{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/saude/2024/06/16/estigma-e-ignorancia-historicos-porque-e-que-a-europa-tem-dificuldade-em-diagnosticar-a-ad" }, "headline": "\u0022Estigma e ignor\u00e2ncia hist\u00f3ricos\u0022: Porque \u00e9 que \u00e9 dif\u00edcil diagnosticar o d\u00e9fice de aten\u00e7\u00e3o e hiperatividade em adultos na Europa?", "description": "Apesar da sua preval\u00eancia, a PHDA continua a ser amplamente incompreendida e subdiagnosticada na Europa, sobretudo entre os adultos.", "articleBody": "Apesar da sua preval\u00eancia, a perturba\u00e7\u00e3o de d\u00e9fice de aten\u00e7\u00e3o, ou PHDA, continua a ser uma das doen\u00e7as mais mal compreendidas e negligenciadas na Europa.Caraterizada por desaten\u00e7\u00e3o, hiperatividade e impulsividade, esta condi\u00e7\u00e3o neurodivergente tornou-se um desafio n\u00e3o s\u00f3 para as crian\u00e7as, mas tamb\u00e9m para os adultos que continuam a debater-se com os seus sintomas.O subdiagn\u00f3stico e o subtratamento desta doen\u00e7a criaram barreiras significativas, impedindo um apoio eficaz \u00e0s pessoas afetadas.Tony Lloyd, Diretor Executivo da ADHD Foundation aponta o dedo ao estigma hist\u00f3rico e \u00e0s conce\u00e7\u00f5es erradas em torno do d\u00e9fice de aten\u00e7\u00e3o com ou sem hiperatividade.\u0022Devido ao estigma hist\u00f3rico e \u00e0 ignor\u00e2ncia em torno da PHDA como sendo uma perturba\u00e7\u00e3o comportamental e normalmente associada a crian\u00e7as que s\u00e3o consideradas mal comportadas na escola, existe uma grande vergonha e estigma em torno da doen\u00e7a e uma grande quantidade de mal-entendidos\u0022, disse Lloyd \u00e0 Euronews.Nos \u00faltimos anos, no entanto, assistiu-se a uma mudan\u00e7a significativa, com um aumento no reconhecimento e diagn\u00f3stico da PHDA, particularmente intensificado pela pandemia da COVID-19.De acordo com Lloyd, esta tend\u00eancia deve-se \u00e0 perturba\u00e7\u00e3o dos mecanismos de sobreviv\u00eancia durante os per\u00edodos de confinamento, que afetaram muitos indiv\u00edduos.\u0022Quando a pandemia chegou, as pessoas foram confinadas, n\u00e3o puderam sair, fazer exerc\u00edcio, interagir com outras pessoas, ter apoio pessoal pr\u00f3ximo dos colegas de trabalho. 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Est\u00e1 a melhorar, mas ainda n\u00e3o \u00e9 o ideal\u0022, disse Mia Vieyra.\u0022Em Fran\u00e7a, a PHDA n\u00e3o \u00e9 um diagn\u00f3stico reconhecido por muitos psic\u00f3logos ou psiquiatras, especialmente no caso dos adultos, pelo que \u00e9 muito dif\u00edcil apresentar-lhes o conceito de PHDA\u0022, acrescentou Mia Vieyra.De acordo com Vieyra, a disponibilidade de tratamento em Fran\u00e7a \u00e9 limitada, com uma gama mais reduzida de medicamentos e desafios significativos no o a tratamentos n\u00e3o farmacol\u00f3gicos eficazes.\u0022H\u00e1 o problema do o, porque n\u00e3o h\u00e1 muitos psic\u00f3logos com forma\u00e7\u00e3o para trabalhar com pessoas com PHDA e, por isso, \u00e9 dif\u00edcil encontrar algu\u00e9m\u0022, disse Vieyra.\u0022E depois \u00e9 caro, porque normalmente n\u00e3o \u00e9 reembolsado, ou \u00e9 pouco reembolsado pelo sistema de Seguran\u00e7a Social\u0022, acrescentou.A PHDA tem uma imagem p\u00fablica bastante negativaApesar de a PHDA ser uma das condi\u00e7\u00f5es neurol\u00f3gicas mais discutidas atualmente, continua a ser muito suscet\u00edvel a equ\u00edvocos que podem levar a diagn\u00f3sticos errados.De acordo com Lloyd, os indiv\u00edduos neurodiversos foram durante muito tempo vistos como menos inteligentes ou moralmente fracos, o que contribuiu para a forma\u00e7\u00e3o de um estigma em torno da PHDA.\u0022Tradicionalmente, nos \u00faltimos 200 anos, partimos do pressuposto errado de que quem tem esse tipo de condi\u00e7\u00e3o neurol\u00f3gica \u00e9 menos inteligente, menos capaz, menos empreg\u00e1vel e, sobretudo no que se refere \u00e0 PHDA, que tem uma esp\u00e9cie de fraqueza moral\u0022, afirmou Lloyd.Jan Buitelaar, professor de ci\u00eancias m\u00e9dicas na Universidade de Radboud, nos Pa\u00edses Baixos, defende ainda que a PHDA tende a ser vista de forma negativa, o que tem impacto na forma como os indiv\u00edduos com esta doen\u00e7a s\u00e3o vistos e tratados socialmente.\u0022Em geral, a PHDA tem uma imagem p\u00fablica bastante negativa. Se olharmos para os meios de comunica\u00e7\u00e3o social, para as redes sociais, as pessoas com PHDA s\u00e3o retratadas como pregui\u00e7osas, barulhentas e pouco simp\u00e1ticas\u0022, disse Lloyd.Falta de forma\u00e7\u00e3o dos m\u00e9dicosAl\u00e9m disso, a falta de compreens\u00e3o e de forma\u00e7\u00e3o dos m\u00e9dicos e educadores na identifica\u00e7\u00e3o da PHDA \u00e9 uma das principais causas de erros de diagn\u00f3stico.\u0022De um modo geral, na Europa, a PHDA n\u00e3o \u00e9 bem compreendida. Os m\u00e9dicos n\u00e3o t\u00eam forma\u00e7\u00e3o adequada para a identificar\u0022, afirmou Lloyd.Hov\u00e9n acrescentou ainda: \u0022J\u00e1 conheci pessoas a quem foram feitos oito diagn\u00f3sticos de depress\u00e3o e depois encontram um m\u00e9dico que lhes diz que n\u00e3o, n\u00e3o \u00e9 depress\u00e3o, \u00e9 PHDA. A chave do nosso trabalho \u00e9 a consciencializa\u00e7\u00e3o\u0022.Al\u00e9m disso, segundo Lloyd, embora a PHDA ocorra frequentemente em conjunto com outras doen\u00e7as, como a dislexia e o autismo, muitos indiv\u00edduos com m\u00faltiplas doen\u00e7as do neurodesenvolvimento recebem apenas um diagn\u00f3stico.Por conseguinte, h\u00e1 uma necessidade significativa de melhorar a informa\u00e7\u00e3o sobre sa\u00fade p\u00fablica, a forma\u00e7\u00e3o e a compreens\u00e3o da sociedade para melhor diagnosticar a PHDA.\u0022Existe um enorme problema de sa\u00fade p\u00fablica, na Europa, e precisamos de formar melhor os professores para que compreendam que o facto de uma crian\u00e7a n\u00e3o estar a ter sucesso na escola n\u00e3o significa que tenha poucas capacidades\u0022, sublinhou Lloyd.Como \u00e9 diagnosticada a PHDA?O diagn\u00f3stico da PHDA envolve normalmente avalia\u00e7\u00f5es comportamentais e entrevistas com contributos de v\u00e1rias fontes, incluindo pais, professores e auto-relatos de adolescentes mais velhos e adultos.Al\u00e9m disso, para que o diagn\u00f3stico seja estabelecido, os sintomas devem estar presentes h\u00e1 pelo menos seis meses e devem ter come\u00e7ado antes dos 12 anos de idade, explicou Buitelaar.O processo de diagn\u00f3stico procura especificamente padr\u00f5es de comportamentos de desaten\u00e7\u00e3o, hiperatividade-impulsividade ou comportamentos combinados em diferentes ambientes.Embora os sintomas de PHDA surjam tipicamente durante a inf\u00e2ncia e n\u00e3o sejam condi\u00e7\u00f5es que se desenvolvam subitamente na idade adulta, muitos adultos que n\u00e3o foram diagnosticados na inf\u00e2ncia tendem a procurar o diagn\u00f3stico mais tarde na vida.Para esses adultos, os sintomas podem ser diferentes, exigindo ajustes no apoio prestado.\u0022Temos de nos lembrar que a PHDA das crian\u00e7as n\u00e3o se parece com a dos adultos. As crian\u00e7as podem ser hiperactivas, n\u00e3o se conseguem concentrar, mas quando se a para a idade adulta, a situa\u00e7\u00e3o muda\u0022, afirma Hov\u00e9n.Ainda assim, um diagn\u00f3stico precoce na inf\u00e2ncia \u00e9 geralmente prefer\u00edvel.\u0022Se o identificarmos precocemente e apoiarmos as crian\u00e7as e os seus pais desde o in\u00edcio, as suas trajet\u00f3rias de vida ser\u00e3o profundamente melhores\u0022, afirma Lloyd.Disparidade de g\u00e9nero no diagn\u00f3stico da PHDAO facto de a PHDA ser mal caracterizada como uma perturba\u00e7\u00e3o comportamental resulta frequentemente em crit\u00e9rios de diagn\u00f3stico que tendem a ignorar as raparigas e as mulheres.Isto deve-se ao facto de a PHDA se apresentar de forma diferente nas mulheres, que exibem uma hiperatividade menos vis\u00edvel e os seus sintomas tendem a ser menos perturbadores.\u0022Muitas vezes n\u00e3o vemos o que se a com as raparigas porque elas s\u00e3o simp\u00e1ticas, s\u00e3o caladas. Ficam quietas na sala de aula, mas n\u00e3o est\u00e3o presentes\u0022, acrescentou Hov\u00e9n.De acordo com Lloyd, esta situa\u00e7\u00e3o conduziu a uma disparidade hist\u00f3rica de g\u00e9nero no diagn\u00f3stico, sendo as mulheres frequentemente diagnosticadas erradamente com outras perturba\u00e7\u00f5es mentais.\u0022As mulheres que sofrem de PHDA t\u00eam mais probabilidades de serem diagnosticadas erradamente como tendo ansiedade, depress\u00e3o, dist\u00farbios alimentares e at\u00e9 mesmo perturba\u00e7\u00e3o bipolar\u0022, observou Lloyd.A diversidade da capacidade neurocognitiva humanaDe acordo com Buitelaar, o tratamento da PHDA deve integrar m\u00faltiplos componentes, incluindo psicoeduca\u00e7\u00e3o, medica\u00e7\u00e3o e interven\u00e7\u00f5es comportamentais.A gest\u00e3o da doen\u00e7a n\u00e3o se limita \u00e0 prescri\u00e7\u00e3o de medicamentos, mas requer tamb\u00e9m ajustamentos do estilo de vida.\u0022Gerir a PHDA com sucesso n\u00e3o \u00e9 apenas tomar medica\u00e7\u00e3o, que dura oito horas. Trata-se de compreender como \u00e9 que a PHDA o afeta e que escolhas de estilo de vida tem de fazer, bem como quais s\u00e3o os seus pontos fortes cognitivos\u0022, afirma Lloyd.Hov\u00e9n explica ainda que as pessoas com PHDA precisam do apoio das pessoas que a rodeiam para gerir melhor a situa\u00e7\u00e3o.\u0022Penso que \u00e9 muito importante olhar para toda a fam\u00edlia, se conseguirmos apoio para as crian\u00e7as no jardim de inf\u00e2ncia, se em casa a situa\u00e7\u00e3o for um caos, isso n\u00e3o ajuda\u0022, disse Hov\u00e9n.No caso dos adultos, Lloyd explica que a sociedade precisa de come\u00e7ar a abrir-se \u00e0s suas diversas capacidades cognitivas e mudar a forma como a PHDA \u00e9 encarada no local de trabalho.\u0022Precisamos de reconhecer que a diversidade da capacidade neurocognitiva humana \u00e9 muito maior do que pensamos. O facto de 20% das pessoas pensarem de forma diferente n\u00e3o significa que sejam menos inteligentes ou empreg\u00e1veis\u0022, afirmou.De acordo com Lloyd, as pessoas neurodiversas, incluindo as que sofrem de PHDA, apresentam pontos fortes cognitivos \u00fanicos associados \u00e0s suas condi\u00e7\u00f5es, que podem ser vantajosos no ambiente de trabalho e at\u00e9 contribuir para impulsionar a economia.Globalmente, Lloyd sublinha a necessidade de reconhecer o potencial dos indiv\u00edduos neurodiversos em geral.\u0022Trata-se de reconhecer a diversidade da capacidade neurocognitiva humana. \u00c9 muito maior do que pensamos. 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"Estigma e ignorância históricos": Porque é que é difícil diagnosticar o défice de atenção e hiperatividade em adultos na Europa?

O desafio da Europa no diagnóstico e tratamento da PHDA
O desafio da Europa no diagnóstico e tratamento da PHDA Direitos de autor Canva
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De Imane El Atillah
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Apesar da sua prevalência, a PHDA continua a ser amplamente incompreendida e subdiagnosticada na Europa, sobretudo entre os adultos.

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Apesar da sua prevalência, a perturbação de défice de atenção, ou PHDA, continua a ser uma das doenças mais mal compreendidas e negligenciadas na Europa.

Caraterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade, esta condição neurodivergente tornou-se um desafio não só para as crianças, mas também para os adultos que continuam a debater-se com os seus sintomas.

O subdiagnóstico e o subtratamento desta doença criaram barreiras significativas, impedindo um apoio eficaz às pessoas afetadas.

Tony Lloyd, Diretor Executivo da ADHD Foundation aponta o dedo ao estigma histórico e às conceções erradas em torno do défice de atenção com ou sem hiperatividade.

"Devido ao estigma histórico e à ignorância em torno da PHDA como sendo uma perturbação comportamental e normalmente associada a crianças que são consideradas mal comportadas na escola, existe uma grande vergonha e estigma em torno da doença e uma grande quantidade de mal-entendidos", disse Lloyd à Euronews.

Nos últimos anos, no entanto, assistiu-se a uma mudança significativa, com um aumento no reconhecimento e diagnóstico da PHDA, particularmente intensificado pela pandemia da COVID-19.

De acordo com Lloyd, esta tendência deve-se à perturbação dos mecanismos de sobrevivência durante os períodos de confinamento, que afetaram muitos indivíduos.

"Quando a pandemia chegou, as pessoas foram confinadas, não puderam sair, fazer exercício, interagir com outras pessoas, ter apoio pessoal próximo dos colegas de trabalho. Muitas das estruturas de apoio que lhes permitiam gerir com sucesso a PHDA foram retiradas", explicou Lloyd.

Compreender a PHDA e os seus desafios

Embora a pandemia tenha aumentado o reconhecimento e o apoio às pessoas com PHDA, o problema continua a ser subdiagnosticado na Europa, segundo os especialistas.

Por exemplo, no Reino Unido, a taxa de diagnóstico de PHDA é significativamente baixa.

"No Reino Unido, apenas 13% das crianças com PHDA são medicadas e apenas 11% dos adultos. Por isso, é significativamente subdiagnosticada e significativamente subtratada", afirmou Lloyd.

Isto está de acordo com uma declaração de consenso publicada por membros da comunidade médica britânica, que afirma que "apesar das directrizes nacionais baseadas em provas para a PHDA no Reino Unido, a doença é subidentificada, subdiagnosticada e subtratada".

A declaração refere ainda que as pessoas que procuram ajuda no país enfrentam muitos desafios, incluindo preconceitos, longos tempos de espera e disponibilidade inconsistente de serviços.

Por outro lado, a situação parece ser melhor para quem vive nos países nórdicos.

Nina Hovén, presidente da ADHD Europe, refere que estes países são líderes em termos de apoio e diagnóstico.

"Se compararmos o que se a nos países nórdicos e no resto da Europa, podemos ver uma grande diferença, porque a nossa organização tem uma estrutura muito boa e também recebemos dinheiro do governo ou de outras organizações", disse Hovén à Euronews.

Além disso, países como a Finlândia atualizaram as suas diretrizes para incluir os adultos, o que levou a um aumento da auto-consciência e do diagnóstico entre os indivíduos mais velhos.

No entanto, Hovén acrescentou que os países do sul e do leste da Europa, como a Itália, a Albânia, a Macedónia e a Sérvia, ainda não dispõem de recursos adequados nem de o a medicamentos para a PHDA.

De acordo com Mia Vieyra, psicóloga clínica residente em França, os adultos têm dificuldade em obter um diagnóstico e um tratamento adequados devido ao desconhecimento generalizado da PHDA por parte dos profissionais de saúde.

"A França continua a ser muito lenta no desenvolvimento de uma visão mais moderna e no diagnóstico e tratamento da PHDA. Está a melhorar, mas ainda não é o ideal", disse Mia Vieyra.

"Em França, a PHDA não é um diagnóstico reconhecido por muitos psicólogos ou psiquiatras, especialmente no caso dos adultos, pelo que é muito difícil apresentar-lhes o conceito de PHDA", acrescentou Mia Vieyra.

De acordo com Vieyra, a disponibilidade de tratamento em França é limitada, com uma gama mais reduzida de medicamentos e desafios significativos no o a tratamentos não farmacológicos eficazes.

"Há o problema do o, porque não há muitos psicólogos com formação para trabalhar com pessoas com PHDA e, por isso, é difícil encontrar alguém", disse Vieyra.

"E depois é caro, porque normalmente não é reembolsado, ou é pouco reembolsado pelo sistema de Segurança Social", acrescentou.

A PHDA tem uma imagem pública bastante negativa

Apesar de a PHDA ser uma das condições neurológicas mais discutidas atualmente, continua a ser muito suscetível a equívocos que podem levar a diagnósticos errados.

De acordo com Lloyd, os indivíduos neurodiversos foram durante muito tempo vistos como menos inteligentes ou moralmente fracos, o que contribuiu para a formação de um estigma em torno da PHDA.

"Tradicionalmente, nos últimos 200 anos, partimos do pressuposto errado de que quem tem esse tipo de condição neurológica é menos inteligente, menos capaz, menos empregável e, sobretudo no que se refere à PHDA, que tem uma espécie de fraqueza moral", afirmou Lloyd.

Jan Buitelaar, professor de ciências médicas na Universidade de Radboud, nos Países Baixos, defende ainda que a PHDA tende a ser vista de forma negativa, o que tem impacto na forma como os indivíduos com esta doença são vistos e tratados socialmente.

"Em geral, a PHDA tem uma imagem pública bastante negativa. Se olharmos para os meios de comunicação social, para as redes sociais, as pessoas com PHDA são retratadas como preguiçosas, barulhentas e pouco simpáticas", disse Lloyd.

Falta de formação dos médicos

Além disso, a falta de compreensão e de formação dos médicos e educadores na identificação da PHDA é uma das principais causas de erros de diagnóstico.

"De um modo geral, na Europa, a PHDA não é bem compreendida. Os médicos não têm formação adequada para a identificar", afirmou Lloyd.

Hovén acrescentou ainda: "Já conheci pessoas a quem foram feitos oito diagnósticos de depressão e depois encontram um médico que lhes diz que não, não é depressão, é PHDA. A chave do nosso trabalho é a consciencialização".

Além disso, segundo Lloyd, embora a PHDA ocorra frequentemente em conjunto com outras doenças, como a dislexia e o autismo, muitos indivíduos com múltiplas doenças do neurodesenvolvimento recebem apenas um diagnóstico.

Por conseguinte, há uma necessidade significativa de melhorar a informação sobre saúde pública, a formação e a compreensão da sociedade para melhor diagnosticar a PHDA.

"Existe um enorme problema de saúde pública, na Europa, e precisamos de formar melhor os professores para que compreendam que o facto de uma criança não estar a ter sucesso na escola não significa que tenha poucas capacidades", sublinhou Lloyd.

Como é diagnosticada a PHDA?

O diagnóstico da PHDA envolve normalmente avaliações comportamentais e entrevistas com contributos de várias fontes, incluindo pais, professores e auto-relatos de adolescentes mais velhos e adultos.

Além disso, para que o diagnóstico seja estabelecido, os sintomas devem estar presentes há pelo menos seis meses e devem ter começado antes dos 12 anos de idade, explicou Buitelaar.

O processo de diagnóstico procura especificamente padrões de comportamentos de desatenção, hiperatividade-impulsividade ou comportamentos combinados em diferentes ambientes.

Embora os sintomas de PHDA surjam tipicamente durante a infância e não sejam condições que se desenvolvam subitamente na idade adulta, muitos adultos que não foram diagnosticados na infância tendem a procurar o diagnóstico mais tarde na vida.

Para esses adultos, os sintomas podem ser diferentes, exigindo ajustes no apoio prestado.

"Temos de nos lembrar que a PHDA das crianças não se parece com a dos adultos. As crianças podem ser hiperactivas, não se conseguem concentrar, mas quando se a para a idade adulta, a situação muda", afirma Hovén.

Ainda assim, um diagnóstico precoce na infância é geralmente preferível.

"Se o identificarmos precocemente e apoiarmos as crianças e os seus pais desde o início, as suas trajetórias de vida serão profundamente melhores", afirma Lloyd.

Disparidade de género no diagnóstico da PHDA

O facto de a PHDA ser mal caracterizada como uma perturbação comportamental resulta frequentemente em critérios de diagnóstico que tendem a ignorar as raparigas e as mulheres.

Isto deve-se ao facto de a PHDA se apresentar de forma diferente nas mulheres, que exibem uma hiperatividade menos visível e os seus sintomas tendem a ser menos perturbadores.

"Muitas vezes não vemos o que se a com as raparigas porque elas são simpáticas, são caladas. Ficam quietas na sala de aula, mas não estão presentes", acrescentou Hovén.

De acordo com Lloyd, esta situação conduziu a uma disparidade histórica de género no diagnóstico, sendo as mulheres frequentemente diagnosticadas erradamente com outras perturbações mentais.

"As mulheres que sofrem de PHDA têm mais probabilidades de serem diagnosticadas erradamente como tendo ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e até mesmo perturbação bipolar", observou Lloyd.

A diversidade da capacidade neurocognitiva humana

De acordo com Buitelaar, o tratamento da PHDA deve integrar múltiplos componentes, incluindo psicoeducação, medicação e intervenções comportamentais.

A gestão da doença não se limita à prescrição de medicamentos, mas requer também ajustamentos do estilo de vida.

"Gerir a PHDA com sucesso não é apenas tomar medicação, que dura oito horas. Trata-se de compreender como é que a PHDA o afeta e que escolhas de estilo de vida tem de fazer, bem como quais são os seus pontos fortes cognitivos", afirma Lloyd.

Hovén explica ainda que as pessoas com PHDA precisam do apoio das pessoas que a rodeiam para gerir melhor a situação.

"Penso que é muito importante olhar para toda a família, se conseguirmos apoio para as crianças no jardim de infância, se em casa a situação for um caos, isso não ajuda", disse Hovén.

No caso dos adultos, Lloyd explica que a sociedade precisa de começar a abrir-se às suas diversas capacidades cognitivas e mudar a forma como a PHDA é encarada no local de trabalho.

"Precisamos de reconhecer que a diversidade da capacidade neurocognitiva humana é muito maior do que pensamos. O facto de 20% das pessoas pensarem de forma diferente não significa que sejam menos inteligentes ou empregáveis", afirmou.

De acordo com Lloyd, as pessoas neurodiversas, incluindo as que sofrem de PHDA, apresentam pontos fortes cognitivos únicos associados às suas condições, que podem ser vantajosos no ambiente de trabalho e até contribuir para impulsionar a economia.

Globalmente, Lloyd sublinha a necessidade de reconhecer o potencial dos indivíduos neurodiversos em geral.

"Trata-se de reconhecer a diversidade da capacidade neurocognitiva humana. É muito maior do que pensamos. E só porque temos estes 20% de pessoas que pensam de forma diferente da maioria, não significa que sejam menos inteligentes, menos empregáveis ou que sejam desordenadas", afirmou.

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