{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2019/02/12/os-salarios-de-miseria-na-europa-o-caso-da-bulgaria" }, "headline": "Os sal\u00e1rios de mis\u00e9ria na Europa: o caso da Bulg\u00e1ria", "description": "Os trabalhadores pobres s\u00e3o uma realidade europeia. A etiqueta \u0022Made in Europe\u0022 n\u00e3o \u00e9 garantia de condi\u00e7\u00f5es de trabalho e de remunera\u00e7\u00e3o \u00e9ticas.", "articleBody": "N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 na \u00c1sia que os oper\u00e1rios da ind\u00fastria t\u00eaxtil s\u00e3o explorados. Os trabalhadores pobres s\u00e3o uma realidade europeia. Em Gotse Delchev, no sudoeste da Bulg\u00e1ria, os empregados da f\u00e1brica Pirin-Tex trabalham muito para ganhar pouco. A etiqueta \u0022Made in Europe\u0022 n\u00e3o \u00e9 garantia de condi\u00e7\u00f5es de trabalho dignas ou \u00e9ticas . A Pirin-Tex emprega 1800 pessoas e trabalha sobretudo para a marca de luxo Hugo Boss. A press\u00e3o \u00e9 enorme. S\u00e3o fabricadas 12 mil pe\u00e7as de roupa por semana. Os trabalhadores dizem que s\u00e3o tratados como rob\u00f4s. Trabalho controlado por tablets A empresa instalou 1700 tablets, um por cada posto de trabalho, que fixam a quota de produ\u00e7\u00e3o di\u00e1ria de cada empregado. \u0022O sistema de tablets, que permite controlar todo o processo laboral, \u00e9 a melhor coisa que tivemos. \u00c9 poss\u00edvel controlar cada opera\u00e7\u00e3o realizada pelo trabalhador, por exemplo, o tempo necess\u00e1rio para uma costureira fazer uma opera\u00e7\u00e3o espec\u00edfica ou o seu m\u00e9todo de costura. Gra\u00e7as a estes tablets, podemos controlar tudo\u0022, afirmou Mariyana Georgieva, respons\u00e1vel pela organiza\u00e7\u00e3o do trabalho di\u00e1rio na linha de montagem. Trabalhadores queixam-se de \u0022trabalho for\u00e7ado\u0022 A euronews falou com um representante do Sindicato Podkrepa e com v\u00e1rios oper\u00e1rios do setor t\u00eaxtil sobre os baixos sal\u00e1rios e a degrada\u00e7\u00e3o das condi\u00e7\u00f5es de trabalho . \u0022Em m\u00e9dia, os oper\u00e1rios conseguem terminar 60% das tarefas que lhes s\u00e3o atribu\u00eddas. Em fun\u00e7\u00e3o da antiguidade profissional, cada trabalhador recebe em m\u00e9dia 650/700 Leva, entre 320 e 350 euros\u0022, afirmou Kostadin Draginov, l\u00edder sindical do Sindicato Podkrepa. \u0022Pergunto-me se os pol\u00edticos b\u00falgaros fazem leis para os seres humanos ou para os rob\u00f4s. Trabalhamos sem parar. Este sistema permitiu legalizar uma forma de trabalho for\u00e7ado\u0022, afirmou Elena Marvakova, empregada da Pirin-Tex. \u0022O meu pai e a minha m\u00e3e vivem e trabalham no estrangeiro. Sa\u00edram daqui h\u00e1 mais de vinte anos. Com a idade que tenho, continuo a receber ajuda deles, eles pagam metade das minhas despesas aqui na Bulg\u00e1ria, para eu poder viver uma vida normal\u0022, contou Angel Stankov, trabalhador da ind\u00fastria t\u00eaxtil. \u0022Penso que os meus colegas da Europa Ocidental devem rir-se quando ouvem falar dos sal\u00e1rios daqui. N\u00e3o devem acreditar. A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 t\u00e3o m\u00e1 que mais vale rir. Ser\u00e1 que somos Europeus de segunda categoria? Ser\u00e1 que somos m\u00e1s costureiras? Ser\u00e1 que comemos menos que os nossos colegas da Europa Ocidental?\u0022, perguntou Elka Karaylieva, trabalhadora da Pirin-Tex. \u0022Na Bulg\u00e1ria, h\u00e1 um grande paradoxo. Fugimos dos sal\u00e1rios demasiados baixos e do fraco n\u00edvel de vida. Vamos trabalhar para o estrangeiro, para Inglaterra ou para a Fran\u00e7a. Ningu\u00e9m quer trabalhar aqui. Um empres\u00e1rio estrangeiro que deseje investir na Bulg\u00e1ria, n\u00e3o encontra m\u00e3o-de-obra suficiente\u0022, disse Kostadin Draginov, l\u00edder sindical do Sindicato Podkrepa. B\u00falgaros imigram para a Europa Ocidental Gotse Delchev perdeu popula\u00e7\u00e3o nos \u00faltimos anos. De acordo com o presidente da c\u00e2mara da cidade, 2500 pessoas trabalham atualmente nos pa\u00edses mais ricos da Uni\u00e3o Europeia, nos setores da constru\u00e7\u00e3o, da agricultura e da sa\u00fade. Desde 1990, cerca de um milh\u00e3o e meio de b\u00falgaros deixaram o pa\u00eds. Em 1992, vivam no pa\u00eds cerca de oito milh\u00f5es e meio de pessoas. Hoje, a Bulg\u00e1ria tem sete milh\u00f5es de habitantes e o \u00eaxodo continua. Para perceber as raz\u00f5es que levam as pessoas a abandonar o pa\u00eds, a euronews organizou uma entrevista atrav\u00e9s da Internet com uma antiga empregada da ind\u00fastria t\u00eaxtil de Gotse Delchev que imigrou para Londres. \u0022Sentia-me como uma m\u00e1quina. Chegava do trabalho, comia, \u00e0s vezes dormia apenas quatro horas. Sentia um peso a esmagar-me, como se tivesse um peso nas costas\u0022, contou Galina Georgieva, antiga oper\u00e1ria da Pirin-Tex. \u0022O stress era enorme na Bulg\u00e1ria. Ganhava entre 260 e 280 euros por m\u00eas. Em Londres, ganho 1800 euros por m\u00eas. Na Bulg\u00e1ria, o meu empregador n\u00e3o acreditava em mim quando eu estava doente. Tinha de levar soro e comprar medicamentos para aguentar o trabalho. Vivo na Gr\u00e3-Bretanha h\u00e1 tr\u00eas meses e sinto-me muito melhor. Na Bulg\u00e1ria, a carga de trabalho era demasiado grande\u0022, acrescentou Galina Georgieva. Ind\u00fastria do luxo n\u00e3o d\u00e1 margem para aumentos Como \u00e9 uma das maiores clientes da Pirin-Tex, a Hugo Boss realiza periodicamente auditorias sociais na f\u00e1brica b\u00falgara. A dire\u00e7\u00e3o da empresa afirma que os resultados s\u00e3o positivos e que a Pirin-Tex goza de boa reputa\u00e7\u00e3o j\u00e1 que noutros s\u00edtios as condi\u00e7\u00f5es de trabalho s\u00e3o ainda piores. Viden Kinevirski conhece bem a Pirin-Tex. Fez parte do grupo de engenheiros recrutados pelo empres\u00e1rio alem\u00e3o Bertram Rollmann para construir a f\u00e1brica na Bulg\u00e1ria. \u0022Nessa altura, a f\u00e1brica estava na Gr\u00e9cia e o dono da empresa, o senhor Rollmann, estava \u00e0 procura de uma alternativa porque o n\u00edvel de vida da Gr\u00e9cia no in\u00edcio dos anos 90 era bastante elevado, enquanto aqui na Bulg\u00e1ria, o n\u00edvel de vida \u00e9 baixo. Na nosssa ind\u00fastria, sabemos bem que h\u00e1 uma tend\u00eancia para que a produ\u00e7\u00e3o se deslocalize dos pa\u00edses onde o n\u00edvel de vida \u00e9 elevado para os pa\u00edses onde o n\u00edvel de vida \u00e9 baixo\u0022, recordou Viden Kinevirski, engenheiro da Pirin-Tex. Quando o empres\u00e1rio alem\u00e3o decidiu investir na Bulg\u00e1ria foi recebido de bra\u00e7os abertos. Na altura, o pa\u00eds atravessava graves dificuldades econ\u00f3micas. \u0022Os lucros das empresas na ind\u00fastria t\u00eaxtil s\u00e3o demasiado baixos para permitir pagar mais aos empregados. Por isso, desde h\u00e1 tr\u00eas anos, as pessoas emigram em massa, o que deixa marcas fatais. Nos \u00faltimos tr\u00eas anos, em m\u00e9dia, a cada ano, houve 600 pessoas a deixar a empresa, para irem para o Reino Unido, Alemanha, Su\u00e9cia ou at\u00e9 Espanha\u0022, contou Bertram Rollmann. \u0022As empresas que fabricam a roupa como a nossa, ganham apenas entre cinco e sete por cento do pre\u00e7o do retalho. O que n\u00e3o \u00e9 suficiente. \u00c9 t\u00e3o pouco que as pessoas que trabalham na produ\u00e7\u00e3o, na Bulg\u00e1ria, na Rom\u00e9nia, na S\u00e9rvia, na Maced\u00f3nia ou na Alb\u00e1nia, n\u00e3o conseguem construir uma vida decente. Por outro lado, as marcas internacionais insistem constantemente na necessidade de respeitar as normais internacionais, as normas europeias, no dom\u00ednio das condi\u00e7\u00f5es de trabalho. Mas essas marcas n\u00e3o querem pagar o suficiente para podermos respeitar essas normas\u0022\u0022, acrescentou o empres\u00e1rio. Trabalhadores desmotivados Zorka Guleva j\u00e1 n\u00e3o aguentava as m\u00e1s condi\u00e7\u00f5es de trabalho e o sal\u00e1rio de mis\u00e9ria e deixou a f\u00e1brica para se instalar por conta pr\u00f3pria. Ganha pouco mas \u00e9 aut\u00f3noma. \u0022O novo sistema de quotas de produ\u00e7\u00e3o por hora n\u00e3o \u00e9 bom para n\u00f3s. N\u00e3o nos permite ganhar mais. O sistema aumenta constantemente as quotas. N\u00e3o temos tempo para cumprir a quota hor\u00e1ria. O sistema desmotiva as pessoas, as pessoas n\u00e3o t\u00eam vontade de trabalhar, est\u00e3o desesperados e s\u00f3 pensam em deixar a empresa\u0022, disse Kostadin Draginov, l\u00edder sindical do Sindicato Podkrepa. \u0022\u00c9 sobretudo um sistema de controlo dos trabalhadores, n\u00e3o \u00e9 um sistema para aumentar a produtividade. N\u00e3o se controla o processo de trabalho, controla-se o trabalhador. O objetivo \u00e9 pagar o menos poss\u00edvel. Por isso, a produtividade baixa\u0022, contou Zorka Guleva. \u00c9 imposs\u00edvel viver com o sal\u00e1rio pago pela f\u00e1brica. As pessoas que ficam no pa\u00eds acumulam dois trabalhos, a f\u00e1brica e um pouco de agricultura. \u0022Temos faturas para pagar. No inverno h\u00e1 o aquecimento, isso custa-me 1200 Leva, cerca de 600 euros. Preciso de dois sal\u00e1rios para aquecer a casa, o que nos deixa pouco dinheiro para comer. Depois, \u00e9 preciso pagar a eletricidade, s\u00e3o 100 leva. Queremos dar uma boa educa\u00e7\u00e3o aos nossos filhos e poupar algum dinheiro para as emerg\u00eancias. \u00c9 imposs\u00edvel ir de f\u00e9rias com o sal\u00e1rio da empresa t\u00eaxtil. Com as \u00e1rvores de fruto, espero poder pagar a educa\u00e7\u00e3o dos meus filhos. S\u00e3o o meu seguro de vida\u0022, disse Kostadin Draginov, l\u00edder sindical do Sindicato Podkrepa. Jovens vivem em casa dos pais A Bulg\u00e1ria \u00e9 o pa\u00eds da Uni\u00e3o Europeia com o sal\u00e1rio m\u00ednimo mais baixo. Em janeiro, houve um ligeiro aumento de 261 euros para 286 euros por m\u00eas, menos do que na Rom\u00e9nia onde o sal\u00e1rio m\u00ednimo ronda os 440 euros. Aos 20 anos, Ivan Dushkov acaba de o primeiro contrato de trabalho. At\u00e9 agora, ganhava algum dinheiro a reparar os computadores de amigos e conhecidos. Agora ocupa-se do pavilh\u00e3o gimnodesportivo da cidade. \u0022N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil encontrar trabalho bem remunerado na Bulg\u00e1ria. Tenho um curso profissional de inform\u00e1tica. \u00c9ramos uma turma de 25 pessoas e n\u00e3o encontr\u00e1mos o trabalho que quer\u00edamos. Acabei por aceitar outro tipo de trabalho, pelo menos \u00e9 mais interessante\u0022, afirmou Ivan Dushkov. Ivan recebe o sal\u00e1rio m\u00ednimo e \u00e9 pago gra\u00e7as a um programa europeu destinado a apoiar os jovens desempregados. \u0022A Bulg\u00e1ria \u00e9 o pa\u00eds mais pobre da Uni\u00e3o Europeia. O sal\u00e1rio \u00e9 de dois Leva por hora, 20 Leva por dia. Na Alemanha ou em Fran\u00e7a, ganha-se 20 Leva por hora. O que ganhamos aqui num dia inteiro, os trabalhadores do Oeste da Europa ganham num dia. Na Bulg\u00e1ria, \u00e9 raro um jovem de dezoito anos sair de casa dos pais quando acaba os estudos. \u00c9 imposs\u00edvel sair de casa quando os pr\u00f3prios pais ganham o sal\u00e1rio m\u00ednimo e n\u00e3o podem ajudar os filhos\u0022, sublinhou o jovem b\u00falgaro. Como muitos jovens de Gotse Delchev, Ivan gostaria de viajar mas os sal\u00e1rios baixos d\u00e3o apenas para as necessidades b\u00e1sicas. N\u00e3o \u00e9 por acaso que os b\u00falgaros gastam somas elevadas em bilhetes de lotaria. \u0022\u00c9 preciso uma revolu\u00e7\u00e3o dos rendimentos\u0022 Desde a ades\u00e3o da Bulg\u00e1ria \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, Gotse Delchev recebeu 50 milh\u00f5es de euros para melhorar as infraestruturas. Para o presidente da c\u00e2mara da cidade, eleito pelo partido socialista, \u00e9 preciso muito mais para melhorar a vida das pessoas. A euronews falou com Vladimir Moskov sobre o problema dos trabalhadores pobres. \u0022H\u00e1 um problema em rela\u00e7\u00e3o aos pa\u00edses da \u00faltima vaga de ades\u00e3o \u00e0 Uni\u00e3o Europeia que tem a ver com os fracos rendimentos. \u00c9 preciso fazer tudo o que \u00e9 poss\u00edvel para aumentar os rendimentos das pessoas nessas regi\u00f5es e nesses pa\u00edses. \u00c9 preciso uma revolu\u00e7\u00e3o dos rendimentos. Essa revolu\u00e7\u00e3o dos rendimentos permitiria travar as migra\u00e7\u00f5es no interior da Europa. Essas mudan\u00e7as s\u00e3o necess\u00e1rias para que as pessoas possam ficar na Bulg\u00e1ria e para que possamos atingir o mesmo n\u00edvel de vida da Europa Ocidental\u0022, afirmou Vladimir Moskov, presidente da autarquia de Gotse Delchev. Pens\u00f5es baixas sin\u00f3nimo de pobreza Os sal\u00e1rios baixos acarretam pens\u00f5es de reforma reduzidas. Na Bulg\u00e1ria, reforma \u00e9 muitas vezes sin\u00f3nimo de pobreza. Atlaza Shtereva come\u00e7ou a trabalhar aos quinze anos, inicialmente, no campo. Quando casou, foi enviada com o marido para a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica onde trabalhou como cozinheira. Ao regressar \u00e0 Bulg\u00e1ria trabalhou numa empresa t\u00eaxtil onde permaneceu at\u00e9 \u00e0 reforma. Hoje, aos 80 anos, tem uma pequena reforma e \u00e9 obrigada a contar cada c\u00eantimo. \u0022Quando recebo a minha pens\u00e3o de cerca de 150 euros, gasto logo 50 euros em eletricidade e medicamentos. Restam-me cem euros por m\u00eas para viver. Vejo muitas coisas nas lojas que n\u00e3o posso comprar. Felizmente, os meus filhos ajudam-me. Sem os meus filhos, n\u00e3o poderia viver. N\u00e3o tenho nada. \u00c9 gra\u00e7as aos meus filhos que posso aquecer a casa para n\u00e3o ficar doente. S\u00e3o eles que comprem a madeira para a lareira\u0022, contou Atlaza Shtereva. Ind\u00fastria t\u00eaxtil da Europa de Leste condenada? Para o dono da f\u00e1brica de Gotse Delchev, a ind\u00fastria t\u00eaxtil do Leste da Europa est\u00e1 condenada. Rollmann pretende manter a f\u00e1brica b\u00falgara mas anda \u00e0 procura de um pa\u00eds terceiro para abrir uma segunda f\u00e1brica. \u0022Vamos ficar aqui, neste s\u00edtio. N\u00e3o podemos abandonar uma f\u00e1brica com 1800 trabalhadores. As compet\u00eancias que constru\u00edmos nesta f\u00e1brica aqui s\u00e3o preciosas. Mas um dia poderemos ser for\u00e7ados a abrir uma segunda f\u00e1brica noutro pa\u00eds, em \u00c1frica ou na \u00c1sia Central. Para termos uma alternativa, um segundo bra\u00e7o para manter o neg\u00f3cio a funcionar no m\u00e9dio e longo prazo\u0022, afirmou Rollmann. B\u00falgaros querem sal\u00e1rio m\u00ednimo europeu O Sindicato Podkrepa considera que a Uni\u00e3o Europeia deve instaurar um sal\u00e1rio m\u00ednimo europeu. A euronews falou com v\u00e1rios empregados do setor t\u00eaxtil na Bulg\u00e1ria. \u0022Para que a situa\u00e7\u00e3o mude, \u00e9 preciso fixar uma remunera\u00e7\u00e3o \u00e0 hora atrav\u00e9s de uma conven\u00e7\u00e3o coletiva setorial. O trabalho tem de ser pago \u00e0 hora. Uma colega que trabalha em Fran\u00e7a ganha 9,5 euros \u00e0 hora. \u00c9 imenso dinheiro. Aqui, a nossa remunera\u00e7\u00e3o \u00e0 hora s\u00e3o migalhas\u0022, afirmou Marya Kanatova, empregada fabril. \u0022O que a Uni\u00e3o Europeia pode fazer por n\u00f3s \u00e9 fixar uma tarifa hor\u00e1ria m\u00ednima. Esse sal\u00e1rio m\u00ednimo deve ser v\u00e1lido para todos os Estados membros\u0022, disse Angel Stankov, empregado do setor t\u00eaxtil. \u0022N\u00e3o queremos uma Europa a duas velocidades. Queremos fazer parte da Europa como iguais. Queremos que a Europa garanta um sal\u00e1rio m\u00ednimo europeu. Aqui os produtos de consumo s\u00e3o t\u00e3o caros como nos outros pa\u00edses\u0022, sublinhou Elena Marvakova. \u0022Quero que os nossos filhos voltem para a Bulg\u00e1ria. S\u00f3 tenho um filho de 21 anos que est\u00e1 na Alemanha h\u00e1 dois anos. Quero que ele tenha um trabalho pago dignamente na Bulg\u00e1ria para que ele possa viver aqui. \u00c9 isso que quero\u0022, concluiu Karamfila Boicheva, empregada do setor t\u00eaxtil. ", "dateCreated": "2019-01-08T12:54:23+01:00", "dateModified": "2019-02-12T19:31:15+01:00", "datePublished": "2019-02-12T19:30:31+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F03%2F56%2F74%2F20%2F1440x810_cmsv2_07e03f13-cf88-551a-9a3b-9957cb3de1b8-3567420.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Os trabalhadores pobres s\u00e3o uma realidade europeia. A etiqueta \u0022Made in Europe\u0022 n\u00e3o \u00e9 garantia de condi\u00e7\u00f5es de trabalho e de remunera\u00e7\u00e3o \u00e9ticas.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F03%2F56%2F74%2F20%2F432x243_cmsv2_07e03f13-cf88-551a-9a3b-9957cb3de1b8-3567420.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Os salários de miséria na Europa: o caso da Bulgária

Os salários de miséria na Europa: o caso da Bulgária
Direitos de autor 
De Euronews
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Os trabalhadores pobres são uma realidade europeia. A etiqueta "Made in Europe" não é garantia de condições de trabalho e de remuneração éticas.

Não é só na Ásia que os operários da indústria têxtil são explorados. Os trabalhadores pobres são uma realidade europeia. Em Gotse Delchev, no sudoeste da Bulgária, os empregados da fábrica Pirin-Tex trabalham muito para ganhar pouco.

A etiqueta "Made in Europe" não é garantia de condições de trabalho dignas ou éticas.

A Pirin-Tex emprega 1800 pessoas e trabalha sobretudo para a marca de luxo Hugo Boss. A pressão é enorme. São fabricadas 12 mil peças de roupa por semana. Os trabalhadores dizem que são tratados como robôs.

Trabalho controlado por tablets

A empresa instalou 1700 tablets, um por cada posto de trabalho, que fixam a quota de produção diária de cada empregado.

"O sistema de tablets, que permite controlar todo o processo laboral, é a melhor coisa que tivemos. É possível controlar cada operação realizada pelo trabalhador, por exemplo, o tempo necessário para uma costureira fazer uma operação específica ou o seu método de costura. Graças a estes tablets, podemos controlar tudo", afirmou Mariyana Georgieva, responsável pela organização do trabalho diário na linha de montagem.

Trabalhadores queixam-se de "trabalho forçado"

A euronews falou com um representante do Sindicato Podkrepa e com vários operários do setor têxtil sobre os baixos salários e a degradação das condições de trabalho.

"Em média, os operários conseguem terminar 60% das tarefas que lhes são atribuídas. Em função da antiguidade profissional, cada trabalhador recebe em média 650/700 Leva, entre 320 e 350 euros", afirmou Kostadin Draginov, líder sindical do Sindicato Podkrepa.

"Pergunto-me se os políticos búlgaros fazem leis para os seres humanos ou para os robôs. Trabalhamos sem parar. Este sistema permitiu legalizar uma forma de trabalho forçado", afirmou Elena Marvakova, empregada da Pirin-Tex.

"O meu pai e a minha mãe vivem e trabalham no estrangeiro. Saíram daqui há mais de vinte anos. Com a idade que tenho, continuo a receber ajuda deles, eles pagam metade das minhas despesas aqui na Bulgária, para eu poder viver uma vida normal", contou Angel Stankov, trabalhador da indústria têxtil.

"Penso que os meus colegas da Europa Ocidental devem rir-se quando ouvem falar dos salários daqui. Não devem acreditar. A situação é tão má que mais vale rir. Será que somos Europeus de segunda categoria? Será que somos más costureiras? Será que comemos menos que os nossos colegas da Europa Ocidental?", perguntou Elka Karaylieva, trabalhadora da Pirin-Tex.

"Na Bulgária, há um grande paradoxo. Fugimos dos salários demasiados baixos e do fraco nível de vida. Vamos trabalhar para o estrangeiro, para Inglaterra ou para a França. Ninguém quer trabalhar aqui. Um empresário estrangeiro que deseje investir na Bulgária, não encontra mão-de-obra suficiente", disse Kostadin Draginov, líder sindical do Sindicato Podkrepa.

Búlgaros imigram para a Europa Ocidental

Gotse Delchev perdeu população nos últimos anos. De acordo com o presidente da câmara da cidade, 2500 pessoas trabalham atualmente nos países mais ricos da União Europeia, nos setores da construção, da agricultura e da saúde.

Desde 1990, cerca de um milhão e meio de búlgaros deixaram o país. Em 1992, vivam no país cerca de oito milhões e meio de pessoas. Hoje, a Bulgária tem sete milhões de habitantes e o êxodo continua. Para perceber as razões que levam as pessoas a abandonar o país, a euronews organizou uma entrevista através da Internet com uma antiga empregada da indústria têxtil de Gotse Delchev que imigrou para Londres.

"Sentia-me como uma máquina. Chegava do trabalho, comia, às vezes dormia apenas quatro horas. Sentia um peso a esmagar-me, como se tivesse um peso nas costas", contou Galina Georgieva, antiga operária da Pirin-Tex.

"O stress era enorme na Bulgária. Ganhava entre 260 e 280 euros por mês. Em Londres, ganho 1800 euros por mês. Na Bulgária, o meu empregador não acreditava em mim quando eu estava doente. Tinha de levar soro e comprar medicamentos para aguentar o trabalho. Vivo na Grã-Bretanha há três meses e sinto-me muito melhor. Na Bulgária, a carga de trabalho era demasiado grande", acrescentou Galina Georgieva.

Indústria do luxo não dá margem para aumentos

Como é uma das maiores clientes da Pirin-Tex, a Hugo Boss realiza periodicamente auditorias sociais na fábrica búlgara. A direção da empresa afirma que os resultados são positivos e que a Pirin-Tex goza de boa reputação já que noutros sítios as condições de trabalho são ainda piores.

Viden Kinevirski conhece bem a Pirin-Tex. Fez parte do grupo de engenheiros recrutados pelo empresário alemão Bertram Rollmann para construir a fábrica na Bulgária.

"Nessa altura, a fábrica estava na Grécia e o dono da empresa, o senhor Rollmann, estava à procura de uma alternativa porque o nível de vida da Grécia no início dos anos 90 era bastante elevado, enquanto aqui na Bulgária, o nível de vida é baixo. Na nosssa indústria, sabemos bem que há uma tendência para que a produção se deslocalize dos países onde o nível de vida é elevado para os países onde o nível de vida é baixo", recordou Viden Kinevirski, engenheiro da Pirin-Tex.

Quando o empresário alemão decidiu investir na Bulgária foi recebido de braços abertos. Na altura, o país atravessava graves dificuldades económicas.

"Os lucros das empresas na indústria têxtil são demasiado baixos para permitir pagar mais aos empregados. Por isso, desde há três anos, as pessoas emigram em massa, o que deixa marcas fatais. Nos últimos três anos, em média, a cada ano, houve 600 pessoas a deixar a empresa, para irem para o Reino Unido, Alemanha, Suécia ou até Espanha", contou Bertram Rollmann.

"As empresas que fabricam a roupa como a nossa, ganham apenas entre cinco e sete por cento do preço do retalho. O que não é suficiente. É tão pouco que as pessoas que trabalham na produção, na Bulgária, na Roménia, na Sérvia, na Macedónia ou na Albánia, não conseguem construir uma vida decente. Por outro lado, as marcas internacionais insistem constantemente na necessidade de respeitar as normais internacionais, as normas europeias, no domínio das condições de trabalho. Mas essas marcas não querem pagar o suficiente para podermos respeitar essas normas"", acrescentou o empresário.

Trabalhadores desmotivados

Zorka Guleva já não aguentava as más condições de trabalho e o salário de miséria e deixou a fábrica para se instalar por conta própria. Ganha pouco mas é autónoma.

"O novo sistema de quotas de produção por hora não é bom para nós. Não nos permite ganhar mais. O sistema aumenta constantemente as quotas. Não temos tempo para cumprir a quota horária. O sistema desmotiva as pessoas, as pessoas não têm vontade de trabalhar, estão desesperados e só pensam em deixar a empresa", disse Kostadin Draginov, líder sindical do Sindicato Podkrepa.

"É sobretudo um sistema de controlo dos trabalhadores, não é um sistema para aumentar a produtividade. Não se controla o processo de trabalho, controla-se o trabalhador. O objetivo é pagar o menos possível. Por isso, a produtividade baixa", contou Zorka Guleva.

É impossível viver com o salário pago pela fábrica. As pessoas que ficam no país acumulam dois trabalhos, a fábrica e um pouco de agricultura.

"Temos faturas para pagar. No inverno há o aquecimento, isso custa-me 1200 Leva, cerca de 600 euros. Preciso de dois salários para aquecer a casa, o que nos deixa pouco dinheiro para comer. Depois, é preciso pagar a eletricidade, são 100 leva. Queremos dar uma boa educação aos nossos filhos e poupar algum dinheiro para as emergências. É impossível ir de férias com o salário da empresa têxtil. Com as árvores de fruto, espero poder pagar a educação dos meus filhos. São o meu seguro de vida", disse Kostadin Draginov, líder sindical do Sindicato Podkrepa.

Jovens vivem em casa dos pais

A Bulgária é o país da União Europeia com o salário mínimo mais baixo. Em janeiro, houve um ligeiro aumento de 261 euros para 286 euros por mês, menos do que na Roménia onde o salário mínimo ronda os 440 euros.

Aos 20 anos, Ivan Dushkov acaba de o primeiro contrato de trabalho. Até agora, ganhava algum dinheiro a reparar os computadores de amigos e conhecidos. Agora ocupa-se do pavilhão gimnodesportivo da cidade.

"Não é fácil encontrar trabalho bem remunerado na Bulgária. Tenho um curso profissional de informática. Éramos uma turma de 25 pessoas e não encontrámos o trabalho que queríamos. Acabei por aceitar outro tipo de trabalho, pelo menos é mais interessante", afirmou Ivan Dushkov.

Ivan recebe o salário mínimo e é pago graças a um programa europeu destinado a apoiar os jovens desempregados.

"A Bulgária é o país mais pobre da União Europeia. O salário é de dois Leva por hora, 20 Leva por dia. Na Alemanha ou em França, ganha-se 20 Leva por hora. O que ganhamos aqui num dia inteiro, os trabalhadores do Oeste da Europa ganham num dia. Na Bulgária, é raro um jovem de dezoito anos sair de casa dos pais quando acaba os estudos. É impossível sair de casa quando os próprios pais ganham o salário mínimo e não podem ajudar os filhos", sublinhou o jovem búlgaro.

Como muitos jovens de Gotse Delchev, Ivan gostaria de viajar mas os salários baixos dão apenas para as necessidades básicas. Não é por acaso que os búlgaros gastam somas elevadas em bilhetes de lotaria.

"É preciso uma revolução dos rendimentos"

Desde a adesão da Bulgária à União Europeia, Gotse Delchev recebeu 50 milhões de euros para melhorar as infraestruturas. Para o presidente da câmara da cidade, eleito pelo partido socialista, é preciso muito mais para melhorar a vida das pessoas. A euronews falou com Vladimir Moskov sobre o problema dos trabalhadores pobres.

"Há um problema em relação aos países da última vaga de adesão à União Europeia que tem a ver com os fracos rendimentos. É preciso fazer tudo o que é possível para aumentar os rendimentos das pessoas nessas regiões e nesses países. É preciso uma revolução dos rendimentos. Essa revolução dos rendimentos permitiria travar as migrações no interior da Europa. Essas mudanças são necessárias para que as pessoas possam ficar na Bulgária e para que possamos atingir o mesmo nível de vida da Europa Ocidental", afirmou Vladimir Moskov, presidente da autarquia de Gotse Delchev.

Pensões baixas sinónimo de pobreza

Os salários baixos acarretam pensões de reforma reduzidas. Na Bulgária, reforma é muitas vezes sinónimo de pobreza. Atlaza Shtereva começou a trabalhar aos quinze anos, inicialmente, no campo. Quando casou, foi enviada com o marido para a União Soviética onde trabalhou como cozinheira. Ao regressar à Bulgária trabalhou numa empresa têxtil onde permaneceu até à reforma. Hoje, aos 80 anos, tem uma pequena reforma e é obrigada a contar cada cêntimo.

"Quando recebo a minha pensão de cerca de 150 euros, gasto logo 50 euros em eletricidade e medicamentos. Restam-me cem euros por mês para viver. Vejo muitas coisas nas lojas que não posso comprar. Felizmente, os meus filhos ajudam-me. Sem os meus filhos, não poderia viver. Não tenho nada. É graças aos meus filhos que posso aquecer a casa para não ficar doente. São eles que comprem a madeira para a lareira", contou Atlaza Shtereva.

Indústria têxtil da Europa de Leste condenada?

Para o dono da fábrica de Gotse Delchev, a indústria têxtil do Leste da Europa está condenada. Rollmann pretende manter a fábrica búlgara mas anda à procura de um país terceiro para abrir uma segunda fábrica.

"Vamos ficar aqui, neste sítio. Não podemos abandonar uma fábrica com 1800 trabalhadores. As competências que construímos nesta fábrica aqui são preciosas. Mas um dia poderemos ser forçados a abrir uma segunda fábrica noutro país, em África ou na Ásia Central. Para termos uma alternativa, um segundo braço para manter o negócio a funcionar no médio e longo prazo", afirmou Rollmann.

Búlgaros querem salário mínimo europeu

O Sindicato Podkrepa considera que a União Europeia deve instaurar um salário mínimo europeu. A euronews falou com vários empregados do setor têxtil na Bulgária.

"Para que a situação mude, é preciso fixar uma remuneração à hora através de uma convenção coletiva setorial. O trabalho tem de ser pago à hora. Uma colega que trabalha em França ganha 9,5 euros à hora. É imenso dinheiro. Aqui, a nossa remuneração à hora são migalhas", afirmou Marya Kanatova, empregada fabril.

"O que a União Europeia pode fazer por nós é fixar uma tarifa horária mínima. Esse salário mínimo deve ser válido para todos os Estados membros", disse Angel Stankov, empregado do setor têxtil.

"Não queremos uma Europa a duas velocidades. Queremos fazer parte da Europa como iguais. Queremos que a Europa garanta um salário mínimo europeu. Aqui os produtos de consumo são tão caros como nos outros países", sublinhou Elena Marvakova.

"Quero que os nossos filhos voltem para a Bulgária. Só tenho um filho de 21 anos que está na Alemanha há dois anos. Quero que ele tenha um trabalho pago dignamente na Bulgária para que ele possa viver aqui. É isso que quero", concluiu Karamfila Boicheva, empregada do setor têxtil.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Mais de 100 milhões de pessoas enfrentam a pobreza na UE

Fosso entre ricos e pobres acentuou-se em 2018

França depois dos atentados de 2015