Os chefes de várias nações criticaram a guerra em curso entre Israel e o Hamas, numa altura em que se teme uma guerra regional no Médio Oriente, com a escalada do conflito entre o Hezbollah e as forças armadas israelitas.
Na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, os líderes mundiais focaram o discurso nos conflitos que atualmente assolam o planeta, nomedamente Ucrânia e a situação no Médio Oriente. Em Nova Iorque, foram vários os que apelaram a um cessar-fogo imediato em Gaza numa altura em que as tensões na regão estão em níveis máximos, após os ataques isrelitas no Líbano que devastara partes do país, matando mais de 560 pessoas em dois dias.
No seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni criticou a guerra entre Israel e o Hamas. A líder italiana reforçou que Israel tem direito a proteger as suas fronteiras mas é também sua responsabilidade proteger civis. “Ao mesmo tempo, pedimos a Israel que respeite o direito internacional, protegendo as populações civis”, afirmou.
Meloni reconheceu também que o povo palestiniano tem direito ao seu Estado: “Precisamos que os palestinianos o confiem a uma liderança inspirada no diálogo, na estabilização do Médio Oriente e na autonomia”.
No final do discurso, Meloni exigiu um cessar-fogo entre Israel e Gaza e a libertação de todos os reféns do ataque de 7 de outubro.
A primeira-ministra italiana não foi a única a mencionar o assunto no encontro de líderes mundiais.
O presidente do Irão, Masoud Pezehskian, apelou à comunidade internacional para “conseguir um cessar-fogo permanente em Gaza e pôr fim à barbárie desesperada de Israel no Líbano”.
“O terrorismo de Estado israelita, naturalmente cego, dos últimos dias no Líbano, seguido de uma agressão maciça com milhares de vítimas, não pode ficar sem resposta”, afirmou.
“A responsabilidade por todas as consequências caberá aos governos que frustraram todos os esforços globais para pôr fim a esta terrível catástrofe e que têm a audácia de se intitularem 'campeões dos direitos humanos'.”
A guerra de quase um ano de Israel em Gaza já matou mais de 41.000 palestinianos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
“A guerra em grande escala não é do interesse de ninguém"
Também o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mencionou a tensão crescente no Médio Oriente, afirmando que uma solução diplomática "ainda é possível" e que uma escalada do conflito em Gaza para algo regional, "não é do interesse de ninguém".
“Desde 7 de outubro, estamos determinados a evitar uma guerra mais vasta que envolva toda a região. O Hezbollah lançou rockets contra Israel sem provocação durante o ataque de 7 de outubro. Quase um ano depois, dois milhões de pessoas de cada lado da fronteira entre Israel e o Líbano continuam deslocadas. Uma guerra em grande escala não é do interesse de ninguém" afirmou o presidente norte-americano, neste que foi o último discurso na ONU enquantro líder dos EUA.
"Mesmo com a escalada da situação, ainda é possível encontrar uma solução diplomática. De facto, esta continua a ser a única via para uma segurança duradoura que permita aos residentes de ambos os países regressar às suas casas na fronteira em segurança. E é para isso que estamos a trabalhar incansavelmente”, reforçou.
Guterres: "Gaza é um pesadelo sem fim que ameaça tomar toda a região"
No discurso de abertura do evento, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou aquilo que apelidou de "era da impunidade" em várias zonas do globo.
António Guterres classificou a situação em Gaza como “um pesadelo sem fim que ameaça levar consigo toda a região”, com o português a dizer que que a escalada de ataques aéreos na fronteira entre Israel e o Líbano colocou o Líbano “à beira do abismo".
"Entretanto, Gaza é um pesadelo sem fim que ameaça tomar toda a região. Basta olhar para o Líbano. Todos nós deveríamos estar alarmados com a escalada. O Líbano está à beira do abismo. O povo libanês, o povo israelita e os povos do mundo não podem permitir que o Líbano se transforme noutra Gaza”, afirmou o secretário-geral.
António Guterres disse ainda que "nada pode justificar os atos de terror cometidos a 7 de outubro", como a tomada de reféns israelitas pelo Hamas. Ainda assim, condenou a dimensão da resposta israelita, num exercício de proporcionalidade que segundo António Guterres "não tem comperação".
"A velocidade e a escala da matança e da destruição em Gaza não têm comparação com nada nos meus anos como Secretário-Geral. Mais de 200 dos nossos funcionários foram mortos, muitos deles com as suas famílias. E, no entanto, as mulheres e os homens das Nações Unidas continuam a prestar ajuda humanitária" afirmou.
Guterres reforçou os apelos de cessar-fogo na região e a necessidade urgente de um acordo que permita a libertação dos reféns. "A comunidade internacional deve mobilizar-se para um cessar-fogo imediato. A libertação imediata e incondicional dos reféns e o início de qualquer processo reversível para uma solução de dois Estados”.