Hamas revelou ter aceitado proposta de cessar-fogo feita por Steve Witkoff em Doha, mas o enviado norte-americano e um funcionário israelita negam as alegações do grupo armado palestiniano.
Os bombardeamentos de Israel sobre a Faixa de Gaza na madrugada de segunda-feira mataram dezenas de pessoas, segundo as autoridades palestinianas.
Há pelo menos 33 mortos e 50 feridos após o ataque a uma escola escola transformada em abrigo na cidade de Gaza, que terá sido atingida enquanto as pessoas dormiam. A escola albergava centenas de habitantes de Beit Lahia, uma cidade vizinha sob intenso ataque.
Os militares israelitas afirmaram que a ofensiva visava militantes que operavam a partir do abrigo.
Um outro ataque a uma casa na cidade de Jabalia, no norte de Gaza, matou 19 pessoas, de acordo com funcionários do hospital al-Ahli. Israel ainda não comentou o alvo desta ofensiva.
Witkoff desmente acordo de cessar-fogo com Hamas
Segundo fontes ouvidas pela Al Jazeera, o Hamas aceitou na segunda-feira uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo enviado especial dos Estados Unidos (EUA), Steve Witkoff, num encontro em Doha no Catar.
No entanto, um funcionário israelita, citado pela Reuters, já descartou que tenha existido qualquer entendimento. O próprio Witkoff, entretanto, negou as alegações do grupo armado palestiniano, assegurando à Reuters que a proposta em causa não era a que ele apresentou.
O projeto de acordo, conta a Al Jazeera, prevê uma trégua de 60 dias, a libertação de 10 reféns vivos e a devolução dos corpos de outros cativos em troca da libertação de prisioneiros palestinianos, num processo que se desenrolaria em duas fases.
Cinco reféns israelitas seriam libertados no início do acordo, e os outros cinco seriam libertados no 60º dia, avança a Al Jazeera.
Crise de fome generalizada pode estar iminente
Entretanto, a atual guerra entre Israel e o Hamas deixou a maioria dos cerca de 2 milhões de habitantes de Gaza dependente de ajuda humanitária, tendo os peritos internacionais alertado para a iminência de uma crise de fome generalizada no enclave.
Israel é cada vez mais criticado pela sua ofensiva e pressionado a permitir a entrada de ajuda em Gaza, numa altura em que a crise humanitária se agrava.
Após um bloqueio de quase três meses, Israel declarou na sexta-feira que tinha deixado entrar no território mais de 100 camiões com farinha, alimentos, equipamento médico e medicamentos.
No entanto, as Nações Unidas (ONU) afirmam que esta quantidade não é suficiente - especialmente em comparação com a ajuda que entrou na Faixa de Gaza durante o recente cessar-fogo, quando cerca de 600 camiões de ajuda humanitária entraram todos os dias para satisfazer as necessidades básicas.
A ONU alerta também que as restrições militares israelitas dificultam a distribuição da ajuda em Gaza. Consequentemente, pouco chegou às pessoas necessitadas.
Israel estará a seguir um plano apoiado pelos EUA para distribuir ajuda a Gaza. No entanto, o americano que dirigia a Fundação Humanitária de Gaza, que seria o grupo que supervisionaria o programa de ajuda, demitiu-se no domingo.
Jake Wood era o diretor-executivo do grupo, mas disse que se tinha tornado claro que a sua organização não seria autorizada a funcionar de forma independente.
"Não é possível executar este plano e, ao mesmo tempo, respeitar rigorosamente os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência, que não abandonarei", declarou num comunicado.
Wood instou o estado hebraico a alargar o fornecimento de ajuda "através de todos os mecanismos".
Israel descreveu planos para assumir o controlo total da Faixa de Gaza até ao final da sua atual ofensiva militar, com o nome de código, Operação Carruagens de Gideão.
"No final desta campanha, todos os territórios da Faixa de Gaza estarão sob o controlo de Israel", declarou o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
Os militares destruíram vastas áreas de Gaza e deslocaram internamente cerca de 90% da população durante a guerra de 19 meses.
O conflito quando militantes do Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas, na sua maioria civis. O Hamas fez 251 pessoas reféns e mantém atualmente 58, das quais se crê que 24 estão vivas.
A subsequente ofensiva israelita matou, até à data, 53 977 palestinianos, na sua maioria mulheres e crianças, de acordo com o ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas, cujos números não distinguem entre combatentes e civis. O exército israelita afirma que 858 dos seus soldados morreram desde o início da guerra.