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O seu telem\u00f3vel reconhece o seu rosto; o seu banco pode bloquear transa\u00e7\u00f5es que n\u00e3o aparentem ajustar-se aos seus h\u00e1bitos de consumo. Por sua vez, o seu supermercado online prop\u00f5e-lhe produtos \u201cvegan\u201d apenas porque comprou uma vez aquele leite de aveia e a sua plataforma de filmes continua a propor-lhe filmes de s\u00e9rie B ap\u00f3s ter visto aquela telenovela no m\u00eas ado. Um n\u00famero crescente dos nossos dispositivos e servi\u00e7os est\u00e1 a utilizar intelig\u00eancia artificial (IA), uma tecnologia que continua a ramificar-se e a brotar em cada vez mais \u00e1reas das nossas vidas. Cientistas, empreendedores e governos est\u00e3o a tirar partido da IA para procurar solu\u00e7\u00f5es para alguns dos maiores desafios que a sociedade enfrenta. Destrin\u00e7ar o comportamento do clima do planeta e entender a forma como o mesmo pode evoluir no futuro s\u00e3o pontos priorit\u00e1rios da agenda. No entanto, ainda que esta tecnologia nos esteja a ajudar a dar mais sentido \u00e0s enormes quantidades de dados de que dispomos, como pode a sua intelig\u00eancia ajudar-nos a atenuar, no terreno, as altera\u00e7\u00f5es ambientais e a adaptar-nos ao futuro? \u0022Quando mencionamos \u0022IA\u0022, referimo-nos frequentemente \u00e0 \u201caprendizagem autom\u00e1tica\u201d, um conjunto de algoritmos capazes de aprender a partir de dados\u0022, afirmou o Dr. David Rolnick, professor auxiliar na Universidade da Pensilv\u00e2nia. \u0022Em termos gerais, a IA n\u00e3o ir\u00e1 fazer algo melhor do que um ser humano, mas \u00e9 normalmente mais r\u00e1pida e capaz de identificar padr\u00f5es em muito grandes volumes de dados\u0022. \u00c9 esta capacidade de processar muito rapidamente enormes quantidades de dados, de refinar a informa\u00e7\u00e3o e de encontrar associa\u00e7\u00f5es que tornou a IA revolucion\u00e1ria em diversos setores. Tal n\u00e3o \u00e9 menos verdade no caso da ci\u00eancia do clima e da monitoriza\u00e7\u00e3o das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Os sat\u00e9lites est\u00e3o a recolher dados clim\u00e1ticos a n\u00edveis nunca antes vistos. As previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas s\u00e3o efetuadas com n\u00edveis de detalhe revolucion\u00e1rios. Os modelos e cen\u00e1rios clim\u00e1ticos suscitam ainda muitas incertezas. Os cientistas est\u00e3o a tirar partido da IA na gest\u00e3o deste dom\u00ednio intensivo em termos de dados para aperfei\u00e7oar a ci\u00eancia clim\u00e1tica e produzir previs\u00f5es mais precisas que permitem \u00e0 sociedade e \u00e0 natureza adaptarem-se ao futuro. \u0022A aprendizagem autom\u00e1tica permite aprender comportamentos complexos a partir de dados sem que haja um entendimento f\u00edsico\u0022, comentou o Dr. Peter Dueben, bolseiro de investiga\u00e7\u00e3o no ECMWF. \u0022Quanto mais dados possuirmos, melhores ser\u00e3o as ferramentas. Com mais dados dispon\u00edveis, as ferramentas de aprendizagem autom\u00e1tica v\u00e3o-se tornando cada vez melhores. A implica\u00e7\u00e3o \u00e9 que as ferramentas ser\u00e3o cada vez mais \u00fateis para os cientistas do dom\u00ednio.\u0022 O poder da IA pode melhorar as imagens de sat\u00e9lite e permite criar proje\u00e7\u00f5es Segundo a Dra. Nataliya Tkachenko, cientista-chefe de dados e IA na Universidade de Oxford, \u0022o recurso a m\u00e1quinas permite-nos medir e monitorizar o mundo real, o que \u00e9 fundamental para tomar melhores decis\u00f5es num futuro incerto\u0022. \u0022Na verdade, a IA, na sua forma mais genu\u00edna, n\u00e3o diz respeito aos dados como tal; est\u00e1 principalmente focalizada na identifica\u00e7\u00e3o de padr\u00f5es e associa\u00e7\u00f5es na complexidade do mundo. O derradeiro objetivo continua sempre a ser a decis\u00e3o, ou a informa\u00e7\u00e3o processada\u0022. Os cientistas usaram com sucesso a IA na produ\u00e7\u00e3o de imagens mais detalhadas da Terra. \u0022A IA \u00e9 excelente a produzir informa\u00e7\u00e3o espacial. \u00c9 um dos seus superpoderes\u0022, afirmou o Dr. Pierre-Phillippe Mathieu, diretor do Gabinete Philab Explore da Ag\u00eancia Espacial Europeia. O Dr. Vincent Peuch, Diretor do Servi\u00e7o de Monitoriza\u00e7\u00e3o Atmosf\u00e9rica Copernicus (CAMS), concorda: \u0022\u00e9 muito eficaz a comparar imagens de sat\u00e9lite e a seguir automaticamente altera\u00e7\u00f5es da cobertura dos solos, sendo adequada para zonas do planeta que n\u00e3o disponham de monitoriza\u00e7\u00e3o ao n\u00edvel do solo. Al\u00e9m disso, contribui para acelerar os modelos inform\u00e1ticos e reduzir os seus custos operacionais, especialmente no dom\u00ednio das previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas detalhadas que requerem respostas r\u00e1pidas\u0022. O Servi\u00e7o de Monitoriza\u00e7\u00e3o das Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas Copernicus (C3S) e o CAMS est\u00e3o a testar e a utilizar IA para identificar altera\u00e7\u00f5es da cobertura do solo e das \u00e1rvores, e tamb\u00e9m para refinar previs\u00f5es da qualidade do ar \u00e0 escala urbana e processar automaticamente imagens de sat\u00e9lite, segundo o Dr. Peuch. No Mar de Amundsen, ao largo da costa ocidental da Ant\u00e1rtida, especialistas do British Antarctic Survey (BAS), integrado no Turing Institute, est\u00e3o a utilizar tecnologia de aprendizagem autom\u00e1tica para identificar e acompanhar a forma como os icebergues se est\u00e3o a desagregar em fragmentos mais pequenos e estreitos e a treinar algoritmos de IA para prever o gelo marinho no futuro. Por sua vez, a IA permite-lhes interpretar estas previs\u00f5es e, possivelmente, obter novas perspetivas sobre a forma como as vari\u00e1veis clim\u00e1ticas interagem umas com as outras, tanto no espa\u00e7o como no tempo. O acervo de aplica\u00e7\u00f5es da IA para resolver problemas ambientais e sociais, sejam eles de grande ou pequena envergadura, continua a expandir-se . A Universidade de Washington planeia utiliz\u00e1-la para seguir e efetuar melhores previs\u00f5es das ondas de calor marinhas. O Centro de Recursos de Conserva\u00e7\u00e3o da Tanz\u00e2nia ir\u00e1 utiliz\u00e1-la em levantamentos a\u00e9reos da vida selvagem e das atividades humanas para tentar prevenir conflitos entre seres humanos e animais. A cidade de Boston testou o software da GreenCityWatch para obter um invent\u00e1rio de \u00e1rvores baseado em IA que verifica com exatid\u00e3o o n\u00famero e a sa\u00fade dos espa\u00e7os verdes urbanos com o objetivo de substanciar pol\u00edticas p\u00fablicas. A agricultura est\u00e1 tamb\u00e9m a colher os benef\u00edcios da IA. A FarmBeats, uma plataforma na nuvem Azure, da Microsoft, agrega dados de sensores, c\u00e2maras, tratores e drones para criar modelos de aprendizagem autom\u00e1tica baseados na combina\u00e7\u00e3o de conjuntos de dados para monitorizar a agricultura e refor\u00e7ar a resili\u00eancia dos agricultores \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. \u0022Os agricultores determinam o timing da planta\u00e7\u00e3o, da rega, da colheita e de outras pr\u00e1ticas com base no estado do tempo\u0022, segundo Ranveer Chandra, investigador principal da Microsoft Azure Global. \u0022Contudo, as previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas dispon\u00edveis dizem respeito \u00e0 esta\u00e7\u00e3o meteorol\u00f3gica e n\u00e3o \u00e0 explora\u00e7\u00e3o agr\u00edcola. Um dos nossos algoritmos de IA combina modelos meteorol\u00f3gicos detalhados e dados da esta\u00e7\u00e3o meteorol\u00f3gica com sensores na explora\u00e7\u00e3o agr\u00edcola para produzir previs\u00f5es hiperlocais do estado do tempo na zona em causa. Preenchendo as lacunas de dados na explora\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, a solu\u00e7\u00e3o \u00e9 capaz de prever valores que melhoram as decis\u00f5es dos agricultores.\u201d Ser\u00e1 a IA suficientemente poderosa para prever as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? Uma ambiciosa miss\u00e3o para a IA \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de uma G\u00e9mea Digital da Terra, ou seja, uma r\u00e9plica dos sistemas e processos do planeta. Segundo o Dr. Mathieu, \u0022isso constituiria um laborat\u00f3rio num\u00e9rico do planeta, com o qual poder\u00edamos fazer experi\u00eancias destinadas a elaborar pol\u00edticas e avaliar resultados\u0022. \u0022Possu\u00edmos j\u00e1 os blocos construtivos para o desenvolvimento de G\u00e9meos Digitais do ambiente natural e, em \u00faltima an\u00e1lise, de uma \u0022Terra G\u00e9mea Digital\u0022, segundo o Dr. Scott Hosking, cientista de dados ambientais no BAS. \u0022N\u00e3o temos a capacidade de monitorizar todos os aspetos do nosso din\u00e2mico planeta com o n\u00edvel de detalhe exigido. Com o desenvolvimento de G\u00e9meos Digitais dos ambientes naturais, podemos concentrar de forma inteligente as nossas amostragens, o que seria revolucion\u00e1rio no caso de ambientes remotos e hostis como as regi\u00f5es polares, onde a alimenta\u00e7\u00e3o a bateria e a ibilidade s\u00e3o problem\u00e1ticas. Esta informa\u00e7\u00e3o poderia ser usada em tempo real para indicar a uma frota de drones e submarinos automatizados para onde ir em seguida, aumentando a sua efic\u00e1cia nas medi\u00e7\u00f5es futuras\u0022. No entanto, a IA est\u00e1 ainda longe de ser infal\u00edvel. No caso das previs\u00f5es clim\u00e1ticas, n\u00e3o existem dados suficientes para treinar os algoritmos, advertem os especialistas. \u0022A IA tem de ser treinada com base em dados hist\u00f3ricos\u0022, explica o Dr. Judah Cohen, diretor de previs\u00f5es sazonais na Atmospheric and Environmental Research (AER) e climatologista no MIT. \u0022Efetuamos os treinos com base em dados que remontam a 1979, quando a utiliza\u00e7\u00e3o de sat\u00e9lites se generalizou. Contudo, esses dados n\u00e3o proporcionam casos hist\u00f3ricos suficientes para obter solu\u00e7\u00f5es de IA \u00f3timas. Uma forma seria criar dados sint\u00e9ticos com modelos, mas saber se os dados dos modelos s\u00e3o t\u00e3o bons como os hist\u00f3ricos \u00e9 uma pergunta ainda sem resposta.\u0022 Al\u00e9m disso, a IA n\u00e3o consegue substituir a f\u00edsica clim\u00e1tica, nas palavras do Dr. Rolnick. \u0022A IA tem limita\u00e7\u00f5es\u0022, acrescenta o Dr. Mathieu, da ESA. \u0022\u00c9 sempre poss\u00edvel identificar correla\u00e7\u00f5es entre os dados, mas tal n\u00e3o significa necessariamente que existe tamb\u00e9m um elo causal; assim, s\u00e3o necess\u00e1rios especialistas que possam produzir explica\u00e7\u00f5es com base na f\u00edsica\u0022. O mesmo se pode dizer dos modelos de previs\u00e3o meteorol\u00f3gica, comentou o Dr. Dueben, do ECMWF. \u0022H\u00e1 quem diga que a IA e a aprendizagem autom\u00e1tica podem ser superiores \u00e0s ferramentas convencionais de \u0022now-casting\u0022 (previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas com horizontes aproximados de duas horas) e a algumas previs\u00f5es multianuais. Contudo, \u00e9 muito improv\u00e1vel que a tecnologia seja superior \u00e0 maioria das outras previs\u00f5es e possa, assim, \u0022substituir\u0022 os modelos de previs\u00e3o meteorol\u00f3gica, uma vez que n\u00e3o ser\u00e1 t\u00e3o precisa na maioria das aplica\u00e7\u00f5es.\u201d Dado que um sistema de IA treinado funciona bem apenas nas \u00e1reas em que recebeu treino, surgem outros problemas. \u0022\u00c9 necess\u00e1rio assegurar que o estamos a utilizar na gama de valores para a qual foi treinado\u0022, diz o Dr. Peuch. \u0022Caso contr\u00e1rio, obteremos resultados esp\u00farios.\u201d Isso implica que, embora o algoritmo possa \u0022entender\u0022 os dados que foi concebido para processar, aliment\u00e1-lo com dados fora da sua gama de a\u00e7\u00e3o poder\u00e1 produzir resultados inexatos. Contudo, em investiga\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica, n\u00e3o s\u00e3o apenas os dados que mudam: o clima tamb\u00e9m muda. \u0022Quando falamos de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, os algoritmos t\u00eam de ser muito elaborados, porque o clima continua a mudar. \u00c9 necess\u00e1rio ter cuidado para que a IA n\u00e3o esteja a usar apenas o ado para prever o futuro\u0022, acrescenta o diretor do CAMS. A escolha do algoritmo \u00e9 tamb\u00e9m dif\u00edcil quando se trata de problemas ligados \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. \u0022Existem muitas t\u00e9cnicas de IA, e escolher a \u00f3tima para prever o clima num menu de IA \u0022\u00e0 la carte\u0022 n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o trivial\u0022, explica o Dr. Cohen. \u0022O meu entendimento \u00e9 que a escolha e a otimiza\u00e7\u00e3o de um algoritmo de IA capaz de produzir mais do que uma ligeira melhoria nas previs\u00f5es clim\u00e1ticas atuais ir\u00e3o constituir um desafio.\u0022 A tecnologia da IA suscita tamb\u00e9m quest\u00f5es sobre o controlo da forma como tratamos os dados. \u0022N\u00e3o existem demasiadas preocupa\u00e7\u00f5es relativas \u00e0 prote\u00e7\u00e3o dos dados no caso das fontes convencionais das observa\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas\u0022, afirmou o Dr. Dueben. \u0022Contudo, existem os chamados dados da \u0022Internet das Coisas\u0022 (IoT), que s\u00e3o hoje muito pouco usados nas previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas, mas que poder\u00e3o introduzir melhorias significativas no futuro. Trata-se, por exemplo, das observa\u00e7\u00f5es a partir de telem\u00f3veis e outros produtos de dados obtidos por \u0022crowdsourcing\u0022, que suscitariam quest\u00f5es em mat\u00e9ria da privacidade dos dados.\u201d A Dra. Tkachenko vai mais longe, argumentando que, se os dados n\u00e3o processados introduzidos nas f\u00f3rmulas decis\u00f3rias forem adulterados, poder\u00e3o surgir consequ\u00eancias negativas. \u0022Assim, da mesma forma que indicamos os ingredientes nas embalagens de refei\u00e7\u00f5es prontas, poderemos tamb\u00e9m querer saber como a IA foi concebida e quais as fontes de dados que se tornam parte dela\u0022, comentou. Feitas as contas, poder\u00e3o os cientistas clim\u00e1ticos e ambientais aprender com a utiliza\u00e7\u00e3o da IA pelos outros setores? \u0022S\u00f3 devemos usar a IA se houver um problema existente que necessita dela\u0022, adverte o Dr. Rolnick. \u0022\u00c9 f\u00e1cil distrairmo-nos com tecnologia apelativa. Em todas as aplica\u00e7\u00f5es, \u00e9 essencial assegurar que a IA acrescenta algum valor. As aplica\u00e7\u00f5es da IA devem ser justificadas pelo seu derradeiro impacto e desenvolvidas em conjunto com as partes interessadas que utilizar\u00e3o a tecnologia e dela beneficiar\u00e3o. Uma fal\u00e1cia importante \u00e9 imaginar que a IA ir\u00e1 resolver problemas com um e de magia. Embora poderosa, a tecnologia \u00e9 apenas uma de um grande n\u00famero de ferramentas que podem ser usadas como parte das estrat\u00e9gias de combate \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas.\u0022 ", "dateCreated": "2020-10-12T13:12:45+02:00", "dateModified": "2020-10-12T14:25:01+02:00", "datePublished": "2020-10-12T14:24:58+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F00%2F35%2F24%2F1440x810_cmsv2_42a8e0a3-b0ae-57ab-a3ee-167a011104fe-5003524.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Agora que cada vez mais setores est\u00e3o a adotar a intelig\u00eancia artificial para vencer alguns dos seus mais s\u00e9rios desafios, poder\u00e3o as m\u00e1quinas ajudar-nos a compreender e resolver os problemas das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas?", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F00%2F35%2F24%2F432x243_cmsv2_42a8e0a3-b0ae-57ab-a3ee-167a011104fe-5003524.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ], "url": "/" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9ries" ] }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] } #accessibility-bar,#c-burger-button-checkbox,#c-language-switcher-list-open,.c-breaking-news,.c-language-switcher__list,.c-search-form__loader, .o-site-hr__second-level__dropdown,.o-site-hr__second-level__dropdown-mask,.o-site-hr__sidebar,.o-site-hr__sidebar-mask{display:none} .c-barre-now .c-tags-list,.c-barre-now__container,.c-navigation-bar,.c-navigation-bar__wrappable-list,.c-search-form.c-search-engine,.o-site-hr__first-level__container,.o-site-hr__second-level__container,.o-site-hr__second-level__links,.o-site-hr__second-level__burger-logo,.c-burger-button{display:flex} body:not(.has-no-advertising, .has-no-connatix-player, .is-partner-content) .c-article-content > p:nth-of-type(4) + :not(#connatix-container)::before { content: ''; display: block; margin-block-end: 32px; min-height: clamp(162px, calc(100vw * 9 / 16), 310px); } body:not(.has-no-advertising, .has-no-connatix-player, .is-partner-content) .c-article-content > p:nth-of-type(4) + :not(.widget)::before { margin-block-start: 32px; } @s (content-visibility: hidden) { .o-site-hr__second-level__dropdown,.o-site-hr__sidebar { display: flex; content-visibility: hidden; } }
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É possível usar a inteligência das máquinas para resolver os problemas climáticos?

É possível usar a inteligência das máquinas para resolver os problemas climáticos?
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Agora que cada vez mais setores estão a adotar a inteligência artificial para vencer alguns dos seus mais sérios desafios, poderão as máquinas ajudar-nos a compreender e resolver os problemas das alterações climáticas?

O seu telemóvel reconhece o seu rosto; o seu banco pode bloquear transações que não aparentem ajustar-se aos seus hábitos de consumo. Por sua vez, o seu supermercado online propõe-lhe produtos “vegan” apenas porque comprou uma vez aquele leite de aveia e a sua plataforma de filmes continua a propor-lhe filmes de série B após ter visto aquela telenovela no mês ado.

Um número crescente dos nossos dispositivos e serviços está a utilizar inteligência artificial (IA), uma tecnologia que continua a ramificar-se e a brotar em cada vez mais áreas das nossas vidas. Cientistas, empreendedores e governos estão a tirar partido da IA para procurar soluções para alguns dos maiores desafios que a sociedade enfrenta. Destrinçar o comportamento do clima do planeta e entender a forma como o mesmo pode evoluir no futuro são pontos prioritários da agenda. No entanto, ainda que esta tecnologia nos esteja a ajudar a dar mais sentido às enormes quantidades de dados de que dispomos, como pode a sua inteligência ajudar-nos a atenuar, no terreno, as alterações ambientais e a adaptar-nos ao futuro?

"Quando mencionamos "IA", referimo-nos frequentemente à “aprendizagem automática”, um conjunto de algoritmos capazes de aprender a partir de dados", afirmou o Dr. David Rolnick, professor auxiliar na Universidade da Pensilvânia. "Em termos gerais, a IA não irá fazer algo melhor do que um ser humano, mas é normalmente mais rápida e capaz de identificar padrões em muito grandes volumes de dados". É esta capacidade de processar muito rapidamente enormes quantidades de dados, de refinar a informação e de encontrar associações que tornou a IA revolucionária em diversos setores.

Tal não é menos verdade no caso da ciência do clima e da monitorização das alterações climáticas. Os satélites estão a recolher dados climáticos a níveis nunca antes vistos. As previsões meteorológicas são efetuadas com níveis de detalhe revolucionários. Os modelos e cenários climáticos suscitam ainda muitas incertezas. Os cientistas estão a tirar partido da IA na gestão deste domínio intensivo em termos de dados para aperfeiçoar a ciência climática e produzir previsões mais precisas que permitem à sociedade e à natureza adaptarem-se ao futuro. "A aprendizagem automática permite aprender comportamentos complexos a partir de dados sem que haja um entendimento físico", comentou o Dr. Peter Dueben, bolseiro de investigação no ECMWF. "Quanto mais dados possuirmos, melhores serão as ferramentas. Com mais dados disponíveis, as ferramentas de aprendizagem automática vão-se tornando cada vez melhores. A implicação é que as ferramentas serão cada vez mais úteis para os cientistas do domínio."

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O poder da IA pode melhorar as imagens de satélite e permite criar projeções

Segundo a Dra. Nataliya Tkachenko, cientista-chefe de dados e IA na Universidade de Oxford, "o recurso a máquinas permite-nos medir e monitorizar o mundo real, o que é fundamental para tomar melhores decisões num futuro incerto". "Na verdade, a IA, na sua forma mais genuína, não diz respeito aos dados como tal; está principalmente focalizada na identificação de padrões e associações na complexidade do mundo. O derradeiro objetivo continua sempre a ser a decisão, ou a informação processada".

Os cientistas usaram com sucesso a IA na produção de imagens mais detalhadas da Terra. "A IA é excelente a produzir informação espacial. É um dos seus superpoderes", afirmou o Dr. Pierre-Phillippe Mathieu, diretor do Gabinete Philab Explore da Agência Espacial Europeia. O Dr. Vincent Peuch, Diretor do Serviço de Monitorização Atmosférica Copernicus (CAMS), concorda: "é muito eficaz a comparar imagens de satélite e a seguir automaticamente alterações da cobertura dos solos, sendo adequada para zonas do planeta que não disponham de monitorização ao nível do solo. Além disso, contribui para acelerar os modelos informáticos e reduzir os seus custos operacionais, especialmente no domínio das previsões meteorológicas detalhadas que requerem respostas rápidas".

O Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (C3S) e o CAMS estão a testar e a utilizar IA para identificar alterações da cobertura do solo e das árvores, e também para refinar previsões da qualidade do ar à escala urbana e processar automaticamente imagens de satélite, segundo o Dr. Peuch.

No Mar de Amundsen, ao largo da costa ocidental da Antártida, especialistas do British Antarctic Survey (BAS), integrado no Turing Institute, estão a utilizar tecnologia de aprendizagem automática para identificar e acompanhar a forma como os icebergues se estão a desagregar em fragmentos mais pequenos e estreitos e a treinar algoritmos de IA para prever o gelo marinho no futuro. Por sua vez, a IA permite-lhes interpretar estas previsões e, possivelmente, obter novas perspetivas sobre a forma como as variáveis climáticas interagem umas com as outras, tanto no espaço como no tempo.

O acervo de aplicações da IA para resolver problemas ambientais e sociais, sejam eles de grande ou pequena envergadura, continua a expandir-se. A Universidade de Washington planeia utilizá-la para seguir e efetuar melhores previsões das ondas de calor marinhas. O Centro de Recursos de Conservação da Tanzânia irá utilizá-la em levantamentos aéreos da vida selvagem e das atividades humanas para tentar prevenir conflitos entre seres humanos e animais. A cidade de Boston testou o software da GreenCityWatch para obter um inventário de árvores baseado em IA que verifica com exatidão o número e a saúde dos espaços verdes urbanos com o objetivo de substanciar políticas públicas.

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A agricultura está também a colher os benefícios da IA. A FarmBeats, uma plataforma na nuvem Azure, da Microsoft, agrega dados de sensores, câmaras, tratores e drones para criar modelos de aprendizagem automática baseados na combinação de conjuntos de dados para monitorizar a agricultura e reforçar a resiliência dos agricultores às alterações climáticas. "Os agricultores determinam o timing da plantação, da rega, da colheita e de outras práticas com base no estado do tempo", segundo Ranveer Chandra, investigador principal da Microsoft Azure Global. "Contudo, as previsões meteorológicas disponíveis dizem respeito à estação meteorológica e não à exploração agrícola. Um dos nossos algoritmos de IA combina modelos meteorológicos detalhados e dados da estação meteorológica com sensores na exploração agrícola para produzir previsões hiperlocais do estado do tempo na zona em causa. Preenchendo as lacunas de dados na exploração agrícola, a solução é capaz de prever valores que melhoram as decisões dos agricultores.”

Será a IA suficientemente poderosa para prever as alterações climáticas?

Uma ambiciosa missão para a IA é a criação de uma Gémea Digital da Terra, ou seja, uma réplica dos sistemas e processos do planeta. Segundo o Dr. Mathieu, "isso constituiria um laboratório numérico do planeta, com o qual poderíamos fazer experiências destinadas a elaborar políticas e avaliar resultados". "Possuímos já os blocos construtivos para o desenvolvimento de Gémeos Digitais do ambiente natural e, em última análise, de uma "Terra Gémea Digital", segundo o Dr. Scott Hosking, cientista de dados ambientais no BAS. "Não temos a capacidade de monitorizar todos os aspetos do nosso dinâmico planeta com o nível de detalhe exigido. Com o desenvolvimento de Gémeos Digitais dos ambientes naturais, podemos concentrar de forma inteligente as nossas amostragens, o que seria revolucionário no caso de ambientes remotos e hostis como as regiões polares, onde a alimentação a bateria e a ibilidade são problemáticas. Esta informação poderia ser usada em tempo real para indicar a uma frota de drones e submarinos automatizados para onde ir em seguida, aumentando a sua eficácia nas medições futuras".

No entanto, a IA está ainda longe de ser infalível. No caso das previsões climáticas, não existem dados suficientes para treinar os algoritmos, advertem os especialistas. "A IA tem de ser treinada com base em dados históricos", explica o Dr. Judah Cohen, diretor de previsões sazonais na Atmospheric and Environmental Research (AER) e climatologista no MIT. "Efetuamos os treinos com base em dados que remontam a 1979, quando a utilização de satélites se generalizou. Contudo, esses dados não proporcionam casos históricos suficientes para obter soluções de IA ótimas. Uma forma seria criar dados sintéticos com modelos, mas saber se os dados dos modelos são tão bons como os históricos é uma pergunta ainda sem resposta."

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Além disso, a IA não consegue substituir a física climática, nas palavras do Dr. Rolnick. "A IA tem limitações", acrescenta o Dr. Mathieu, da ESA. "É sempre possível identificar correlações entre os dados, mas tal não significa necessariamente que existe também um elo causal; assim, são necessários especialistas que possam produzir explicações com base na física".

O mesmo se pode dizer dos modelos de previsão meteorológica, comentou o Dr. Dueben, do ECMWF. "Há quem diga que a IA e a aprendizagem automática podem ser superiores às ferramentas convencionais de "now-casting" (previsões meteorológicas com horizontes aproximados de duas horas) e a algumas previsões multianuais. Contudo, é muito improvável que a tecnologia seja superior à maioria das outras previsões e possa, assim, "substituir" os modelos de previsão meteorológica, uma vez que não será tão precisa na maioria das aplicações.”

Dado que um sistema de IA treinado funciona bem apenas nas áreas em que recebeu treino, surgem outros problemas. "É necessário assegurar que o estamos a utilizar na gama de valores para a qual foi treinado", diz o Dr. Peuch. "Caso contrário, obteremos resultados espúrios.” Isso implica que, embora o algoritmo possa "entender" os dados que foi concebido para processar, alimentá-lo com dados fora da sua gama de ação poderá produzir resultados inexatos. Contudo, em investigação climática, não são apenas os dados que mudam: o clima também muda. "Quando falamos de alterações climáticas, os algoritmos têm de ser muito elaborados, porque o clima continua a mudar. É necessário ter cuidado para que a IA não esteja a usar apenas o ado para prever o futuro", acrescenta o diretor do CAMS.

A escolha do algoritmo é também difícil quando se trata de problemas ligados às alterações climáticas. "Existem muitas técnicas de IA, e escolher a ótima para prever o clima num menu de IA "à la carte" não é uma questão trivial", explica o Dr. Cohen. "O meu entendimento é que a escolha e a otimização de um algoritmo de IA capaz de produzir mais do que uma ligeira melhoria nas previsões climáticas atuais irão constituir um desafio."

A tecnologia da IA suscita também questões sobre o controlo da forma como tratamos os dados. "Não existem demasiadas preocupações relativas à proteção dos dados no caso das fontes convencionais das observações meteorológicas", afirmou o Dr. Dueben. "Contudo, existem os chamados dados da "Internet das Coisas" (IoT), que são hoje muito pouco usados nas previsões meteorológicas, mas que poderão introduzir melhorias significativas no futuro. Trata-se, por exemplo, das observações a partir de telemóveis e outros produtos de dados obtidos por "crowdsourcing", que suscitariam questões em matéria da privacidade dos dados.” A Dra. Tkachenko vai mais longe, argumentando que, se os dados não processados introduzidos nas fórmulas decisórias forem adulterados, poderão surgir consequências negativas. "Assim, da mesma forma que indicamos os ingredientes nas embalagens de refeições prontas, poderemos também querer saber como a IA foi concebida e quais as fontes de dados que se tornam parte dela", comentou.

Feitas as contas, poderão os cientistas climáticos e ambientais aprender com a utilização da IA pelos outros setores? "Só devemos usar a IA se houver um problema existente que necessita dela", adverte o Dr. Rolnick. "É fácil distrairmo-nos com tecnologia apelativa. Em todas as aplicações, é essencial assegurar que a IA acrescenta algum valor. As aplicações da IA devem ser justificadas pelo seu derradeiro impacto e desenvolvidas em conjunto com as partes interessadas que utilizarão a tecnologia e dela beneficiarão. Uma falácia importante é imaginar que a IA irá resolver problemas com um e de magia. Embora poderosa, a tecnologia é apenas uma de um grande número de ferramentas que podem ser usadas como parte das estratégias de combate às alterações climáticas."

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