Têm sido feitos estudos sobre a "capacidade de carga turística" de Atenas, com zonas "sobrelotadas" e outras de "saturação moderada". "Temos de funcionar como se fôssemos Barcelona", sublinha à Euronews o presidente da Câmara de Atenas.
Este ano, espera-se que Atenas receba cerca de dez milhões de visitantes, uma vez que se tornou um dos dez destinos turísticos mais populares da Europa.
Desde o início do ano, foram proibidos novos arrendamentos de curta duração no centro da cidade e as autoridades municipais mantêm-se vigilantes para garantir que o aumento do fluxo turístico não sobrecarregue os residentes.
“O mais importante é que o turismo seja sustentável”, diz presidente da Câmara de Atenas, Harris Doukas, à Euronews.
“Fizemos um estudo de 'capacidade de carga turística' que diz que não devemos ser complacentes. Ainda não estamos na fase de Barcelona, mas, segundo o estudo, temos de atuar como Barcelona.", salienta.
"O que é que o estudo da capacidade de carga mostra? Mostra que existem 27 zonas sobrelotadas onde não pode haver um único turista a mais."
"Também criámos um Observatório do Turismo Sustentável, que nos permite verificar dados todos os dias, todos os meses. Temos uma cooperação muito boa com os hotéis, mas também com algumas plataformas como a Airbnb, para podermos controlar e direcionar os fluxos. É muito, muito importante para nós sermos um destino sustentável para que as pessoas possam respirar tranquilamente”, acrescenta.
O congelamento de novas licenças para arrendamentos curta duração pode ser alargado a mais bairros.
"Analisamos os dados e, se necessário, intervimos e criamos novas restrições. Estou também a dizer uma coisa para que não haja mal-entendidos. O produto turístico tem de ser de alta qualidade. Também não é bom para o produto turístico ter bairros inteiros incrivelmente estruturados em redor do turismo e ser uma monocultura”, vinca Doukas.
O Observatório está atualmente a recolher dados sobre o número de camas por habitante, o número de arrendamentos de curta duração por bairro e uma série de outros indicadores. Com base nesta informação, os bairros são classificados como "verdes", ou seja, com margem, ou "vermelhos", o que significa saturados.
“Há alguns bairros que estão atualmente muito sobrelotados, mas poderei dar-vos dados em setembro. Neste momento, é uma altura muito crítica. No final de setembro, estaremos em condições de anunciar se é necessária uma nova proibição e onde”, afirmou Doukas.
Saturação elevada, rendas elevadas
Nos bairros de Psirri e Koumoundourou, dois dos 27 bairros saturados do centro de Atenas, mais de 90% dos imóveis funcionam como hotéis e arrendamentos de curta duração, sendo que os preços são superiores a 1200 euros por mês, o mesmo que um salário médio.
Muitos outros bairros de Atenas estão classificados como “moderadamente saturados”. Aí as autoridades irão verificar se existem propriedades e infraestruturas suficientes para acolher mais turistas.
“O Observatório é uma instituição que foi criada recentemente”, explica à Euronews Ioannis Georgios, diretor-geral da Sociedade de Desenvolvimento do Município de Atenas.
“O primeiro trabalho que fez foi o estudo da capacidade de carga. Foi um verdadeiro estudo, que apresentou números exatos, como o nível das rendas e a taxa de ocupação e de saturação."
"Este estudo será atualizado regularmente todos os anos. No final de 2025, um ano após a apresentação do primeiro estudo, apresentaremos dados atualizados e seremos capazes de os relacionar com ferramentas de Inteligência Artificial e outros indicadores espaciais para que sejam mais eficazes.", frisa Georgios, acrescentando:
"O que é que podemos descobrir? Podemos perceber que uma mancha que teve uma saturação moderada está a começar a ficar saturada. Então é aí que o Estado precisa de fazer alguma coisa. Iremos indicar isso. Vamos dizer à cidade que é aí que é necessário criar restrições de utilização do solo para que possamos resolver o problema."
"O estudo sobre a capacidade de carga tem um interesse internacional. Porque, apesar de Atenas não ter sobrelotação como um todo, é a primeira cidade que fez este estudo e está a tentar tomar medidas antes de o problema se agravar. Foi por isso que o estudo foi discutido em eventos pré-conferência, em que se reuniram recentemente 11 presidentes de Câmara de toda a Europa”.
Atenas faz parte da iniciativa “Autarcas pela Habitação”, juntamente com 15 cidades europeias, que pede à UE que dê prioridade à resolução da crise da habitação.
Doukas insite que a massificação turística é um problema premente que já está a merecer "medidas extremas" na Europa.
“Em Espanha estão a tomar medidas extremas. Estão a retirar casas que estão em plataformas de curto prazo. As pessoas estão em caixas e estão a fazer manifestações."
"Noutras cidades, como Veneza, estão a introduzir medidas extremas, como dar dinheiro para se aproximarem do centro de Veneza. Não concordo com tudo isso. Estão a fazê-lo porque essas cidades não tomaram medidas atempadas. Ainda não estamos na fase de Barcelona ou de Veneza."