O Provedor de Justiça está também a investigar a falta de coordenação institucional à medida que a insegurança se agrava no Terminal 4.
O conflito entre o governo central e a Câmara Municipal de Madrid sobre a situação das pessoas em situação de sem-abrigo no Aeroporto Adolfo Suárez Madrid-Barajas deu um novo o em direção aos tribunais. O presidente da AENA, Maurici Lucena, anunciou que a empresa pública que gere os aeroportos espanhóis vai intentar uma ação judicial contra a Câmara Municipal de Madrid, que acusa de “negligência” por não prestar assistência às cerca de 500 pessoas sem-abrigo que todas as noites fazem do Terminal 4 o seu refúgio.
“A AENA é obrigada a recorrer aos tribunais devido à inação da Câmara Municipal”, declarou Lucena, que adiantou que vai enviar um pedido formal à autarquia para que “cumpra as suas obrigações legais”. O diretor do aeroporto afirma ainda que a responsabilidade pela assistência a estas pessoas é do município liderado por José Luis Martínez-Almeida. “Sentimo-nos juridicamente impotentes”, sublinhou Lucena, lançando um ultimato: se a Câmara Municipal retificar e assumir as suas responsabilidades, a AENA continuará a colaborar.
O confronto entre as duas istrações agravou-se depois de, horas antes, o presidente da Câmara ter instado o governo de Pedro Sánchez a “deixar de lavar as mãos” e a assumir a sua parte. “A AENA é uma empresa pública e depende do governo central, que é quem tem o controlo”, afirmou Almeida, durante um evento na Plaza de la Villa. O autarca insistiu no facto de os recursos municipais estarem “sobrecarregados” e apelou ao envolvimento de vários setores.
Insegurança, pragas de insetos e droga
Enquanto as istrações se acusam mutuamente, o problema agrava-se. A enorme presença de pessoas em situação de sem-abrigo gerou queixas entre os trabalhadores, que denunciam infestações de insetos, desacatos, drogas e insegurança. Embora a AENA negue a existência de uma infestação confirmada, a empresa ordenou novas fumigações nasequência de queixas dos sindicatos e do aparecimento de funcionários com picadas. Além disso, foram registados danos e pequenos furtos em veículos estacionados no Terminal 4, alimentando o sentimento de abandono das instalações.
A situaçãotambém preocupa os sindicatos de polícias. A União Federal de Polícia (UFP) alerta que alguns deles têm ordens judiciais e que a presença de quase meio milhar de pessoas amontoadas num aeroporto internacional "projeta uma imagem que deve preocupar os responsáveis pelas políticas sociais". No entanto, afirmam que a segurança está "sob controlo" graças à vigilância constante dos agentes.
O caso mais trágico ocorreu a 20 de março, quando um homem não identificado foi encontrado morto junto a uma cafetaria no Terminal 4. Segundo os meios de comunicação social locais, não apresentava sinais de violência e já estava morto há horas.
O Provedor de Justiça, Ángel Gabilondo, abriu uma investigação para analisar a forma como as istrações estão a coordenar estes casos, que afetam não só Madrid, mas também outros aeroportos do país. A instituição qualificou a situação de “preocupante” e já recebeu pedidos de sindicatos como a Alternativa Sindical AENA/ENAIRE para atuar como mediador na ausência de soluções.