A Polónia prepara-se para assumir a presidência da União Europeia no final do controverso mandato húngaro.
Depois de seis meses com a missão orientar os trabalhos do Conselho da União Europeia e representar todos os Estados-membros nas negociações com as outras instituições da UE, chegou ao fim a Presidência da Hungria.
O país presidiu ao Conselho de 1 de julho até ao final do ano. Segue-se a Polónia, que irá ocupar o cargo no primeiro dia do ano novo.
O mandato da Hungria teve um início polémico, já que a presidência foi lançada com uma campanha intitulada “Make Europe Great Again”, em português "Tornar a Europa grande novamente", uma ligeira variação do infame slogan “Make America Great Again” do antigo e agora reeleito presidente dos EUA, Donald Trump.
Na primeira semana de julho, também a primeira semana da presidência de Budapeste, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, deu o pontapé de saída com uma visita muito criticada a Moscovo, onde se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, naquilo apelidou de uma “missão de paz”.
Putin tem sido fortemente excluído da Europa após a sua invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. O primeiro-ministro húngaro foi o primeiro líder da UE a reunir-se com líder russo desde a invasão russa da Ucrânia. Orbán e Putin encontraram-se em Moscovo pela primeira vez no início de julho de 2022 e, dois anos mais tarde, desta vez com a Hungria a presidir à UE.
As visitas foram alvo de críticas generalizadas, tendo o Parlamento Europeu condenado veementemente a reunião numa resolução. O Parlamento Europeu classificou a visita como uma “violação flagrante dos tratados da UE e da política externa comum” e exigiu repercussões contra o líder húngaro.
Orbán também foi alvo de críticas por se ter encontrado novamente com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, durante a presidência rotativa do seu país.
Muitos países da UE começaram a distanciar-se da Hungria, boicotando as reuniões da UE organizadas por Budapeste, incluindo a Comissão Europeia. Muitos dirigentes consideraram que as políticas e opiniões de Orbán não representavam o resto do bloco, nem promoviam os seus interesses ou objetivos comuns.
As constantes críticas de Orbán à UE, tanto nas suas aparições nos meios de comunicação social como nos seus discursos, não ajudaram a sua imagem, já de si em dificuldades. O primeiro-ministro húngaro fez numerosos comentários controversos em entrevistas, criticando o bloco e os Estados-membros individualmente.
Numa entrevista, criticou a União Europeia pelo seu apoio à Ucrânia, afirmando que Kiev não pode vencer no campo de batalha e que a paz deve ser assegurada através de concessões e da diplomacia. Afirmou ainda que Budapeste está a tentar garantir a cessação das hostilidades e criticou os líderes da UE por “quererem a guerra”.
“Aqueles que pensam que o que estamos a fazer como UE é correto podem continuar a apoiar os ucranianos. Mas, para aqueles que discordam, como a Hungria, não o faremos. Isso deve ser da responsabilidade dos governos nacionais”, acrescentou Orbán. Apesar de reconhecer as diferenças de opinião sobre a guerra com a maioria dos Estados-membros da UE, Orbán insistiu que a maioria dos europeus “quer a paz”, enquanto os líderes da UE são a favor da continuação do conflito.
Numa entrevista, acusou também a UE de instalar um “governo fantoche” em Varsóvia para fazer prevalecer os seus interesses sobre os do povo polaco.
Orbán tem entrado frequentemente em conflito com Bruxelas, que reteve milhares de milhões de euros de apoio financeiro à Hungria devido às suas alegadas violações das normas do Estado de direito e da democracia.
O anterior governo nacionalista-conservador da Polónia também ou anos a discutir com a UE sobre deficiências democráticas.
Em resposta, Orbán tem adotado uma abordagem cada vez mais combativa em relação ao bloco, ao qual a Hungria aderiu em 2004, e reuniu partidos eurocéticos de toda a UE para criar uma força política de extrema-direita na legislatura do bloco.
Os líderes da UE não gostam das políticas de Orbán que, segundo eles, aproximaram a Hungria de autocracias como a Rússia e a China.
Esperam que a próxima presidência polaca, chefiada pelo governo do primeiro-ministro Donald Tusk, restabeleça a unidade do bloco e reacenda o sentimento pró-europeu.