O chefe da empresa responsável pela viagem afirmou que "os italianos começaram a mudar de ideias" sobre a entrada do comboio no país.
PUBLICIDADEA viagem inaugural de um comboio noturno que liga Bruxelas a Veneza não chegou, na quinta-feira, ao destino final, devido a problemas na fronteira italiana.
Em alternativa, o comboio parou em Innsbruck, na Áustria, a 313 km do seu destino, e os ageiros foram transferidos para um comboio diferente de modo a completar a viagem até Veneza.
O operador ferroviário European Sleeper considerou a rota um "marco significativo" para a empresa, afirmando que a sua "missão é voltar a ligar as cidades europeias durante a noite, proporcionando aos viajantes mais opções sustentáveis e confortáveis".
Innsbruck era para ser uma "paragem importante" e não o destino final do comboio.
"Parecia que tudo estava acordado"
Elmer van Buuren, um dos dois fundadores da empresa ferroviária privada neerlandesa European Sleeper, disse ao jornal neerlandês De Telegraaf que os caminhos-de-ferro italianos não lhes deram qualquer aviso:
"Foram precisos nove meses, centenas de telefonemas e reuniões para iniciar este projeto. Marcámos encontros separados com cinco serviços semelhantes ao ProRail, em cada país atravessado [pela rota]. Parecia que tudo estava acordado, quando, na semana ada, os italianos começaram a mudar de ideias e nos telefonaram a dizer que não podíamos ir além de Bolzano".
"Agora, afinal, nem sequer podíamos entrar em Itália. Não nos deram qualquer justificação. É um fenómeno típico, especialmente nos caminhos-de-ferro na Europa", acrescentou ainda.
Porque é que o comboio European Sleeper foi parado na fronteira italiana?
O especialista em viagens ferroviárias Mark Smith, que dirige o siteThe Man in Seat 61, estava no comboio no momento em que tudo aconteceu.
Segundo revelou, as locomotivas necessárias para puxar o comboio até Veneza não estavam disponíveis. Além disso, a European Sleeper só terá sido informada do problema das locomotivas a 4 de fevereiro, um dia antes de o comboio partir de Bruxelas.
"O comboio deveria terminar [o percurso] em Verona, sendo necessárias duas locomotivas para puxar o comboio à entrada e à saída de Veneza, uma vez que a rede italiana já não permite a circulação de locomotivas isoladas em Veneza. Não conseguiram arranjar duas para esta partida, mas deve haver solução para as seguintes", escreveu Mark Smith, no X.
"Receberam anteontem um telefonema do operador italiano, que os impediu de apanhar o comboio para sul de Innsbruck. Mais uma vez, a ES [European Sleeper] espera resolver este problema para as partidas posteriores. Não é fácil gerir um comboio em 5 países!"
O comboio viajou de Bruxelas, na Bélgica, para Breda e Eindhoven, nos Países Baixos, antes de seguir para Colónia e Munique, na Alemanha.
Que conselho dar aos ageiros que reservaram o comboio noturno entre Bruxelas e Veneza?
Atualmente, estão previstos comboios noturnos Bruxelas-Veneza durante os meses de fevereiro e março.
O serviço está programado para funcionar duas vezes por semana, com seis viagens de ida e volta marcadas, e com a empresa a referir: "Esta rota única dá resposta aos viajantes que procuram escapadelas relacionadas com desportos de inverno, férias na cidade, experiências culturais e o mundialmente famoso Carnaval de Veneza."
No momento em que escrevemos este artigo, não é claro se a European Sleeper pode garantir que as locomotivas necessárias para transportar o comboio em Itália estarão disponíveis.
A European Sleeper e o Ministério dos Transportes italiano não responderam de imediato aos pedidos de comentário.
Viagens de comboio transfronteiriças na Europa são complicadas
Há quem considere que o encurtamento do percurso deste comboio noturno reflete os problemas mais gerais das viagens ferroviárias transfronteiriças na Europa.
Historicamente, tem sido difícil para as autoridades e os operadores ferroviários coordenarem os seus serviços de modo a permitir que os comboios atravessem as fronteiras sem problemas, tal como acontece com os voos. Este facto é visto como um obstáculo de modo a que os viajantes optem por comboios em vez de aviões, apesar de estes serem muito menos nefastos para o clima.
Um relatório da Comissão Europeia concluiu que o número total de serviços transfronteiriços de ageiros de longa distância na UE permaneceu o mesmo entre 2001 e 2019 e que, globalmente, estes serviços representam apenas cerca de 7% das viagens de comboio na Europa.
Para ajudar a aumentar estes números, Victor Thévenet, gestor da política ferroviária da ONG de mobilidade sustentável Transport and Environment, afirma que o planeamento de uma viagem de comboio precisa de ser muito mais simples.
"As pessoas precisam de poder combinar diferentes operadores ferroviários e, para isso, é necessário ter os diferentes bilhetes num único bilhete", referiu, em declarações à Euronews Travel.
Comprar bilhetes de comboio na Europa pode ser complicado, mas a UE tem uma solução
Atualmente, não existe uma plataforma equivalente ao Skyscanner para o setor dos comboios. Algo que torna a reserva e a gestão das viagens de comboio internacionais difíceis e, muitas vezes, mais caras.
A UE tem um plano para resolver a situação sob a forma de legislação relativa aos serviços de mobilidade digital multimodal. A iniciativa foi adiada no ano ado, mas espera-se que lhe seja dada uma nova oportunidade este ano.
A legislação criaria uma plataforma onde se poderia comprar um único bilhete para toda uma viagem transfronteiriça, em vez de ter de ar por vários operadores nacionais separadamente, e daria aos ageiros direitos mais fortes no caso de perderem um comboio de ligação.