A comunidade internacional tem vindo a reagir à queda do governo de Bashar al-Assad. Portugal destaca o "fim do inominável regime de Assad". Já o ministro italiano Tajani informou que um grupo de rebeldes invadiu a residência do embaixador do país em Damasco, mas não há registo de feridos.
A comunidade internacional está em alerta máximo após o colapso do regime de Bashar al-Assad na Síria, com os rebeldes anti-governamentais liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham a entrarem em Damasco na madrugada deste domingo.
Dos Estados Unidos à Rússia, ando pela Europa, os líderes políticos manifestaram a sua preocupação com a população local e os estrangeiros no país. O apelo é no sentido de uma transição pacífica do poder para evitar mais baixas.
Portugal destaca "fim do inominável regime de Assad"
Através de uma publicação na rede social X, o Ministério dos Negócios Estrangeiros assegurou que "Portugal, com os parceiros europeus, segue de perto a situação na Síria", tendo acrescentado que o "povo sírio tem direito à paz".
O Ministério tutelado por Paulo Rangel considerou ainda que o "fim do inominável regime de Assad deve conduzir a uma transição pacífica e inclusiva de todas as comunidades, na linha da Resolução 2254 do Conselho de Segurança da UN [Nações Unidas, na sigla em inglês]".
Antonio Tajani: “Rebeldes na residência do embaixador em Damasco"
Numa conferência de imprensa realizada na manhã deste domingo no Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, o vice-primeiro-ministro de Itália, Antonio Tajani, afirmou que a “derrota do regime sírio de Bashar al-Assad” era clara. Afirmou ainda que um grupo armado entrou no jardim da residência do embaixador italiano em Damasco, Stefano Ravagnan. “Não houve violência nem contra o embaixador, nem contra os Carabinieri [elementos das forças de segurança]. Levaram três carros. A situação está completamente sob controlo”, acrescentou o também ministro dos Negócios Estrangeiros.
Quanto aos cerca de trezentos compatriotas presentes na Síria, Tajani disse que um grupo já chegou à Jordânia no sábado, enquanto outros atravessaram a fronteira com a Síria para o Líbano e estão atualmente alojados em alguns conventos em Beirute. O ministro explicou ainda que não há atualmente mais nenhum cidadão italiano a pedir para sair do país.
“Estamos prontos para qualquer eventualidade e, neste momento, tal como todas as outras nações, não só europeias como internacionais, estamos a avaliar todas as ações possíveis para garantir a segurança dos funcionários italianos e a sua possível saída do país, caso a situação se degrade ainda mais e se torne extremamente perigosa e caótica”, disse o ministro da Defesa, Guido Crosetto, à agência Ansa, assegurando a colaboração com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Presidência do Conselho de Ministros.
Biden monitoriza, Trump afirma: “Rússia e Irão enfraquecidos"
Num comunicado divulgado este domingo, a Casa Branca escreveu que “o presidente Biden e a sua equipa estão a acompanhar de perto os acontecimentos extraordinários na Síria e permanecem em o constante com os parceiros regionais”. Num post publicado na Truth Social, Donald Trump destacou o fim do regime de Assad, explicando que a Rússia já não estava interessada em protegê-lo.
“Assad já não existe. Ele fugiu do seu país. A sua protetora, a Rússia liderada por Vladimir Putin, já não estava interessada em protegê-lo. A Rússia e o Irão estão num estado enfraquecido neste momento, um por causa da Ucrânia e da má economia, o outro por causa de Israel e do seu sucesso no combate”, escreveu Trump.
Macron: “O Estado bárbaro caiu"
Também muito duro foi o comentário do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre o fim do regime de Assad. “O Estado bárbaro caiu. Finalmente. Presto homenagem ao povo sírio, à sua coragem, à sua paciência. Neste momento de incerteza, desejo-lhes paz, liberdade e unidade”, escreveu o chefe do Eliseu nas redes sociais, garantindo depois que França continuará empenhada na segurança de todos no Médio Oriente.
“Agora, os russos estão a retirar-se da Síria, mas isso não significa que não voltem a tentar semear a morte no país. A presença militar russa também está ativa em África, com o único objetivo de a desestabilizar”, escreveu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, numa publicação no X, atacando a Rússia e as suas ligações a vários conflitos em todo o mundo.
“O fim da ditadura de Assad é uma evolução positiva e há muito esperada. Mostra também a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irão. A nossa prioridade é garantir a segurança na região. Trabalharei com todos os parceiros construtivos, na Síria e na região”, escreveu a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, no X, assegurando que está em estreito o com os ministros da região. “O processo de reconstrução da Síria será longo e complicado e todas as partes devem estar prontas para se empenharem de forma construtiva”, acrescentou.
“O fim do domínio de Assad na Síria é uma boa notícia. O que é importante agora é que a lei e a ordem sejam rapidamente restauradas na Síria. Todas as comunidades religiosas e minorias devem gozar de proteção agora e no futuro”, comentou o chanceler alemão Olaf Scholz. Para o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Otto Pedersen, “o dia de hoje marca um momento crucial na história da Síria, uma nação que ou quase 14 anos de sofrimento implacável e perdas indescritíveis”. “Este capítulo negro deixou cicatrizes profundas, mas hoje aguardamos com cautelosa esperança a abertura de um novo capítulo de paz, reconciliação, dignidade e inclusão para todos os sírios”, acrescentou o norueguês.
Ministros dos Negócios Estrangeiros turco, chinês e espanhol apelam à prudência
Em Doha, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, afirmou que os atores internacionais e as potências regionais devem agir com cautela e preservar a integridade territorial da Síria, alertando para o facto de as organizações terroristas não poderem tirar partido da situação. O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, afirmou que Madrid apoiaria uma solução pacífica para a Síria que proporcionasse estabilidade à região.
"Qualquer solução para o futuro da Síria deve ser pacífica, beneficiar o povo sírio e, de alguma forma, trazer um nova estabilidade ao Médio Oriente e não mais instabilidade”, disse Albares à televisão pública espanhola. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, por seu lado, afirmou no domingo que espera que a Síria “regresse à estabilidade o mais rapidamente possível”.