{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2016/02/25/a-ue-deve-reorientar-ajudas-a-outros-paises-para-os-refugiados" }, "headline": "A UE deve reorientar ajudas a outros pa\u00edses para os refugiados?", "description": "A Uni\u00e3o Europeia \u00e9 o maior doador do mundo aos pa\u00edses em vias de desenvolvimento, mas os migrantes econ\u00f3micos n\u00e3o param de chegar \u00e0 Europa. Porqu\u00ea?", "articleBody": "A Uni\u00e3o Europeia \u00e9 o maior doador do mundo aos pa\u00edses em vias de desenvolvimento, mas os migrantes econ\u00f3micos n\u00e3o param de chegar \u00e0 Europa. Porqu\u00ea? A UE \u00e9 o maior doador do mundo em ajudas ao desenvolvimento: mais de 50 mil milh\u00f5es de euros por ano. Mas os migrantes econ\u00f3micos, provenientes de pa\u00edses que recebem apoios, n\u00e3o param de chegar \u00e0 Europa. H\u00e1 quem defenda que o dinheiro seja canalizado para gerir a crise dos refugiados; mas tamb\u00e9m h\u00e1 quem aponte que isso pode agravar o fen\u00f3meno. As ONG afirmam que reduzir as ajudas vai multiplicar o n\u00famero de migrantes econ\u00f3micos, que suplanta o de refugiados s\u00edrios. Como \u00e9 que a Europa pode gerir esta quest\u00e3o numa altura em que os or\u00e7amentos nacionais apertam o cinto? Os nossos convidados no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Nirj Deva, do Comit\u00e9 para o Desenvolvimento e do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (CRE); Henrique Banze assistente do secret\u00e1rio-geral do grupo de pa\u00edses A \u2013 \u00c1frica, Cara\u00edbas e Pac\u00edfico; e Eugenio Ambrosi, diretor regional da Organiza\u00e7\u00e3o Internacional para as Migra\u00e7\u00f5es (OIM). Chris Burns, euronews: Porque \u00e9 que existem tantos migrantes econ\u00f3micos quando se gasta tanto dinheiro nas ajudas ao desenvolvimento? Nirj Deva: Porque n\u00e3o estamos a criar emprego nos pa\u00edses em desenvolvimento. O que \u00e9 que h\u00e1 em \u00c1frica? H\u00e1 produtos agr\u00edcolas e minerais. Ser\u00e1 que n\u00f3s permitimos que os africanos exportem a sua agricultura para c\u00e1? Ser\u00e1 que incentivamos \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de valor acrescentado, de uma ind\u00fastria de processamento de produtos? N\u00e3o. euronews: Partilha desta vis\u00e3o? Henrique Banze: Completamente. \u00c9 essencial criar emprego, sobretudo tendo em conta a situa\u00e7\u00e3o das mulheres e dos jovens que constituem a grande maioria dos migrantes na Europa. As ajudas ao desenvolvimento t\u00eam de se concentrar nos fatores que favorecem a transforma\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica. euronews: Concorda? Eugenio Ambrosi: Historicamente, a migra\u00e7\u00e3o sempre foi uma grande for\u00e7a de desenvolvimento. As remessas dos emigrantes que um desses pa\u00edses vai receber ao longo deste ano ser\u00e3o entre cinco a seis vezes maiores do que as ajudas ao desenvolvimento. Uma das raz\u00f5es pelas quais as pessoas migram \u00e9 tamb\u00e9m para ajudar a desenvolver o seu pr\u00f3prio pa\u00eds. euronews: As remessas ajudam, de facto, a desenvolver uma economia? Henrique Banze: H\u00e1 um grande debate em torno do contributo das remessas para o desenvolvimento. \u00c9 claro que s\u00e3o recursos significativos para as fam\u00edlias, para as comunidades. No entanto, questiona-se at\u00e9 que ponto \u00e9 uma ajuda ao desenvolvimento, uma vez que se trata de dinheiro privado. Nirj Deva: N\u00e3o concordo. O que as remessas permitem \u00e9 que as pessoas possam beneficiar da compra e venda de propriedades, por exemplo. N\u00e3o geram emprego. euronews: Tendo nascido no Sri Lanka, considera que \u00e9 um erro canalizar dinheiro das ajudas ao desenvolvimento para a crise dos migrantes? Nirj Deva: \u00c9 um grande erro. Mas onde \u00e9 que se vai buscar o dinheiro para gerir esta quest\u00e3o, tendo em conta que estamos quase na bancarrota? Dev\u00edamos era ajudar as pessoas que vivem nos campos de refugiados, n\u00e3o aqueles que t\u00eam for\u00e7a f\u00edsica e econ\u00f3mica para atravessar a Europa rumo ao Reino Unido e outros pa\u00edses. \u00c9 mais um erro. euronews: Qual \u00e9 a vis\u00e3o dos que acompanham de perto a crise dos migrantes\u2026 Eugenio Ambrosi: Em parte, \u00e9 verdade. \u00c9 evidente que temos de ajudar as pessoas que vivem nos campos. Mas n\u00e3o creio que aqueles que v\u00eam para a Europa sejam mais fortes f\u00edsica ou economicamente, at\u00e9 porque n\u00e3o se sujeitariam a esse longo caminho. A solu\u00e7\u00e3o \u00e9 muito mais complexa, esta crise \u00e9 generalizada. 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Henrique Banze: A solu\u00e7\u00e3o a por uma abordagem global. A migra\u00e7\u00e3o tem v\u00e1rias dimens\u00f5es. Temos de gerir as quest\u00f5es econ\u00f3micas, as quest\u00f5es sociais, as quest\u00f5es pol\u00edticas, as quest\u00f5es ligadas \u00e0 seguran\u00e7a. A aprova\u00e7\u00e3o dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustent\u00e1vel da Agenda 2030 \u00e9 uma das formas de lidar com o problema da migra\u00e7\u00e3o. Nirj Deva: Posso colocar uma quest\u00e3o? Porque \u00e9 que os pa\u00edses do Extremo Oriente que n\u00e3o receberam ajudas da Uni\u00e3o Europeia \u2013 Singapura, Coreia do Sul, a regi\u00e3o de Hong Kong, Taiwan, Vietname, Tail\u00e2ndia, Cambodja \u2013 se tornaram t\u00e3o ricos num per\u00edodo t\u00e3o curto de tempo? Mas os pa\u00edses que am a conven\u00e7\u00e3o de Lom\u00e9, o acordo de Cotonou, ainda vivem na pobreza. Porqu\u00ea esta diferen\u00e7a? Henrique Banze: Por uma simples raz\u00e3o. As ajudas ao desenvolvimento n\u00e3o s\u00e3o a \u00fanica forma de erradicar a pobreza. H\u00e1 outros fatores em jogo. \u00c9 isso. Alguns dos pa\u00edses pobres que mencionou vivem abaixo dos limites aceit\u00e1veis. O ponto de partida \u00e9 muito baixo. Vai demorar muito mais tempo\u2026 euronews: Como incentivar ao envolvimento do setor privado nesta problem\u00e1tica? Eugenio Ambrosi: O setor privado \u00e9 importante. J\u00e1 fal\u00e1mos da quest\u00e3o das remessas e do facto de ser dinheiro privado \u2013 \u00e9 por isso que s\u00e3o um fator importante. 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O setor privado tem um papel essencial e o Estado deve simplificar o caminho. euronews: Como \u00e9 que se resolve a quest\u00e3o dos subs\u00eddios aos agricultores na Europa e nos Estados Unidos? Muitos afirmam que essas ajudas prejudicam os agricultores dos pa\u00edses em vias de desenvolvimento\u2026 Eugenio Ambrosi: N\u00e3o sei exatamente como resolver essa quest\u00e3o. \u00c9 um grande problema que afeta, de facto, o setor agr\u00edcola nos pa\u00edses em vias de desenvolvimento. Quando se fala no setor privado e no dinheiro destinado ao desenvolvimento, h\u00e1 que relembrar tamb\u00e9m o que aconteceu no ado. A forma como essas ferramentas foram utilizadas impediu a sua efic\u00e1cia. euronews: O que fazer para contrariar o desgaste desses apoios e a ideia de que h\u00e1 muito dinheiro desperdi\u00e7ado\u2026 Nirj Deva: Na Uni\u00e3o Europeia estamos a falar de 60 mil milh\u00f5es de euros por ano. 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A UE deve reorientar ajudas a outros países para os refugiados?

A UE deve reorientar ajudas a outros países para os refugiados?
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A União Europeia é o maior doador do mundo aos países em vias de desenvolvimento, mas os migrantes económicos não param de chegar à Europa. Porquê?

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A União Europeia é o maior doador do mundo aos países em vias de desenvolvimento, mas os migrantes económicos não param de chegar à Europa. Porquê?

A UE é o maior doador do mundo em ajudas ao desenvolvimento: mais de 50 mil milhões de euros por ano. Mas os migrantes económicos, provenientes de países que recebem apoios, não param de chegar à Europa. Há quem defenda que o dinheiro seja canalizado para gerir a crise dos refugiados; mas também há quem aponte que isso pode agravar o fenómeno.

As ONG afirmam que reduzir as ajudas vai multiplicar o número de migrantes económicos, que suplanta o de refugiados sírios. Como é que a Europa pode gerir esta questão numa altura em que os orçamentos nacionais apertam o cinto?

Os nossos convidados no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Nirj Deva, do Comité para o Desenvolvimento e do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (CRE); Henrique Banze assistente do secretário-geral do grupo de países A – África, Caraíbas e Pacífico; e Eugenio Ambrosi, diretor regional da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Chris Burns, euronews: Porque é que existem tantos migrantes económicos quando se gasta tanto dinheiro nas ajudas ao desenvolvimento?

Nirj Deva: Porque não estamos a criar emprego nos países em desenvolvimento. O que é que há em África? Há produtos agrícolas e minerais. Será que nós permitimos que os africanos exportem a sua agricultura para cá? Será que incentivamos à criação de valor acrescentado, de uma indústria de processamento de produtos? Não.

euronews: Partilha desta visão?

Henrique Banze: Completamente. É essencial criar emprego, sobretudo tendo em conta a situação das mulheres e dos jovens que constituem a grande maioria dos migrantes na Europa. As ajudas ao desenvolvimento têm de se concentrar nos fatores que favorecem a transformação económica.

euronews: Concorda?

Eugenio Ambrosi: Historicamente, a migração sempre foi uma grande força de desenvolvimento. As remessas dos emigrantes que um desses países vai receber ao longo deste ano serão entre cinco a seis vezes maiores do que as ajudas ao desenvolvimento. Uma das razões pelas quais as pessoas migram é também para ajudar a desenvolver o seu próprio país.

euronews: As remessas ajudam, de facto, a desenvolver uma economia?

Henrique Banze: Há um grande debate em torno do contributo das remessas para o desenvolvimento. É claro que são recursos significativos para as famílias, para as comunidades. No entanto, questiona-se até que ponto é uma ajuda ao desenvolvimento, uma vez que se trata de dinheiro privado.

Nirj Deva: Não concordo. O que as remessas permitem é que as pessoas possam beneficiar da compra e venda de propriedades, por exemplo. Não geram emprego.

euronews: Tendo nascido no Sri Lanka, considera que é um erro canalizar dinheiro das ajudas ao desenvolvimento para a crise dos migrantes?

Nirj Deva: É um grande erro. Mas onde é que se vai buscar o dinheiro para gerir esta questão, tendo em conta que estamos quase na bancarrota? Devíamos era ajudar as pessoas que vivem nos campos de refugiados, não aqueles que têm força física e económica para atravessar a Europa rumo ao Reino Unido e outros países. É mais um erro.

euronews: Qual é a visão dos que acompanham de perto a crise dos migrantes…

Eugenio Ambrosi: Em parte, é verdade. É evidente que temos de ajudar as pessoas que vivem nos campos. Mas não creio que aqueles que vêm para a Europa sejam mais fortes física ou economicamente, até porque não se sujeitariam a esse longo caminho. A solução é muito mais complexa, esta crise é generalizada. Os 28 podiam aliviar o aumento da pressão migratória sobre a Europa se agissem em conjunto, como um grupo.

euronews: É um erro reorientar os fundos?

Henrique Banze: Não. O mais importante é perceber o que está por detrás destas migrações. Uma migração tem de ser abordada de acordo com várias perspetivas. E possível ajudar do ponto de vista económico e também concentrarmo-nos no fluxo migratório, que é gigantesco. Temos de olhar igualmente para os conflitos que provocam a saída das pessoas. É aí que podemos intervir também para ajudar a colocar um ponto final.

Nirj Deva: As migrações não são um fenómeno novo na Europa. Há 2000 anos que os europeus vivem vaga atrás de vaga. 38% dos migrantes vêm agora da Síria. O que aconteceria se o mesmo sucedesse no Egito?

euronews: É uma boa pergunta. No que diz respeito à reorientação de fundos, é algo que temos visto acontecer noutros casos. O dinheiro para a Índia, por exemplo, tem sido canalizado para outros países considerados mais necessitados. É uma decisão sensata?

Eugenio Ambrosi: Não, é um erro canalizar dinheiro do desenvolvimento para a crise migratória. Tem de haver uma resposta coerente e coordenada em termos de ajudas ao desenvolvimento, no sentido de prevenir as crises políticas que podem gerar movimentos migratórios. Falou-se no Egito. Mas há uma crise profunda a formar-se no nordeste da Nigéria. O que vai acontecer se a situação explodir?

euronews: Os financiamentos têm limites. O grupo de países A – África, Caraíbas e Pacífico representa um conjunto de Estados que ilustra contextos diferentes. Considera sensato reorientar os fundos de certos países para outros alegadamente mais necessitados?

Henrique Banze: A solução a por uma abordagem global. A migração tem várias dimensões. Temos de gerir as questões económicas, as questões sociais, as questões políticas, as questões ligadas à segurança. A aprovação dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 é uma das formas de lidar com o problema da migração.

Nirj Deva: Posso colocar uma questão? Porque é que os países do Extremo Oriente que não receberam ajudas da União Europeia – Singapura, Coreia do Sul, a região de Hong Kong, Taiwan, Vietname, Tailândia, Cambodja – se tornaram tão ricos num período tão curto de tempo? Mas os países que am a convenção de Lomé, o acordo de Cotonou, ainda vivem na pobreza. Porquê esta diferença?

Henrique Banze: Por uma simples razão. As ajudas ao desenvolvimento não são a única forma de erradicar a pobreza. Há outros fatores em jogo. É isso. Alguns dos países pobres que mencionou vivem abaixo dos limites aceitáveis. O ponto de partida é muito baixo. Vai demorar muito mais tempo…

euronews: Como incentivar ao envolvimento do setor privado nesta problemática?

Eugenio Ambrosi: O setor privado é importante. Já falámos da questão das remessas e do facto de ser dinheiro privado – é por isso que são um fator importante. Mas o Estado também não pode relegar para o setor privado a responsabilidade da cooperação internacional, não pode lavar as mãos e dizer que a responsabilidade pertence a quem tem o dinheiro.

euronews: Mas como convencer o setor privado a participar quando subsistem receios ao nível da corrupção nos países destinatários ou na forma como o dinheiro é investido…

Nirj Deva: O Comité para o Desenvolvimento do Parlamento Europeu viu, pela primeira vez em 35 anos de debate destas questões, um relatório ser aprovado. É sobre o setor privado. Mas foi um inferno. Há muita gente no parlamento que nunca fez nada pela criação de riqueza…

euronews: Como motivar o setor privado?

Henrique Banze: O setor privado é um ator importante no desenvolvimento económico e social. Os países têm de facilitar esse envolvimento. Mas não podemos colocar o peso todo do lado do Estado. O setor privado tem um papel essencial e o Estado deve simplificar o caminho.

euronews: Como é que se resolve a questão dos subsídios aos agricultores na Europa e nos Estados Unidos? Muitos afirmam que essas ajudas prejudicam os agricultores dos países em vias de desenvolvimento…

Eugenio Ambrosi: Não sei exatamente como resolver essa questão. É um grande problema que afeta, de facto, o setor agrícola nos países em vias de desenvolvimento. Quando se fala no setor privado e no dinheiro destinado ao desenvolvimento, há que relembrar também o que aconteceu no ado. A forma como essas ferramentas foram utilizadas impediu a sua eficácia.

euronews: O que fazer para contrariar o desgaste desses apoios e a ideia de que há muito dinheiro desperdiçado…

Nirj Deva: Na União Europeia estamos a falar de 60 mil milhões de euros por ano. Para enfrentar a questão a sério, temos de arranjar cerca de um bilião e isso só pode vir de um sítio…

euronews: Que é…

Nirj Deva: O setor privado.

Henrique Banze: Temos de nos concentrar no que pode impulsionar o desenvolvimento económico e, sobretudo, a iniciativa nos países em vias de desenvolvimento. Seja no setor da Educação, seja no empreendedorismo, entre outros. Há muito por fazer ainda, não é só uma questão de dinheiro. Há várias dimensões a explorar.

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