O cineasta dissidente iraniano venceu a Palma de Ouro com "Un Simple Accident" numa noite em que os brasileiros Kléber Mendonça Filho e Wagner Moura levaram para casa os prémios de Melhor Realizador e Melhor Ator, por "<o Agente Secreto".
A Palma de Ouro do festival de Cannes ao drama iraniano Un Simple Accident, que marca o regresso do cineasta dissidente e opositor do regime iraniano Jafar Panahi, com um filme rodado na clandestinidade, sem autorização das autoridades de Teerão, que mostra mulheres sem o hijab. O filme surge dez anos depois de Táxi, também rodado na clandestinidade, com o qual Panahi venceu o Urso de Ouro em Berlim. Panahi esteve preso e impedido de rodar filmes ou de viajar para o estrangeiro, uma proibição que entretanto foi levantada.
Esta vitória dá continuidade a uma série extraordinária para a distribuidora independente Neon, que já apoiou os últimos seis vencedores da Palma de Ouro. A Neon escolheu It Was Just an Accident para distribuição na América do Norte após a sua estreia em Cannes, depois de ter ganho anteriormente Parasitas, Titane, Triângulo da Tristeza, Anatomia de uma Queda e Anora.
Cate Blanchett entregou o prémio a Panahi, que esteve preso no Irão até há três anos e fez greve de fome. Há mais de 15 anos que realiza filmes em segredo no seu país, entre os quais This Is Not a Film, filmado na sua sala de estar, e Táxi, ado inteiramente num carro.
O público aplaudiu-o de pé. Panahi levantou os braços e inclinou-se para trás, incrédulo, antes de aplaudir a sua equipa e os que o rodeavam. No palco, foi recebido com aplausos pela presidente do júri de Cannes, Juliette Binoche, que em 2010 tinha levantado o seu nome no festival enquanto ele estava em prisão domiciliária.
Ao subir ao palco, Panahi disse que o que mais importava era a liberdade no seu país.
"Vamos unir forças", disse Panahi. "Ninguém se deve atrever a dizer-nos que tipo de roupa devemos vestir, o que devemos fazer ou o que não devemos fazer. O cinema é uma sociedade. Ninguém tem o direito de dizer o que devemos fazer ou deixar de fazer". "Vamos continuar a ter esperança", concluiu.
Apesar do grito de liberdade de Panahi, o cineasta iraniano declarou que a vida no exílio não é para ele e que planeava regressar a Teerão este domingo.
A cerimónia de encerramento do festival ocorreu pouco depois de um grande corte de energia ter atingido o sudeste de França, que a polícia acredita ter sido causado por fogo posto. A eletricidade foi restabelecida em Cannes poucas horas antes de as estrelas começarem a chegar à adeira vermelha.
Chuva de prémios para o cinema lusófono
O cinema falado em português esteve em grande destaque nesta edição do maior festival de cinema do mundo. O brasileiro Kléber Mendonça Filho venceu o prémio de Melhor Realizador com o seu mais recente filme O Agente Secreto, ado durante o regime militar no Brasil, que acabaria por revelar-se como um dos grandes vencedores desta noite de prémios na Croisette.
Pelo mesmo filme, Wagner Moura conquistou o prémio de melhor ator. O filme conquistou também um prémio fora da competição oficial, considerado o melhor do festival pelo júri da crítica da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema).
O prémio de melhor atriz foi para Nadia Melliti, no filme La Petite Dernière.
Já a atriz cabo-verdiana Cléo Dária venceu o prémio de melhor atriz na secção Un Certain Regard, pelo filme O Riso e a Faca, do português Pedro Pinho.