{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/05/26/presidente-da-uniao-africana-dececionado-com-a-cimeira-de-paris" }, "headline": "Presidente da Uni\u00e3o Africana \u0022dececionado com a Cimeira de Paris\u0022", "description": "F\u00e9lix Tshisekedi confessa ter sa\u00eddo \u0022um pouco dececionado\u0022 da cimeira que reuniu, na capital sa, os l\u00edderes africanos, a Uni\u00e3o Europeia e o FMI, em busca de uma solu\u00e7\u00e3o para financiar as d\u00edvidas dos pa\u00edses africanos.", "articleBody": "Pela primeira vez em 25 anos, as economias africanas entraram em recess\u00e3o, ap\u00f3s terem sido gravemente abaladas pela pandemia de covid-19. O Fundo Monet\u00e1rio Internacional (FMI) estima que s\u00e3o necess\u00e1rios 300 mil milh\u00f5es de d\u00f3lares para que o continente africano saia desta crise econ\u00f3mica. F\u00e9lix Tshisekedi, presidente da Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo e atual Presidente da Uni\u00e3o Africana, falou com a Euronews sobre as crises que afetam o desenvolvimento do continente, ap\u00f3s a Cimeira de Paris. Fran\u00e7ois Chignac, Euronews: Cerca de 20 Chefes de Estado africanos e delega\u00e7\u00f5es internacionais estiveram em Paris, depois de o Presidente Emmanuel Macron os ter convidado. Ser\u00e3o as conclus\u00f5es desta cimeira, de certa forma, o ponto de partida para a recupera\u00e7\u00e3o das economias africanas? F\u00e9lix Tshisekedi: Antes de mais, gostaria de agradecer ao presidente franc\u00eas, Emmanuel Macron, por esta iniciativa corajosa e sem precedentes. Porqu\u00ea in\u00e9dita? Porque, finalmente, foi capaz de envolver os africanos na reflex\u00e3o sobre o pr\u00f3prio futuro. Porque, at\u00e9 agora, as decis\u00f5es eram tomadas na aus\u00eancia dos africanos e s\u00f3 depois enviadas para n\u00f3s. Aqui, estamos a pilotar este processo em conjunto. Gosto do termo que o presidente Macron utilizou, o \u0022 New Deal \u0022. Sei que a tarefa vai ser dif\u00edcil. Mas estou confiante, porque o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que \u00e9 tamb\u00e9m um africanista empenhado, participou na confer\u00eancia. Estabelecemos uma s\u00e9rie de objetivos, at\u00e9 \u00e0 primeira metade de 2022, durante as elei\u00e7\u00f5es presidenciais sas, onde vamos fazer o ponto da situa\u00e7\u00e3o, durante uma cimeira Uni\u00e3o Europeia-Uni\u00e3o Africana. Depois talvez possamos ent\u00e3o dizer-lhe se o que foi feito em Paris estava a ir na dire\u00e7\u00e3o certa. F.C.: As conclus\u00f5es da Cimeira de Paris foram centradas na Sa\u00fade. Em que ponto estamos realmente, em termos de salvamento das economias africanas? F.T.: A grande novidade \u00e9 a decis\u00e3o sobre os direitos de saque especiais, avaliados em 650 mil milh\u00f5es de d\u00f3lares. Fic\u00e1mos um pouco dececionados com a Cimeira de Paris, porque nesta fase s\u00f3 temos 33 mil milh\u00f5es atribu\u00eddos a \u00c1frica, o que \u00e9 uma quantia muito pequena para 54 pa\u00edses. O objetivo desta confer\u00eancia era, entre outras coisas, angariar at\u00e9 100 mil milh\u00f5es. E depois das nossas discuss\u00f5es vimos que era poss\u00edvel ir mesmo al\u00e9m disso. A outra not\u00edcia \u00e9 que a alavanca pela qual estes direitos de saque v\u00e3o ser usados \u00e9 o Banco Africano de Desenvolvimento, que conhece muito bem os pa\u00edses africanos e os desafios que eles enfrentam. E isto seria uma contribui\u00e7\u00e3o consider\u00e1vel para a anula\u00e7\u00e3o de uma parte das d\u00edvidas que estes pa\u00edses africanos t\u00eam. F.C.: Voltemos \u00e0 crise sanit\u00e1ria. Falou-se muito de vacinas. O que pensa sobre as conclus\u00f5es desta Cimeira? F.T.: \u00c9 verdade que n\u00e3o vamos confinar todos os africanos em \u00c1frica. 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Estou a pensar na decis\u00e3o de onze pa\u00edses europeus de suspender a vacina da AstraZeneca, que deu um impulso \u00e0queles que defendem a opini\u00e3o de que esta vacina \u00e9 perigosa para os africanos. F.C.: Ap\u00f3s a crise sanit\u00e1ria e econ\u00f3mica, falemos da crise dos migrantes. Muitos migrantes chegaram recentemente ao territ\u00f3rio espanhol. Enquanto presidente da Uni\u00e3o Africana, est\u00e1 em o com a Uni\u00e3o Europeia? F.T.: Infelizmente ainda n\u00e3o, porque a resposta da Europa \u00e9 radical e consiste em fechar as portas. Acredito que a resposta da Europa deveria ser falar com os africanos. E, antes de mais, ver de que pa\u00edses prov\u00e9m a maioria destes migrantes e ver como pode, trabalhando em conjunto com esses pa\u00edses, evitar estas migra\u00e7\u00f5es, reter estes jovens que est\u00e3o de partida. Porque a verdadeira raz\u00e3o de tudo isto \u00e9 o desespero. Os jovens africanos acreditam que a Europa \u00e9 um Eldorado e que, ao deixarem o pa\u00eds, podem encontrar a felicidade na Europa. Mas a Europa tamb\u00e9m tem os seus problemas. \u00c9 muito dif\u00edcil para estes jovens encontrar ali um lugar. Temos, por um lado, de lhes explicar isto, mas, por outro, temos de lhes fornecer solu\u00e7\u00f5es para os seus problemas di\u00e1rios. O empreendedorismo jovem \u00e9 algo que poderia ser eficaz. F.C.: Falemos de Mo\u00e7ambique, onde existe uma s\u00e9ria amea\u00e7a jihadista. Como se lida com esta amea\u00e7a? F.T.: O problema em Mo\u00e7ambique \u00e9 semelhante ao do leste do meu pa\u00eds. S\u00e3o grupos terroristas isl\u00e2micos que juraram fidelidade ao Daesh e n\u00e3o se trata de um problema que afete apenas um pa\u00eds. E o risco \u00e9 que este cancro se propague a toda a regi\u00e3o, a todo o continente. Por isso, temos de combat\u00ea-lo agora. N\u00e3o podemos esperar. O que se est\u00e1 a ar em Mo\u00e7ambique atrai realmente a nossa aten\u00e7\u00e3o, porque \u00e9 exatamente o mesmo fen\u00f3meno que estamos a viver no meu pa\u00eds. O que \u00e9 necess\u00e1rio fazer, tendo em conta que estas regi\u00f5es s\u00e3o potencialmente ricas em minerais e outros recursos, \u00e9 cortar o o a esse abastecimento, porque \u00e9 isso que alimenta as suas atividades. Por isso, temos de trabalhar de forma r\u00e1pida, eficiente e em conjunto. F.C.: H\u00e1 alguns meses, a comunidade internacional e a Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo sofreram uma pesada perda com a morte do embaixador italiano. Em que ponto est\u00e3o as investiga\u00e7\u00f5es a esta morte? F.T.: As investiga\u00e7\u00f5es est\u00e3o em curso. A dada altura, tivemos alguns suspeitos que foram detidos. Penso que est\u00e3o a ser interrogados, porque al\u00e9m destes suspeitos, existe toda uma organiza\u00e7\u00e3o. S\u00e3o criminosos, organizados em bandos e que, com certeza, t\u00eam mentores. Portanto, penso que \u00e9 isso que temos de tentar localizar. Temos a colabora\u00e7\u00e3o dos servi\u00e7os italianos e estamos a trabalhar arduamente nesse sentido. \u00c9 terr\u00edvel. Fiquei muito triste com a sua morte e isso motiva-me ainda mais a procurar os suspeitos. F.C.: Enquanto presidente da Uni\u00e3o Africana, disse, h\u00e1 alguns dias, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 transi\u00e7\u00e3o pol\u00edtica no Chade, que essa transi\u00e7\u00e3o tinha realmente de ser resolvida, a fim de manter a estabilidade no pa\u00eds. F.T.: A solu\u00e7\u00e3o encontrada - que n\u00e3o veio de n\u00f3s, mas dos pr\u00f3prios chadianos - foi uma solu\u00e7\u00e3o militar. Para mim, a partir do momento em que haja estabilidade... Eu estive em N'Djamena, no funeral do Presidente Deby, vi que o pa\u00eds estava est\u00e1vel, as pessoas estavam calmas. Havendo estabilidade, tudo bem. Mas n\u00e3o lhes estamos a dar um cheque em branco. Dizemos isto, porque eles pr\u00f3prios disseram que vai haver elei\u00e7\u00f5es dentro de 18 meses e desejamos que esta transi\u00e7\u00e3o seja o mais inclusiva poss\u00edvel, para eliminar qualquer possibilidade de algu\u00e9m dizer \u0022eu fui exclu\u00eddo, por isso vou resolver o meu destino pegando em armas\u0022. Assim, se todos estiverem envolvidos, se todos acompanharem esta transi\u00e7\u00e3o, teremos elei\u00e7\u00f5es livres, democr\u00e1ticas e transparentes. Esperamos, pelo menos, que assim seja, e nesse momento, o pa\u00eds regressar\u00e1 a uma estabilidade definitiva. F.C.: A Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo espera estar representada no Conselho de Seguran\u00e7a da ONU? F.T.: Sim, claro, temos a ambi\u00e7\u00e3o levar a nossa voz ao Conselho da ONU. E acredito ser uma oportunidade - agora que tamb\u00e9m temos a Uni\u00e3o Africana - de sermos ouvidos nas Na\u00e7\u00f5es Unidas. 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Presidente da União Africana "dececionado com a Cimeira de Paris"

Presidente da União Africana "dececionado com a Cimeira de Paris"
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De François ChignacEuronews
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Félix Tshisekedi confessa ter saído "um pouco dececionado" da cimeira que reuniu, na capital sa, os líderes africanos, a União Europeia e o FMI, em busca de uma solução para financiar as dívidas dos países africanos.

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Pela primeira vez em 25 anos, as economias africanas entraram em recessão, após terem sido gravemente abaladas pela pandemia de covid-19. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que são necessários 300 mil milhões de dólares para que o continente africano saia desta crise económica. Félix Tshisekedi, presidente da República Democrática do Congo e atual Presidente da União Africana, falou com a Euronews sobre as crises que afetam o desenvolvimento do continente, após a Cimeira de Paris.

François Chignac, Euronews: Cerca de 20 Chefes de Estado africanos e delegações internacionais estiveram em Paris, depois de o Presidente Emmanuel Macron os ter convidado. Serão as conclusões desta cimeira, de certa forma, o ponto de partida para a recuperação das economias africanas?

Félix Tshisekedi: Antes de mais, gostaria de agradecer ao presidente francês, Emmanuel Macron, por esta iniciativa corajosa e sem precedentes. Porquê inédita? Porque, finalmente, foi capaz de envolver os africanos na reflexão sobre o próprio futuro. Porque, até agora, as decisões eram tomadas na ausência dos africanos e só depois enviadas para nós. Aqui, estamos a pilotar este processo em conjunto. Gosto do termo que o presidente Macron utilizou, o "New Deal".

Sei que a tarefa vai ser difícil. Mas estou confiante, porque o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que é também um africanista empenhado, participou na conferência. Estabelecemos uma série de objetivos, até à primeira metade de 2022, durante as eleições presidenciais sas, onde vamos fazer o ponto da situação, durante uma cimeira União Europeia-União Africana. Depois talvez possamos então dizer-lhe se o que foi feito em Paris estava a ir na direção certa.

Ficámos um pouco dececionados com a Cimeira de Paris, porque nesta fase só temos 33 mil milhões [de dólares] atribuídos a África, o que é uma quantia muito pequena para 54 países
Félix Tshisekedi
Presidente da RD Congo e Presidente da União Africana

F.C.: As conclusões da Cimeira de Paris foram centradas na Saúde. Em que ponto estamos realmente, em termos de salvamento das economias africanas?

F.T.: A grande novidade é a decisão sobre os direitos de saque especiais, avaliados em 650 mil milhões de dólares. Ficámos um pouco dececionados com a Cimeira de Paris, porque nesta fase só temos 33 mil milhões atribuídos a África, o que é uma quantia muito pequena para 54 países.

O objetivo desta conferência era, entre outras coisas, angariar até 100 mil milhões. E depois das nossas discussões vimos que era possível ir mesmo além disso. A outra notícia é que a alavanca pela qual estes direitos de saque vão ser usados é o Banco Africano de Desenvolvimento, que conhece muito bem os países africanos e os desafios que eles enfrentam. E isto seria uma contribuição considerável para a anulação de uma parte das dívidas que estes países africanos têm.

F.C.: Voltemos à crise sanitária. Falou-se muito de vacinas. O que pensa sobre as conclusões desta Cimeira?

F.T.: É verdade que não vamos confinar todos os africanos em África. Serão forçados a deslocar-se, a interagir com outros, com o risco de contrair outra variante do vírus que poderá ser muito mais mortal e tornar a vacinação inútil. Por isso, acredito que temos de vacinar a maior quantidade de pessoas possível. Nesse sentido, foi feito um apelo àqueles que detêm os direitos destas vacinas. E isso terá também um impacto positivo no nosso povo que tem sido fortemente manipulado.

F.C.: As pessoas não confiaram nas vacinas no continente africano?

F.T.: Exatamente. O facto de os africanos terem desenvolvido esta resistência ao vírus levou muitos a acreditar que o vírus estava a afetar outros e não a nós. Mas isto é um erro, porque o vírus sofre mutações. Por isso, temos de nos proteger.

A resposta da Europa é radical e consiste em fechar as portas. Acredito que a resposta da Europa deveria ser falar com os africanos
Félix Tshisekedi
Presidente da RD Congo e Presidente da União Africana

F.C.: As pessoas têm dito frequentemente que existe falta de comunicação no continente africano.

F.T.: Antes disso, houve alguns erros. Estou a pensar na decisão de onze países europeus de suspender a vacina da AstraZeneca, que deu um impulso àqueles que defendem a opinião de que esta vacina é perigosa para os africanos.

F.C.: Após a crise sanitária e económica, falemos da crise dos migrantes. Muitos migrantes chegaram recentemente ao território espanhol. Enquanto presidente da União Africana, está em o com a União Europeia?

F.T.: Infelizmente ainda não, porque a resposta da Europa é radical e consiste em fechar as portas. Acredito que a resposta da Europa deveria ser falar com os africanos. E, antes de mais, ver de que países provém a maioria destes migrantes e ver como pode, trabalhando em conjunto com esses países, evitar estas migrações, reter estes jovens que estão de partida. Porque a verdadeira razão de tudo isto é o desespero.

Os jovens africanos acreditam que a Europa é um Eldorado e que, ao deixarem o país, podem encontrar a felicidade na Europa. Mas a Europa também tem os seus problemas. É muito difícil para estes jovens encontrar ali um lugar.

Temos, por um lado, de lhes explicar isto, mas, por outro, temos de lhes fornecer soluções para os seus problemas diários. O empreendedorismo jovem é algo que poderia ser eficaz.

São grupos terroristas islâmicos que juraram fidelidade ao Daesh e não se trata de um problema que afete apenas um país (...) Tendo em conta que estas regiões são potencialmente ricas em minerais e outros recursos, é [preciso] cortar o o a esse abastecimento, porque é isso que alimenta as suas atividades
Félix Tshisekedi
Presidente da RD Congo e Presidente da União Africana

F.C.: Falemos de Moçambique, onde existe uma séria ameaça jihadista. Como se lida com esta ameaça?

F.T.: O problema em Moçambique é semelhante ao do leste do meu país. São grupos terroristas islâmicos que juraram fidelidade ao Daesh e não se trata de um problema que afete apenas um país. E o risco é que este cancro se propague a toda a região, a todo o continente.

Por isso, temos de combatê-lo agora. Não podemos esperar. O que se está a ar em Moçambique atrai realmente a nossa atenção, porque é exatamente o mesmo fenómeno que estamos a viver no meu país.

O que é necessário fazer, tendo em conta que estas regiões são potencialmente ricas em minerais e outros recursos, é cortar o o a esse abastecimento, porque é isso que alimenta as suas atividades. Por isso, temos de trabalhar de forma rápida, eficiente e em conjunto.

F.C.: Há alguns meses, a comunidade internacional e a República Democrática do Congo sofreram uma pesada perda com a morte do embaixador italiano. Em que ponto estão as investigações a esta morte?

F.T.: As investigações estão em curso. A dada altura, tivemos alguns suspeitos que foram detidos. Penso que estão a ser interrogados, porque além destes suspeitos, existe toda uma organização. São criminosos, organizados em bandos e que, com certeza, têm mentores. Portanto, penso que é isso que temos de tentar localizar.

Temos a colaboração dos serviços italianos e estamos a trabalhar arduamente nesse sentido. É terrível. Fiquei muito triste com a sua morte e isso motiva-me ainda mais a procurar os suspeitos.

A solução encontrada - que não veio de nós, mas dos próprios chadianos - foi uma solução militar. Para mim, a partir do momento em que haja estabilidade, tudo bem. Mas não lhes estamos a dar um cheque em branco
Félix Tshisekedi
Presidente da RD Congo e Presidente da União Africana

F.C.: Enquanto presidente da União Africana, disse, há alguns dias, em relação à transição política no Chade, que essa transição tinha realmente de ser resolvida, a fim de manter a estabilidade no país.

F.T.: A solução encontrada - que não veio de nós, mas dos próprios chadianos - foi uma solução militar. Para mim, a partir do momento em que haja estabilidade... Eu estive em N'Djamena, no funeral do Presidente Deby, vi que o país estava estável, as pessoas estavam calmas.

Havendo estabilidade, tudo bem. Mas não lhes estamos a dar um cheque em branco. Dizemos isto, porque eles próprios disseram que vai haver eleições dentro de 18 meses e desejamos que esta transição seja o mais inclusiva possível, para eliminar qualquer possibilidade de alguém dizer "eu fui excluído, por isso vou resolver o meu destino pegando em armas".

Assim, se todos estiverem envolvidos, se todos acompanharem esta transição, teremos eleições livres, democráticas e transparentes. Esperamos, pelo menos, que assim seja, e nesse momento, o país regressará a uma estabilidade definitiva.

F.C.: A República Democrática do Congo espera estar representada no Conselho de Segurança da ONU?

F.T.: Sim, claro, temos a ambição levar a nossa voz ao Conselho da ONU. E acredito ser uma oportunidade - agora que também temos a União Africana - de sermos ouvidos nas Nações Unidas.

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