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Os habitantes come\u00e7aram imediatamente os trabalhos de reconstru\u00e7\u00e3o, uma vez que recebem apoios do Estado para o fazer. Durante a era sovi\u00e9tica, os habitantes desta aldeia e os vizinhos arm\u00e9nios de Talish tinham rela\u00e7\u00f5es pr\u00f3ximas. Mas tudo mudou. Hoje em dia, as comunidades est\u00e3o de costas completamente voltadas. \u201cO nosso po\u00e7o fica do lado arm\u00e9nio. N\u00f3s temos de ir buscar \u00e1gua durante a noite para que ningu\u00e9m nos veja. H\u00e1 muita gente que foi morta s\u00f3 por ir buscar \u00e1gua\u201d, suspira um dos habitantes, Nasraddin Mustafayev. A vontade do povo de Nagorno-Karabakh Durante o conflito dos anos 90, foi criado o chamado grupo de Minsk \u2013 constitu\u00eddo pela R\u00fassia, Estados Unidos e Fran\u00e7a \u2013 para conduzir as negocia\u00e7\u00f5es entre ambas as partes. O entendimento nunca foi alcan\u00e7ado. A comunidade internacional n\u00e3o reconhece a independ\u00eancia da autodenominada Rep\u00fablica do Nagorno-Karabakh, nem a legitimidade das institui\u00e7\u00f5es criadas na cidade de Stepanakert. \u201cN\u00f3s consideramos que a quest\u00e3o do Nagorno-Karabakh tem de regressar \u00e0 mesa de negocia\u00e7\u00f5es. O povo do Nagorno-Karabakh j\u00e1 votou por duas vezes \u2013 em 1991 e em 2006 \u2013 pela independ\u00eancia desta rep\u00fablica. \u00c9 uma decis\u00e3o que tem de ser tomada em conta. Essa \u00e9 a base de qualquer acordo que possa ser feito no futuro\u201d, dizia-nos um dos ministros deste enclave. \u00c0 falta de reconhecimento internacional, este enclave luta para conseguir atrair investidores e desenvolver a sua economia. Por isso, depende em grande medida do apoio financeiro de Erevan e da di\u00e1spora arm\u00e9nia. A agricultura \u00e9 o principal setor numa regi\u00e3o conhecida por ser bastante f\u00e9rtil. 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Eles t\u00eam de nos deixar viver como n\u00f3s bem entendemos. \u00c9 s\u00f3 isso que queremos. S\u00f3 assim nos podemos voltar a aproximar, como dois Estados independentes. Se n\u00e3o nos reconhecerem, esta situa\u00e7\u00e3o vai arrastar-se por 100, 200 anos. Vamos continuar a viver todos sob press\u00e3o, sem nos entendermos.\u201d Os azeris que tiveram de abandonar as suas casas Em Baku, a ideia da independ\u00eancia do Nagorno-Karabakh afigura-se como inconceb\u00edvel. O \u00fanico cen\u00e1rio que poderia ser eventualmente debatido \u00e9 o de uma autonomia alargada. H\u00e1 que evitar o descarrilamento da situa\u00e7\u00e3o \u2013 defende Rovshan Rzayev, membro do Parlamento do Azerbaij\u00e3o, que no entanto apresenta argumentos bem vincados. \u201c\u00c9 no interesse do Azerbaij\u00e3o participar em negocia\u00e7\u00f5es de paz para recuperar territ\u00f3rio que foi ocupado de forma ilegal. 20% do territ\u00f3rio do Azerbaij\u00e3o encontra-se ocupado. \u00c9 \u00f3bvio que nunca iremos aceitar esta situa\u00e7\u00e3o. Eles t\u00eam de devolver as nossas terras\u201d, considera. Dire\u00e7\u00e3o Quzanli, na regi\u00e3o azeri de Agdam. \u00c9 um dos territ\u00f3rios que ficou sob controlo arm\u00e9nio ap\u00f3s o conflito dos anos 90, de forma a limitar o risco de uma ofensiva do Azerbaij\u00e3o. Uma esp\u00e9cie de zona tamp\u00e3o. Aqui vivem cerca de 50 mil azeris provenientes do Nagorno-Karabakh, de onde se viram for\u00e7ados a sair depois da autoproclama\u00e7\u00e3o. Representam cerca de metade da popula\u00e7\u00e3o local. A taxa de desemprego nesta zona \u00e9 avassaladora. \u201cN\u00e3o h\u00e1 f\u00e1bricas. N\u00e3o h\u00e1 ind\u00fastria local, porque \u00e9 considerada uma zona de risco. Nenhuma empresa quer investir aqui\u201d, aponta Aga Zeynalov, do governo regional. Eldar e Mazali Ahmedov abandonaram a sua aldeia em 1993. Vivem nesta casa com os seus filhos. Garantem que se sentem constantemente em sobressalto aqui. Idealizam um regresso \u00e0 terra natal. O filho mais velho foi morto em combate h\u00e1 dois anos. \u201cSe as nossas terras forem libertadas, a morte dos soldados n\u00e3o ter\u00e1 sido em v\u00e3o. O solo est\u00e1 impregnado do sangue dos m\u00e1rtires. Se os territ\u00f3rios forem libertados, os seus esp\u00edritos ficar\u00e3o finalmente em paz\u201d, vaticina Eldar. O espetro da guerra est\u00e1 bem enraizado entre as gera\u00e7\u00f5es mais novas, de um lado e do outro da linha de combate. Na parte de Agdam, organizou-se um jogo de futebol entre soldados azeris e jovens de fam\u00edlias deslocadas. A coabita\u00e7\u00e3o com os militares tornou-se natural. \u201recisamos dos soldados. N\u00e3o era poss\u00edvel viver em tranquilidade se eles n\u00e3o estivessem aqui. Tenho a certeza que os nossos territ\u00f3rios ser\u00e3o libertados um dia e que os soldados estar\u00e3o sempre ao nosso lado. 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Uma bomba-relógio chamada Nagorno-Karabakh

Uma bomba-relógio chamada Nagorno-Karabakh
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De Nuno Prudêncio
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É uma disputa histórica que remonta a Estaline e que pode detonar a qualquer momento, provocando um conflito regional alargado.

É uma disputa histórica que remonta a Estaline e que pode detonar a qualquer momento, provocando um conflito regional alargado.As pretensões de Nagorno-Karabakh são há muito conhecidas: a independência de um enclave de maioria arménia integrado no Azerbaijão. Em abril ado,os combates recomeçaram. Há quem alerte: o pior está para vir.

Muitos dos soldados aqui não têm mais de 20 anos de idade. Conheceram a guerra pela primeira vez durante a primavera, quando estalaram de novo os confrontos entre os militares do Azerbaijão e as forças separatistas do enclave de Nagorno-Karabakh. “Estamos a defender a nossa pátria, a nossa família e todos os que vivem aqui”, diz-nos um deles, Aram Yegoryan.

Breve história da violência

Esta região do Cáucaso do Sul, onde a maioria da população é arménia, foi integrada no Azerbaijão durante a era soviética. Em 1991, autoproclamou a sua independência. Seguiu-se uma guerra entre azeris e arménios que fez mais de 25 mil mortos e um milhão de refugiados. Em 1994, face ao triunfo militar dos separatistas, foi declarado um cessar-fogo.

Neste momento, vivem-se tréguas muito frágeis após os combates que ressurgiram em abril. Vários voluntários vieram da Arménia ajudar as forças locais. O sargento-chefe Sevak Sardaryan garante “o outro lado violou o cessar-fogo várias vezes desde 1994. Foram eles que nos atacaram em abril. Nada nos diz que não voltam a fazê-lo. Agora estamos mais preparados, a nossa capacidade de resistência é muito maior.”

Another young soldier killed along #Karabakh line of this morning; unacceptable risk as ceasefire violated pic.twitter.com/diJX8pZzId

— Richard Giragosian (@Richard_RSC) 7 septembre 2016

A aldeia de Talish, na Arménia, situa-se junto à linha de combate. Os últimos confrontos provocaram inúmeros danos. Toda a localidade foi evacuada. Três habitantes que recusaram fugir terão sido mortos durante os ataques.

Garik Ohanyan mostra-nos em que estado ficou a sua casa. “Sofri durante 20 anos para conseguir construí-la. Vivíamos aqui nove pessoas. Olhe… não sobrou nada, destruíram tudo! Não sei o que faça…” Garik fugiu para casa dos sogros, numa aldeia vizinha, juntamente com a mãe, a mulher e os seus cinco filhos. _“A primeira vez que tivemos de fugir da aldeia foi em 1992. Desde essa altura que estamos sempre à espera que a guerra rebente outra vez. Ouvimos tiros frequentemente. Tudo o que queremos é uma solução pacífica”, afirma.

Não há caminhos a direito

Quisemos ir até ao outro lado da linha da frente, ao Azerbaijão. Só que é impossível atravessar diretamente, uma vez que todos os os que ligam o Nagorno-Karabakh ao território azeri estão cortados.

Talish fica a cerca de 15 quilómetros de Terter. Tivemos de ir à volta. Mais precisamente, tivemos de ir até à capital arménia, Erevan. Depois dirigimo-nos à Geórgia, sendo que não há voos entre a Arménia e o Azerbaijão. Em Tbilissi, apanhámos um avião para aterrar em Baku, a capital azeri. Daí atravessámos o país para chegar de novo à linha de combate, mas desta vez do lado oposto.

Também aqui os soldados vivem em estado de alerta, com as tropas do Nagorno-Karabakh a algumas dezenas de metros. O exército azeri acusa, também ele, os adversários de terem reaberto as hostilidades. “Foi por causa das provocações deles que os combates recomeçaram. O nosso exército ripostou e eles recuaram. Temos um exército profissional, competente e poderoso. O comandante do exército está sempre a dizer-nos que não podemos ceder um centímetro que seja do nosso território ao inimigo”, salienta o coronel Valen Rajabov.

A localidade azeri mais próxima é Tapqaraqoyunlu. Os combates de abril não fizeram vítimas civis, mas provocaram vários danos materiais. Os habitantes começaram imediatamente os trabalhos de reconstrução, uma vez que recebem apoios do Estado para o fazer.

Durante a era soviética, os habitantes desta aldeia e os vizinhos arménios de Talish tinham relações próximas. Mas tudo mudou. Hoje em dia, as comunidades estão de costas completamente voltadas. “O nosso poço fica do lado arménio. Nós temos de ir buscar água durante a noite para que ninguém nos veja. Há muita gente que foi morta só por ir buscar água”, suspira um dos habitantes, Nasraddin Mustafayev.

A vontade do povo de Nagorno-Karabakh

Durante o conflito dos anos 90, foi criado o chamado grupo de Minsk – constituído pela Rússia, Estados Unidos e França – para conduzir as negociações entre ambas as partes. O entendimento nunca foi alcançado.

A comunidade internacional não reconhece a independência da autodenominada República do Nagorno-Karabakh, nem a legitimidade das instituições criadas na cidade de Stepanakert.

“Nós consideramos que a questão do Nagorno-Karabakh tem de regressar à mesa de negociações. O povo do Nagorno-Karabakh já votou por duas vezes – em 1991 e em 2006 – pela independência desta república. É uma decisão que tem de ser tomada em conta. Essa é a base de qualquer acordo que possa ser feito no futuro”, dizia-nos um dos ministros deste enclave.

À falta de reconhecimento internacional, este enclave luta para conseguir atrair investidores e desenvolver a sua economia. Por isso, depende em grande medida do apoio financeiro de Erevan e da diáspora arménia. A agricultura é o principal setor numa região conhecida por ser bastante fértil.

A Artsakh Fruit é a maior fábrica de produtos alimentares da região. 85% dos produtos destinam-se ao estrangeiro. Como é que esta empresa acede aos mercados externos? Como várias companhias locais: associou-se a empresas arménias.

O diretor, Armen Tsaturyan, explica-nos que “visto que esta região não é reconhecida internacionalmente, não podemos exportar diretamente os nossos produtos para os mercados internacionais. Somos obrigados a arranjar parceiros comerciais. Só assim é que conseguimos exportar.”“Para que países"> Notícias relacionadas

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