Primeiro-ministro espanhol diz que Espanha olha para a China como "uma parceira da UE". Washington criticou a aproximação de Espanha à China, tendo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmado que escolher Pequim é como "cortar a própria garganta".
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, está em Pequim, a segunda paragem de uma viagem de dois países pela Ásia, num contexto de graves tensões geopolíticas devido à guerra tarifária de Donald Trump.
Já com o presidente, Xi Jinping, o primeiro-ministro Espanhol disse ver a China como "uma parceira da UE", com quem quer promover "relações sólidas e equilibradas", deixando claras as intenções de aproximação.
Após uma reunião com o presidente chinês, Sánchez deixou claro que "Espanha é a favor de relações mais equilibradas entre a UE e a China", procurando "soluções negociadas para suas diferenças" enquanto promovem uma maior cooperação.
O presidente chinês agradeceu a Sánchez pela terceira visita em três anos e, principalmente, pelo gesto que representa o seu "firme compromisso com o aprofundamento das relações bilaterais".
Xi Jinping também defendeu o multilateralismo e o diálogo entre as nações, tal como Sánchez. Sem mencionar os Estados Unidos, o presidente chinês reforçou que "quanto mais turbulenta for a situação internacional, mais importante será ter boas relações com Espanha.
EUA advertem contra aproximação à China
Antes de aterrar em Pequim, Sánchez esteve no Vietname, onde elogiou pausa nas tarifas, descrevendo-a como "uma porta de entrada para negociações e acordos entre países", depois de Donald Trump ter suspendido as taxas sobre a maioria dos países, com exceção da China, durante 90 dias.
Antes da sua visita, a Casa Branca advertiu o governo espanhol contra a aproximação a Pequim.
Numa entrevista à Fox News, na quarta-feira, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que olhar para a China em vez dos Estados Unidos seria uma "aposta perdida para os europeus" e que seria como "cortar a própria garganta".
Sánchez é o primeiro líder europeu a efetuar uma visita oficial à China desde a escalada das tensões tarifárias entre os EUA e o resto do mundo.
Desequilíbrio a favor de Pequim
As trocas comerciais entre a Espanha e a China continuam a aumentar, mas com um desequilíbrio acentuado a favor do gigante asiático.
Em 2024, as importações espanholas da China ultraaram os 45 mil milhões de euros, enquanto as exportações mal chegaram aos 7,4 mil milhões de euros, de acordo com dados do Ministério da Economia.
Isto coloca a China como o quarto maior parceiro comercial de Espanha, o seu segundo maior fornecedor de bens, mas apenas o décimo segundo maior destino das exportações espanholas.
"Só o multilateralismo e a solidariedade entre as nações podem fazer face a este tipo de desafios globais. Espanha defende um mundo de portas abertas. Um mundo em que o comércio une os nossos povos e os torna mais prósperos", afirmou Sánchez.
Entre os produtos que Espanha compra à China contam-se maquinaria, têxteis e bens de consumo. Nos últimos anos, a importação de automóveis e motociclos também ganhou importância.
As empresas espanholas exportam principalmente produtos químicos, minerais e componentes industriais. A China estabeleceu-se como o principal mercado asiático para as vendas espanholas e mais de 14.500 empresas espanholas mantêm relações comerciais com o país.
Mas os números do investimento bilateral são mais equilibrados, embora ainda modestos.
Em 2023, a China atribuiu 131 milhões de euros a projetos em Espanha, enquanto o investimento espanhol na China atingiu 91 milhões de euros.
Embora os volumes ainda sejam pequenos, ambas as economias mantenham um interesse crescente em reforçar os laços em setores estratégicos como a tecnologia, a energia e a logística.
China sai em defesa de Sánchez
Quando questionado sobre as críticas do secretário do Tesouro dos EUA à visita de Sánchez, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, respondeu com firmeza: "Se falamos de 'cortar a garganta uns aos outros', são precisamente os Estados Unidos que, ao abusar das tarifas para ameaçar e chantagear o mundo inteiro, estão a tentar apertar o pescoço de outros países, forçando-os a ceder à sua política de intimidação".
Durante uma conferência de imprensa na quinta-feira, Lin também disse que o comércio entre a Espanha e a China é importante para ambas as partes, com o comércio bilateral entre os dois países a exceder 44 mil milhões de euros em 2024, enquanto as exportações espanholas para a China aumentaram 4,3% no ano ado, de acordo com os dados de Pequim.
Perante as críticas de Washington, o governo socialista espanhol defendeu as aberturas à China.
O ministro da Agricultura, Luis Planas, insistiu que a Espanha tem excelentes relações comerciais com a China, que "queremos claramente não só continuar, mas expandir".