{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/saude/2024/09/12/falta-de-medicos-salarios-baixos-e-horas-extraordinarias-hospitais-europeus-enfrentam-difi" }, "headline": "Falta de m\u00e9dicos, sal\u00e1rios baixos e horas extraordin\u00e1rias: hospitais europeus enfrentam dificuldades", "description": "A Europa est\u00e1 a sofrer uma crise nos cuidados de sa\u00fade, que est\u00e1 a levar \u00e0 declara\u00e7\u00e3o de greves na Alemanha, Eslov\u00e9nia e Su\u00e9cia. Entretanto, em Fran\u00e7a, uma reforma pol\u00e9mica do ensino da Medicina est\u00e1 a revoltar estudantes e m\u00e9dicos.", "articleBody": "Os hospitais de toda a Europa parecem estar a viver de forma prec\u00e1ria. Quer seja em Fran\u00e7a, na Eslov\u00e9nia ou na Su\u00e9cia, os hospitais enfrentam escassez de pessoal, sal\u00e1rios baixos e mais horas extraordin\u00e1rias, o que leva a a\u00e7\u00f5es de protesto em todo o setor da sa\u00fade que, inevitavelmente, tem impacto nos cuidados prestados aos doentes.Na Su\u00e9cia, os trabalhadores do setor da sa\u00fade entraram em greve pela primeira vez em 16 anos, para protestar contra a elevada carga hor\u00e1ria e os baixos sal\u00e1rios, durante 78 dias consecutivos em 2024.As greves s\u00e3o menos nos pa\u00edses n\u00f3rdicos do que noutras partes da Europa, mas ap\u00f3s quatro meses a tentar negociar acordos coletivos, a Associa\u00e7\u00e3o Sueca de Profissionais de Sa\u00fade decidiu entrar em greve entre 11 de abril a 28 de junho.\u0022Cheg\u00e1mos a um beco sem sa\u00edda nas negocia\u00e7\u00f5es\u0022, diz Sineva Ribeiro, presidente da Associa\u00e7\u00e3o Sueca de Profissionais de Sa\u00fade, um sindicato com 114 mil membros e que representa enfermeiros, parteiras, cientistas biom\u00e9dicos e radiologistas. \u0022Tivemos de entrar em greve. T\u00ednhamos de entrar em conflito\u0022.\u0022Em 2023, eles (membros da associa\u00e7\u00e3o) fizeram tr\u00eas milh\u00f5es de horas extraordin\u00e1rias\u0022, disse Ribeiro, explicando que tamb\u00e9m foi declarada uma greve \u00e0s horas extraordin\u00e1rias. \u0022Por isso, sab\u00edamos que havia falta de enfermeiros, parteiras, radiologistas e enfermeiros de raios X.\u0022No fim, a Associa\u00e7\u00e3o Sueca de Profissionais de Sa\u00fade conseguiu uma redu\u00e7\u00e3o do hor\u00e1rio de trabalho para 10% dos membros (os que fazem turnos noturnos), um aumento salarial de 3,05% e um acordo para que os empregadores paguem as especializa\u00e7\u00f5es dos enfermeiros.Por outro lado, o sindicato concordou em deixar de reivindicar a redu\u00e7\u00e3o do hor\u00e1rio de trabalho semanal do pessoal m\u00e9dico, de 40 para 37 horas.De uma forma mais geral, a deteriora\u00e7\u00e3o das condi\u00e7\u00f5es de trabalho \u00e9 considerada um dos principais fatores que levam os profissionais de sa\u00fade a abandonar a Su\u00e9cia e a ir para os pa\u00edses vizinhos.\u0022Temos cerca de 20.000 enfermeiros a trabalhar na Noruega, porque pagam mais e t\u00eam menos horas de trabalho por semana\u0022, afirmou Ribeiro.Al\u00e9m disso, 13.000 enfermeiros qualificados abandonaram a profiss\u00e3o, deixando um buraco negro de mais de 60 milh\u00f5es de euros, financiado pelos contribuintes, de acordo com um relat\u00f3rio do Conselho Nacional de Compet\u00eancia em Sa\u00fade da Su\u00e9cia, publicado em junho.\u0022A situa\u00e7\u00e3o (na Su\u00e9cia) \u00e9 talvez melhor do que noutros pa\u00edses da UE\u0022, disse Ribeiro. \u0022Mas continuamos a ter uma grande falta de enfermeiros para tratar da sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o. E nunca sabemos quando pode surgir a pr\u00f3xima pandemia.\u0022\u0022Uma bomba-rel\u00f3gio\u0022Mas a realidade \u00e9 que existe um problema semelhante em toda a Uni\u00e3o Europeia.Os hospitais p\u00fablicos dos pa\u00edses do bloco s\u00e3o confrontados com desafios paralelos, incluindo o envelhecimento da popula\u00e7\u00e3o, que vai necessitar de mais cuidados de sa\u00fade, e a dificuldade em substituir os profissionais de sa\u00fade que se reformam porque a profiss\u00e3o j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o atrativa como antes.\u0022H\u00e1 um aumento da procura, basicamente devido a quatro fatores principais: o envelhecimento da popula\u00e7\u00e3o, o aumento da multimorbilidade e das doen\u00e7as cr\u00f3nicas, os atrasos acumulados durante a pandemia da Covid-19 em termos de lista de espera e tamb\u00e9m o aumento das expetativas dos pacientes\u0022, explicou Tomas Zapata, conselheiro regional para a for\u00e7a de trabalho de sa\u00fade e presta\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os na Europa da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS). O setor da sa\u00fade dos pa\u00edses europeus est\u00e3o a enfrentar uma crise de m\u00e3o-de-obra, evidenciada pelas greves de diferentes profissionais de sa\u00fade. \u0022Temos mais m\u00e9dicos e enfermeiros do que nunca. Nos \u00faltimos 10 anos, houve um aumento de 20% do n\u00famero de m\u00e9dicos em toda a regi\u00e3o e um aumento de 10% do n\u00famero de enfermeiros. No entanto, a procura est\u00e1 a crescer a um ritmo mais r\u00e1pido. Isso significa que estamos a ter esta escassez, um fosso entre a procura e a disponibilidade de profissionais de sa\u00fade\u0022, afirmou Tomas Zapata.Um relat\u00f3rio regional publicado pela OMS, em setembro de 2022, alertou para uma \u0022bomba-rel\u00f3gio\u0022 que amea\u00e7a os sistemas de sa\u00fade da Europa e da \u00c1sia Central.O relat\u00f3rio diz que um dos principais desafios \u00e9 o envelhecimento da m\u00e3o-de-obra no setor, referindo que 40% dos m\u00e9dicos em 13 dos 44 pa\u00edses analisados j\u00e1 t\u00eam 55 anos ou mais.O relat\u00f3rio tamb\u00e9m salienta a situa\u00e7\u00e3o sa\u00fade mental dos profissionais, afetada por longos hor\u00e1rios de trabalho, apoio profissional inadequado e grave escassez de pessoal.Em alguns pa\u00edses, mais de 80% dos enfermeiros relataram epis\u00f3dios de sofrimento psicol\u00f3gico causado pela pandemia da Covid-19. De acordo com o relat\u00f3rio, nove em cada 10 enfermeiros estavam a pensar em abandonar o emprego.Todas estas quest\u00f5es levam os m\u00e9dicos e outros profissionais de sa\u00fade de toda a Europa a entrar em greve, numa tentativa de obter melhores condi\u00e7\u00f5es de trabalho.Alemanha exige cuidados de sa\u00fade de primeira qualidadeEm janeiro, milhares de m\u00e9dicos de hospitais universit\u00e1rios estatais na Alemanha fizeram greve depois de as negocia\u00e7\u00f5es coletivas com os gestores dos hospitais terem falhado.Cerca de 5.000 m\u00e9dicos aderiram a uma \u0022greve de aviso\u0022, organizada pelo Marburger Bund na cidade de Hanover, no norte do pa\u00eds, segundo o sindicato.O sindicato exigiu um aumento salarial de 12,5% e pr\u00e9mios mais elevados para os 20.000 m\u00e9dicos dos hospitais universit\u00e1rios que trabalham \u00e0 noite, aos fins-de-semana e nos feriados.Os m\u00e9dicos voltaram a sair \u00e0 rua em mar\u00e7o, depois do fracasso da quarta ronda de negocia\u00e7\u00f5es com os 16 Estados federados (L\u00e4nder) que gerem os hospitais p\u00fablicos. Segundo o Marburger Bund, cerca de 7000 m\u00e9dicos de 23 institui\u00e7\u00f5es de toda a Alemanha participaram, desta vez, em diversas manifesta\u00e7\u00f5es.\u0022N\u00e3o podemos aceitar que a medicina universit\u00e1ria continue a ser a \u00faltima roda da carro\u00e7a em termos de sal\u00e1rios dos m\u00e9dicos\u0022, declarou Andreas Botzlar, segundo presidente do Marburger Bund, em comunicado.\u0022A recente ronda de negocia\u00e7\u00f5es deixou-nos com a impress\u00e3o de que os L\u00e4nder ainda n\u00e3o perceberam o que est\u00e1 em causa: estamos a exigir condi\u00e7\u00f5es justas para uma medicina de topo. N\u00e3o mais - mas tamb\u00e9m n\u00e3o menos\u0022, acrescentou.Eslov\u00e9nia assiste \u00e0 mais longa greve de sempre dos m\u00e9dicosOs m\u00e9dicos e dentistas que trabalham no servi\u00e7o p\u00fablico de sa\u00fade esloveno entraram em greve em janeiro, naquela que se tornou a greve de m\u00e9dicos mais longa de sempre no pa\u00eds.Retiraram o seu consentimento para o trabalho extraordin\u00e1rio, numa tentativa de pressionar o governo a honrar os compromissos relativamente a uma reforma da sa\u00fade anteriormente apresentada e a voltar \u00e0 mesa das negocia\u00e7\u00f5es.Em 2023, a Fides, o sindicato dos m\u00e9dicos e dentistas, assinou um acordo com o Governo para criar um pilar salarial separado na tabela salarial do sector p\u00fablico para os profissionais de sa\u00fade, mas tal nunca se concretizou.\u0022Os funcion\u00e1rios est\u00e3o a abandonar as institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas e os bons pediatras est\u00e3o a ser penalizados pela sua vontade de ajudar o sector p\u00fablico\u0022, declarou Damjan Polh, presidente da Fides, em comunicado. \u0022As promessas de reformas continuam por cumprir e as leis no dom\u00ednio da sa\u00fade s\u00e3o escritas por quem n\u00e3o percebe nada do assunto.\u0022O governo adoptou uma proposta de altera\u00e7\u00e3o da Lei dos Servi\u00e7os M\u00e9dicos, que estabeleceria um tempo m\u00ednimo de trabalho durante uma greve \u0022para garantir o funcionamento est\u00e1vel do sistema de sa\u00fade\u0022.A Fides recorreu ao Tribunal Constitucional da Eslov\u00e9nia para questionar a constitucionalidade e a legalidade de tal medida. De acordo com o sindicato, esta medida \u0022restringiria ainda mais o direito \u00e0 greve dos m\u00e9dicos\u0022.Recentemente, em agosto, o sindicato informou o governo esloveno de novas exig\u00eancias de greve para proteger a profiss\u00e3o m\u00e9dica.Reforma pol\u00e9mica em Fran\u00e7aEm Fran\u00e7a, uma medida de natureza diferente provocou a indigna\u00e7\u00e3o dos estudantes de medicina: este outono, haver\u00e1 menos 1.510 vagas para m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o.Este ano, ser\u00e3o abertas apenas 7.974 vagas, contra 9.484 em 2023, segundo dados oficiais do Governo de julho.Em Fran\u00e7a, os m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o, ou \u0022internes en m\u00e9decine\u0022, s\u00e3o estudantes de medicina que conclu\u00edram o sexto ano de estudos de um total de 12. Trabalham a tempo inteiro num hospital ou noutra institui\u00e7\u00e3o m\u00e9dica sob a supervis\u00e3o de um s\u00e9nior, enquanto prosseguem os seus estudos.\u0022Estamos todos muito assustados (...) O trabalho nos hospitais \u00e9 muito dif\u00edcil, \u00e9 muito exigente mental e fisicamente para os m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o\u0022, disse Marie, que est\u00e1 a terminar o seu sexto ano de estudos m\u00e9dicos. \u0022E agora vamos ser menos no outono e a carga de trabalho n\u00e3o vai diminuir\u0022.De acordo com o governo, o n\u00famero de vagas foi reduzido porque o n\u00famero de candidatos que participaram nos exames de iss\u00e3o competitivos para ganhar as vagas tamb\u00e9m diminuiu.No entanto, os n\u00fameros suscitaram d\u00favidas entre os sindicatos.\u0022Todos os anos, h\u00e1 uma adapta\u00e7\u00e3o das vagas em fun\u00e7\u00e3o do n\u00famero de m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o que se candidatam\u0022, afirmou Agn\u00e8s Ricard Hibon, porta-voz do sindicato SAMU Urgences de . \u0022Exceto que, neste caso, houve muito mais pessoas a refazer o ano\u0022.As especializa\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas ser\u00e3o afetadas em diferentes graus: os postos de trabalho em medicina geral e oftalmologia dever\u00e3o sofrer uma redu\u00e7\u00e3o de 18%, ao o que haver\u00e1 menos 15% de vagas em medicina de urg\u00eancia.\u0022H\u00e1 algumas disciplinas, como a cirurgia pl\u00e1stica, que s\u00e3o mais afetadas. Outras est\u00e3o preservadas, como a pediatria ou a cirurgia pedi\u00e1trica, porque h\u00e1 uma necessidade enorme\u0022, disse Hibon.No entanto, alguns alunos afirmam que muitos dos seus colegas optaram por repetir o ano e reprovaram nos exames de prop\u00f3sito, j\u00e1 que foram a primeira coorte a fazer os exames de iss\u00e3o de coloca\u00e7\u00e3o que foram introduzidos por uma reforma contestada dos estudos m\u00e9dicos em 2020. Alegaram que n\u00e3o queriam ser um grupo de \u0022teste de colis\u00e3o\u0022.No entanto, Hibon afirma que a diminui\u00e7\u00e3o do n\u00famero de m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o n\u00e3o dever\u00e1 ter um grande impacto nos hospitais: \u0022Eles s\u00e3o sistematicamente supervisionados por m\u00e9dicos seniores. N\u00e3o s\u00e3o eles que dirigem os servi\u00e7os.Por outro lado, alguns estudantes lan\u00e7aram uma peti\u00e7\u00e3o online pedindo a reabertura de vagas para m\u00e9dicos em forma\u00e7\u00e3o, que recebeu mais de 57.000 s at\u00e9 setembro.A peti\u00e7\u00e3o afirma que as m\u00faltiplas reformas acad\u00e9micas e as mudan\u00e7as na forma como s\u00e3o avaliados e classificados afetaram negativamente os seus resultados e a sua sa\u00fade mental.Como resultado, cerca de 1000 estudantes optaram por repetir o quarto e o quinto ano e 400 outros estudantes reprovaram no concurso, afirma a peti\u00e7\u00e3o, acrescentando que certos cargos tamb\u00e9m se tornaram mais competitivos.\u0022Um estudante que queira efetuar um est\u00e1gio em Cirurgia Digestiva em Paris tem de estar classificado entre os 23% melhores da sua turma, contra 35% no ano ado\u0022, refere a peti\u00e7\u00e3o.Acrescenta que, consequentemente, muitos estudantes ser\u00e3o obrigados a escolher uma disciplina mais f\u00e1cil de entrar, mas na qual n\u00e3o est\u00e3o necessariamente investidos.Marie, estudante de medicina, adverte que alguns estudantes preferem terminar os seus estudos no estrangeiro a desistir das suas ambi\u00e7\u00f5es.Para compensar, a Fran\u00e7a poder\u00e1 ter de importar m\u00e9dicos estrangeiros na dire\u00e7\u00e3o oposta. \u0022\u00c9 poss\u00edvel que haja mais vagas para m\u00e9dicos estrangeiros que queiram vir fazer a sua forma\u00e7\u00e3o em Fran\u00e7a\u0022, diz Hibon.No entanto, os estudantes de medicina ses consideram esta solu\u00e7\u00e3o injusta, tanto para eles como para os m\u00e9dicos estrangeiros que possam vir para c\u00e1. \u0022Os m\u00e9dicos estrangeiros tamb\u00e9m est\u00e3o a ser enganados, porque s\u00e3o menos bem pagos do que n\u00f3s e, por isso, tamb\u00e9m est\u00e3o a ser explorados\u0022, afirma Marie.De um modo mais geral, o debate tem lugar numa altura em que todo o sector m\u00e9dico em Fran\u00e7a sofre de uma deteriora\u00e7\u00e3o da sa\u00fade mental e das condi\u00e7\u00f5es de trabalho - exaust\u00e3o, horas extraordin\u00e1rias, falta de supervis\u00e3o, concorr\u00eancia, responsabilidades importantes e baixos sal\u00e1rios - exacerbada pela pandemia de covid-19.Todos estes desafios t\u00eam vindo a surgir h\u00e1 anos em toda a Europa, mas pode haver esperan\u00e7a no horizonte para os hospitais do continente atrav\u00e9s da Declara\u00e7\u00e3o de Bucareste sobre a for\u00e7a de trabalho no sector da sa\u00fade e dos cuidados, que os representantes da OMS Europa adoptaram em 2023.A declara\u00e7\u00e3o apela \u00e0 a\u00e7\u00e3o pol\u00edtica para melhorar o recrutamento e a reten\u00e7\u00e3o de profissionais de sa\u00fade e de presta\u00e7\u00e3o de cuidados, melhorar os mecanismos de oferta de m\u00e3o de obra no sector da sa\u00fade, otimizar o desempenho da m\u00e3o-de-obra e aumentar o investimento p\u00fablico na educa\u00e7\u00e3o.No entanto, ainda n\u00e3o se sabe como \u00e9 que os pa\u00edses ir\u00e3o implementar a declara\u00e7\u00e3o na pr\u00e1tica e, independentemente disso, os riscos s\u00e3o elevados: um m\u00e9dico que se debate com a deteriora\u00e7\u00e3o das condi\u00e7\u00f5es de trabalho ter\u00e1 certamente um impacto negativo na qualidade dos cuidados.\u0022Quando um prestador de cuidados \u00e9 maltratado, sabemos que 10 doentes s\u00e3o maltratados a seguir\u0022, afirmou Marie.", "dateCreated": "2024-09-02T12:15:50+02:00", "dateModified": "2024-09-12T19:35:56+02:00", "datePublished": "2024-09-12T19:35:56+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F69%2F61%2F40%2F1440x810_cmsv2_c37d75cd-e97d-57a4-aa37-d895d8f71e6e-8696140.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Nos \u00faltimos meses, os trabalhadores do sector da sa\u00fade protestaram em Fran\u00e7a, na Alemanha, na Eslov\u00e9nia e na Su\u00e9cia. 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Falta de médicos, salários baixos e horas extraordinárias: hospitais europeus enfrentam dificuldades

Nos últimos meses, os trabalhadores do sector da saúde protestaram em França, na Alemanha, na Eslovénia e na Suécia.
Nos últimos meses, os trabalhadores do sector da saúde protestaram em França, na Alemanha, na Eslovénia e na Suécia. Direitos de autor Gero Breloer/AP2011
Direitos de autor Gero Breloer/AP2011
De Amandine Hess
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A Europa está a sofrer uma crise nos cuidados de saúde, que está a levar à declaração de greves na Alemanha, Eslovénia e Suécia. Entretanto, em França, uma reforma polémica do ensino da Medicina está a revoltar estudantes e médicos.

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Os hospitais de toda a Europa parecem estar a viver de forma precária. Quer seja em França, na Eslovénia ou na Suécia, os hospitais enfrentam escassez de pessoal, salários baixos e mais horas extraordinárias, o que leva a ações de protesto em todo o setor da saúde que, inevitavelmente, tem impacto nos cuidados prestados aos doentes.

Na Suécia, os trabalhadores do setor da saúde entraram em greve pela primeira vez em 16 anos, para protestar contra a elevada carga horária e os baixos salários, durante 78 dias consecutivos em 2024.

As greves são menos nos países nórdicos do que noutras partes da Europa, mas após quatro meses a tentar negociar acordos coletivos, a Associação Sueca de Profissionais de Saúde decidiu entrar em greve entre 11 de abril a 28 de junho.

"Chegámos a um beco sem saída nas negociações", diz Sineva Ribeiro, presidente da Associação Sueca de Profissionais de Saúde, um sindicato com 114 mil membros e que representa enfermeiros, parteiras, cientistas biomédicos e radiologistas. "Tivemos de entrar em greve. Tínhamos de entrar em conflito".

"Em 2023, eles (membros da associação) fizeram três milhões de horas extraordinárias", disse Ribeiro, explicando que também foi declarada uma greve às horas extraordinárias. "Por isso, sabíamos que havia falta de enfermeiros, parteiras, radiologistas e enfermeiros de raios X."

No fim, a Associação Sueca de Profissionais de Saúde conseguiu uma redução do horário de trabalho para 10% dos membros (os que fazem turnos noturnos), um aumento salarial de 3,05% e um acordo para que os empregadores paguem as especializações dos enfermeiros.

Por outro lado, o sindicato concordou em deixar de reivindicar a redução do horário de trabalho semanal do pessoal médico, de 40 para 37 horas.

De uma forma mais geral, a deterioração das condições de trabalho é considerada um dos principais fatores que levam os profissionais de saúde a abandonar a Suécia e a ir para os países vizinhos.

"Temos cerca de 20.000 enfermeiros a trabalhar na Noruega, porque pagam mais e têm menos horas de trabalho por semana", afirmou Ribeiro.

Além disso, 13.000 enfermeiros qualificados abandonaram a profissão, deixando um buraco negro de mais de 60 milhões de euros, financiado pelos contribuintes, de acordo com um relatório do Conselho Nacional de Competência em Saúde da Suécia, publicado em junho.

"A situação (na Suécia) é talvez melhor do que noutros países da UE", disse Ribeiro. "Mas continuamos a ter uma grande falta de enfermeiros para tratar da saúde da população. E nunca sabemos quando pode surgir a próxima pandemia."

"Uma bomba-relógio"

Mas a realidade é que existe um problema semelhante em toda a União Europeia.

Os hospitais públicos dos países do bloco são confrontados com desafios paralelos, incluindo o envelhecimento da população, que vai necessitar de mais cuidados de saúde, e a dificuldade em substituir os profissionais de saúde que se reformam porque a profissão já não é tão atrativa como antes.

"Há um aumento da procura, basicamente devido a quatro fatores principais: o envelhecimento da população, o aumento da multimorbilidade e das doenças crónicas, os atrasos acumulados durante a pandemia da Covid-19 em termos de lista de espera e também o aumento das expetativas dos pacientes", explicou Tomas Zapata, conselheiro regional para a força de trabalho de saúde e prestação de serviços na Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O setor da saúde dos países europeus estão a enfrentar uma crise de mão-de-obra, evidenciada pelas greves de diferentes profissionais de saúde.

"Temos mais médicos e enfermeiros do que nunca. Nos últimos 10 anos, houve um aumento de 20% do número de médicos em toda a região e um aumento de 10% do número de enfermeiros. No entanto, a procura está a crescer a um ritmo mais rápido. Isso significa que estamos a ter esta escassez, um fosso entre a procura e a disponibilidade de profissionais de saúde", afirmou Tomas Zapata.

Um relatório regional publicado pela OMS, em setembro de 2022, alertou para uma "bomba-relógio" que ameaça os sistemas de saúde da Europa e da Ásia Central.

O relatório diz que um dos principais desafios é o envelhecimento da mão-de-obra no setor, referindo que 40% dos médicos em 13 dos 44 países analisados já têm 55 anos ou mais.

O relatório também salienta a situação saúde mental dos profissionais, afetada por longos horários de trabalho, apoio profissional inadequado e grave escassez de pessoal.

Em alguns países, mais de 80% dos enfermeiros relataram episódios de sofrimento psicológico causado pela pandemia da Covid-19. De acordo com o relatório, nove em cada 10 enfermeiros estavam a pensar em abandonar o emprego.

Todas estas questões levam os médicos e outros profissionais de saúde de toda a Europa a entrar em greve, numa tentativa de obter melhores condições de trabalho.

Diplomados em medicina dentária por 100 000 habitantes nos países europeus em 2022 (Eurostat).
Diplomados em medicina dentária por 100 000 habitantes nos países europeus em 2022 (Eurostat).Eurostat

Alemanha exige cuidados de saúde de primeira qualidade

Em janeiro, milhares de médicos de hospitais universitários estatais na Alemanha fizeram greve depois de as negociações coletivas com os gestores dos hospitais terem falhado.

Cerca de 5.000 médicos aderiram a uma "greve de aviso", organizada pelo Marburger Bund na cidade de Hanover, no norte do país, segundo o sindicato.

O sindicato exigiu um aumento salarial de 12,5% e prémios mais elevados para os 20.000 médicos dos hospitais universitários que trabalham à noite, aos fins-de-semana e nos feriados.

Os médicos voltaram a sair à rua em março, depois do fracasso da quarta ronda de negociações com os 16 Estados federados (Länder) que gerem os hospitais públicos. Segundo o Marburger Bund, cerca de 7000 médicos de 23 instituições de toda a Alemanha participaram, desta vez, em diversas manifestações.

"Não podemos aceitar que a medicina universitária continue a ser a última roda da carroça em termos de salários dos médicos", declarou Andreas Botzlar, segundo presidente do Marburger Bund, em comunicado.

"A recente ronda de negociações deixou-nos com a impressão de que os Länder ainda não perceberam o que está em causa: estamos a exigir condições justas para uma medicina de topo. Não mais - mas também não menos", acrescentou.

Eslovénia assiste à mais longa greve de sempre dos médicos

Os médicos e dentistas que trabalham no serviço público de saúde esloveno entraram em greve em janeiro, naquela que se tornou a greve de médicos mais longa de sempre no país.

Retiraram o seu consentimento para o trabalho extraordinário, numa tentativa de pressionar o governo a honrar os compromissos relativamente a uma reforma da saúde anteriormente apresentada e a voltar à mesa das negociações.

Em 2023, a Fides, o sindicato dos médicos e dentistas, assinou um acordo com o Governo para criar um pilar salarial separado na tabela salarial do sector público para os profissionais de saúde, mas tal nunca se concretizou.

"Os funcionários estão a abandonar as instituições públicas e os bons pediatras estão a ser penalizados pela sua vontade de ajudar o sector público", declarou Damjan Polh, presidente da Fides, em comunicado. "As promessas de reformas continuam por cumprir e as leis no domínio da saúde são escritas por quem não percebe nada do assunto."

O governo adoptou uma proposta de alteração da Lei dos Serviços Médicos, que estabeleceria um tempo mínimo de trabalho durante uma greve "para garantir o funcionamento estável do sistema de saúde".

A Fides recorreu ao Tribunal Constitucional da Eslovénia para questionar a constitucionalidade e a legalidade de tal medida. De acordo com o sindicato, esta medida "restringiria ainda mais o direito à greve dos médicos".

Recentemente, em agosto, o sindicato informou o governo esloveno de novas exigências de greve para proteger a profissão médica.

Médicos protestam durante uma greve nacional, em Paris, a 5 de janeiro de 2023.
Médicos protestam durante uma greve nacional, em Paris, a 5 de janeiro de 2023.Francois Mori/Copyright 2023 The AP. All rights reserved

Reforma polémica em França

Em França, uma medida de natureza diferente provocou a indignação dos estudantes de medicina: este outono, haverá menos 1.510 vagas para médicos em formação.

Este ano, serão abertas apenas 7.974 vagas, contra 9.484 em 2023, segundo dados oficiais do Governo de julho.

Em França, os médicos em formação, ou "internes en médecine", são estudantes de medicina que concluíram o sexto ano de estudos de um total de 12. Trabalham a tempo inteiro num hospital ou noutra instituição médica sob a supervisão de um sénior, enquanto prosseguem os seus estudos.

"Estamos todos muito assustados (...) O trabalho nos hospitais é muito difícil, é muito exigente mental e fisicamente para os médicos em formação", disse Marie, que está a terminar o seu sexto ano de estudos médicos. "E agora vamos ser menos no outono e a carga de trabalho não vai diminuir".

De acordo com o governo, o número de vagas foi reduzido porque o número de candidatos que participaram nos exames de issão competitivos para ganhar as vagas também diminuiu.

No entanto, os números suscitaram dúvidas entre os sindicatos.

"Todos os anos, há uma adaptação das vagas em função do número de médicos em formação que se candidatam", afirmou Agnès Ricard Hibon, porta-voz do sindicato SAMU Urgences de . "Exceto que, neste caso, houve muito mais pessoas a refazer o ano".

As especializações médicas serão afetadas em diferentes graus: os postos de trabalho em medicina geral e oftalmologia deverão sofrer uma redução de 18%, ao o que haverá menos 15% de vagas em medicina de urgência.

"Há algumas disciplinas, como a cirurgia plástica, que são mais afetadas. Outras estão preservadas, como a pediatria ou a cirurgia pediátrica, porque há uma necessidade enorme", disse Hibon.

No entanto, alguns alunos afirmam que muitos dos seus colegas optaram por repetir o ano e reprovaram nos exames de propósito, já que foram a primeira coorte a fazer os exames de issão de colocação que foram introduzidos por uma reforma contestada dos estudos médicos em 2020. Alegaram que não queriam ser um grupo de "teste de colisão".

No entanto, Hibon afirma que a diminuição do número de médicos em formação não deverá ter um grande impacto nos hospitais: "Eles são sistematicamente supervisionados por médicos seniores. Não são eles que dirigem os serviços.

Por outro lado, alguns estudantes lançaram uma petição online pedindo a reabertura de vagas para médicos em formação, que recebeu mais de 57.000 s até setembro.

A petição afirma que as múltiplas reformas académicas e as mudanças na forma como são avaliados e classificados afetaram negativamente os seus resultados e a sua saúde mental.

Como resultado, cerca de 1000 estudantes optaram por repetir o quarto e o quinto ano e 400 outros estudantes reprovaram no concurso, afirma a petição, acrescentando que certos cargos também se tornaram mais competitivos.

"Um estudante que queira efetuar um estágio em Cirurgia Digestiva em Paris tem de estar classificado entre os 23% melhores da sua turma, contra 35% no ano ado", refere a petição.

Acrescenta que, consequentemente, muitos estudantes serão obrigados a escolher uma disciplina mais fácil de entrar, mas na qual não estão necessariamente investidos.

Marie, estudante de medicina, adverte que alguns estudantes preferem terminar os seus estudos no estrangeiro a desistir das suas ambições.

Diplomados em medicina por 100 000 habitantes em 2022 nos países europeus.
Diplomados em medicina por 100 000 habitantes em 2022 nos países europeus.Eurostat

Para compensar, a França poderá ter de importar médicos estrangeiros na direção oposta. "É possível que haja mais vagas para médicos estrangeiros que queiram vir fazer a sua formação em França", diz Hibon.

No entanto, os estudantes de medicina ses consideram esta solução injusta, tanto para eles como para os médicos estrangeiros que possam vir para cá. "Os médicos estrangeiros também estão a ser enganados, porque são menos bem pagos do que nós e, por isso, também estão a ser explorados", afirma Marie.

De um modo mais geral, o debate tem lugar numa altura em que todo o sector médico em França sofre de uma deterioração da saúde mental e das condições de trabalho - exaustão, horas extraordinárias, falta de supervisão, concorrência, responsabilidades importantes e baixos salários - exacerbada pela pandemia de covid-19.

Todos estes desafios têm vindo a surgir há anos em toda a Europa, mas pode haver esperança no horizonte para os hospitais do continente através da Declaração de Bucareste sobre a força de trabalho no sector da saúde e dos cuidados, que os representantes da OMS Europa adoptaram em 2023.

A declaração apela à ação política para melhorar o recrutamento e a retenção de profissionais de saúde e de prestação de cuidados, melhorar os mecanismos de oferta de mão de obra no sector da saúde, otimizar o desempenho da mão-de-obra e aumentar o investimento público na educação.

No entanto, ainda não se sabe como é que os países irão implementar a declaração na prática e, independentemente disso, os riscos são elevados: um médico que se debate com a deterioração das condições de trabalho terá certamente um impacto negativo na qualidade dos cuidados.

"Quando um prestador de cuidados é maltratado, sabemos que 10 doentes são maltratados a seguir", afirmou Marie.

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