No Paquistão, as temperaturas atingiram os 47 graus Celsius este verão, causando a morte de muitas pessoas. Os autores do relatório apelam a que os governos deixem de investir em combustíveis fósseis.
As altas temperaturas sentidas este verão na cidade de Karachi, no Paquistão, deixaram inconscientes inúmeros residentes, tendo algumas acabado por morrer mais tarde, segundo os órgãos de comunicação locais. Na província de Sindh, as temperaturas chegaram a atingir os 47 graus Celsius, o que levou os médicos a tratarem milhares de vítimas de insolação. As autoridades da capital da província exortaram as pessoas a permanecerem em casa, a hidratarem-se e a evitarem deslocações desnecessárias.
De acordo com um de especialistas do Banco Mundial sobre as alterações climáticas, o Paquistão está a aquecer muito mais rapidamente do que a média global, com um aumento potencial de 1,3 a 4,9 graus Celsius até à década de 2090. E um novo relatório publicado agora, assinado por 120 peritos mundiais, revela que as ameaças para a saúde decorrentes das alterações climáticas atingiram “níveis recorde”.
“Com os nossos dados, com as nossas provas, o que estamos a ver é que as alterações climáticas são um problema de saúde fundamental... Estamos a ver que a morte de um grupo etário muito vulnerável de pessoas com mais de 65 anos, devido à exposição ao calor extremo, aumentou”, disse a diretora executiva do Lancet Countdown da University College London, Marina Romanello.
“Estamos também a constatar que, em resultado da exposição ao calor extremo, a capacidade das pessoas trabalharem ao ar livre é cada vez mais limitada. E a saúde dos trabalhadores está a ser posta em risco”, acrescentou.
O oitavo relatório anual do indicador Lancet Countdown revelou que as mortes relacionadas com o calor continuam a aumentar, e que poderão vir a ultraar as mortes relacionadas com o frio. Foi ainda possível concluir que, em 2023, as pessoas foram expostas, em média, a mais 50 dias de temperaturas ameaçadoras para a saúde.
O relatório concluiu ainda que ondas de calor e secas frequentes resultaram em mais de 151 milhões de pessoas com insegurança alimentar moderada a grave em 124 países em 2022.
“Quase 50% da área terrestre global é atualmente afetada por secas extremas. E já vimos o que isso significa em termos de ameaças à saúde das pessoas. Em casos como o da Somália, no Corno de África, a situação de fome aguda foi agravada pela seca. Na América do Sul, de onde sou oriunda, uma seca recorde nos últimos dois anos provocou também impactos devastadores no nosso sistema agrícola. Também isolou comunidades na Amazónia que dependem dos rios para se deslocarem. Por isso, as implicações de tudo isto para a saúde são enormes”, afirmou Romanello.
Os autores do relatório apelam aos governos para que deixem de investir em combustíveis fósseis e redirecionem o dinheiro para energias renováveis limpas, antes da cimeira global sobre o clima COP29, que terá lugar em Baku, no Azerbaijão, em novembro deste ano.