A confiança dos consumidores da zona euro atinge o nível mais baixo dos últimos 18 meses devido às tarifas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos. O FMI reduz as previsões de crescimento global e Lagarde apela à flexibilidade das políticas.
As famílias europeias estão cada vez mais ansiosas, suscitando novas preocupações sobre a resiliência da frágil recuperação económica do bloco, à medida que as tensões comerciais globais aumentam.
A última estimativa provisória da Comissão Europeia mostra que a confiança dos consumidores na zona euro caiu 2,2 pontos percentuais em abril, caindo para -16,7, o nível mais baixo desde o fim de 2022.
Foi o segundo declínio mensal consecutivo, com toda a União Europeia também a registar uma queda de 2,1 pontos. Este indicador situa-se agora muito abaixo da média de longo prazo, sinalizando uma deterioração do sentimento, numa altura em que a região enfrenta uma série de choques externos.
A queda da confiança coincide com uma onda de restrições ao comércio mundial que perturba tanto os consumidores como as empresas.
A partir de fevereiro, os Estados Unidos foram impondo diferentes tarifas aos principais parceiros comerciais, culminando com uma aplicação quase universal a 2 de abril. A volatilidade do mercado daí resultante provocou quedas acentuadas nos índices acionistas e um aumento dos rendimentos das obrigações.
FMI reduz previsão de crescimento global, Lagarde quer ver os dados
No World Economic Outlook de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento global para 2024 para 2,8%, contra os anteriores 3,3%, citando a elevada incerteza da política comercial e o enfraquecimento da produtividade.
Os Estados Unidos, que am o peso das consequências das tarifas, devem registar um crescimento de apenas 1,8% em 2025, uma descida acentuada em relação à projeção de 2,7% de janeiro.
"Para os Estados Unidos, as tarifas representam um choque na oferta", afirmou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas. "Isto reduz a produtividade e a produção de forma permanente e aumenta temporariamente a pressão sobre os preços".
Espera-se que o crescimento económico na zona euro permaneça se fixe num moderado 0,8% em 2025, 0,2 pontos percentuais abaixo das estimativas de janeiro. O crescimento deve melhorar ligeiramente para 1,2% em 2026.
Embora cada uma das principais economias da zona euro tenha sofrido uma revisão em baixa em relação às estimativas anteriores, Espanha vai contra esta tendência. Deve registar uma expansão de 2,5% em 2025, uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais em relação às previsões de janeiro.
"Temos de permanecer flexíveis e dependentes dos dados", afirmou a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, numa entrevista à CNBC na terça-feira.
"Ou cortamos ou fazemos uma pausa, mas as nossas decisões vão ser moldadas pelos dados que forem chegando."
Na semana ada, o Banco Central Europeu baixou as taxas de juro em 25 pontos base para 2,25%, a primeira redução em mais de um ano. Os mercados estão a prever mais três reduções das taxas antes do fim do ano, à medida que os decisores políticos tentam reanimar a estagnação da procura sem alimentar a inflação.
Lagarde também sublinhou a necessidade de reduzir as barreiras comerciais internas na Europa para compensar as fricções externas, observando que os direitos aduaneiros estão a ter um efeito prejudicial no crescimento.
Por fim, a presidente do BCE rejeitou o risco de uma recessão na zona euro.
Reações dos mercados
Entretanto, o euro caiu 0,4% na terça-feira para 1,1460 dólares, saindo do pico alcançado no dia anterior. Os mercados de ações em toda a Europa encerraram a sessão com resultados diferentes, com os investidores a avaliar os últimos dados macroeconómicos e atualizações de lucros.
O índice Euro STOXX 50 caiu 0.4%, enquanto o DAX da Alemanha subiu 0.2%. Entre as empresas com melhor desempenho no Euro STOXX 50 contam-se a L'Oréal, a Vivendi e a Volkswagen, que subiram 5,2%, 3,3% e 2,4%, respetivamente. Em sentido descendente, a SAP, a Schneider Electric, a UniCredit e a Airbus caíram entre 3% e 3,5%.
O índice mais alargado Euro STOXX 600 terminou numa baixa de 0,1%. A Puma liderou os ganhos, avançando 6,9%, seguida pela Sartorius com um aumento de 6%. A Stellantis e a Novo Nordisk foram as empresas que mais se atrasaram na sessão, caindo 8,6% e 8,3%, respetivamente.