Filas, caos no trânsito e algumas escolas encerradas. Foi este o cenário em Portugal, durante quase um dia de apagão, com origem em Espanha. Quando a eletricidade começou a ser reposta, o primeiro-ministro elogiou a resposta dos cidadãos.
Portugal ou quase um dia inteiro sem eletricidade, desde o fim da manhã até ao início da noite. Um evento “inédito”, nas palavras do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que também expôs a fragilidades energéticas do país.
O apagão começou por volta das 11h30 da manhã (hora de Lisboa). O metro parou, pessoas ficaram presas em comboios e elevadores, alguns sistemas de sinalização foram comprometidos, supermercados e lojas ficaram sem sistemas e, mais tarde, sem comida ou água, as comunicações móveis e o o à internet sofreu várias falhas, chegando mesmo a entrar em black out total em certas zonas.
A recuperação só começou a surgir ao fim da tarde, começando pelo norte do país e descendo gradualmente até ao sul.
Foi nessa altura, e com algumas zonas ainda sem eletricidade, que o primeiro-ministro fez uma declaração ao país, saído de um Conselho de Ministros Extraordinário.
Numa comunicação ao país, onde agradeceu a resposta dos portugueses, apelou à serenidade e explicou que, em princípio, no dia seguinte já haveria aulas.
Explicou que a origem do apagão foi em Espanha, numa altura em que Portugal comprar eletricidade ao país vizinho por ser mais competitivo, possivelmente por "um aumento abrupto da tensão na rede elétrica espanhola" disse Luís Montenegro. Mas o apuramento oficial da causa ainda terá de ser feito.
“A situação que nos conduziu não é de autonomia. Temos capacidade de produzir energia”, disse. "Mas, na verdade, nós, por razões financeiras, estávamos a importar energia de Espanha porque estava com um preço mais competitivo."
No fim e antes das perguntas dos jornalistas itiu que a situação "ainda é grave" e decretou "situação de crise energética".
Montenegro disse ainda ter estado em o o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchéz, bem como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho europeu, António Costa. Aproveitou também para pedir alterações na distribuição de energia na União Europeia, permitindo que Portugal esteja ligado a outros países, para além de Espanha.
“Há muito tempos que pedimos o reforço das ligações com a União Europeia para termos mais energia para receber e vender“, disse, sublinhando que Espanha está também ligada a França e Marrocos.
Ainda não há previsão de quando a normalidade poderá estar reposta, com as autoridades portuguesas a apontarem para "as próximas horas", numa altura em que 15 regiões em Espanha já voltaram a ter eletricidade. A Rede Elétrica Naciona (REN), responsável pela distribuição de energia elétrica em Portugal, já marcou uma conferência de imprensa para as 18h30.
Filas intermináveis, lanternas e dia de folga: como é que Lisboa viveu o apagão
Para Selim Oueslati, assim como para milhões de portugueses, esta situação foi uma grande surpresa. Não só teve o voo suspenso, como teve de sair do aeroporto de Lisboa a pé.
"Estou a andar há 30 minutos e vou continuar a andar com a minha mala, com tudo", diz este francês. "É a primeira vez que vejo isto, a primeira vez na minha vida."
Selim Oueslati era uma das centenas de pessoas de desciam a avenida Gago Coutinho, uma das principais artérias de o ao aeroporto da capital portuguesa. Eram sobretudo ageiros e tripulações a carregar malas, consequência do cancelamento de voos e da interrupção do o ao aeroporto.
"Não há eletricidade. Nada. Nem sequer é possível chegar (de carro) ao aeroporto. É preciso ir a pé", acrescentou o francês.
Andar a pé foi mesmo o normal em Lisboa, neste dia atípico em que a capital portuguesa tentava lidar com as consequências da falta de energia.
Ao início da tarde, os eios estiveram particularmente cheios, com muita gente a andar devido à falta de transportes. Em algumas paragens de autocarro, havia filas com dezenas de pessoas.
Os autocarros e os táxis eram mesmo os únicos transportes públicos disponíveis as estações de metro tinham as portas fechadas. Os comboios já não circulavam desde manhã devido a uma greve dos trabalhadores.
Além disso, várias empresas mandaram os trabalhadores para casa. Durante a tarde, também escolas e universidades cancelaram as aulas.
Catarina Mártires, que estuda medicina, só teve aulas de manhã.
"Quando houve o apagão, certas zonas do hospital que têm gerador continuaram a ter luz e outras nem por isso. Depois, ado uns minutos, informaram-nos que já não iríamos ter aulas e que a faculdade ia encerrar", disse Catarina.
Ao lado a colega Diana Gaspar dizia não saber quando regressa à faculdade.
E mostrava uma preocupação omnipresente em todo o país: como carregar os aparelhos elétricos. "Tenho de estudar e não vou ter muita bateria", disse
Mercearias às escuras
Catarina e Diana estavam na Alameda, uma das zonas centrais de Lisboa. E era aqui que iam surgindo cenas inéditas, pelo menos neste século.
À porta de um banco, amontoava-se uma longa fila, na tentativa de levantar dinheiro vivo.
Nos restaurantes e pequenas mercearias, que continuavam abertos, o interior estava cheio, mas escuro.
Num minimercado visitado pela Euronews, os clientes usavam os telemóveis para ver os produtos. No fundo da loja, duas funcionárias seguravam duas lanternas.
Este minimercados, sobretudo operados por imigrantes, nunca encerraram durante a tarde. Isto contrário de algumas grandes cadeias de supermercados que fecharam, entre apelos do Governo contra o açambarcamento.
Mas havia outro desafio: andar na rua sem semáforos. Na avenida Almirante Reis, uma das artérias mais movimentadas da cidade, carros e transeuntes improvisavam a agem, com muito cuidado.
Tudo isto sob um calor abrasador. Sem sinais de pânico, as esplanadas e os jardins estiveram cheios de gente a relaxar e apanhar sol. Afinal, pouco mais havia a fazer para além de esperar.
Mesmo carregado com uma mala, Selim Oueslati não perdeu a boa disposição. Até porque, como sublinhou, estava um bonito dia de sol.
Último apagão foi em 2000
Em 2000, um apagão deixou a metade sul do país, incluindo Lisboa, sem energia elétrica durante cerca de duas horas. Aconteceu na noite de 9 de maio e a causa terá sido a eletrocussão de uma cegonha que embateu numa linha de alta tensão em Lavos, na Figueira da Foz.
O apagão de hoje afetou todo o país durante mais de nove horas.