O tratado inclui uma cláusula de defesa mútua, que "abre a possibilidade de cooperação" em matéria de dissuasão nuclear, anunciou o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.
França e Polónia estão a reforçar os seus laços já historicamente fortes. Na sexta-feira, em Nancy, Emmanuel Macron e Donald Tusk, o primeiro-ministro polaco, am um tratado de amizade de âmbito alargado mas com uma forte incidência na segurança, num clima marcado pela guerra na Ucrânia e pelas suas consequências.
"Este é um tratado que nos permitirá avançar juntos em matéria de energia, economia e defesa, e também tirar todas as consequências desta nova ordem mundial", explicou Emmanuel Macron no início do dia.
O texto prevê que os líderes dos dois países se encontrem todos os anos a partir de agora e que o dia da amizade franco-polaca seja celebrado a 20 de abril. Donald Tusk recorda que esta data corresponde à entrada no Panteão de Marie Curie, de origem polaca.
Dois exércitos que contam
Apesar de o texto pretender ser de âmbito geral, preocupa-se sobretudo com a defesa e a segurança. A sua ocorre numa altura em que a guerra na Ucrânia entra no seu quarto ano. O conflito é particularmente preocupante para a Polónia, que está na linha da frente contra a Rússia e o seu aliado bielorrusso.
Nos últimos anos, Varsóvia embarcou num plano para desenvolver o seu exército, especialmente em terra, tornando-o numa das forças mais importantes da União Europeia. Enquanto membro da NATO, a Polónia dedica 4,12% do seu PIB à defesa, a percentagem mais elevada da Aliança.
França, que dispõe de um aparelho militar experiente e de armas nucleares, é uma das outras forças em que se deverá basear a defesa do continente no futuro. Desempenha também um papel importante nas discussões sobre o envio de tropas europeias para a Ucrânia após um hipotético cessar-fogo.
Um tratado de assistência mútua
Neste contexto, o tratado assinado na sexta-feira visa sobretudo melhorar a cooperação entre estas duas organizações militares e estes dois países que, tal como o resto dos países europeus, têm "uma responsabilidade central: a paz e a segurança no nosso continente", disse Emmanuel Macron.
"Em caso de ameaça ou ataque contra a Polónia e a França, os dois países comprometem-se a prestar assistência mútua, incluindo assistência militar", disse Donald Tusk antes da do texto. Emmanuel Macron vê esta cláusula como "um sinal muito claro", a nível "estratégico", mas a ligação reforçada por este tratado não substituirá "nem a NATO nem a União Europeia", avisa Emmanuel Macron.
O tratado inclui ainda uma cláusula que "abre a possibilidade de cooperação" em matéria de dissuasão nuclear, uma exigência de longa data de Varsóvia. "A dissuasão nuclear sa tem uma componente europeia e, neste tratado, estamos a selar uma solidariedade ainda mais forte, que tornará operacional o que já está no artigo 5 da NATO", confirmou Emmanuel Macron na Place Stanislas, em Nancy. O tratado prevê também um "diálogo de alto nível" sobre questões nucleares civis.
Uma ligação histórica com a Polónia
O tratado foi assinado em Nancy, "a mais polaca das cidades sas", segundo Donald Tusk, porque a cidade foi outrora a residência do rei polaco Estanislau Leszczynski, que se tornou duque da Lorena e sogro do rei francês Luís XV, depois de ter sido forçado a exilar-se pelos exércitos russo e austríaco.
A cidade de Lorena simboliza a forte ligação entre França e a Polónia. Em 1939, França garantiu a assistência a Varsóvia em caso de conflito com a Alemanha nazi e, após a Primeira Guerra Mundial, um contingente francês foi enviado para a Polónia no âmbito da guerra entre os soviéticos e os polacos. O papel de Napoleão na fundação do Estado polaco moderno também lhe valeu uma imagem relativamente positiva no país.
"A amizade franco-polaca é uma aliança do coração com raízes que atravessam os séculos", resumiu Emmanuel Macron na conferência de imprensa que se seguiu à do tratado. Donald Tusk afirmou que "as relações" entre os dois países "estão impregnadas de algo especial e positivo".