Um encontro entre os líderes russo e americano está "claramente no radar", disse o porta-voz do Kremlin. Mas com Moscovo a parecer enviar sinais sobre a sua vontade de diálogo, qual é a resposta de Washington?
Um encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente norte-americano, Donald Trump, é "necessário em muitos aspetos", mas ainda não foi agendado, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na segunda-feira.
"Essa reunião está claramente no radar", acrescentou.
"Deve ser preparada de forma adequada e isso requer esforços a vários níveis por parte de especialistas", referiu Peskov.
Em primeiro lugar, o compromisso do Kremlin com um cessar-fogo na sua guerra contra a Ucrânia, diz Kurt Volker, ex-representante especial dos Estados Unidos (EUA) para as negociações com a Ucrânia durante o primeiro governo Trump.
Em entrevista à Euronews, a partir do Fórum de Segurança de Kiev, Volker deixa claro que o presidente dos EUA quer encontrar-se com o seu homólogo russo, mas só depois de um cessar-fogo na Ucrânia.
"Trump quer acabar com a guerra e depois gostaria de reconstruir uma relação com a Rússia. Ele pensa que é possível reintegrar a Rússia numa economia global, que é possível fazer negócios com a Rússia, mas Putin tem de parar a guerra primeiro", explicou Volker.
"E como Putin não está a fazer isso, as perspetivas de um encontro Trump-Putin estão cada vez mais distantes".
Volker foi o negociador de Washington para a Ucrânia entre 2017 e 2019, quando Putin e Trump tiveram os seus últimos encontros em Helsínquia e depois na reunião do G20 em Osaka.
"Putin está a tentar tirar partido do ego de Trump"
Volker diz que o presidente russo está "a tentar tirar partido do ego do presidente Trump", ao dizer: "Certo, podemos sentar-nos de homem para homem, podemos resolver isto".
No início do seu segundo mandato, Trump anunciou que se iria encontrar com Putin "muito rapidamente" após a tomada de posse.
"Penso que, de certa forma, o presidente Trump se vê como uma figura forte capaz de o fazer. Mas não está satisfeito com o facto de Putin não ter conseguido acabar com a guerra. É por isso que esta ideia de um encontro não vai acontecer, a menos que as circunstâncias mudem", adiantou Volker.
O antigo enviado norte-americano à Ucrânia afirmou, em entrevista à Euronews, que, consequentemente, houve uma mudança significativa de opinião em Washington relativamente à vontade de Putin de parar a guerra. "É claro que os EUA e a Ucrânia estão alinhados no apelo a um cessar-fogo total durante 30 dias. E isso é um o para um cessar-fogo permanente. E Putin está a gozar com isso".
"Ele não está a falar a sério sobre o fim dos combates. E, agora, em Washington, as pessoas estão a reconhecer isso e a chamar Putin à razão, dizendo que a Rússia está a exigir demasiado e que não aceita um cessar-fogo", salientou Volker.
Em vez disso, o presidente russo anunciou um "cessar-fogo unilateral" de três dias para proteger e assegurar o desfile do Dia da Vitória em Moscovo, na sexta-feira.
"Putin não está a falar a sério sobre um cessar-fogo. Não está a falar a sério sobre parar os seus ataques. Penso que ele quer fazer um gesto político, especialmente porque está alinhado com a parada militar em Moscovo", notou Volker, acrescentando que ficaria "surpreendido se ele respeitasse o seu próprio cessar-fogo".
O que é que Washington vai fazer agora?
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, itiu esta semana que as conversações para pôr fim à guerra da Rússia contra a Ucrânia não estão nem sequer perto das expectativas iniciais de Washington.
"Neste momento, os russos estão a pedir um certo conjunto de requisitos, um certo conjunto de concessões para pôr fim ao conflito. Pensamos que estão a pedir demasiado", disse Vance.
A istração norte-americana pode agora "endurecer a sua retórica sobre a agressão da Rússia e a sua falta de vontade de ter um cessar-fogo", frisou Volker à Euronews.
Este seria o primeiro o, seguido de "uma ênfase renovada nas sanções contra a Rússia", possivelmente incluindo sanções secundárias "contra aqueles que estão a ajudar a Rússia a fugir às sanções originais sobre o petróleo e o gás e a indústria financeira".
Mais do que isso, Washington continuará a fornecer armas à Ucrânia. "Não será dinheiro dos contribuintes. Penso que a era das dotações para financiar a Ucrânia com o dinheiro dos contribuintes já acabou. Mas poderia prever a concessão de empréstimos à Ucrânia, como fizemos com o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial", afirmou.
"O Canadá está a avançar nessa direção e não me surpreenderia se os EUA também o fizessem", concluiu Volker.