Após décadas de declínio, os rios do norte da Suécia estão novamente a tornar-se um ambiente próspero para o salmão. A União Europeia está a apoiar a recuperação dos habitats e empresas locais têm também projetos de proteção.
Norrbotten, uma região pouco povoada região da Suécia, a pesca recreativa não é apenas divertida, mas também vital para a economia. Todos os anos, a migração do salmão atrai pescadores desportivos de todo o mundo. É desde que a Suécia conseguiu retirar esta espécie de uma situação de quase extinção no país há algumas décadas.
Marko e Pyry são dois destes visitantes. Estes pescadores finlandeses regressam ao rio Torne, acompanhados de um pescador local, Michael Stein.
“A chave aqui é que termos rios que não têm barragens hidroelétricas. Não estão poluídos, são limpos. ”, diz Michael Stein, dando algumas pistas para o sucesso da preservação do salmão nestas águas.
“É em lugares como esse, onde se cuida e preserva, que se encontrara a boa pesca de salmão na Europa”, acrescenta.
Dan Blomkvist, responsável pela gestão da pesca em Norrbotten, salienta a importância dos rios para esta espécie. É aqui que o salmão selvagem nasce antes de migrar para o Mar Báltico.
“Os rios são importantes para o salmão porque é onde se reproduzem. É o jardim-de-infância e a área de reprodução deles. Obviamente, para as pessoas que vivem aqui, não é apenas um recurso onde nadam peixes. Faz parte da identidade”, diz Blomkvist.
Recuperar os danos do rio
“Durante muito tempo, as reservas de salmão tem vindo a deteriorar-se", diz Blomkvist, lembrando como o salmão entrou em queda nos anos 80. "Uma das principais causas foi a forma como gerimos a pesca na área do Báltico. Há 30 ou 40 anos, algumas destas reservas estavam de facto à beira da extinção.”
Esta crise soou um alarme e atraiu a atenção para a saúde dos rios. Surgiram então várias iniciativas para evitar este colapso, que ameaçava também a economia e a cultura da região. Uma dessas iniciativas veio das empresas hidroelétricas, uma vez que as barragens são um obstáculo à migração dos peixes.
Na época de migração, os trabalhadores das centrais capturam salmões adultos nas barragens e guiam-nos, através de tubos, para zonas de aquacultura, onde podem fazer a desova. Os jovens salmões crescem nestas zonas protegidas e, mais tarde, são devolvidos ao rio.
Não é uma solução perfeita. Os peixes criados em fazendas não conseguem igualar a capacidade de sobrevivência dos peixes selvagens. Mas acaba por aliviar um pouco a pressão sobre as populações.
“É óbvio que esses salmões não têm o mesmo valor biológico, mas estão lá para serem pescados. Portanto, eles têm uma importância em si mesmos. Porque, se tivermos estes para pescar, a pressão sobre o salmão selvagem pode ser menor”, explica Blomqvist.
A indústria da madeira também contribuiu para o declínio. Para transportar madeira, as empresas do setor remodelaram a águas, endireitaram curvas e alisaram o fundo dos rios. Locais onde o salmão nascia tornaram-se vias mortas, inadequadas para o ciclo de vida complexo dos peixes.
Agora, estes rios estão a ser recuperados, através do projeto TRIWA LIFE financiado pela União Europeia. As equipas deste projeto entram nas águas e colocam pedras para recriar as condições ideais para o salmão, como correntes, profundidades e níveis de oxigénio variados.
“Temos visto os resultados em alguns dos sistemas fluviais que recuperámos desde 2017”, diz Dan Ojanlatva, que lidera este projeto. “Até agora, o aumento da quantidade de salmão jovem é de muitas vezes 100% em comparação com antes. Este trabalho de recuperação tem um grande efeito na população de salmão selvagem”
Gerir a pesca
Outro fator crucial para a preservação salmão é a gestão da pesca. A pesca comercial já está proibida nestes rios e a pesca recreativa pode enfrentar restrições rápidas, sempre que necessário.
Glenn Douglas vigia o rio Råneå, onde nesta temporada foram registados níveis muito baixos de salmão. Apesar do impacto no turismo, a associação local de gestão da pesca tomou uma decisão difícil: uma proibição total.
“Há muito poucos para esta época do ano, basicamente, não há peixes no rio", diz Douglas. "Esta é a situação trágica. Tem corrido bem durante muitos anos, mas no ano ado e este ano, não vemos peixes a entrar no rio. Não vemos salmão. Sem salmão não há pessoas a visitar-nos.”
A recuperação dos rios ajuda, mas não é suficiente. Muitas das causas deste problema, como a poluição e a sobrepesca, vêm do Mar Báltico. Esta incerteza repercute-se nas economias locais e ameaça negócios.
“Construímos um novo restaurante em 2010 porque vimos que o aumento do número de salmão era muito acentuado", diz Landin Robin Landin, proprietário de uma pousada de pesca no rio Kalix. "Mas agora, este ano e no ano ado, não foi tão bom. Os pescadores de salmão podem fazer aqui uma reserva com um ano de antecedência. Mas, se virem uma diminuição do número de salmões, cancelam e vão para outro lugar.”
Uma escada e tecnologia moderna
Na cascata rio Kalix, as antigas rotas de migração encontram-se com tecnologia moderna. A cascata tem instalada uma escada para peixes que facilita a viagem do salmão rio acima. Entretanto, uma câmara de alta tecnologia regista cada peixe que a. Os responsáveis pela gestão da pesca na zona analisam então as imagens para determinar a espécie, sexo e tamanho de cada peixe, dados cruciais que ajudam a orientar a gestão da pesca no Mar Báltico.
Os últimos anos têm sido uma montanha-russa para a quantidade de salmão: desde números recorde até quedas súbitas. No entanto, mesmo em anos mais fracos, as populações permanecem muito mais saudáveis do que nas décadas de 80 e 90.
“Vai haver anos melhores e anos piores”, diz Dan Blomqvist. “Mas vai ser num nível em que as pessoas que querem investir e iniciar negócios de turismo vão sentir que é seguro avançar.”
Os rios da Europa perderam 93% dos peixes migratórios em apenas 50 anos. Recuperar estes rios pode ajudar a trazer de volta estes viajantes.