Os escândalos não impediram o avanço da Expo Milão. Um milhão de metros quadrados de uma mostra que representa também o mais recente capítulo na luta contra a Máfia.
A Exposição Universal de Milão abriu portas para o mundo inteiro ver. O tema central é “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida”. Um milhão de metros quadrados, repartidos pelos pavilhões de 145 países, representando um investimento total de 14 mil milhões de euros. Um cenário demasiado tentador para ar ao lado do crime organizado italiano.
No fundo, esta gigantesca mostra tornou-se no mais recente capítulo da luta contra a corrupção neste país. No ano ado, foram detidos políticos e empresários suspeitos de subornos relativos à organização do evento. Posteriormente, o governo italiano fez aprovar uma lei para reforçar a transparência nos concursos públicos. As investigações policiais revelaram a existência de uma rede criminosa que tentava captar contratos da Expo.
O Procurador-geral Claudio Gittardi explica que “há dois casos de contratos estabelecidos nos quais se detetaram interferências ilícitas, subornos e outras práticas criminosas para tentar influenciar os processos de adjudicação. Trata-se de um exemplo flagrante de corrupção.”
Os inquéritos acabaram por evocar a memória doutros tempos, da Itália dos anos 90, em plena Operação Mãos Limpas, quando o país era imediatamente associado ao estereótipo da corrupção generalizada, impossível de exterminar. Uma sombra que pairou sobre uma iniciativa com investimentos tão avultados como a Expo Milão.
Diana Bracco, presidente da mostra, não esconde a inquietação: “É claro que fiquei preocupada, porque a minha função ava por apresentar a Itália da melhor maneira e de assegurar que as coisas decorriam no timing certo. Os inquéritos judiciais fizeram-nos perder meses de preparação, ficou tudo num ime. E houve consequências, houve pessoas que foram afastadas. Por isso, sim, era algo que nos preocupava”
Faltava menos de um mês para a inauguração quando o oscarizado cenógrafo Dante Ferretti, colaborador habitual de Martin Scorcese, por exemplo, anunciou o cancelamento da sua participação na Expo. Ao longo de quatro anos, Ferretti desenvolveu o projeto das duas principais avenidas do evento. Os atrasos sucessivos das obras levaram-no a ameaçar então a saída. Mas um telefonema fê-lo mudar de ideias.
“O antigo presidente italiano, Giorgio Napolitano, ligou-me pessoalmente. Disse-me: ‘Ferretti, ei tanto tempo a tentar trazer a Expo para Milão… Desculpa o que tem acontecido. Achas que é possível adiar a abertura das avenidas para o Dia da República, a 2 de junho"> Notícias relacionadas