foi condenada a dez anos de pris\u00e3o. O caso mobilizou a Fran\u00e7a. O presidente Fran\u00e7ois Hollande perdoou parte da pena, o que permitiu a Jacqueline sair em liberdade condicional. (Le Parisien):#Jacqueline #Sauvage int\u00e8gre la prison de R\u00e9au ce lundi : Apr\u00e8s la gr\u00e2ce.. https://t.co/hoFk9Kq8Vf pic.twitter.com/1TOp0v6n1P\u2014 Titrespresse.com (@titrespresse) 7 f\u00e9vrier 2016 Eva Darlan \u00e9 uma conhecida atriz sa. Tamb\u00e9m ela foi v\u00edtima de viol\u00eancia conjugal e de incesto. Defende uma proposta de lei, j\u00e1 aprovada no Canad\u00e1, que consiste no princ\u00edpio da \u201cleg\u00edtima defesa diferida\u201d. \u201c\u00c9 uma lei que se destina a proteger as mulheres. \u00c9 \u00f3bvio que um ato de leg\u00edtima defesa pode ser desfasado de um ataque. N\u00e3o nos podemos defender apenas no momento em que nos querem matar. No caso de Jacqueline Sauvage, ela tinha acabado de ser agredida. Foi o tempo de ir buscar a arma\u2026 Isso n\u00e3o \u00e9 leg\u00edtima defesa? \u00c9 inaceit\u00e1vel. O julgamento de Jacqueline Sauvage foi injusto e escandaloso\u201d, considera. Eva escreveu e produziu uma pe\u00e7a chamada \u201cNua e Crua\u201d sobre a luta de algumas mulheres quando se confrontam com o seu pr\u00f3prio corpo. Os momentos de humor v\u00e3o pontuando uma mensagem que assenta no combate. Segundo a atriz, \u201cas leis nunca s\u00e3o verdadeiramente aplicadas. S\u00e3o-no apenas at\u00e9 certo ponto. A lei de prote\u00e7\u00e3o no per\u00edmetro do domic\u00edlio, que impede a aproxima\u00e7\u00e3o at\u00e9 500 metros\u2026 Isso raramente \u00e9 aplicado. O ass\u00e9dio moral, tamb\u00e9m\u2026 No meu caso havia um dossi\u00ea gigantesco sobre isso. Foi arquivado, n\u00e3o aconteceu nada.\u201d Est\u00f3rias como esta e como a de Jacqueline Sauvage avivaram de novo o debate sobre as inc\u00f3gnitas na equa\u00e7\u00e3o da viol\u00eancia num casal. Muitas das v\u00edtimas n\u00e3o conseguem abandonar o seu agressor. Em Fran\u00e7a, morre uma mulher em cada tr\u00eas dias neste tipo de contexto. Luc Fr\u00e9miot \u00e9 um magistrado especializado na ajuda a v\u00edtimas de viol\u00eancia conjugal. Escreveu um livro sobre as dificuldades que os ju\u00edzes enfrentam neste tipo de casos. Fr\u00e9miot foi o procurador no caso de Alexandra Lange, tendo-se batido pela absolvi\u00e7\u00e3o. No entanto, considera que o exemplo de Jacqueline Sauvage e o debate sobre a leg\u00edtima defesa diferida pode transmitir a mensagem errada. \u201cAquilo que mais me choca \u00e9 a inten\u00e7\u00e3o de ar um cheque em branco a estas mulheres. \u00c9 quase uma autoriza\u00e7\u00e3o para matar se considerarem que n\u00e3o t\u00eam outra sa\u00edda. Parte-se do princ\u00edpio que elas correm um risco permanente de morte. Isso n\u00e3o \u00e9 verdade. H\u00e1 alturas em que as coisas acalmam. H\u00e1 aqueles per\u00edodos de lua de mel, em que o respons\u00e1vel pelos atos violentos tenta aproximar-se da mulher, prometendo que n\u00e3o volta a acontecer. H\u00e1 v\u00e1rios intervalos entre os momentos de viol\u00eancia. \u00c9 nessas alturas que elas t\u00eam de ir embora, apresentar queixa, ar um advogado ou uma associa\u00e7\u00e3o. \u00c9 compreens\u00edvel e leg\u00edtimo que uma mulher odeie a pessoa que a agride durante anos. Mas ela tamb\u00e9m pode premeditar um assassinato. Pode decidir mat\u00e1-lo. \u00c9 poss\u00edvel orquestrar um homic\u00eddio e depois alegar leg\u00edtima defesa diferida. Ningu\u00e9m \u00e9 culpado. Isso n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel, isso coloca em causa todos os fundamentos do Direito e da conviv\u00eancia em sociedade\u201d, declara. Morgane Seliman sofreu agress\u00f5es do seu ex-marido durante quatro anos. Acabou por apresentar queixa. Ele ou seis meses na pris\u00e3o. Morgane escreveu um livro intitulado \u201cEle roubou a minha vida\u201d. Vous venez d'entendre le t\u00e9moignage de Morgane Seliman, auteure de \u0022Il m'a vol\u00e9 ma vie\u0022 #RTL #ViolencesConjugales pic.twitter.com/uGuvrSvRLc\u2014 On est fait pour\u2026 (@oefpseRTL) 5 octobre 2015 \u201cTudo come\u00e7ou quando eu fiquei gr\u00e1vida. N\u00e3o era preciso grande coisa. Logo pela manh\u00e3, se eu n\u00e3o tivesse arrumado o comando ou as almofadas, era um pretexto para me bater. Depois contava o tempo para me agredir. O nosso filho fazia a sesta \u00e0s duas da tarde. Se eu tivesse cometido um erro de manh\u00e3, ele dizia-me: \u2018Dentro de quatro horas, vais apanhar; tr\u00eas horas; duas horas; uma hora; daqui a dez minutos.\u2019 E depois era o momento fat\u00eddico\u201d, revela. \u201orque \u00e9 que aguentou tanto tempo ao lado dele?\u201d, perguntamos. De certa forma, existe amor. Eu tinha sempre esperan\u00e7a\u2026 Tinha ficado gr\u00e1vida, estava a criar uma fam\u00edlia. Achava que ele podia mudar de atitude e as coisas voltarem ao s\u00edtio. E tinha medo. O medo ocupava cada vez mais espa\u00e7o. Eu dizia-me: \u2018Este homem \u00e9 louco, um dia mata-me.\u2019 Ou ent\u00e3o vai atacar a minha fam\u00edlia. Houve uma altura em que ele me batia tanto \u2013 era todos os dias -, que se tornou numa esp\u00e9cie de ritual. Eu estava sempre \u00e0 espera de perceber se ele estava bem disposto ou n\u00e3o. S\u00f3 queria aguentar para poder dar de comer ao meu filho. N\u00e3o tinha tempo de pensar em partir.\u201d Gra\u00e7as \u00e0 ajuda de algumas associa\u00e7\u00f5es, Morgane viveu escondida do mundo durante mais de um ano. No entanto, o medo persiste. O seu ex-marido encontra-se em liberdade e pretende fazer valer os seus direitos para ver o filho: \u201cN\u00e3o tenho tanto medo como tinha antes. J\u00e1 n\u00e3o \u00e9 a mesma coisa. 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Amor que mata: Quando as vítimas de violência conjugal fazem justiça

Amor que mata: Quando as vítimas de violência conjugal fazem justiça
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De Nuno Prudêncio
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Após décadas de tortura, Jacqueline Sauvage matou o marido. A justiça sa condenou-a a dez anos de prisão. Jacqueline tornou-se num símbolo da

Após décadas de tortura, Jacqueline Sauvage matou o marido. A justiça sa condenou-a a dez anos de prisão. Jacqueline tornou-se num símbolo da luta contra a violência doméstica, numa altura em que se registam casos extremos quase a um ritmo diário. Será que a lei protege realmente as vítimas?

Alexandra Lange foi vítima de violência doméstica durante catorze anos. Os espancamentos e as ameaças constantes tiveram um desfecho trágico: um dia, esta mãe de quatro filhos matou o marido. A legítima defesa que alegou durante o julgamento por homicídio acabou por lhe valer a absolvição em 2012. Alexandra recorda os momentos mais sombrios do seu casamento.

“Um dia chamei os polícias. Quando eles chegaram viram-me de pé com algum sangue. Tinha um pouco no pescoço, à volta da boca… Tinha um dos olhos inchados e um hematoma. Um dos agentes, que não saiu do carro, perguntou-me: ‘É a senhora que quer apresentar queixa"> Notícias relacionadas

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