{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2014/10/24/ha-um-muro-que-se-ergueu-depois-de-berlim" }, "headline": "H\u00e1 um muro que se ergueu depois de Berlim", "description": "H\u00e1 um muro que se ergueu depois de Berlim", "articleBody": "H\u00e1 25 anos ca\u00eda o Muro de Berlim e abria-se a Cortina de Ferro. Hoje as novas gera\u00e7\u00f5es n\u00e3o t\u00eam mem\u00f3ria da vida durante o comunismo \u2013 h\u00e1 quem fale mesmo de um \u201cmuro geracional\u201d.Entramos numa carrinha polaca dos anos 70 para ouvir Rafal Patla contar a hist\u00f3ria de Vars\u00f3via. A cidade foi arrasada pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. At\u00e9 1989, esteve atr\u00e1s da Cortina de Ferro. Rafal tinha apenas 4 anos quando o regime comunista desmoronou. Hoje assume como miss\u00e3o partilhar o percurso hist\u00f3rico com a sua gera\u00e7\u00e3o. \u201cO Pal\u00e1cio da Cultura e Ci\u00eancia, uma prenda do Tio Estaline, \u00e9 um s\u00edmbolo do comunismo, do dom\u00ednio sovi\u00e9tico sobre o nosso pa\u00eds\u201d, explica-nos Rafal.Um dom\u00ednio que colapsou quando o Muro de Berlim caiu. Na capital polaca, \u00e9 cada vez mais dif\u00edcil tra\u00e7ar os vest\u00edgios da guerra fria. Em vez disso, multiplicam-se os sinais do desenvolvimento que tornou esta na sexta maior economia da Uni\u00e3o Europeia. A Pol\u00f3nia conquistou um lugar no palco pol\u00edtico internacional. A mudan\u00e7a \u00e9 dif\u00edcil de incorporar para quem conheceu outros tempos.Adam Ringer regressou em 1989 depois de viver na Su\u00e9cia durante mais de 20 anos: \u201cEra como se fosse um sonho. Ningu\u00e9m acreditava que todo o sistema pudesse implodir. J\u00e1 ningu\u00e9m se lembra de como isto era h\u00e1 25 anos, de como era cinzento. As pessoas viviam ansiosas, a desconfiar de tudo. Se olharmos para os jovens que trabalham neste caf\u00e9, eles nasceram todos depois. Podemos tentar explicar-lhes, mas ser\u00e1 que v\u00e3o entender o que era a vida na altura? Quem n\u00e3o esteve l\u00e1, ter\u00e1 muito dificuldade em compreender.\u201dPara Filip Lepka, um estudante universit\u00e1rio, o per\u00edodo vivido pelos seus pais e av\u00f3s pertence quase ao dom\u00ednio da fic\u00e7\u00e3o. \u201cOuvi tantas est\u00f3rias na minha fam\u00edlia, que tenho dificuldades em imaginar como era. Para a minha gera\u00e7\u00e3o, \u00e9 como se fosse um mundo diferente, \u00e9 como a \u2018Alice no Pa\u00eds das Maravilhas\u2019\u201d, declara.H\u00e1 ou n\u00e3o um muro que se ergueu entre as gera\u00e7\u00f5es que a Cortina de Ferro separou? Tomasz Ciapala tem 33 anos. Juntamente com a mulher, Marta, gere uma loja de vestu\u00e1rio em Vars\u00f3via. Muitos da mesma gera\u00e7\u00e3o partiram para o estrangeiro. Mas Tomasz aprecia a sua liberdade: \u201cEu costumo viajar com o meu pai. O aporte que possuo, e no qual tenho orgulho, permite-me ir aonde eu quiser. Cheguei de Espanha h\u00e1 dois dias, por exemplo. A liberdade \u00e9 isto e \u00e9 o mais importante. A liberdade de fazer o que quero, de ir onde quero. N\u00e3o h\u00e1 limites. J\u00e1 os meus pais n\u00e3o podiam fazer o mesmo.\u201dMas, segundo Marta, a liberdade de que os mais novos desfrutam, n\u00e3o significa que n\u00e3o haja um pre\u00e7o a pagar: \u201cA nossa gera\u00e7\u00e3o tem menos ajudas do governo do que a anterior. Para arranjar um apartamento, por exemplo, n\u00e3o era chegar e comprar. Antes eram as autoridades que se encarregavam disso. Tamb\u00e9m no que toca ao emprego, a maior parte das pessoas da gera\u00e7\u00e3o anterior arranjava um trabalho e conservava-o a vida inteira, \u00e0 espera que o governo tomasse conta deles quando chegasse a altura da reforma. Hoje j\u00e1 sabemos que isso n\u00e3o vai acontecer.\u201dAos 25 anos, Kamil Cebulski era j\u00e1 apresentado como um dos jovens mais ricos da Pol\u00f3nia. aram cinco anos e este empres\u00e1rio continua a criar start-up no setor da internet, apostando tamb\u00e9m na forma\u00e7\u00e3o de novos empreendedores. Para Kamil, o muro existe, mas n\u00e3o \u00e9 entre gera\u00e7\u00f5es: trata-se da divis\u00e3o entre o mercado livre e o excesso de leis e impostos. \u201cEu mudei todas as minhas empresas da Pol\u00f3nia para o Reino Unido, para a Tail\u00e2ndia, para a Z\u00e2mbia. N\u00e3o tenho nada aqui na Pol\u00f3nia porque o mercado est\u00e1 demasiado regulado. Eles abusam com tantas normas. Os jovens polacos n\u00e3o conseguem competir com os empres\u00e1rios que j\u00e1 est\u00e3o no mercado porque h\u00e1 demasiadas barreiras, os obst\u00e1culos s\u00e3o enormes\u201d, considera.Numa f\u00e1brica abandonada de Vars\u00f3via encontramos um museu privado dedicado ao comunismo. A iniciativa, que abriu portas em abril, partiu precisamente de Rafal. O conceito: mostrar a vida quotidiana debaixo do regime. Dois visitantes s\u00e3o primos cujos pais emigraram h\u00e1 v\u00e1rias d\u00e9cadas para a Inglaterra e Canad\u00e1. Um deles, Keith Kurek, conta-nos que \u201cqueria visitar este museu porque quando cheguei \u00e0 Pol\u00f3nia pareceu-me tudo moderno. \u00c9 como o Canad\u00e1. Aqui no museu do Comunismo posso ver como as coisas eram, posso perceber as diferen\u00e7as. Recuamos at\u00e9 aos anos 80, 70. E, nessa altura, as diferen\u00e7as eram abissais. N\u00e3o me imagino a viver assim.\u201dKeith nunca tinha estado na Pol\u00f3nia. Chris veio uma vez com a m\u00e3e visitar a fam\u00edlia. Foi em 1970. \u201cS\u00f3 guardei uma recorda\u00e7\u00e3o. Est\u00e1vamos na fila \u00e0 espera para entrar num talho. As filas eram enormes. Quando olhei l\u00e1 para dentro, s\u00f3 havia ganchos vazios. N\u00e3o havia nada. Eles faziam fila para qu\u00ea? Estava vazio\u201d, recorda.Depois seguiu-se a repress\u00e3o da Lei Marcial e o combate do movimento Solidariedade. Entre os que preferem esquecer e os que sentem alguma nostalgia, parece haver um meio termo na ideia de que a entreajuda perante as dificuldades era, de facto, uma realidade. E isso pode servir de li\u00e7\u00e3o. Rafal salienta o seguinte: \u201cA minha gera\u00e7\u00e3o \u00e9 a primeira em 200 anos que n\u00e3o teve de lutar por nada. Duzentos anos. Todas as gera\u00e7\u00f5es lutaram contra algo: contra os bolcheviques, contra os nazis, contra os comunistas, contra os russos. As pessoas lutavam pela liberdade. Agora somos livres, mas aram apenas 25 anos, \u00e9 s\u00f3 uma gera\u00e7\u00e3o. A liberdade \u00e9 algo que podemos perder muito rapidamente. Temos de cuidar dela. \u00c9 por isso que \u00e9 preciso aprender com a hist\u00f3ria.\u201d", "dateCreated": "2014-10-24T11:03:48+02:00", "dateModified": "2014-10-24T11:03:48+02:00", "datePublished": "2014-10-24T11:03:48+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F285868%2F1440x810_285868.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "H\u00e1 um muro que se ergueu depois de Berlim", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F285868%2F432x243_285868.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Há um muro que se ergueu depois de Berlim

Há um muro que se ergueu depois de Berlim
Direitos de autor 
De Euronews
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Há 25 anos caía o Muro de Berlim e abria-se a Cortina de Ferro. Hoje as novas gerações não têm memória da vida durante o comunismo – há quem fale mesmo de um “muro geracional”.

Entramos numa carrinha polaca dos anos 70 para ouvir Rafal Patla contar a história de Varsóvia. A cidade foi arrasada pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Até 1989, esteve atrás da Cortina de Ferro. Rafal tinha apenas 4 anos quando o regime comunista desmoronou. Hoje assume como missão partilhar o percurso histórico com a sua geração. “O Palácio da Cultura e Ciência, uma prenda do Tio Estaline, é um símbolo do comunismo, do domínio soviético sobre o nosso país”, explica-nos Rafal.

Um domínio que colapsou quando o Muro de Berlim caiu. Na capital polaca, é cada vez mais difícil traçar os vestígios da guerra fria. Em vez disso, multiplicam-se os sinais do desenvolvimento que tornou esta na sexta maior economia da União Europeia. A Polónia conquistou um lugar no palco político internacional. A mudança é difícil de incorporar para quem conheceu outros tempos.

Adam Ringer regressou em 1989 depois de viver na Suécia durante mais de 20 anos: “Era como se fosse um sonho. Ninguém acreditava que todo o sistema pudesse implodir. Já ninguém se lembra de como isto era há 25 anos, de como era cinzento. As pessoas viviam ansiosas, a desconfiar de tudo. Se olharmos para os jovens que trabalham neste café, eles nasceram todos depois. Podemos tentar explicar-lhes, mas será que vão entender o que era a vida na altura? Quem não esteve lá, terá muito dificuldade em compreender.”

Para Filip Lepka, um estudante universitário, o período vivido pelos seus pais e avós pertence quase ao domínio da ficção. “Ouvi tantas estórias na minha família, que tenho dificuldades em imaginar como era. Para a minha geração, é como se fosse um mundo diferente, é como a ‘Alice no País das Maravilhas’”, declara.

Há ou não um muro que se ergueu entre as gerações que a Cortina de Ferro separou? Tomasz Ciapala tem 33 anos. Juntamente com a mulher, Marta, gere uma loja de vestuário em Varsóvia. Muitos da mesma geração partiram para o estrangeiro. Mas Tomasz aprecia a sua liberdade: “Eu costumo viajar com o meu pai. O aporte que possuo, e no qual tenho orgulho, permite-me ir aonde eu quiser. Cheguei de Espanha há dois dias, por exemplo. A liberdade é isto e é o mais importante. A liberdade de fazer o que quero, de ir onde quero. Não há limites. Já os meus pais não podiam fazer o mesmo.”

Mas, segundo Marta, a liberdade de que os mais novos desfrutam, não significa que não haja um preço a pagar: “A nossa geração tem menos ajudas do governo do que a anterior. Para arranjar um apartamento, por exemplo, não era chegar e comprar. Antes eram as autoridades que se encarregavam disso. Também no que toca ao emprego, a maior parte das pessoas da geração anterior arranjava um trabalho e conservava-o a vida inteira, à espera que o governo tomasse conta deles quando chegasse a altura da reforma. Hoje já sabemos que isso não vai acontecer.”

Aos 25 anos, Kamil Cebulski era já apresentado como um dos jovens mais ricos da Polónia. aram cinco anos e este empresário continua a criar start-up no setor da internet, apostando também na formação de novos empreendedores. Para Kamil, o muro existe, mas não é entre gerações: trata-se da divisão entre o mercado livre e o excesso de leis e impostos. “Eu mudei todas as minhas empresas da Polónia para o Reino Unido, para a Tailândia, para a Zâmbia. Não tenho nada aqui na Polónia porque o mercado está demasiado regulado. Eles abusam com tantas normas. Os jovens polacos não conseguem competir com os empresários que já estão no mercado porque há demasiadas barreiras, os obstáculos são enormes”, considera.

Numa fábrica abandonada de Varsóvia encontramos um museu privado dedicado ao comunismo. A iniciativa, que abriu portas em abril, partiu precisamente de Rafal. O conceito: mostrar a vida quotidiana debaixo do regime. Dois visitantes são primos cujos pais emigraram há várias décadas para a Inglaterra e Canadá. Um deles, Keith Kurek, conta-nos que “queria visitar este museu porque quando cheguei à Polónia pareceu-me tudo moderno. É como o Canadá. Aqui no museu do Comunismo posso ver como as coisas eram, posso perceber as diferenças. Recuamos até aos anos 80, 70. E, nessa altura, as diferenças eram abissais. Não me imagino a viver assim.”

Keith nunca tinha estado na Polónia. Chris veio uma vez com a mãe visitar a família. Foi em 1970. “Só guardei uma recordação. Estávamos na fila à espera para entrar num talho. As filas eram enormes. Quando olhei lá para dentro, só havia ganchos vazios. Não havia nada. Eles faziam fila para quê? Estava vazio”, recorda.

Depois seguiu-se a repressão da Lei Marcial e o combate do movimento Solidariedade. Entre os que preferem esquecer e os que sentem alguma nostalgia, parece haver um meio termo na ideia de que a entreajuda perante as dificuldades era, de facto, uma realidade. E isso pode servir de lição. Rafal salienta o seguinte: “A minha geração é a primeira em 200 anos que não teve de lutar por nada. Duzentos anos. Todas as gerações lutaram contra algo: contra os bolcheviques, contra os nazis, contra os comunistas, contra os russos. As pessoas lutavam pela liberdade. Agora somos livres, mas aram apenas 25 anos, é só uma geração. A liberdade é algo que podemos perder muito rapidamente. Temos de cuidar dela. É por isso que é preciso aprender com a história.”

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

França depois dos atentados de 2015

A questão central das eleições alemãs é a transição energética

Certificação do queijo halloumi suscita controvérsia entre UE, cipriotas gregos e turcos