A polícia deteve um homem suspeito de ter feito ameaças contra a organização sem fins lucrativos WOŚP, bem como contra o seu fundador.
A polícia de Varsóvia deteve um homem que fez ameaças contra o diretor da fundação WOŚP - em português, Grande Orquestra de Beneficência de Natal -, JerzyOwsiak.
O supeito, um homem de 70 anos, foi levado para a capital polaca, onde ou a noite sob custódia policial. Outras etapas do julgamento serão levadas a cabo sob a supervisão do Ministério Público do distrito do Centro-Norte de Varsóvia.
A legislação polaca prevê penas severas para ameaças criminosas. De acordo com o artigo 190.º do Código Penal, "quem ameaçar outra pessoa de cometer uma infração, suscitando um receio razoável de que a ameaça possa ser cumprida, será sujeito a uma multa, restrição de liberdade ou prisão até dois anos".
Nos casos em que as ameaças criminosas são feitas em público ou são de natureza organizada, a pena pode ser mais elevada. Além disso, neste caso, as ações do suspeito podem também ser abrangidas pelo artigo 255.º do Código Penal, relativo ao incitamento à prática de um crime.
O ministro do Interior e da istração, Tomasz Siemoniak, abordou este caso. "Isto é um sinal para todos aqueles que se entregam ao ódio e ameaçam os outros com violência", escreveu na rede social X.
Também Jerzy Owsiak reagiu à detenção do suspeito. "Gostaria de agradecer, em meu nome e em nome de toda a nossa fundação, à polícia e a todos os serviços por terem atuado de forma tão eficiente", escreveu no Facebook, acrescentando que "Comunicámos três incidentes à polícia, à sede da polícia da capital. E que sejam apenas estes três".
Um dia antes da detenção do suspeito, o responsável pelo Ministério do Interior, Tomasz Siemoniak, comunicou que o ministério e a polícia tinham tomado medidas para garantir a segurança da WOŚP e do seu fundador.
Jerzy Owsiak culpa meios de comunicação social de direita
Jerzy Owsiak escreveu nas suas redes sociais, na manhã de terça-feira, que tanto ele como a fundação estavam a ser alvos de ameaça. Owsiak descreveu, inclusive, uma dessas ameças, que terá sido realizada via chamada telefónica
O diretor da Grande Orquestra de Beneficência de Natal sublinhou que esta não foi a primeira vez que foram feitas ameaças contra ele, bem como contra a fundação e os seus voluntários.
"Esta é mais uma ameaça contra a nossa direção. Há vários dias que é a mesma coisa. Ameaças muito concretas, com uma bomba e a eliminação da minha pessoa", escreveu Owsiak numa declaração.
Jerzy Owsiak sugeriu que as ameaças resultam de uma campanha mediática perpetrada contra ele por algumas estações de televisão de direita. Indicou, ainda, que tudo isto lhe faz lembrar o discurso de ódio dirigido ao presidente assassinado de Gdansk, Pawel Adamowicz, durante a Grande Final da Orquestra de Natal de 2019 - um dos principais eventos organizados pela fundação.
"Se eu não viver para ver o dia de amanhã, lembrem-se - quem denunciou, quem filmou esta inacreditável espiral de mentiras e ódio, quem exalou este ódio nas suas notícias" - escreveu Owsiak
O vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Nacional, Władysław Kosiniak-Kamysz, também falou sobre as ameaças contra Owsiak.
"A doença do ódio está a espalhar-se. Tem de ser travada", sublinhou. "Mais uma final da grande orquestra, mais um aniversário da morte de Paweł Adamowicz, e há mais histeria e ódio do que há três anos", acrescentou.
Instado pelos jornalistas a comentar o caso, o presidente do Sejm, Szymon Hołownia, disse que simpatizava com Owsiak. Recordou também a tragédia ocorrida durante a Grande Final da Orquestra de Caridade de Natal de 2019, que foi provocada por discursos de ódio alimentados pelos meios de comunicação social.
O que faz a Grande Orquestra de Beneficência de Natal?
A Grande Orquestra de Beneficência de Natal tem vindo a apoiar os cuidados de saúde polacos desde 1993. A atividade mais conhecida da fundação é um evento anual de entretenimento e de natureza caritativa, de âmbito nacional, denominado de Grande Final da Orquestra de Natal. Cada edição deste evento tem um tema específico, ou seja, um objetivo médico para o qual o dinheiro recolhido será utilizado.
As recolhas dos donativos também são realizadas no estrangeiro, onde quer que se encontrem cidadãos polacos, sendo muitos dos fundos utilizados para comprar equipamento médico.
Um dos elementos mais espetaculares da Final do WOŚP é a "Corrida com a Diabetes", organizada em Varsóvia. O dinheiro angariado com a compra de pacotes de corrida financia a compra de bombas de insulina para mulheres grávidas com diabetes. Outro elemento habitual da Final do WOŚP é o espetáculo de luzes denominado "Luzes para o Céu", que tem lugar em Varsóvia e nas instalações locais do WOŚP.
As atividades do presidente da fundação, Jerzy Owsiak, também suscitam controvérsia. Os críticos acusam-no de falta de total transparência financeira, enquanto alguns meios de comunicação social públicos e organizações de direita o acusam de politizar as suas atividades. Estas acusações, frequentemente repetidas no espaço mediático, influenciam a polarização da sociedade e conduzem a situações perigosas, como as recentes ameaças ou anteriores atos de agressão.
A final deste ano está agendada para o dia 26 de janeiro e os fundos angariados, durante o evento, irão apoiar a oncologia e a hematologia pediátricas.