{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/07/20/entrevista-jorge-carlos-fonseca-presidente-de-cabo-verde" }, "headline": "Entrevista: Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde", "description": "O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, explicou o qu\u00e3o dif\u00edcil foi alcan\u00e7ar um consenso pol\u00edtico entre os pa\u00edses da LP, pertencentes a diferentes espa\u00e7os regionais. O legado da presid\u00eancia cessante da Comunidade dos Pa\u00edses de L\u00edngua Portuguesa, em entrevista exclusiva \u00e0 Euronews.", "articleBody": "O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca , recebeu a Euronews em Luanda, durante a cimeira na qual transmitiu a lideran\u00e7a da Comunidade de Estados de L\u00edngua Portuguesa (LP) ao hom\u00f3logo angolano, Jo\u00e3o Louren\u00e7o . Um testemunho para a hist\u00f3ria, na v\u00e9spera da da Conven\u00e7\u00e3o da Mobilidade que, desejam os seus signat\u00e1rios, transforme definitivamente a rela\u00e7\u00e3o entre os povos lus\u00f3fonos. Neusa e Silva, Euronews: Bem-vindo \u00e0 Euronews. Qual \u00e9 o maior desafio deste mandato extraordin\u00e1rio de 3 anos, devido \u00e0 pandemia? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: O maior desafio ter\u00e1 sido o de conce\u00e7\u00e3o, negocia\u00e7\u00e3o e consensualiza\u00e7\u00e3o de uma conven\u00e7\u00e3o sobre a mobilidade da LP. Um desafio que a nossa presid\u00eancia abra\u00e7ou desde o seu in\u00edcio, debaixo do lema: \u201cAs Pessoas, a Cultura, os Oceanos\u201d. Essa conven\u00e7\u00e3o ser\u00e1 um instrumento crucial para que, com vontade pol\u00edtica, com determina\u00e7\u00e3o, possa dar um grande salto em frente na LP transformando-a, progressivamente, numa comunidade de pessoas, numa comunidade de povos, numa comunidade de cidad\u00e3os. Neusa e Silva, Euronews: Cabo Verde conduziu a maior parte dos trabalhos sobre este acordo de mobilidade. Quais s\u00e3o os termos gerais? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: Mais circula\u00e7\u00e3o, mais livre circula\u00e7\u00e3o dos cidad\u00e3os de um dos Estados no espa\u00e7o dos outros Estados atrav\u00e9s, digamos, de uma esp\u00e9cie de geometria vari\u00e1vel. A conven\u00e7\u00e3o \u00e9 de tal modo flex\u00edvel que permite, por exemplo, que Cabo Verde, ao ratificar a conven\u00e7\u00e3o, aceite livre circula\u00e7\u00e3o em Cabo Verde de cidad\u00e3os dos oitos membros restantes da LP, portanto sem vistos, possibilidade aberta a todos os cidad\u00e3os desses oito membros, sejam eles estudantes, investigadores, empres\u00e1rios, advogados, universit\u00e1rios, artistas, desportistas. Mas permite que outros, tendo em conta as suas condi\u00e7\u00f5es, por exemplo, o pa\u00eds B, que aceite livre circula\u00e7\u00e3o, por exemplo, para seis dos restantes membros, e em rela\u00e7\u00e3o aos outros tr\u00eas circula\u00e7\u00e3o [apenas] para certas categorias de pessoas, por exemplo, estudantes, desportistas, agentes culturais, empres\u00e1rios. Portanto, em modalidades, uma esp\u00e9cie de um card\u00e1pio, de um menu, em que cada um escolhe a medida da sua ades\u00e3o \u00e0 mobilidade. Neusa e Silva, Euronews: Houve alguma dificuldade em conformar estas normas com Brasil e Portugal? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: N\u00e3o vou nomear pa\u00edses, o que lhe posso dizer \u00e9 que as negocia\u00e7\u00f5es n\u00e3o foram f\u00e1ceis. N\u00f3s na presid\u00eancia \u00e9 que tivemos a iniciativa. Tivemos o apoio de outros pa\u00edses, um apoio mais ou menos acentuado, houve algumas reservas, dificuldades postas por alguns dos pa\u00edses membros e, portanto, n\u00f3s fomos adaptando o texto da conven\u00e7\u00e3o de forma que o objetivo que n\u00f3s quer\u00edamos fosse alcan\u00e7ado: que politicamente todos os estados assumissem a conven\u00e7\u00e3o. N\u00e3o foi um processo isento de dificuldades mas fomos adaptando as reservas, as d\u00favidas, as dificuldades que alguns dos pa\u00edses foram pondo, de acordo com exig\u00eancias, por vezes, da sua concreta inser\u00e7\u00e3o regional, isto \u00e9, Portugal est\u00e1 na Uni\u00e3o Europeia, o Brasil est\u00e1 no Mercosul, n\u00f3s estamos na CEDEAO, outros est\u00e3o na SADC, e, portanto, h\u00e1 compromissos e limita\u00e7\u00f5es de inser\u00e7\u00e3o regional. Conseguiu-se um quadro que foi capaz de ser aceite por todos. Neusa e Silva, Euronews: N\u00e3o teme que, com este acordo e com a livre circula\u00e7\u00e3o, haja fuga de compet\u00eancias para outros pa\u00edses? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: N\u00f3s at\u00e9 somos uma comunidade fundada em princ\u00edpios de respeito pelos Direitos Fundamentais, pela Democracia, de economias abertas e, portanto, a competi\u00e7\u00e3o dentro de certas regras \u00e9 sempre boa para qualquer um dos nossos pa\u00edses. Isso at\u00e9 estimula que, internamente cada pa\u00eds crie as condi\u00e7\u00f5es para, sendo necess\u00e1rio, sendo desejado, fixe as suas compet\u00eancias e os seus c\u00e9rebros no pr\u00f3prio pa\u00eds. Mas tamb\u00e9m, repare, eu falo de Cabo Verde, Cabo Verde \u00e9 um pa\u00eds aberto n\u00f3s pretendemos \u00e9 ter um pa\u00eds desenvolvido, com uma educa\u00e7\u00e3o muito exigente e qualificada, com grandes quadros que podem trabalhar em Cabo Verde mas que possam tamb\u00e9m competir com quadros em qualquer parte do mundo. Neusa e Silva, Euronews: O Brasil \u00e9 visto como o gigante adormecido dentro da LP? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: Eu acabei h\u00e1 pouco de ter um encontro, recebi o sr. vice-presidente da rep\u00fablica, o general Hamilton Mour\u00e3o, tivemos uma conversa muito cordial, muito aberta, e ele transmitiu-me a opini\u00e3o das autoridades brasileiras de apego, de determina\u00e7\u00e3o, para o avan\u00e7o da LP, ele mesmo um entusiasta da LP. E posso-lhe dizer que, um outro sinal que n\u00f3s tivemos, o Brasil foi um dos pa\u00edses que apoiou durante as negocia\u00e7\u00f5es do acordo de mobilidade. Tivemos sempre o apoio claro, o apoio sempre cr\u00edtico, condicionado, digamos, a propostas de altera\u00e7\u00e3o, mas o Brasil apoiou sempre esta iniciativa da presid\u00eancia cabo-verdiana do acordo da mobilidade. Agora, naturalmente, sendo o pa\u00eds que \u00e9, com a dimens\u00e3o que tem, com o potencial de desenvolvimento que tem, n\u00f3s desejamos que o Brasil cada vez mais se envolva, digamos, na potencia\u00e7\u00e3o de todas as condi\u00e7\u00f5es para que a comunidade seja cada vez mais uma comunidade prestigiada, cred\u00edvel, no plano internacional e que propicie condi\u00e7\u00f5es de desenvolvimento econ\u00f3mico, social em todos os pa\u00edses da nossa comunidade. Neusa e Silva, Euronews: Relativamente a Mo\u00e7ambique e a Cabo Delgado, Cabo Verde assiste a uma situa\u00e7\u00e3o semelhante em pa\u00edses vizinhos da \u00c1frica Ocidental... Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: Infelizmente, Cabo Verde faz parte de uma sub-regi\u00e3o africana com muitos problemas que geram instabilidade pol\u00edtica, institucional e social. Basta vermos que na nossa regi\u00e3o temos atividades do Boko Harem, na Nig\u00e9ria, mas tamb\u00e9m temos problemas de atos terroristas no Mali, at\u00e9 na C\u00f4te d\u2019Ivoire, no Burkina Faso. A Uni\u00e3o Africana nomeadamente e a pr\u00f3pria CEDEAO t\u00eam algum capital de experi\u00eancia que pode transmitir, se necess\u00e1rio e se for solicitado, digamos a outros pa\u00edses irm\u00e3os membros da comunidade, no combate a fen\u00f3menos como esse, que s\u00e3o fen\u00f3menos de preven\u00e7\u00e3o e de combate dif\u00edcil e complexo. No caso concreto de Mo\u00e7ambique tudo depende, em \u00faltima an\u00e1lise do que entendem as autoridades mo\u00e7ambicanas, de que tipo de apoio solicitam. Esse apoio pode ser concedido pelas organiza\u00e7\u00f5es como um todo, ou tamb\u00e9m, eu estou a falar por exemplo da LP que tem uma natureza diferente do que tem a Uni\u00e3o Africana, a CEDEAO ou as Na\u00e7\u00f5es Unidas, \u00e9 mais uma organiza\u00e7\u00e3o intergovernamental, com outro tipo de perfil, de natureza, mas v\u00ea-se por exemplo pa\u00edses membros da LP que diretamente e unilateralmente apoiam Mo\u00e7ambique, ou podem faz\u00ea-lo atrav\u00e9s da sua inser\u00e7\u00e3o noutros espa\u00e7os regionais, por exemplo atrav\u00e9s da Uni\u00e3o Europeia, isso pode ser feito tamb\u00e9m pela via da Uni\u00e3o Africana. Neusa e Silva, Euronews: Qual foi o impacto da pandemia em Cabo Verde e na organiza\u00e7\u00e3o? Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde: Cabo Verde ter\u00e1 sido, possivelmente, dos pa\u00edses, pelo menos africanos, que mais sofreram com a pandemia porque somos um pa\u00eds pequeno, um pa\u00eds arquipel\u00e1gico, um pa\u00eds com poucos recursos mas sobretudo n\u00f3s somos uma economia de servi\u00e7os e uma economia sobretudo fundada numa atividade que \u00e9 o turismo. O turismo representa perto de 25% do PIB de Cabo Verde e digamos, com o encerramento das fronteiras, com o condicionamento das fronteiras dos voos, os fluxos tur\u00edsticos est\u00e3o parados praticamente desde fevereiro, mar\u00e7o de 2020. 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Entrevista: Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde

Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca
Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca Direitos de autor AMPE ROGÉRIO/ 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Direitos de autor AMPE ROGÉRIO/ 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
De Neusa Silva & João Peseiro Monteiro
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O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, explicou o quão difícil foi alcançar um consenso político entre os países da LP, pertencentes a diferentes espaços regionais. O legado da presidência cessante da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em entrevista exclusiva à Euronews.

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O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, recebeu a Euronews em Luanda, durante a cimeira na qual transmitiu a liderança da Comunidade de Estados de Língua Portuguesa (LP) ao homólogo angolano, João Lourenço. Um testemunho para a história, na véspera da da Convenção da Mobilidade que, desejam os seus signatários, transforme definitivamente a relação entre os povos lusófonos.

Neusa e Silva, Euronews:

Bem-vindo à Euronews. Qual é o maior desafio deste mandato extraordinário de 3 anos, devido à pandemia?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

O maior desafio terá sido o de conceção, negociação e consensualização de uma convenção sobre a mobilidade da LP. Um desafio que a nossa presidência abraçou desde o seu início, debaixo do lema: “As Pessoas, a Cultura, os Oceanos”.

Essa convenção será um instrumento crucial para que, com vontade política, com determinação, possa dar um grande salto em frente na LP transformando-a, progressivamente, numa comunidade de pessoas, numa comunidade de povos, numa comunidade de cidadãos.

Neusa e Silva, Euronews:

Cabo Verde conduziu a maior parte dos trabalhos sobre este acordo de mobilidade. Quais são os termos gerais?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Mais circulação, mais livre circulação dos cidadãos de um dos Estados no espaço dos outros Estados através, digamos, de uma espécie de geometria variável.

A convenção é de tal modo flexível que permite, por exemplo, que Cabo Verde, ao ratificar a convenção, aceite livre circulação em Cabo Verde de cidadãos dos oitos membros restantes da LP, portanto sem vistos, possibilidade aberta a todos os cidadãos desses oito membros, sejam eles estudantes, investigadores, empresários, advogados, universitários, artistas, desportistas.

Mas permite que outros, tendo em conta as suas condições, por exemplo, o país B, que aceite livre circulação, por exemplo, para seis dos restantes membros, e em relação aos outros três circulação [apenas] para certas categorias de pessoas, por exemplo, estudantes, desportistas, agentes culturais, empresários.

Portanto, em modalidades, uma espécie de um cardápio, de um menu, em que cada um escolhe a medida da sua adesão à mobilidade.

Neusa e Silva, Euronews:

Houve alguma dificuldade em conformar estas normas com Brasil e Portugal?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Não vou nomear países, o que lhe posso dizer é que as negociações não foram fáceis.

Nós na presidência é que tivemos a iniciativa. Tivemos o apoio de outros países, um apoio mais ou menos acentuado, houve algumas reservas, dificuldades postas por alguns dos países membros e, portanto, nós fomos adaptando o texto da convenção de forma que o objetivo que nós queríamos fosse alcançado: que politicamente todos os estados assumissem a convenção.

Não foi um processo isento de dificuldades mas fomos adaptando as reservas, as dúvidas, as dificuldades que alguns dos países foram pondo, de acordo com exigências, por vezes, da sua concreta inserção regional, isto é, Portugal está na União Europeia, o Brasil está no Mercosul, nós estamos na CEDEAO, outros estão na SADC, e, portanto, há compromissos e limitações de inserção regional. Conseguiu-se um quadro que foi capaz de ser aceite por todos.

Neusa e Silva, Euronews:

Não teme que, com este acordo e com a livre circulação, haja fuga de competências para outros países?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Nós até somos uma comunidade fundada em princípios de respeito pelos Direitos Fundamentais, pela Democracia, de economias abertas e, portanto, a competição dentro de certas regras é sempre boa para qualquer um dos nossos países. Isso até estimula que, internamente cada país crie as condições para, sendo necessário, sendo desejado, fixe as suas competências e os seus cérebros no próprio país.

Mas também, repare, eu falo de Cabo Verde, Cabo Verde é um país aberto nós pretendemos é ter um país desenvolvido, com uma educação muito exigente e qualificada, com grandes quadros que podem trabalhar em Cabo Verde mas que possam também competir com quadros em qualquer parte do mundo.

Neusa e Silva, Euronews:

O Brasil é visto como o gigante adormecido dentro da LP?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Eu acabei há pouco de ter um encontro, recebi o sr. vice-presidente da república, o general Hamilton Mourão, tivemos uma conversa muito cordial, muito aberta, e ele transmitiu-me a opinião das autoridades brasileiras de apego, de determinação, para o avanço da LP, ele mesmo um entusiasta da LP.

E posso-lhe dizer que, um outro sinal que nós tivemos, o Brasil foi um dos países que apoiou durante as negociações do acordo de mobilidade. Tivemos sempre o apoio claro, o apoio sempre crítico, condicionado, digamos, a propostas de alteração, mas o Brasil apoiou sempre esta iniciativa da presidência cabo-verdiana do acordo da mobilidade.

Agora, naturalmente, sendo o país que é, com a dimensão que tem, com o potencial de desenvolvimento que tem, nós desejamos que o Brasil cada vez mais se envolva, digamos, na potenciação de todas as condições para que a comunidade seja cada vez mais uma comunidade prestigiada, credível, no plano internacional e que propicie condições de desenvolvimento económico, social em todos os países da nossa comunidade.

Neusa e Silva, Euronews:

Relativamente a Moçambique e a Cabo Delgado, Cabo Verde assiste a uma situação semelhante em países vizinhos da África Ocidental...

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Infelizmente, Cabo Verde faz parte de uma sub-região africana com muitos problemas que geram instabilidade política, institucional e social. Basta vermos que na nossa região temos atividades do Boko Harem, na Nigéria, mas também temos problemas de atos terroristas no Mali, até na Côte d’Ivoire, no Burkina Faso.

A União Africana nomeadamente e a própria CEDEAO têm algum capital de experiência que pode transmitir, se necessário e se for solicitado, digamos a outros países irmãos membros da comunidade, no combate a fenómenos como esse, que são fenómenos de prevenção e de combate difícil e complexo.

No caso concreto de Moçambique tudo depende, em última análise do que entendem as autoridades moçambicanas, de que tipo de apoio solicitam. Esse apoio pode ser concedido pelas organizações como um todo, ou também, eu estou a falar por exemplo da LP que tem uma natureza diferente do que tem a União Africana, a CEDEAO ou as Nações Unidas, é mais uma organização intergovernamental, com outro tipo de perfil, de natureza, mas vê-se por exemplo países membros da LP que diretamente e unilateralmente apoiam Moçambique, ou podem fazê-lo através da sua inserção noutros espaços regionais, por exemplo através da União Europeia, isso pode ser feito também pela via da União Africana.

Neusa e Silva, Euronews:

Qual foi o impacto da pandemia em Cabo Verde e na organização?

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde:

Cabo Verde terá sido, possivelmente, dos países, pelo menos africanos, que mais sofreram com a pandemia porque somos um país pequeno, um país arquipelágico, um país com poucos recursos mas sobretudo nós somos uma economia de serviços e uma economia sobretudo fundada numa atividade que é o turismo. O turismo representa perto de 25% do PIB de Cabo Verde e digamos, com o encerramento das fronteiras, com o condicionamento das fronteiras dos voos, os fluxos turísticos estão parados praticamente desde fevereiro, março de 2020.

Estamos a concentrar-nos no combate à pandemia com particular atenção nas ilhas turísticas, Sal e Boavista, de forma que ainda este ano possamos retomar atividade turística porque isto é que gera retomada da vida das empresas, muitas delas em condições muito difíceis e diria, concluindo, que o combate à pandemia tem exigido um esforço titânico do governo em Cabo Verde, do ponto de vista orçamental, do ponto de vista do acréscimo da dívida pública e esperamos que venham novos tempos, sabendo que a pandemia ainda está por desaparecer.

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