O clérigo que virou político chegou à presidência do Irão em 2021, numa eleição pouco transparente, e ficará conhecido como um dos homens de linha dura que moldaram a história recente do país.
Morreu o chamado "carniceiro de Teerão": o presidente iraniano Ebrahim Raisi e outros dirigentes de topo, como o ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Hossein Amir Abdoulahia, morreram num acidente de helicóptero no domingo.
Visto como o preferido do Ayatollah Ali Khamenei para ser o seu sucessor, Raisi, de 63 anos, será lembrado como um dos homens de linha dura do Irão que moldaram a história recente do país.
Enquanto procurador-adjunto do Tribunal Revolucionário de Teerão, em 1988, foi uma peça-chave nas execuções em massa de prisioneiros políticos, a maioria filiados nos Mujahedin do Povo (MEK), mas também noutros grupos de esquerda - daí ser apelidado de "carniceiro".
Já na política externa, o clérigo que virou político defendeu uma posição dura nas negociações do programa nuclear com o Ocidente, à medida que o Irão foi intensificando o enriquecimento de urânio. Nos últimos meses, já em plena guerra na Faixa de Gaza, decidiu lançar um ataque com drones e mísseis contra Israel e apoiar grupos como o Hezbollah e os Houthis.
A morte de Raisi ocorre num momento de dissidências internas no Irão, mas também de grandes tensões com a comunidade internacional.
Programa nuclear
Raisi chegou à presidência em 2021 e assumiu uma posição dura nas negociações do programa nuclear, numa tentativa de conseguir um alívio nas sanções aplicadas pelos EUA.
O acordo nuclear assinado pelo ex-presidente Hassan Rouhani com potências mundiais revelou-se um fracasso depois de o então Presidente Donald Trump ter retirado os Estados Unidos unilateralmente do acordo, iniciando anos de novas tensões entre Teerão e Washington.
Em 2018, depois de renegar o acordo com Teerão, Trump restabeleceu duras sanções ao Irão, levando o país do Médio Oriente a violar progressivamente os limites nucleares previstos.
Os radicais do Irão foram ainda encorajados pela caótica retirada militar dos EUA do vizinho Afeganistão e pelas mudanças políticas em Washington.
Raisi, que tinha perdido uma eleição presidencial para o relativamente moderado Hassan Rouhani em 2017, acabou por chegar ao poder quatro anos depois numa votação cuidadosamente controlada pelo líder supremo Ali Khamenei em que os candidatos da oposição foram reprimidos.
Raisi venceu as presidenciais com quase 62% dos votos, nas eleições com a maior abstenção de sempre no Irão.
Apesar de ter anunciado o retomar das negociações sobre o programa nuclear, a istração de Raisi dificultou as inspeções internacionais, em parte devido a suspeitas de que Israel tinha em marcha uma campanha de sabotagem ao programa nuclear iraniano. As negociações em Viena para restaurar o acordo ficaram num ime logo nos primeiros meses do governo de Raisi.
"As sanções são a nova forma de guerra dos EUA contra as nações do mundo", denunciou Raisi nas Nações Unidas em setembro de 2021.
Sob o comando de Raisi, o Irão intensificou o enriquecimento de urânio, após o colapso do acordo nuclear internacional, aumentando ainda mais as tensões com o Ocidente. Para tal contribuiu ainda o facto de Teerão fornecer drones Shahed à Rússia, alimentando a guerra na Ucrânia.
Meses de protestos e contestação interna
Foi durante a presidência de Raisi que morreu Mahsa Amini, uma mulher que foi detida pelas autoridades iranianas por alegadamente não estar a usar o hijab de forma adequada. Seguiram-se meses de manifestações que resultaram na morte de mais de 500 pessoas e cerca de 22 mil detenções, recorda a AP.
Em março, um de investigação das Nações Unidas chegou à conclusão de que o Irão fora responsável pela "violência física" que levou à morte de Mahsa Amini.
Os meses resultantes de protestos em todo o país apresentaram um dos maiores desafios para os governantes do Irão desde a Revolução Islâmica de 1979.