{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2015/05/29/por-pouco-a-mafia-dominava-a-expo-milao" }, "headline": "Por pouco a M\u00e1fia dominava a Expo Mil\u00e3o", "description": "Os esc\u00e2ndalos n\u00e3o impediram o avan\u00e7o da Expo Mil\u00e3o. Um milh\u00e3o de metros quadrados de uma mostra que representa tamb\u00e9m o mais recente cap\u00edtulo na luta contra a M\u00e1fia.", "articleBody": "A Exposi\u00e7\u00e3o Universal de Mil\u00e3o abriu portas para o mundo inteiro ver. O tema central \u00e9 \u201cAlimentar o Planeta, Energia para a Vida\u201d. Um milh\u00e3o de metros quadrados, repartidos pelos pavilh\u00f5es de 145 pa\u00edses, representando um investimento total de 14 mil milh\u00f5es de euros. Um cen\u00e1rio demasiado tentador para ar ao lado do crime organizado italiano. No fundo, esta gigantesca mostra tornou-se no mais recente cap\u00edtulo da luta contra a corrup\u00e7\u00e3o neste pa\u00eds. No ano ado, foram detidos pol\u00edticos e empres\u00e1rios suspeitos de subornos relativos \u00e0 organiza\u00e7\u00e3o do evento. Posteriormente, o governo italiano fez aprovar uma lei para refor\u00e7ar a transpar\u00eancia nos concursos p\u00fablicos. As investiga\u00e7\u00f5es policiais revelaram a exist\u00eancia de uma rede criminosa que tentava captar contratos da Expo. O Procurador-geral Claudio Gittardi explica que \u201ch\u00e1 dois casos de contratos estabelecidos nos quais se detetaram interfer\u00eancias il\u00edcitas, subornos e outras pr\u00e1ticas criminosas para tentar influenciar os processos de adjudica\u00e7\u00e3o. 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Por isso, sim, era algo que nos preocupava\u201d Faltava menos de um m\u00eas para a inaugura\u00e7\u00e3o quando o oscarizado cen\u00f3grafo Dante Ferretti, colaborador habitual de Martin Scorcese, por exemplo, anunciou o cancelamento da sua participa\u00e7\u00e3o na Expo. Ao longo de quatro anos, Ferretti desenvolveu o projeto das duas principais avenidas do evento. Os atrasos sucessivos das obras levaram-no a amea\u00e7ar ent\u00e3o a sa\u00edda. Mas um telefonema f\u00ea-lo mudar de ideias. \u201cO antigo presidente italiano, Giorgio Napolitano, ligou-me pessoalmente. Disse-me: \u2018Ferretti, ei tanto tempo a tentar trazer a Expo para Mil\u00e3o\u2026 Desculpa o que tem acontecido. Achas que \u00e9 poss\u00edvel adiar a abertura das avenidas para o Dia da Rep\u00fablica, a 2 de junho?\u2019 Eu disse que sim, que tudo \u00e9 poss\u00edvel\u201d, conta o diretor art\u00edstico. As investiga\u00e7\u00f5es travaram uma rede criminosa que alegadamente oferecia progress\u00f5es na carreira a funcion\u00e1rios p\u00fablicos para tentar manipular o desfecho dos concursos. As autoridades chegaram a esta conclus\u00e3o ap\u00f3s analisarem as grava\u00e7\u00f5es de um dos sete detidos no processo. Segundo Gittardi, \u201cem primeiro lugar, as nossas investiga\u00e7\u00f5es n\u00e3o prejudicaram a Expo, as obras n\u00e3o pararam. Em segundo lugar, os inqu\u00e9ritos permitiram confirmar a ocorr\u00eancia de crimes e, na medida do poss\u00edvel, impediram que estes se desenvolvessem, evitando que a situa\u00e7\u00e3o relativa \u00e0s propostas nos concursos da Expo se degradasse ainda mais.\u201d A derrapagem dos custos do pavilh\u00e3o de It\u00e1lia \u2013 de 63 milh\u00f5es de euros iniciais para 93 milh\u00f5es \u2013 \u00e9 um dos alvos espec\u00edficos das investiga\u00e7\u00f5es. A Autoridade Nacional Anticorrup\u00e7\u00e3o, liderada pelo juiz Raffaele Cantone, \u00e9 respons\u00e1vel por ar as contas a pente fino. \u201cForam atribu\u00eddos poderes especiais \u00e0 Autoridade Nacional Anticorrup\u00e7\u00e3o relativamente \u00e0 Expo. Come\u00e7\u00e1mos a monitorizar todas as propostas em junho do ano ado. Algumas delas ficaram sob istra\u00e7\u00e3o judicial tempor\u00e1ria. No final de contas, podemos dizer que foram medidas corajosas. O nosso sistema de controlo das adjudica\u00e7\u00f5es despertou interesse a n\u00edvel internacional. A OCDE, que nos ajudou a controlar as atividades da Expo, apontou o nosso modelo como o exemplo a utilizar\u201d, afirma Cantone. Em m\u00e9dia, as obras p\u00fablicas em It\u00e1lia derrapam cerca de 40%. No caso da Expo Mil\u00e3o, duas empreitadas foram colocadas sob investiga\u00e7\u00e3o. Mas as obras nunca pararam, refere Cantone: \u201cQuando h\u00e1 um embargo, substitui-se a pessoa que apresentou a empreitada que \u00e9, por sua vez, assumida por um respons\u00e1vel judicial que vai trabalhar no \u00e2mbito da empresa.\u201d As investiga\u00e7\u00f5es identificaram propostas de empres\u00e1rios da regi\u00e3o milanesa que escondiam, na origem, esquemas de liga\u00e7\u00e3o com a M\u00e1fia, sobretudo a \u2018Ndrangheta. O governador regional assinou 80 medidas cautelares que impediram a ajudica\u00e7\u00e3o de propostas de 55 empresas. O governador regional sco Paolo Tronca salienta que \u201cnos \u00faltimos meses, Mil\u00e3o tornou-se num laborat\u00f3rio que serviu para testar novas medidas anti-M\u00e1fia e de embargo.\u201d Segundo a Dire\u00e7\u00e3o Nacional Anti-M\u00e1fia, a \u2018Ndrangheta tentou lucrar cerca de 100 milh\u00f5es de euros com a Expo Mil\u00e3o. Ao que tudo indica, o mecanismo adotado para n\u00e3o chamar as aten\u00e7\u00f5es era o de cobrar comiss\u00f5es inferiores a 150 mil euros por proposta combinada. \u201cNormalmente, a M\u00e1fia utiliza testas de ferro nos concursos. Quando a M\u00e1fia quer controlar um determinado territ\u00f3rio, recorre a m\u00e9todos insidiosos \u2013 identifica indiv\u00edduos e empresas vulner\u00e1veis, em dificuldades, ajuda-os, mas depois obriga-os a colaborar com o seu sistema\u201d, aponta Tronca. A \u2018Ndrangheta tem origem na Cal\u00e1bria, no sul de It\u00e1lia. Mas a sua influ\u00eancia refor\u00e7ou-se, muito gra\u00e7as \u00e0 inflitra\u00e7\u00e3o na economia da Lombardia, a regi\u00e3o onde se encontra Mil\u00e3o, e ainda ao sil\u00eancio das v\u00edtimas. Piero Colaprico, jornalista do \u2018\u2018La Repubblica\u2019\u2018, real\u00e7a que \u201cesta Expo foi o primeiro grande evento a ser, ao mesmo tempo, marcado pelos apelos \u00e0 transpar\u00eancia e pelo fantasma da obscuridade. Na \u2018zona cinzenta\u2019 ficaram os v\u00e1rios embargos a empres\u00e1rios e intermedi\u00e1rios. Houve empresas que foram banidas da Expo, na sequ\u00eancia das investiga\u00e7\u00f5es do governo regional e da Procuradoria. Agora, dizem que \u00e9 uma Expo livre de M\u00e1fia.\u201d Se o horizonte \u00e9 mundial, os v\u00edcios e virtudes expostos ilustram uma realidade muito pr\u00f3pria deste pa\u00eds. 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Por pouco a Máfia dominava a Expo Milão

Por pouco a Máfia dominava a Expo Milão
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Os escândalos não impediram o avanço da Expo Milão. Um milhão de metros quadrados de uma mostra que representa também o mais recente capítulo na luta contra a Máfia.

A Exposição Universal de Milão abriu portas para o mundo inteiro ver. O tema central é “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida”. Um milhão de metros quadrados, repartidos pelos pavilhões de 145 países, representando um investimento total de 14 mil milhões de euros. Um cenário demasiado tentador para ar ao lado do crime organizado italiano.

No fundo, esta gigantesca mostra tornou-se no mais recente capítulo da luta contra a corrupção neste país. No ano ado, foram detidos políticos e empresários suspeitos de subornos relativos à organização do evento. Posteriormente, o governo italiano fez aprovar uma lei para reforçar a transparência nos concursos públicos. As investigações policiais revelaram a existência de uma rede criminosa que tentava captar contratos da Expo.

O Procurador-geral Claudio Gittardi explica que “há dois casos de contratos estabelecidos nos quais se detetaram interferências ilícitas, subornos e outras práticas criminosas para tentar influenciar os processos de adjudicação. Trata-se de um exemplo flagrante de corrupção.”

Os inquéritos acabaram por evocar a memória doutros tempos, da Itália dos anos 90, em plena Operação Mãos Limpas, quando o país era imediatamente associado ao estereótipo da corrupção generalizada, impossível de exterminar. Uma sombra que pairou sobre uma iniciativa com investimentos tão avultados como a Expo Milão.

Diana Bracco, presidente da mostra, não esconde a inquietação: “É claro que fiquei preocupada, porque a minha função ava por apresentar a Itália da melhor maneira e de assegurar que as coisas decorriam no timing certo. Os inquéritos judiciais fizeram-nos perder meses de preparação, ficou tudo num ime. E houve consequências, houve pessoas que foram afastadas. Por isso, sim, era algo que nos preocupava”

Faltava menos de um mês para a inauguração quando o oscarizado cenógrafo Dante Ferretti, colaborador habitual de Martin Scorcese, por exemplo, anunciou o cancelamento da sua participação na Expo. Ao longo de quatro anos, Ferretti desenvolveu o projeto das duas principais avenidas do evento. Os atrasos sucessivos das obras levaram-no a ameaçar então a saída. Mas um telefonema fê-lo mudar de ideias.

“O antigo presidente italiano, Giorgio Napolitano, ligou-me pessoalmente. Disse-me: ‘Ferretti, ei tanto tempo a tentar trazer a Expo para Milão… Desculpa o que tem acontecido. Achas que é possível adiar a abertura das avenidas para o Dia da República, a 2 de junho"> Notícias relacionadas

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