Os líderes europeus preparam-se para lutar por ter influência junto de Donald Trump quando este retomar o cargo de presidente dentro de algumas semanas. Analisámos quem pode acabar por ser o principal interlocutor da Casa Branca.
Com Donald Trump a voltar à Casa Branca dentro de semanas, os líderes europeus vão a competir para ver quem consegue exercer mais influência sobre a nova istração norte-americana.
Há tudo em jogo, dado o programa político do novo presidente, desde a imposição de tarifas à retirada do apoio à segurança da Europa.
Os candidatos à coroa vão enfrentar uma série de desafios, entre os quais os caprichos de Trump, que fizeram com que até os seus conselheiros mais próximos, escolhidos a dedo, na Casa Branca caíssem rapidamente em desgraça.
Aqueles que querem ter sucesso podem ter de mostrar uma afinidade com a agenda política e com o ego de Trump, mas também ter a capacidade de lhe oferecer o que deseja.
A Euronews analisa como se alinham os candidatos.
Emmanuel Macron
Apesar dos problemas internos – um parlamento suspenso e repetidas demissões governamentais – o presidente francês, Emmanuel Macron, parece ainda ter tudo para ser um dos principais interlocutores europeus de Donald Trump.
Já garantiu um triunfo diplomático ao convidar Trump para a reabertura da Catedral de Notre-Dame e ao persuadi-lo a encontrar-se com o ucraniano Volodymyr Zelenskyy nos bastidores do evento.
Enquanto líder do país com o maior exército da União Europeia, uma longa história de elegância diplomática e muitos eventos de pompa e circunstância, Macron vai ter muitas oportunidades para encantar e persuadir.
Giorgia Meloni
A líder italiana, de direita, tentou posicionar-se como uma importante Trumpfluencer. “O eixo EUA-UE a por Itália”, afirmou uma publicação recente nas redes sociais do seu partido, Irmãos de Itália.
Meloni manteve boas relações com figuras próximas de Trump, incluindo com Elon Musk e Steve Bannon, apesar de alguns dos relatos mais coloridos de flirts com Musk serem notícias falsas geradas por inteligência artificial.
As esperanças de influência na Casa Branca podem depender de políticas comuns, em questões como a imigração e os direitos LGBTQ.
Há, no entanto, uma exceção: a Ucrânia, que tem contado com um grande apoio de Meloni, enquanto Trump é claramente indiferente à questão.
Viktor Orbán
Orbán, tal como Meloni, espera que uma visão política semelhante o torne o homem de Trump na Europa.
Alguns membros da órbita do presidente eleito são claramente iradores das práticas cada vez mais autoritárias de Orbán, que reprimiu a dissidência nos media e nas universidades.
O próprio Trump enviou uma mensagem em vídeo para a Conferência de Ação Política Conservadora (AC), que Orbán organizou em Abril deste ano.
Thierry Breton, antigo Comissário Europeu de França, enalteceu o papel que o líder húngaro pode desempenhar num segundo mandato de Trump.
Mas a influência tem de funcionar para os dois lados. A Hungria continua a ser um Estado-membro relativamente pequeno. Além disso, Orbán, envolvido numa batalha com Bruxelas sobre os direitos de asilo e a independência judicial, está cada vez mais afastado da Comissão Europeia e não está na coligação centrista de von der Leyen.
Keir Starmer
Recentemente libertados das restrições de Bruxelas, há quem espere relações mais calorosas entre os Estados Unidos e o Reino Unido pós-Brexit.
O recém-eleito primeiro-ministro do Reino Unido quer manter certamente as suas opções em aberto. Num discurso em dezembro, Keir Starmer disse que não tinha de escolher entre as duas alianças históricas com os EUA e com a Europa.
Mas, enquanto esquerdista que está a nomear um colega do partido, o antigo comissário europeu Peter Mandelson, para ser embaixador em Washington, Starmer pode ter dificuldade em estabelecer uma ligação com uma istração da Casa Branca que é igualmente partidária, mas numa posição oposta.
Trump já criticou os ativistas do Partido Trabalhista de Starmer, que disse serem ativos no apoio à sua rival Kamala Harris.
Entretanto, tal como na Alemanha, Musk também parece disposto a intervir na política interna, dizendo que as tensões raciais no Reino Unido levariam à guerra civil e apoiando o Reform, o partido eurocético liderado pelo Brexiter Nigel Farage.
Olaf Scholz
Embora represente o maior membro da União Europeia, a Casa Branca pode considerar que não vale a pena investir muito no chanceler alemão.
Scholz vai enfrentar eleitores furiosos nas eleições gerais, poucas semanas depois de Trump ter tomado posse, e está a perder nas sondagens.
As intervenções de Elon Musk, próximo de Musk, a favor do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) podem azedar ainda mais as relações entre os dois. Este partido de extrema-direita não é apenas rival de Scholz, mas também é visto por grande parte da estrutura política alemã como sendo inaceitável.
Ursula von der Leyen
Enquanto líder da Comissão Europeia, von der Leyen é, à primeira vista, uma má amiga de Trump, cujas políticas são marcadamente nacionalistas e eurocéticas.
Mas von der Leyen também está bem posicionada para ser interlocutora na questão que o preocupa mais: o défice comercial dos Estados Unidos com a União Europeia.
Trump ameaçou impor tarifas de 10% à União Europeia, juntamente com outros grandes parceiros comerciais, embora também tenha sugerido que estas podem descer se o bloco concordar em comprar mais combustíveis fósseis aos EUA.
Mesmo assim, Trump também se interessa pela arte do negócio.
Durante a primeira istração de Trump, Bruxelas evitou uma guerra comercial ao prometer comprar mais soja americana: um gesto aparentemente humilde, mas politicamente importante.
Isto sugere que há uma saída para barreiras comerciais potencialmente ruinosas para aqueles que conseguem fazer o acordo certo sobre detalhes. Von der Leyen, apoiada por legiões de funcionários, pode estar bem posicionada para o fazer.
Mark Rutte
O responsável da NATO, Mark Rutte, pode revelar-se uma das relações mais complicadas de Donald Trump e, para os europeus, a mais importante.
Se Trump tentar retirar o apoio ou recuar nas garantias de segurança, isso pode ser uma ameaça existencial para o pacto defesa que existe desde a Segunda Guerra Mundial.
Trump já tem uma relação com Rutte e descreveu os dois como “amigos” numa reunião na Casa Branca em 2019, quando Rutte era primeiro-ministro dos Países Baixos.
Este holandês pragmático e conciliador pode ainda ser o canal ideal para transmitir a mensagem de que Trump deve continuar a lutar pela segurança da Europa.