Após o cancelamento contínuo de voos por companhias aéreas estrangeiras para o Irão, assistimos a um aumento dramático do preço dos bilhetes da IranAir. As sanções e o recente ataque com mísseis do Irão a Israel ajudaram a impulsionar as receitas da companhia iraniana.
PUBLICIDADEApesar das recentes sanções por alguns países europeus, juntamente com os Estados Unidos, contra a IranAir, a companhia continua a voar para a Europa. Entretanto, na sequência do cancelamento contínuo de voos de companhias aéreas estrangeiras para o Irão nas últimas semanas, assistimos a um aumento constante e alarmante do preço dos voos da IranAir. As sanções parecem não só, não ter afetado a IranAir - que agora enfrenta condições especiais na sequência do ataque com mísseis do Irão a Israel -, como também ajudaram a impulsionar as suas receitas.
100 milhões em voos de Paris a Teerão
A companhia aérea iraniana é atualmente a única a operar voos de e para o Irão, depois dos voos cancelados da Turkish Airlines, Pegasuz, Emirates, Qatari, e Lufthansa. Milhares de ageiros iranianos ficaram retidos na Europa e não têm agora outra opção senão a IranAiR.
Esta demanda no mercado de voos levou a um aumento significativo dos preços dos bilhetes para os voos da companhia iraniana. Na rota de Paris, do Aeroporto Charles-de-Gaulle para Teerão, a IranAir subiu o preço do bilhete Economy para 50 milhões Toman (cerca de 700 euros), cada Toman equivale a 10 Rials - moeda oficial do Irão. Na classe Executiva, o valor subiu para 100 milhões Toman (1400 euros), dependendo do dia do voo. Antes, conseguia-se fazer o mesmo voo por apenas 500/700 euros, ida e volta. Preços semelhantes também podem ser vistos nos voos da IranAir do Aeroporto de Frankfurt em direção a Teerão.
Medo que catástrofe com avião civil ucraniano se repita
O governo iraniano deve ter em conta que muitos iranianos estão no estrangeiro com vistos limitados e precisam de regressar ao país, fazendo com que os poucos voos existentes fiquem lotados, além disso, segundo os ageiros, surge o receio em sobrevoar determinado espaço aéreo.
“Não podemos negar que todos os iranianos se esqueceram da queda do avião ucraniano pelas defesas do IRGC, e mesmo com o voo da IranAir, entramos no espaço aéreo iraniano com duplo stress porque desta vez, o perigo é de Israel e não podemos ter nenhuma previsão da possibilidade da resposta do país ao ataque aéreo iraniano”, afirma Hamid, um dos ageiros que não quis revelar os seu último nome.
O voo 752 da Ukraine International Airlines foi um voo de ageiros pertencente à Ukraine International Airlines de Teerão para Kiev, que foi alvo das defesas aéreas do IRGC a 18 de janeiro de 2018 e foi derrubado. Todas as 176 pessoas no voo morreram.
Sanções com data incerta
Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha anunciaram a 10 de setembro de 2024 que iriam sancionar a IranAir por enviar mísseis balísticos iranianos para a Rússia. O Irão negou o envio de mísseis para a Rússia. A companhia aérea da República Islâmica do Irão (Homa) afirmou que “nada foi oficialmente comunicado pela outra parte (Iran Air) relativamente à divulgação da notícia das sanções à Iran Air”.
Entretanto, as autoridades iranianas têm repetidamente apontado para as consequências e o impacto das sanções na indústria aérea do Irão e alertaram que as sanções às companhias aéreas afetariam negativamente a capacidade da IranAir de comprar peças sobressalentes para aeronaves, manter a segurança dos voos e até atualizar a frota aérea.
Autoridades iranianas hesitam em adotar recomendações para ajudar viajantes confusos
Após o ataque retaliatório com mísseis do Irão a Israel, a companhia aérea iraniana tem vendido os seus bilhetes várias vezes acima do preço habitual. “Quando problemas deste tipo surgem internacionalmente, os governos tomam medidas especiais para ajudar pessoas retidas e presas a regressar aos seus países. A única forma que tenho para regressar é comprar um bilhete caro da IranAir”, diz Reza à Euronews, mostrando-se irritado com o cancelamento do seu voo para o Irão pela Etihad Airlines.
Voos cancelados e chegadas ao Aeroporto de Istambul
Sepideh, iraniano residente num país europeu, contou à Euronews que as suas visitas estavam em Istambul quando os voos foram cancelados e tiveram de esperar horas para apanhar o próximo voo. Nenhum funcionário iraniano esteve presente para apoiar ou explicar a situação aos viajantes retidos, disse.
A agência de notícias ISNA deu conta da situação dos ageiros retidos no aeroporto de Istambul, no qual notou que os ageiros iranianos dormiram no aeroporto na sequência do cancelamento de voos por companhias aéreas estrangeiras. “As companhias aéreas não forneceram aos ageiros qualquer apoio, nem alojamento em hotéis ou em local apropriado para ar a noite. Muitos dos ageiros dormiram no aeroporto várias noites”, disse Sepideh.
Prolongar a nossa estadia na Europa não nos beneficia. Devido ao cancelamento do seu voo de ligação desde Paris, teve de fazer um desvio a Omã, onde tinha um conhecido para ficar, e de lá foi para o Irão: "Voar por Paris foi duro e caro para mim. Graças a conhecidos em Omã, consegui sair dessa rota para o Irão, mas há muitos viajantes como eu que não têm outra possibilidade, devido aos altos custos.”
A Euronews Farsi tentou obter respostas da IranAir. Em correspondência com a IranAir, a Euronews questionou sobre quem assume a responsabilidade pela escalada dos preços e por que razão não há voos para ajudar os ageiros que estão retidos, mas até ao momento não obteve resposta.
A pequena cidade turca de Vane pode ser uma alternativa para viajar
Pesquisas em sites iranianos de compra de bilhetes indicam que os voos são demasiado caros e longos para chegar a destinos europeus. Por exemplo, numa pesquisa para uma viagem de Teerão a Paris demora 26 horas (quando o tempo normal de voo costuma ser 5h30), e o preço ronda os 250 000 000 Toman (mais de 3600 euros) no site da Flytoday. Os voos de Teerão para o Dubai são operados pela Flydubai Airlines e de lá com a Etihad Airlines para o Aeroporto Charles-de-Gaulle, em Paris. Está prevista uma estadia de 16 horas no Aeroporto Internacional do Dubai entre os dois voos.
Roxana tinha ido ao Irão com o marido alemão para uma visita familiar. Após o cancelamento de voos pelas companhias estrangeiras, ele e a mulher estão agora retidos no Irão, à procura de uma saída. Saeed, que é estudante na Holanda deslocou-se à cidade turca de Vane, de onde viajou para a Europa num voo da Turkish Airlines.
Outras pessoas também disseram à Euronews que escolheram a rota de Vane para chegar à Turquia e muito temem sofrer o mesmo destino que o avião ucraniano se embarcarem em voos iranianos para a Turquia.
“Embora a cidade de Vane esteja a menos de 100 quilómetros da fronteira com o Irão e não faremos uma rota longa, os longos controlos fronteiriços são avassaladores”, diz à Euronews outro ageiro que chegou da Europa num voo da Turkish Airlines através de Vane.
Entretanto, a Autoridade Europeia para a Segurança da Aviação alertou as companhias aéreas, a 2 de outubro de 2024, para se absterem de voar no espaço aéreo iraniano.
O aumento das tensões entre o Irão e Israel tem sido o motivo do alerta. A Autoridade Europeia para a Segurança da Aviação recomendou que as aeronaves sejam impedidas de atravessar o espaço aéreo iraniano até 31 de outubro de 2024, para evitar riscos potenciais.