{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2024/05/21/walter-baier-partidos-estabelecidos-integram-discurso-da-extrema-direita-na-sua-propria-na" }, "headline": "Walter Baier: \u0022Partidos estabelecidos integram discurso da extrema-direita na sua pr\u00f3pria narrativa\u0022", "description": "A Euronews entrevistou Walter Baier, principal candidato do grupo da Esquerda Europeia \u00e0s elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu.", "articleBody": "Euronews : \u0022Durante dez anos foi presidente do Partido Comunista Austr\u00edaco. O que o levou a candidatar-se \u00e0 presid\u00eancia da Comiss\u00e3o Europeia?\u0022 Walter Baier : \u201cH\u00e1 um ano e meio, perguntaram-me se estaria dispon\u00edvel para me apresentar \u00e0 presid\u00eancia do partido da Esquerda Europeia, o que aceitei, com todo o gosto, uma vez que estive entre os fundadores do partido. E em Ljubljana, onde ambos nos encontr\u00e1mos, fui eleito candidato principal, ou seja, candidato a Presidente da Comiss\u00e3o Europeia. E estava dispon\u00edvel para o fazer porque quero mudar a Europa. Sinto-me empenhado numa Europa social e pac\u00edfica. E se nos sentimos empenhados, ent\u00e3o temos de aceitar a responsabilidade\u201d. Euronews : \u201cComecemos por algumas quest\u00f5es sobre a guerra. A esquerda apela a uma menor militariza\u00e7\u00e3o na Europa, contrariamente \u00e0s tend\u00eancias atuais dos Estados-Membros. \u00c9 uma posi\u00e7\u00e3o realista, tendo em conta que a guerra est\u00e1 \u00e0 porta da Europa?\u201d Walter Baier : \u201cTemos enormes armamentos na Europa. Os Estados-Membros da Uni\u00e3o Europeia gastaram 270 mil milh\u00f5es de euros em armamento. Compare-se com as despesas de armamento da R\u00fassia, por exemplo, que s\u00e3o cerca de 100 mil milh\u00f5es de euros e eles est\u00e3o em guerra. Por isso, ningu\u00e9m pode dizer que n\u00e3o estamos suficientemente equipados. E n\u00f3s perguntamos: \u00e9 suficiente ou n\u00e3o? Temos 15 mil ogivas nucleares no mundo, o que permitiria destruir o mundo 150 vezes. \u00c9 suficiente ou n\u00e3o \u00e9 suficiente?\u201d Euronews : \u201cUma das raz\u00f5es pelas quais est\u00e3o a investir mais na militariza\u00e7\u00e3o \u00e9 porque a UE est\u00e1 a apoiar a Ucr\u00e2nia. Acha que a Uni\u00e3o Europeia cometeu um erro ao apoiar a Ucr\u00e2nia na luta contra a R\u00fassia? Walter Baier : \u201cN\u00e3o. N\u00e3o acho que dev\u00eassemos ter deixado os ucranianos sozinhos. A agress\u00e3o da R\u00fassia \u00e9 injusta. \u00c9 ilegal. \u00c9 uma viola\u00e7\u00e3o do direito internacional. Causou um enorme sofrimento humano. Depois de 500 mil mortos, centenas de aldeias destru\u00eddas e um milh\u00e3o de pessoas em fuga, pensamos que \u00e9 altura de criar as condi\u00e7\u00f5es para a paz, iniciar negocia\u00e7\u00f5es, cessar-fogo e chegar a uma Ucr\u00e2nia soberana e segura atrav\u00e9s de meios pol\u00edticos. Porque \u00e9 \u00f3bvio que no campo de batalha a solu\u00e7\u00e3o j\u00e1 n\u00e3o pode ser encontrada\u201d. Euronews : \u201cComo seriam essas negocia\u00e7\u00f5es de paz? Esse cessar-fogo?\u201d Walter Baier : \u201enso que, em primeiro lugar, deve haver uma garantia internacional para a integridade territorial e a soberania da Ucr\u00e2nia. \u00c9 isso que o pa\u00eds e o povo merecem. Em segundo lugar, penso que deveria haver negocia\u00e7\u00f5es entre a Ucr\u00e2nia e a R\u00fassia. A Uni\u00e3o Europeia deve ser envolvida. \u00c9 \u00f3bvio que os EUA t\u00eam de estar envolvidos. Deve ser alcan\u00e7ado um acordo multilateral\u201d. Euronews : \u201cO que vai acontecer com as partes ocupadas da Ucr\u00e2nia? Como \u00e9 que essa quest\u00e3o deve ser tratada nos futuros acordos de paz?\u201d Walter Baier : \u201enso que temos de respeitar a integridade territorial da Ucr\u00e2nia. H\u00e1 muitas quest\u00f5es envolvidas, mas um dos princ\u00edpios \u00e9 que a Ucr\u00e2nia \u00e9 membro da OSCE. \u00c9 um Estado soberano. Tem o direito de ter fronteiras seguras. Este \u00e9 um dos pontos de partida de qualquer negocia\u00e7\u00e3o\u201d. Euronews : Esse acordo significaria que a Ucr\u00e2nia deixaria algum territ\u00f3rio para a R\u00fassia ou n\u00e3o? Walter Baier : \u201cDiria que n\u00e3o me cabe a mim dar conselhos bem cabe \u00e0 esquerda conceber o acordo de paz. Devemos respeitar as decis\u00f5es do povo ucraniano e do governo ucraniano\u201d. \u0022Seria relevante suspender o acordo de associa\u00e7\u00e3o entre a Uni\u00e3o Europeia e Israel\u0022 Euronews : \u201cemos agora a outras quest\u00f5es que preocupam os europeus e a Uni\u00e3o Europeia, a guerra em Gaza. A esquerda pediu san\u00e7\u00f5es contra Israel. Como \u00e9 que imagina essas san\u00e7\u00f5es?\u201d Walter Baier : \u201cAntes de mais, \u00e9 a duplicidade de crit\u00e9rios. Demorou menos de uma semana a impor san\u00e7\u00f5es \u00e0 R\u00fassia. E isto \u00e9 correto. E agora temos mais de meio ano de guerra em Gaza, com 35 mil mortos. A destrui\u00e7\u00e3o total do pa\u00eds. N\u00e3o aconteceu nada. N\u00e3o aconteceu nada. Exceto palavras. E quando se trata do car\u00e1cter dessas san\u00e7\u00f5es, eu diria, por exemplo, que seria relevante suspender o acordo de associa\u00e7\u00e3o entre a Uni\u00e3o Europeia e Israel. N\u00e3o para sempre, mas enquanto o governo israelita n\u00e3o aceitar o direito dos palestinianos em Gaza \u00e0 seguran\u00e7a e \u00e0 prote\u00e7\u00e3o. Enquanto continuar esta terr\u00edvel guerra contra civis, n\u00e3o podemos comportar-nos como se nada tivesse acontecido\u201d. Walter Baier: A UE perde credibilidade por ter \u0022dois pesos e duas medidas\u0022 Euronews : \u201orque \u00e9 que acha que a Uni\u00e3o Europeia tem dois pesos e duas medidas?\u201d Walter Baier : \u201cS\u00e3o interesses, interesses geopol\u00edticos. Mas eu diria que o outro lado da moeda \u00e9 que a Uni\u00e3o Europeia perde credibilidade. O facto de ter dois pesos e duas medidas desacredita a Uni\u00e3o Europeia no Sul global\u201d. Euronews : \u201cGostaria de saber o que pensa da forma como a presidente da Comiss\u00e3o Europeia, Ursula von der Leyen, lidou com a guerra em Gaza\u201d. Walter Baier : \u201cEstou a procurar as palavras certas. Porque, na verdade, o comportamento dela \u00e9 t\u00edpico da duplicidade de crit\u00e9rios. \u00c9 inadequado. N\u00e3o tem responsabilidade pelo que est\u00e1 a acontecer. E tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 honesto.\u00a0 Acusar todos os que criticam o atual governo israelita de serem antissemitas \u00e9 errado, \u00e9 injusto. \u00c9 contra a hist\u00f3ria. \u00c9 contra a raz\u00e3o. Por isso, de um modo geral, ela lidou muito mal com situa\u00e7\u00e3o. Vejo que agora est\u00e3o a falar sobre Rafah. Mas foi h\u00e1 pouco tempo. E n\u00e3o est\u00e3o decididos a tomar medidas. Por isso, n\u00e3o s\u00e3o cred\u00edveis. Euronews : \u201cJean-Luc M\u00e9lenchon, l\u00edder da Insoumise, um dos partidos observadores da esquerda europeia, considera a situa\u00e7\u00e3o em Gaza um genoc\u00eddio. Concorda com essa opini\u00e3o?\u201d Walter Baier : \u201cN\u00e3o gosto de palavras grandes. 35 mil pessoas mortas. Dois ter\u00e7os das quais civis. Uma grande parte est\u00e1 a ser morta. Cidades destru\u00eddas. Hospitais destru\u00eddos. Destrui\u00e7\u00e3o total das infra-estruturas. O que \u00e9 que gostaria de chamar a isto? Nas minhas palavras, \u00e9 um crime de guerra. \u00c9 um crime tremendo contra a humanidade e temos de o impedir. N\u00e3o devemos falar de palavras e discutir sobre palavras. Devemos concentrar-nos em acabar com o massacre destes homens e mulheres em Gaza\u201d. Euronews : \u201cemos agora a quest\u00f5es mais pol\u00edticas ou sociais. De acordo com uma sondagem da Ipsos para a Euronews, os cidad\u00e3os europeus est\u00e3o sobretudo preocupados com o aumento dos pre\u00e7os ou com as desigualdades sociais, que t\u00eam sido exig\u00eancias tradicionais da esquerda. Porque \u00e9 que a esquerda n\u00e3o tem sido capaz de cativar estes eleitores?\u201d Walter Baier: \u201cEm primeiro lugar, as elei\u00e7\u00f5es ainda n\u00e3o terminaram. E veremos o resultado. Penso que a combina\u00e7\u00e3o da quest\u00e3o social e ecol\u00f3gica est\u00e1 no topo da agenda. E vale a pena mencionar que nesta sondagem, que citou, a migra\u00e7\u00e3o aparece em s\u00e9timo lugar. E h\u00e1, por assim dizer, uma enorme mistifica\u00e7\u00e3o. Os verdadeiros problemas dos europeus s\u00e3o a habita\u00e7\u00e3o a pre\u00e7os \u00edveis, empregos seguros, igualdade social na implementa\u00e7\u00e3o do Pacto Ecol\u00f3gico. E \u00e9 nisto que nos vamos concentrar durante a campanha eleitoral. E tenho a certeza de que, em v\u00e1rios pa\u00edses, vamos ver resultados muito bons\u201d. Euronews : \u201cMencionou a migra\u00e7\u00e3o e, no seu manifesto, pede a dissolu\u00e7\u00e3o da Frontex. Porqu\u00ea? E como pensa que as fronteiras externas devem ser controladas?\u201d Walter Baier : \u201cNa minha opini\u00e3o, em primeiro lugar, trata-se de seres humanos. Trata-se das pessoas, das pessoas que fogem da persegui\u00e7\u00e3o, da viol\u00eancia, da viol\u00eancia sexual, do desastre ecol\u00f3gico. E a Uni\u00e3o Europeia tem, em primeiro lugar, de proteger essas pessoas para que tenham vias seguras. Tem de garantir que os procedimentos de asilo sejam efetuados com dignidade, com respeito por estas pessoas, de modo a que o direito individual de asilo seja garantido. Tem de garantir o respeito da Conven\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre os Refugiados. Estes s\u00e3o os verdadeiros problemas. E reenquadrar esta quest\u00e3o humana numa quest\u00e3o de seguran\u00e7a e de prote\u00e7\u00e3o das fronteiras \u00e9 fundamentalmente errado. Precisamos de vias seguras e precisamos de direitos humanos, de um tratamento adequado das pessoas que v\u00eam para a Europa\u201d. Euronews : \u201cA extrema-direita tem sido capaz de capitalizar o descontentamento dos cidad\u00e3os. Porque \u00e9 que acha que isso aconteceu? O que \u00e9 que levou a extrema-direita a conseguir capitalizar esse descontentamento? Walter Baier: \u201cEm grande medida, isso deve-se \u00e0 legitima\u00e7\u00e3o da agenda da extrema-direita pelos partidos estabelecidos. Veja-se o discurso sobre a migra\u00e7\u00e3o. \u00c9 apresentado como uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a. Essa \u00e9 a agenda da extrema-direita. Em vez de se oporem \u00e0 narrativa da extrema-direita e de dizerem \u0022n\u00e3o, trata-se de seres humanos, de solidariedade e de justi\u00e7a\u0022, os partidos estabelecidos integram o discurso da extrema-direita na sua pr\u00f3pria narrativa. E a prova mais recente disso \u00e9 o pacto de migra\u00e7\u00e3o agora decidido no Parlamento Europeu e no Conselho Europeu, que, na verdade, \u00e9 a nega\u00e7\u00e3o do direito individual de asilo. E n\u00e3o \u00e9 mais do que legitimar o que a extrema-direita est\u00e1 a dizer. E isso \u00e9 errado. \u00c9 estrategicamente errado. \u00c9 moralmente errado. Estrategicamente \u00e9 errado porque significa abra\u00e7ar o discurso da extrema-direita. E no que respeita ao aspeto humanista, \u00e9, simplesmente, uma pena. Euronews : \u201cMas porque \u00e9 que a esquerda perdeu esta narrativa? Algumas pessoas est\u00e3o a ficar mais cativadas pela narrativa da extrema-direita e n\u00e3o pela narrativa da esquerda\u201d. Walter Baier: \u201cSim, de facto, tem a ver com o comportamento dos partidos estabelecidos. Com o seu medo de os confrontar verdadeiramente. No m\u00eas ado, fiquei surpreendido ao ouvir com Ursula von der Leyen dizer: \u0022a nossa atitude em rela\u00e7\u00e3o aos partidos de extrema-direita, em rela\u00e7\u00e3o os reformistas e conservadores, vai depender do resultado das elei\u00e7\u00f5es\u0022. Ora, isso \u00e9 uma quest\u00e3o de princ\u00edpio. Ter renunciado a essa ideia de cord\u00e3o sanit\u00e1rio...\u00e9 uma responsabilidade enorme. E sim, tamb\u00e9m tem a ver com os meios de comunica\u00e7\u00e3o social. No meu pa\u00eds, a \u00c1ustria, onde o FP\u00d6 est\u00e1 agora em primeiro lugar nas sondagens, quantas vezes estes tipos, como J\u00f6rg Haider e Heinz-Christian Strache e agora Herbert Kickl, estiveram na primeira p\u00e1gina dos meios de comunica\u00e7\u00e3o social. Porqu\u00ea? O que \u00e9 que eles est\u00e3o a dizer? Trata-se de um partido corrupto. Um partido neo-fascista. Mas \u00e9 tratado como se fosse um partido normal e isso \u00e9 fundamentalmente errado. N\u00e3o s\u00e3o partidos normais\u201d. Euronews : \u201cH\u00e1 cinco anos, a esquerda n\u00e3o votou em Ursula von der Leyen para presidente da Comiss\u00e3o Europeia. A esquerda est\u00e1 agora disposta a votar nela ou em qualquer candidato do PPE, se isso a impedir de depender dos votos da extrema-direita? Walter Baier : \u201cN\u00e3o vai depender dos nossos votos. E h\u00e1 muitas raz\u00f5es para n\u00e3o votar na senhora von der Leyen. E a raz\u00e3o mais recente para n\u00e3o votar nela \u00e9 o facto de a Comiss\u00e3o estar preparada para reintroduzir a pol\u00edtica de austeridade. O quadro de governa\u00e7\u00e3o financeira resume-se, na verdade, \u00e0 reativa\u00e7\u00e3o do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Apenas quatro pa\u00edses poder\u00e3o, nestas condi\u00e7\u00f5es, fazer os investimentos necess\u00e1rios para cumprir os objetivos clim\u00e1ticos. N\u00e3o poder\u00e3o gastar os 200 mil milh\u00f5es de euros necess\u00e1rios para reconstruir os servi\u00e7os p\u00fablicos e isso \u00e9 a heran\u00e7a da Comiss\u00e3o de Ursula von der Leyen. Por isso, n\u00e3o vamos votar nela\u201d. Euronews : \u201orque \u00e9 que acha que essas novas regras or\u00e7amentais v\u00e3o dar in\u00edcio a uma nova era de austeridade?\u201d Walter Baier : \u201orque est\u00e1 escrito na lei. Significa que os pa\u00edses que t\u00eam d\u00e9fices p\u00fablicos excessivos e que t\u00eam uma d\u00edvida acumulada excessiva ser\u00e3o obrigados, no prazo de 4 ou 7 anos, a cortar nas despesas, a reduzir as despesas p\u00fablicas para atingir o qu\u00ea? Eu sou economista. Em todos os meus estudos n\u00e3o encontrei um \u00fanico livro cient\u00edfico a dizer que a d\u00edvida p\u00fablica tem de ser de 3% ou que a d\u00edvida p\u00fablica n\u00e3o pode ultraar os 60%. \u00c9 deliberado. \u00c9 a pol\u00edtica neoliberal, \u00e9 o credo neoliberal de que a primeira preocupa\u00e7\u00e3o das pol\u00edticas econ\u00f3micas tem de ser o equil\u00edbrio dos or\u00e7amentos p\u00fablicos. A nossa primeira preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 que as pessoas t\u00eam de ter habita\u00e7\u00e3o a pre\u00e7os \u00edveis. Precisamos de investimento na transi\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica, precisamos de empregos seguros. Para isso \u00e9 preciso dinheiro. Esse dinheiro pode ser obtido, pode ser emprestado. Pode ser obtido atrav\u00e9s de impostos, de um sistema fiscal justo. Mas estas s\u00e3o as verdadeiras preocupa\u00e7\u00f5es e os 3% e 60% n\u00e3o s\u00e3o nada. Isso n\u00e3o \u00e9 cient\u00edfico\u201d. Walter Baier prop\u00f5e fundo europeu para a habita\u00e7\u00e3o Euronews : \u201cUma das coisas em que o manifesto da Esquerda se centra \u00e9 na ibilidade aos espa\u00e7os habitacionais. Porque \u00e9 que isso \u00e9 necess\u00e1rio a n\u00edvel europeu e como pode ser feito? Quais s\u00e3o as vossas propostas?\u201d Walter Baier : \u201cNo que diz respeito ao limite de renda, a Uni\u00e3o Europeia pode adotar a diretiva que obriga os Estados-Membros a introduzir limites de renda e a proibir os despejos de resid\u00eancias prim\u00e1rias. Fizeram-no corretamente com a diretiva relativa \u00e0s plataformas, obrigando os Estados-Membros a agir. Fizeram-no com a Diretiva relativa \u00e0 igualdade de remunera\u00e7\u00e3o, com a Diretiva relativa ao sal\u00e1rio m\u00ednimo, sobretudo atrav\u00e9s da cria\u00e7\u00e3o de um quadro jur\u00eddico para a a\u00e7\u00e3o dos Estados-Membros. Em segundo lugar, gostar\u00edamos de ver o direito \u00e0 habita\u00e7\u00e3o a pre\u00e7os \u00edveis inclu\u00eddo no direito prim\u00e1rio da Uni\u00e3o Europeia. Tornando-o um direito dos cidad\u00e3os que tem de ser promulgado e que estes podem exigir em tribunal para que o Estado-Membro assegure esse direito. E, em terceiro lugar, a Uni\u00e3o Europeia teria a possibilidade de criar um fundo europeu para a habita\u00e7\u00e3o que concedesse cr\u00e9dito a juro zero aos munic\u00edpios e \u00e0s cooperativas. Portanto, h\u00e1 muitas coisas a fazer a n\u00edvel europeu e gostar\u00edamos de aproveitar as elei\u00e7\u00f5es europeias para colocar esta quest\u00e3o no centro do debate pol\u00edtico\u201d. Crise da habita\u00e7\u00e3o : \u0022 \u00c9 apenas uma quest\u00e3o de boa vontade e de determina\u00e7\u00e3o pol\u00edtica\u201d Euronews : \u201cUma das vossas propostas relativas \u00e0 habita\u00e7\u00e3o \u00e9 a de um quadro regulamentar para empresas como a Airbnb. Como \u00e9 que espera que isso funcione?\u201d Walter Baier : Veja o caso de cidades como Barcelona, Marselha, Atenas, Ljubljana, at\u00e9 mesmo a minha cidade natal, Viena, onde h\u00e1 investidores que compram casas, que compram espa\u00e7os e os utilizam para especular, com o turismo e, sobretudo com os jovens, que t\u00eam de gastar mais de 50% do seu rendimento mensal para pagar a renda. Se conseguirem ter casa, porque h\u00e1 s\u00edtios onde os jovens nem sequer conseguem casas. A Uni\u00e3o Europeia poderia criar legisla\u00e7\u00e3o que permitisse ou obrigasse os munic\u00edpios a limitar a especula\u00e7\u00e3o com o aluguer de curta dura\u00e7\u00e3o. Isso ajudaria muito. E, j\u00e1 agora, nem sequer custaria dinheiro \u00e0 Uni\u00e3o Europeia. \u00c9 apenas uma quest\u00e3o de boa vontade e de determina\u00e7\u00e3o pol\u00edtica\u201d. Euronews : \u201cE porque \u00e9 que acha que a Comiss\u00e3o n\u00e3o prop\u00f4s uma legisla\u00e7\u00e3o desse tipo nos \u00faltimos anos?\u201d Walter Baier : \u201orque eles cuidam das pessoas ricas. A ideologia e a principal preocupa\u00e7\u00e3o da Comiss\u00e3o s\u00e3o os investidores. Trata-se de uma Comiss\u00e3o liderada por um partido cuja principal clientela s\u00e3o as pessoas ricas, as pessoas abastadas. E \u00e9 por isso que n\u00e3o se preocupam com os cidad\u00e3os comuns. \u00c9 t\u00e3o simples quanto isso\u201d. Euronews : \u201cSim, mas o PPE tamb\u00e9m \u00e9 apoiado por cidad\u00e3os comuns. Por isso, penso que os cidad\u00e3os comuns concordam com essas pol\u00edticas. Walter Baier \u201cSim. At\u00e9 os cidad\u00e3os comuns podem cometer erros e votar contra os seus interesses. E, na verdade, estou a apresentar-me como presidente da Comiss\u00e3o Europeia para mostrar \u00e0s pessoas que existe a possibilidade de haver uma alternativa. Devem votar no seu pr\u00f3prio interesse. Devem votar em empregos seguros e n\u00e3o prec\u00e1rios. Devem votar a favor da habita\u00e7\u00e3o a pre\u00e7os \u00edveis\u201d. 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Walter Baier: "Partidos estabelecidos integram discurso da extrema-direita na sua própria narrativa"

Walter Baier: "Partidos estabelecidos integram discurso da extrema-direita na sua própria narrativa"
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A Euronews entrevistou Walter Baier, principal candidato do grupo da Esquerda Europeia às eleições para o Parlamento Europeu.

Euronews: "Durante dez anos foi presidente do Partido Comunista Austríaco. O que o levou a candidatar-se à presidência da Comissão Europeia?"

Walter Baier: “Há um ano e meio, perguntaram-me se estaria disponível para me apresentar à presidência do partido da Esquerda Europeia, o que aceitei, com todo o gosto, uma vez que estive entre os fundadores do partido. E em Ljubljana, onde ambos nos encontrámos, fui eleito candidato principal, ou seja, candidato a Presidente da Comissão Europeia. E estava disponível para o fazer porque quero mudar a Europa. Sinto-me empenhado numa Europa social e pacífica. E se nos sentimos empenhados, então temos de aceitar a responsabilidade”.

Euronews: “Comecemos por algumas questões sobre a guerra. A esquerda apela a uma menor militarização na Europa, contrariamente às tendências atuais dos Estados-Membros. É uma posição realista, tendo em conta que a guerra está à porta da Europa?”

Walter Baier: “Temos enormes armamentos na Europa. Os Estados-Membros da União Europeia gastaram 270 mil milhões de euros em armamento. Compare-se com as despesas de armamento da Rússia, por exemplo, que são cerca de 100 mil milhões de euros e eles estão em guerra. Por isso, ninguém pode dizer que não estamos suficientemente equipados. E nós perguntamos: é suficiente ou não? Temos 15 mil ogivas nucleares no mundo, o que permitiria destruir o mundo 150 vezes. É suficiente ou não é suficiente?”

Euronews: “Uma das razões pelas quais estão a investir mais na militarização é porque a UE está a apoiar a Ucrânia. Acha que a União Europeia cometeu um erro ao apoiar a Ucrânia na luta contra a Rússia?

Walter Baier: “Não. Não acho que devêssemos ter deixado os ucranianos sozinhos. A agressão da Rússia é injusta. É ilegal. É uma violação do direito internacional. Causou um enorme sofrimento humano. Depois de 500 mil mortos, centenas de aldeias destruídas e um milhão de pessoas em fuga, pensamos que é altura de criar as condições para a paz, iniciar negociações, cessar-fogo e chegar a uma Ucrânia soberana e segura através de meios políticos. Porque é óbvio que no campo de batalha a solução já não pode ser encontrada”.

Sinto-me empenhado numa Europa social e pacífica. E se nos sentimos empenhados, então temos de aceitar a responsabilidade.
Walter Baier, principal candidato da esquerda europeia às eleições para o Parlamento Europeu

Euronews: “Como seriam essas negociações de paz? Esse cessar-fogo?”

Walter Baier: “Penso que, em primeiro lugar, deve haver uma garantia internacional para a integridade territorial e a soberania da Ucrânia. É isso que o país e o povo merecem. Em segundo lugar, penso que deveria haver negociações entre a Ucrânia e a Rússia. A União Europeia deve ser envolvida. É óbvio que os EUA têm de estar envolvidos. Deve ser alcançado um acordo multilateral”.

Euronews: “O que vai acontecer com as partes ocupadas da Ucrânia? Como é que essa questão deve ser tratada nos futuros acordos de paz?”

Walter Baier : “Penso que temos de respeitar a integridade territorial da Ucrânia. Há muitas questões envolvidas, mas um dos princípios é que a Ucrânia é membro da OSCE. É um Estado soberano. Tem o direito de ter fronteiras seguras. Este é um dos pontos de partida de qualquer negociação”.

Euronews: Esse acordo significaria que a Ucrânia deixaria algum território para a Rússia ou não?

Walter Baier: “Diria que não me cabe a mim dar conselhos bem cabe à esquerda conceber o acordo de paz. Devemos respeitar as decisões do povo ucraniano e do governo ucraniano”.

"Seria relevante suspender o acordo de associação entre a União Europeia e Israel"

Euronews: “emos agora a outras questões que preocupam os europeus e a União Europeia, a guerra em Gaza. A esquerda pediu sanções contra Israel. Como é que imagina essas sanções?”

Walter Baier: “Antes de mais, é a duplicidade de critérios. Demorou menos de uma semana a impor sanções à Rússia. E isto é correto. E agora temos mais de meio ano de guerra em Gaza, com 35 mil mortos. A destruição total do país. Não aconteceu nada. Não aconteceu nada. Exceto palavras. E quando se trata do carácter dessas sanções, eu diria, por exemplo, que seria relevante suspender o acordo de associação entre a União Europeia e Israel. Não para sempre, mas enquanto o governo israelita não aceitar o direito dos palestinianos em Gaza à segurança e à proteção. Enquanto continuar esta terrível guerra contra civis, não podemos comportar-nos como se nada tivesse acontecido”.

Walter Baier: A UE perde credibilidade por ter "dois pesos e duas medidas"

Euronews: “Porque é que acha que a União Europeia tem dois pesos e duas medidas?”

Walter Baier: “São interesses, interesses geopolíticos. Mas eu diria que o outro lado da moeda é que a União Europeia perde credibilidade. O facto de ter dois pesos e duas medidas desacredita a União Europeia no Sul global”.

Euronews: “Gostaria de saber o que pensa da forma como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lidou com a guerra em Gaza”.

Walter Baier : “Estou a procurar as palavras certas. Porque, na verdade, o comportamento dela é típico da duplicidade de critérios. É inadequado. Não tem responsabilidade pelo que está a acontecer. E também não é honesto. Acusar todos os que criticam o atual governo israelita de serem antissemitas é errado, é injusto. É contra a história. É contra a razão. Por isso, de um modo geral, ela lidou muito mal com situação. Vejo que agora estão a falar sobre Rafah. Mas foi há pouco tempo. E não estão decididos a tomar medidas. Por isso, não são credíveis.

Euronews: “Jean-Luc Mélenchon, líder da Insoumise, um dos partidos observadores da esquerda europeia, considera a situação em Gaza um genocídio. Concorda com essa opinião?”

Walter Baier: “Não gosto de palavras grandes. 35 mil pessoas mortas. Dois terços das quais civis. Uma grande parte está a ser morta. Cidades destruídas. Hospitais destruídos. Destruição total das infra-estruturas. O que é que gostaria de chamar a isto? Nas minhas palavras, é um crime de guerra. É um crime tremendo contra a humanidade e temos de o impedir. Não devemos falar de palavras e discutir sobre palavras. Devemos concentrar-nos em acabar com o massacre destes homens e mulheres em Gaza”.

Euronews: “emos agora a questões mais políticas ou sociais. De acordo com uma sondagem da Ipsos para a Euronews, os cidadãos europeus estão sobretudo preocupados com o aumento dos preços ou com as desigualdades sociais, que têm sido exigências tradicionais da esquerda. Porque é que a esquerda não tem sido capaz de cativar estes eleitores?”

Walter Baier: “Em primeiro lugar, as eleições ainda não terminaram. E veremos o resultado. Penso que a combinação da questão social e ecológica está no topo da agenda. E vale a pena mencionar que nesta sondagem, que citou, a migração aparece em sétimo lugar. E há, por assim dizer, uma enorme mistificação. Os verdadeiros problemas dos europeus são a habitação a preços íveis, empregos seguros, igualdade social na implementação do Pacto Ecológico. E é nisto que nos vamos concentrar durante a campanha eleitoral. E tenho a certeza de que, em vários países, vamos ver resultados muito bons”.

Euronews: “Mencionou a migração e, no seu manifesto, pede a dissolução da Frontex. Porquê? E como pensa que as fronteiras externas devem ser controladas?”

Walter Baier: “Na minha opinião, em primeiro lugar, trata-se de seres humanos. Trata-se das pessoas, das pessoas que fogem da perseguição, da violência, da violência sexual, do desastre ecológico. E a União Europeia tem, em primeiro lugar, de proteger essas pessoas para que tenham vias seguras. Tem de garantir que os procedimentos de asilo sejam efetuados com dignidade, com respeito por estas pessoas, de modo a que o direito individual de asilo seja garantido. Tem de garantir o respeito da Convenção das Nações Unidas sobre os Refugiados. Estes são os verdadeiros problemas. E reenquadrar esta questão humana numa questão de segurança e de proteção das fronteiras é fundamentalmente errado. Precisamos de vias seguras e precisamos de direitos humanos, de um tratamento adequado das pessoas que vêm para a Europa”.

Euronews: “A extrema-direita tem sido capaz de capitalizar o descontentamento dos cidadãos. Porque é que acha que isso aconteceu? O que é que levou a extrema-direita a conseguir capitalizar esse descontentamento?

Walter Baier: “Em grande medida, isso deve-se à legitimação da agenda da extrema-direita pelos partidos estabelecidos. Veja-se o discurso sobre a migração. É apresentado como uma questão de segurança. Essa é a agenda da extrema-direita. Em vez de se oporem à narrativa da extrema-direita e de dizerem "não, trata-se de seres humanos, de solidariedade e de justiça", os partidos estabelecidos integram o discurso da extrema-direita na sua própria narrativa. E a prova mais recente disso é o pacto de migração agora decidido no Parlamento Europeu e no Conselho Europeu, que, na verdade, é a negação do direito individual de asilo. E não é mais do que legitimar o que a extrema-direita está a dizer. E isso é errado. É estrategicamente errado. É moralmente errado. Estrategicamente é errado porque significa abraçar o discurso da extrema-direita. E no que respeita ao aspeto humanista, é, simplesmente, uma pena.

Euronews: “Mas porque é que a esquerda perdeu esta narrativa? Algumas pessoas estão a ficar mais cativadas pela narrativa da extrema-direita e não pela narrativa da esquerda”.

Walter Baier: “Sim, de facto, tem a ver com o comportamento dos partidos estabelecidos. Com o seu medo de os confrontar verdadeiramente. No mês ado, fiquei surpreendido ao ouvir com Ursula von der Leyen dizer: "a nossa atitude em relação aos partidos de extrema-direita, em relação os reformistas e conservadores, vai depender do resultado das eleições". Ora, isso é uma questão de princípio. Ter renunciado a essa ideia de cordão sanitário...é uma responsabilidade enorme. E sim, também tem a ver com os meios de comunicação social. No meu país, a Áustria, onde o FPÖ está agora em primeiro lugar nas sondagens, quantas vezes estes tipos, como Jörg Haider e Heinz-Christian Strache e agora Herbert Kickl, estiveram na primeira página dos meios de comunicação social. Porquê? O que é que eles estão a dizer? Trata-se de um partido corrupto. Um partido neo-fascista. Mas é tratado como se fosse um partido normal e isso é fundamentalmente errado. Não são partidos normais”.

Euronews: “Há cinco anos, a esquerda não votou em Ursula von der Leyen para presidente da Comissão Europeia. A esquerda está agora disposta a votar nela ou em qualquer candidato do PPE, se isso a impedir de depender dos votos da extrema-direita?

Walter Baier : “Não vai depender dos nossos votos. E há muitas razões para não votar na senhora von der Leyen. E a razão mais recente para não votar nela é o facto de a Comissão estar preparada para reintroduzir a política de austeridade. O quadro de governação financeira resume-se, na verdade, à reativação do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Apenas quatro países poderão, nestas condições, fazer os investimentos necessários para cumprir os objetivos climáticos. Não poderão gastar os 200 mil milhões de euros necessários para reconstruir os serviços públicos e isso é a herança da Comissão de Ursula von der Leyen. Por isso, não vamos votar nela”.

Euronews: “Porque é que acha que essas novas regras orçamentais vão dar início a uma nova era de austeridade?”

Walter Baier: “Porque está escrito na lei. Significa que os países que têm défices públicos excessivos e que têm uma dívida acumulada excessiva serão obrigados, no prazo de 4 ou 7 anos, a cortar nas despesas, a reduzir as despesas públicas para atingir o quê? Eu sou economista. Em todos os meus estudos não encontrei um único livro científico a dizer que a dívida pública tem de ser de 3% ou que a dívida pública não pode ultraar os 60%. É deliberado. É a política neoliberal, é o credo neoliberal de que a primeira preocupação das políticas económicas tem de ser o equilíbrio dos orçamentos públicos. A nossa primeira preocupação é que as pessoas têm de ter habitação a preços íveis. Precisamos de investimento na transição ecológica, precisamos de empregos seguros. Para isso é preciso dinheiro. Esse dinheiro pode ser obtido, pode ser emprestado. Pode ser obtido através de impostos, de um sistema fiscal justo. Mas estas são as verdadeiras preocupações e os 3% e 60% não são nada. Isso não é científico”.

Walter Baier propõe fundo europeu para a habitação

Euronews: “Uma das coisas em que o manifesto da Esquerda se centra é na ibilidade aos espaços habitacionais. Porque é que isso é necessário a nível europeu e como pode ser feito? Quais são as vossas propostas?”

Walter Baier: “No que diz respeito ao limite de renda, a União Europeia pode adotar a diretiva que obriga os Estados-Membros a introduzir limites de renda e a proibir os despejos de residências primárias. Fizeram-no corretamente com a diretiva relativa às plataformas, obrigando os Estados-Membros a agir. Fizeram-no com a Diretiva relativa à igualdade de remuneração, com a Diretiva relativa ao salário mínimo, sobretudo através da criação de um quadro jurídico para a ação dos Estados-Membros. Em segundo lugar, gostaríamos de ver o direito à habitação a preços íveis incluído no direito primário da União Europeia. Tornando-o um direito dos cidadãos que tem de ser promulgado e que estes podem exigir em tribunal para que o Estado-Membro assegure esse direito. E, em terceiro lugar, a União Europeia teria a possibilidade de criar um fundo europeu para a habitação que concedesse crédito a juro zero aos municípios e às cooperativas. Portanto, há muitas coisas a fazer a nível europeu e gostaríamos de aproveitar as eleições europeias para colocar esta questão no centro do debate político”.

Crise da habitação : "É apenas uma questão de boa vontade e de determinação política”

Euronews: “Uma das vossas propostas relativas à habitação é a de um quadro regulamentar para empresas como a Airbnb. Como é que espera que isso funcione?”

Walter Baier: Veja o caso de cidades como Barcelona, Marselha, Atenas, Ljubljana, até mesmo a minha cidade natal, Viena, onde há investidores que compram casas, que compram espaços e os utilizam para especular, com o turismo e, sobretudo com os jovens, que têm de gastar mais de 50% do seu rendimento mensal para pagar a renda. Se conseguirem ter casa, porque há sítios onde os jovens nem sequer conseguem casas. A União Europeia poderia criar legislação que permitisse ou obrigasse os municípios a limitar a especulação com o aluguer de curta duração. Isso ajudaria muito. E, já agora, nem sequer custaria dinheiro à União Europeia. É apenas uma questão de boa vontade e de determinação política”.

Euronews: “E porque é que acha que a Comissão não propôs uma legislação desse tipo nos últimos anos?”

Walter Baier : “Porque eles cuidam das pessoas ricas. A ideologia e a principal preocupação da Comissão são os investidores. Trata-se de uma Comissão liderada por um partido cuja principal clientela são as pessoas ricas, as pessoas abastadas. E é por isso que não se preocupam com os cidadãos comuns. É tão simples quanto isso”.

Euronews: “Sim, mas o PPE também é apoiado por cidadãos comuns. Por isso, penso que os cidadãos comuns concordam com essas políticas.

Walter Baier “Sim. Até os cidadãos comuns podem cometer erros e votar contra os seus interesses. E, na verdade, estou a apresentar-me como presidente da Comissão Europeia para mostrar às pessoas que existe a possibilidade de haver uma alternativa. Devem votar no seu próprio interesse. Devem votar em empregos seguros e não precários. Devem votar a favor da habitação a preços íveis”.

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