{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/05/12/diretora-da-omc-e-preciso-reorganizar-a-globalizacao" }, "headline": "Diretora da OMC: \u0022\u00c9 preciso reorganizar a globaliza\u00e7\u00e3o\u0022", "description": "A diretora-geral da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio, Ngozi Okonjo-Iweala, defende uma reglobaliza\u00e7\u00e3o e um novo multilateralismo que integre os pa\u00edses pobres.", "articleBody": "Em entrevista \u00e0 euronews, a diretora-geral da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio \u00b4 ( OMC),\u00a0Ngozi Okonjo-Iweala, defende uma reglobaliza\u00e7\u00e3o e um novo multilateralismo que integre os pa\u00edses pobres e resolva as falhas da globaliza\u00e7\u00e3o. euronews : \u201cUrsula Von der Leyen, presidente da Comiss\u00e3o Europeia, afirmou que a Europa est\u00e1 disposta a discutir a proposta apoiada inicialmente pelos Estados Unidos, para abdicar das patentes das vacinas da Covid-19. Ao mesmo tempo, alguns pa\u00edses expressaram as suas preocupa\u00e7\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o a essa estrat\u00e9gia. Qual \u00e9 a sua opini\u00e3o? Ser\u00e1 que isso vai representar apenas mais tempo de negocia\u00e7\u00f5es numa altura em que o tempo \u00e9 essencial?\u201d Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cO que est\u00e1 a acontecer neste momento \u00e9 que os membros da OMC, como disse, e com raz\u00e3o, apoiam a ren\u00fancia \u00e0s patentes. Mais de 100 pa\u00edses em desenvolvimento juntaram-se \u00e0 \u00c1frica do Sul e \u00e0 \u00cdndia para pedir essa ren\u00fancia porque acreditam que isso permitiria aos pa\u00edses em desenvolvimento resolver o problema da desigualdade no o \u00e0 vacina. Mas tamb\u00e9m h\u00e1 pessoas que acreditam que a ren\u00fancia \u00e0s patentes pode n\u00e3o ser a quest\u00e3o determinante para aumentar o volume de produ\u00e7\u00e3o.\u00a0 O meu trabalho \u00e9 garantir que os membros se re\u00fanam para negociar um texto que conduza a uma solu\u00e7\u00e3o pragm\u00e1tica para garantir o o dos pa\u00edses em desenvolvimento \u00e0 vacina e resolver o problema da desigualdade sem desencorajar a investiga\u00e7\u00e3o e a inova\u00e7\u00e3o. \u00c9 o ponto em que estamos atualmente. As declara\u00e7\u00f5es recentes dos Estados Unidos e de outros pa\u00edses v\u00e3o com certeza estimular as negocia\u00e7\u00f5es e fazer com que os membros da OMC se sentem \u00e0 volta da mesa para negociar. S\u00f3 assim poderemos progredir. Mas gostaria de acrescentar algo. \u00c9 preciso ter em conta v\u00e1rios fatores para resolver o problema da desigualdade de o \u00e0s vacinas, aos tratamentos e diagn\u00f3sticos. E a OMC pode desempenhar um papel importante e est\u00e1 a desempenh\u00e1-lo. Um desses fatores \u00e9 a redu\u00e7\u00e3o das restri\u00e7\u00f5es e proibi\u00e7\u00f5es \u00e0s exporta\u00e7\u00f5es para que as cadeias de abastecimento possam funcionar tanto para produtos finais como para as mat\u00e9rias-primas e outros produtos\u0022.\u00a0 Ngozi Okonjo-Iweala : \u0022 Por outro lado, precisamos de formar pessoas para fabricar vacinas e de aumentar a capacidade de fabrico. 80% das exporta\u00e7\u00f5es mundiais de vacinas est\u00e3o concentradas em 10 pa\u00edses, na Am\u00e9rica do Norte, no Sul da \u00c1sia e na Europa . E constat\u00e1mos os problemas suscitados por essa concentra\u00e7\u00e3o. \u00c9 preciso usar a capacidade de produ\u00e7\u00e3o que se encontra dispon\u00edvel nos mercados emergentes e nos pa\u00edses em desenvolvimentoe que pode ser direcionada para a produ\u00e7\u00e3o nos pr\u00f3ximos seis a nove meses. E temos de criar novos centros de produ\u00e7\u00e3o. Por exemplo, a \u00c1frica, um continente de 1,3 mil milh\u00f5es de pessoas Importa 99% das vacinas, \u00e9 preciso fazer algo para melhorar a produ\u00e7\u00e3o. E temos o problema das patentes. Al\u00e9m das patentes h\u00e1 a quest\u00e3o da tecnologia e do know-how. Caso contr\u00e1rio, n\u00e3o seremos capazes de fabricar os produtos. \u00c9 um problema complexo que tem tr\u00eas partes. Espero que os membros da OMC se re\u00fanam para falar dessas tr\u00eas partes e ajudar a aumentar o volume de vacinas\u201d. euronews : \u201cJ\u00e1 ou um pouco mais de um ano desde o in\u00edcio da pandemia e desta crise em geral. Que li\u00e7\u00f5es tira a OMC? \u201c Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cObrigada. Sim, h\u00e1 muitas li\u00e7\u00f5es da crise. Constat\u00e1mos que o mundo est\u00e1 interligado e que n\u00e3o estava preparado para esta crise, tanto os pa\u00edses ricos como os pobres. Os pa\u00edses t\u00eam de fortalecer os sistemas de sa\u00fade para serem capazes de lidar com a pr\u00f3xima crise. Penso que outra li\u00e7\u00e3o diz respeito ao papel do com\u00e9rcio. Embora o com\u00e9rcio tenha ca\u00eddo no ano ado em 5,3%, em termos de volume, e 7%, em termos de valor, o com\u00e9rcio desempenhou um papel muito importante para melhorar o o a bens e equipamentos m\u00e9dicos. Apesar de ter havido uma diminui\u00e7\u00e3o do com\u00e9rcio em geral, o com\u00e9rcio de equipamentos m\u00e9dicos aumentou 16%, e o dos equipamentos de prote\u00e7\u00e3o individual 50%. O que mostra que o sistema multilateral de com\u00e9rcio contribuiu para ajudar a resolver o problema do transporte de produtos m\u00e9dicos. \u00c9 um fator importante e uma boa li\u00e7\u00e3o. Significa que temos de fortalecer e manter o sistema multilateral de com\u00e9rcio. Outra li\u00e7\u00e3o, as cadeias de abastecimento foram bastante resilientes, muito mais do que as pessoas imaginam. H\u00e1 todo um debate sobre relocaliza\u00e7\u00e3o por causa dos problemas que houve. Mas o com\u00e9rcio de produtos agr\u00edcolas e alimentos tem sido bastante resistente e est\u00e1vel. J\u00e1 falei de fornecimentos m\u00e9dicos. Em geral, descobrimos que as cadeias de abastecimento funcionaram, n\u00e3o de forma perfeita, mas funcionaram. \u00c9 outra li\u00e7\u00e3o. E, por fim, diria que o papel do com\u00e9rcio na resolu\u00e7\u00e3o dos problemas de o e de desigualdade de o \u00e0s vacinas \u00e9 muito importante. E \u00e9 a\u00ed que as cadeias de abastecimento s\u00e3o muito importantes, tal como as quest\u00f5es de transfer\u00eancia de tecnologia e de o \u00e0s patentes e \u00e0 propriedade intelectual\u201d. euronews : \u201dOutra pergunta sobre este tema, no ano ado, houve apelos para relocalizar a produ\u00e7\u00e3o de bens para que houvesse maior autonomia e auto-sufici\u00eancia, no \u00e2mbito do com\u00e9rcio global. Ser\u00e1 que devemos faz\u00ea-lo? Devemos repensar o com\u00e9rcio global e este novo multilateralismo?\u201d Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cEm primeiro lugar, acho que o multilateralismo sofreu muitos revezes e, claro, houve um aumento do protecionismo, ligado em parte a algumas das defici\u00eancias da globaliza\u00e7\u00e3o. Como sabemos, a globaliza\u00e7\u00e3o tirou centenas de milh\u00f5es de pessoas da pobreza, mas tamb\u00e9m deixou pessoas para tr\u00e1s. S\u00e3o pessoas pobres dos pa\u00edses ricos que foram deixadas para tr\u00e1s e os pa\u00edses mais pobres n\u00e3o tiraram partido da globaliza\u00e7\u00e3o. Mas acho que o novo multilateralismo, se quisermos cham\u00e1-lo assim, deve ser gerido de modo a poder contribuir para enfrentar os problemas que a globaliza\u00e7\u00e3o n\u00e3o resolveu e a fortalecer a solidariedade e a coopera\u00e7\u00e3o, para resolver os problemas comuns globais.\u00a0 Mas deixe-me dizer algo. As pessoas falam de protecionismo, de desglobaliza\u00e7\u00e3o e de uma globaliza\u00e7\u00e3o que n\u00e3o funciona. Prefiro pensar em termos de re-globaliza\u00e7\u00e3o . \u00c9 preciso reorganizar a globaliza\u00e7\u00e3o. Houve uma primeira fase em que pa\u00edses como China e a Europa Oriental foram integrados no sistema, com grandes benef\u00edcios para as economias mundiais e para esses pa\u00edses. Agora precisamos de uma segunda vaga que integre continentes como a \u00c1frica, os pa\u00edses africanos e outros pa\u00edses de rendimentos m\u00e9dios-baixos e baixos na \u00c1sia e na Am\u00e9rica Latina. Esses pa\u00edses t\u00eam de ser integrados e reintegrados no sistema global. O que dar\u00e1 um segundo impulso \u00e0 globaliza\u00e7\u00e3o, ajudar\u00e1 a resolver as desigualdades associadas ao desenvolvimento tecnol\u00f3gico, durante a primeira onda da globaliza\u00e7\u00e3o. Pensemos as coisas em termos de re-globaliza\u00e7\u00e3o e fortalecimento do multilateralismo. \u00c9 nesses termos que gosto de falar em novo multilateralismo\u201d. euronews : \u201cQuais s\u00e3o as ac\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para garantir que n\u00e3o avan\u00e7amos para a desglobaliza\u00e7\u00e3o, mas sim, como disse, para a re- globaliza\u00e7\u00e3o, com uma vis\u00e3o diferente?\u201d Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cEm primeiro lugar, \u00e9 preciso garantir que as coisas boas dos sistemas multilaterais, nomeadamente, o sistema de com\u00e9rcio, sejam mantidas e fortalecidas: a igualdade de condi\u00e7\u00f5es, a justi\u00e7a, a n\u00e3o discrimina\u00e7\u00e3o, todos esses princ\u00edpios e a estabilidade do sistema devem ser mantidos. \u00c9 absolutamente necess\u00e1rio. Al\u00e9m disso, temos de integrar, na maioria dos pa\u00edses do mundo, as micro, m\u00e9dias e pequenas empresas enquanto motores do crescimento econ\u00f3mico. Essas empresas criam empregos e movimentam mercadorias, mas em muitos pa\u00edses, n\u00e3o participam no sistema multilateral de com\u00e9rcio. N\u00e3o fazem parte das cadeias de abastecimento nacionais, regionais e globais. Penso que \u00e9 uma quest\u00e3o-chave sobre a qual \u00e9 preciso pensar no \u00e2mbito da re-globaliza\u00e7\u00e3o para integrar as pequenas e m\u00e9dias empresas nas cadeias de valor, nas cadeias de abastecimento que fornecem produtos em todo o mundo. Outra \u00e1rea \u00e9 a das mulheres, as mulheres e o com\u00e9rcio. Na maioria dos pa\u00edses, 50% ou mais das pequenas e m\u00e9dias empresas s\u00e3o propriedade de mulheres. Como podemos envolv\u00ea-las em todas essas a\u00e7\u00f5es?\u00a0 Como elaborar novas regras de com\u00e9rcio capazes de apoiar esses setores da nossa economia global? S\u00e3o coisas que estamos a analisar na OMC, para ver como \u00e9 que a reglobaliza\u00e7\u00e3o pode integrar os que foram marginalizados no ado\u201d. euronews : \u201cNo dia 26 de abril, assinalou-se o dia europeu da pol\u00edtica comercial . Conversou com Valdis Dombrovskis vice-presidente da Uni\u00e3o Europeia sobre as reformas da OMC. Pode falar-nos sobre isso? A Uni\u00e3o Europeia pode pesar na discuss\u00e3o, para reformar a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio?\u201d Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cO que a Uni\u00e3o Europeia faz \u00e9 extremamente importante para a OMC e para o sistema comercial mundial. E temos discutido as v\u00e1rias ideias apresentadas pela Uni\u00e3o Europeia em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 reforma da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio. Penso que essas ideias s\u00e3o muito \u00fateis interessantes. H\u00e1 v\u00e1rias quest\u00f5es sobre algumas das negocia\u00e7\u00f5es em curso ao n\u00edvel da OMC, por exemplo, os subs\u00eddios \u00e0 pesca, as negocia\u00e7\u00f5es em torno da sustentabilidade de nossos oceanos. Essas negocia\u00e7\u00f5es decorrem h\u00e1 20 anos. E eu sei que a Uni\u00e3o Europeia e todos os outros membros querem concluir esta ronda multilateral. Fal\u00e1mos sobre a forma como podemos faz\u00ea-lo e sobre sistema de resolu\u00e7\u00e3o de lit\u00edgios da OMC, que est\u00e1 parado, e sobre a forma como podemos relan\u00e7\u00e1-lo e reform\u00e1-lo. Falamos em criar regras comerciais para as quest\u00f5es do s\u00e9culo XXI. Acabei de mencionar as quest\u00f5es do com\u00e9rcio digital. Como faz\u00ea-lo? A Europa d\u00e1 muito apoio nessas \u00e1reas. E chegamos ao com\u00e9rcio e ao clima. Como \u00e9 que as regras da OMC podem ajudar na transi\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica e na descarboniza\u00e7\u00e3o das nossas economias e ajudar a reconstru\u00e7\u00e3o ap\u00f3s a pandemia? euronews : \u201cTodos os membros da OMC comprometeram-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel da ONU, e muitos desses objetivos est\u00e3o relacionados com a prote\u00e7\u00e3o do meio ambiente. Nesse processo mais amplo para moldar o novo multilateralismo e a re-globaliza\u00e7\u00e3o, como diz, como \u00e9 que poss\u00edvel garantir que a pol\u00edtica comercial responde aos desafios clim\u00e1ticos e ambientais? Ngozi Okonjo-Iweala : \u201enso que o com\u00e9rcio pode contribuir substancialmente para reduzir as emiss\u00f5es de carbono globalmente, para a descarboniza\u00e7\u00e3o do mundo e para tornar o mundo mais ecol\u00f3gico. H\u00e1 muitas oportunidades que podemos explorar. Em primeiro lugar, em 2016, os membros da OMC estavam a negociar um acordo sobre bens e servi\u00e7os ambientais, o que ajudaria a incentivar um movimento em dire\u00e7\u00e3o ao uso de tecnologias e bens mais limpos e ecol\u00f3gicos. Mas essas negocia\u00e7\u00f5es estagnaram. Uma das coisas que podemos fazer e que estamos a tentar fazer \u00e9 relan\u00e7ar essas negocia\u00e7\u00f5es para ver se podemos conclu\u00ed-las de uma forma ben\u00e9fica para os membros da OMC e globalmente para o meio ambiente. E, claro, h\u00e1 a quest\u00e3o de saber como lidar com as emiss\u00f5es de carbono no \u00e2mbito do com\u00e9rcio e dos v\u00e1rios mecanismos, incluindo o mecanismo de ajustamento das emiss\u00f5es de carbono nas fronteiras que est\u00e1 a ser examinado e debatido pela Uni\u00e3o Europeia. Estamos tamb\u00e9m a estudar essa quest\u00e3o na OMC para ter certeza de que as decis\u00f5es s\u00e3o coerentes com as regras da OMC. \u00c9 o que est\u00e1 a acontecer. Mas temos de examinar os v\u00e1rios instrumentos que podem ser aplicados para ajudar a tornar o com\u00e9rcio mais reativo em rela\u00e7\u00e3o ao meio ambiente. \u00c9 uma \u00e1rea interessante e desafiante. E esperamos trabalhar mais com a Uni\u00e3o Europeia e outras entidades em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 quest\u00e3o do meio ambiente\u201d. euronews : \u201cNuma perspetiva de curto prazo, dentro de um a tr\u00eas anos, digamos, quais s\u00e3o os objetivos que gostaria de alcan\u00e7ar?\u201d Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cDentro de um a tr\u00eas anos? Neste primeiro ano, espero que haja um conjunto de conquistas para a OMC e para o com\u00e9rcio. Antes de mais, \u00e9 preciso transformar a OMC numa organiza\u00e7\u00e3o que obtenha resultados. \u00c9 preciso mudar a imagem de que somos disfuncionais e n\u00e3o obtemos resultados. H\u00e1 um grande potencial de mudan\u00e7a incluindo este ano, durante a 12\u00aa confer\u00eancia ministerial, em dezembro. Para isso temos de nos centrar nos resultados. Em primeiro lugar, temos a grande oportunidade de concluir as negocia\u00e7\u00f5es sobre os subs\u00eddios \u00e0 pesca, que se arrastam h\u00e1 20 anos. Como j\u00e1 disse se a quest\u00e3o \u00e9 apoiar a sustentabilidade de oceanos e dos nossos pescadores, mulheres e homens, temos de concluir essas negocia\u00e7\u00f5es. Para mim, essa \u00e9 a prioridade. Seria uma vit\u00f3ria. A segunda \u00e1rea em que gostaria de alcan\u00e7ar resultados \u00e9 a do com\u00e9rcio e da sa\u00fade. Enquanto OMC, temos uma oportunidade \u00fanica para responder aos problemas atuais da pandemia e j\u00e1 mostr\u00e1mos que o com\u00e9rcio, o sistema multilateral de com\u00e9rcio, tem sido parte da solu\u00e7\u00e3o. Gostaria que fiz\u00e9ssemos mais, depois de concluirmos as negocia\u00e7\u00f5es sobre propriedade intelectual e transfer\u00eancia de tecnologia e know-how. Ter\u00edamos um instrumento que permitiria contribuir para resolver os problemas de o a produtos m\u00e9dicos, equipamentos e vacinas. \u00c9 um grande contributo e poderia ser finalizado na nossa confer\u00eancia ministerial. A terceira \u00e1rea \u00e9 a agricultura. \u00c9 uma \u00e1rea vital para todos os nossos membros, tanto nos pa\u00edses em desenvolvimento como nos pa\u00edses desenvolvidos. E temos algumas quest\u00f5es relativas \u00e0 seguran\u00e7a alimentar. O sistema de com\u00e9rcio multilateral tamb\u00e9m garantiu a estabilidade do fornecimento de alimentos em todo o mundo. A seguran\u00e7a alimentar \u00e9 importante. Como chegar a acordos que seriam ben\u00e9ficos para os membros nessa \u00e1rea da agricultura? H\u00e1 a quest\u00e3o dos subs\u00eddios, tanto industriais como nacionais, subs\u00eddios agr\u00edcolas importantes que levam os membros da OMC a temer que a concorr\u00eancia n\u00e3o seja equitativa, ao n\u00edvel do com\u00e9rcio entre pa\u00edses. Temos de olhar para essas quest\u00f5es. Gostaria que houvesse algum progresso nessa \u00e1rea. Deixe-me apenas dizer, que gostaria que houvesse progresso sobre o mecanismo de resolu\u00e7\u00e3o de lit\u00edgios, \u00e9 vital para a formula\u00e7\u00e3o de regras na OMC. H\u00e1 muitas oportunidades, dentro de um a tr\u00eas anos, para renovar a marca da organiza\u00e7\u00e3o\u0022. euronews : \u201cAlgumas dessas quest\u00f5es j\u00e1 se arrastam h\u00e1 anos. Nalguns casos n\u00e3o h\u00e1 avan\u00e7os. Quando se trata de avan\u00e7ar e resolver algumas dessas quest\u00f5es importantes, ser\u00e1 que n\u00e3o seria necess\u00e1rio uma abordagem mais virada para as pessoas, para responder a alguns desses problemas de desigualdade?\u0022 Ngozi Okonjo-Iweala : \u201cO com\u00e9rcio \u00e9 um meio para atingir um fim. O objetivo \u00e9 desenvolver e melhorar a vida das pessoas. Tem tudo a ver com pessoas. A OMC e os instrumentos da OMC devem ser usados para melhorar a vida das pessoas , a vida das pessoas mais pobres nos pa\u00edses ricos e a vida nos pa\u00edses pobres e em desenvolvimento.\u00a0 As regras comerciais devem permitir a inclus\u00e3o dessas pessoas no sistema comercial mundial, para melhorar a vida das pessoas. Todos os resultados a que me refiro devem conduzir a melhorias na vida das pessoas, seja na agricultura, muitas pessoas nos pa\u00edses em desenvolvimento vivem da agricultura ou da pesca. A pesca \u00e9 importante tanto para os pa\u00edses pobres como para os ricos. \u00c9 preciso resultados na \u00e1rea do com\u00e9rcio e da sa\u00fade, o que nos pode ajudar a resolver a pandemia e resultados ao n\u00edvel do meio ambiente. Em todas as \u00e1reas, temos a oportunidade de melhorar a vida das pessoas\u0022. 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Diretora da OMC: "É preciso reorganizar a globalização"

Diretora da OMC: "É preciso reorganizar a globalização"
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A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, defende uma reglobalização e um novo multilateralismo que integre os países pobres.

Em entrevista à euronews, a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio´ (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, defende uma reglobalização e um novo multilateralismo que integre os países pobres e resolva as falhas da globalização.

euronews: “Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que a Europa está disposta a discutir a proposta apoiada inicialmente pelos Estados Unidos, para abdicar das patentes das vacinas da Covid-19. Ao mesmo tempo, alguns países expressaram as suas preocupações em relação a essa estratégia. Qual é a sua opinião? Será que isso vai representar apenas mais tempo de negociações numa altura em que o tempo é essencial?”

Ngozi Okonjo-Iweala: “O que está a acontecer neste momento é que os membros da OMC, como disse, e com razão, apoiam a renúncia às patentes. Mais de 100 países em desenvolvimento juntaram-se à África do Sul e à Índia para pedir essa renúncia porque acreditam que isso permitiria aos países em desenvolvimento resolver o problema da desigualdade no o à vacina. Mas também há pessoas que acreditam que a renúncia às patentes pode não ser a questão determinante para aumentar o volume de produção. O meu trabalho é garantir que os membros se reúnam para negociar um texto que conduza a uma solução pragmática para garantir o o dos países em desenvolvimento à vacina e resolver o problema da desigualdade sem desencorajar a investigação e a inovação. É o ponto em que estamos atualmente. As declarações recentes dos Estados Unidos e de outros países vão com certeza estimular as negociações e fazer com que os membros da OMC se sentem à volta da mesa para negociar. Só assim poderemos progredir. Mas gostaria de acrescentar algo. É preciso ter em conta vários fatores para resolver o problema da desigualdade de o às vacinas, aos tratamentos e diagnósticos. E a OMC pode desempenhar um papel importante e está a desempenhá-lo. Um desses fatores é a redução das restrições e proibições às exportações para que as cadeias de abastecimento possam funcionar tanto para produtos finais como para as matérias-primas e outros produtos". 

Ngozi Okonjo-Iweala: "Por outro lado, precisamos de formar pessoas para fabricar vacinas e de aumentar a capacidade de fabrico. 80% das exportações mundiais de vacinas estão concentradas em 10 países, na América do Norte, no Sul da Ásia e na Europa. E constatámos os problemas suscitados por essa concentração. É preciso usar a capacidade de produção que se encontra disponível nos mercados emergentes e nos países em desenvolvimentoe que pode ser direcionada para a produção nos próximos seis a nove meses. E temos de criar novos centros de produção. Por exemplo, a África, um continente de 1,3 mil milhões de pessoas Importa 99% das vacinas, é preciso fazer algo para melhorar a produção. E temos o problema das patentes. Além das patentes há a questão da tecnologia e do know-how. Caso contrário, não seremos capazes de fabricar os produtos. É um problema complexo que tem três partes. Espero que os membros da OMC se reúnam para falar dessas três partes e ajudar a aumentar o volume de vacinas”.

África, um continente de 1,3 mil milhões de pessoas, importa 99% das vacinas, é preciso fazer algo para melhorar a produção.
Ngozi Okonjo-Iweala
Diretora-geral da Organização Mundial do Comércio

euronews: “Já ou um pouco mais de um ano desde o início da pandemia e desta crise em geral. Que lições tira a OMC? “

Ngozi Okonjo-Iweala: “Obrigada. Sim, há muitas lições da crise. Constatámos que o mundo está interligado e que não estava preparado para esta crise, tanto os países ricos como os pobres. Os países têm de fortalecer os sistemas de saúde para serem capazes de lidar com a próxima crise. Penso que outra lição diz respeito ao papel do comércio. Embora o comércio tenha caído no ano ado em 5,3%, em termos de volume, e 7%, em termos de valor, o comércio desempenhou um papel muito importante para melhorar o o a bens e equipamentos médicos. Apesar de ter havido uma diminuição do comércio em geral, o comércio de equipamentos médicos aumentou 16%, e o dos equipamentos de proteção individual 50%. O que mostra que o sistema multilateral de comércio contribuiu para ajudar a resolver o problema do transporte de produtos médicos. É um fator importante e uma boa lição. Significa que temos de fortalecer e manter o sistema multilateral de comércio. Outra lição, as cadeias de abastecimento foram bastante resilientes, muito mais do que as pessoas imaginam. Há todo um debate sobre relocalização por causa dos problemas que houve. Mas o comércio de produtos agrícolas e alimentos tem sido bastante resistente e estável. Já falei de fornecimentos médicos. Em geral, descobrimos que as cadeias de abastecimento funcionaram, não de forma perfeita, mas funcionaram. É outra lição. E, por fim, diria que o papel do comércio na resolução dos problemas de o e de desigualdade de o às vacinas é muito importante. E é aí que as cadeias de abastecimento são muito importantes, tal como as questões de transferência de tecnologia e de o às patentes e à propriedade intelectual”.

Na maioria dos países, 50% ou mais das pequenas e médias empresas são propriedade de mulheres. Como podemos envolvê-las em todas essas ações? Como elaborar novas regras de comércio capazes de apoiar esses setores da nossa economia global?
Ngozi Okonjo-Iweala
Diretora-geral da Organização Mundial do Comércio

euronews: ”Outra pergunta sobre este tema, no ano ado, houve apelos para relocalizar a produção de bens para que houvesse maior autonomia e auto-suficiência, no âmbito do comércio global. Será que devemos fazê-lo? Devemos repensar o comércio global e este novo multilateralismo?”

Ngozi Okonjo-Iweala: “Em primeiro lugar, acho que o multilateralismo sofreu muitos revezes e, claro, houve um aumento do protecionismo, ligado em parte a algumas das deficiências da globalização. Como sabemos, a globalização tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, mas também deixou pessoas para trás. São pessoas pobres dos países ricos que foram deixadas para trás e os países mais pobres não tiraram partido da globalização. Mas acho que o novo multilateralismo, se quisermos chamá-lo assim, deve ser gerido de modo a poder contribuir para enfrentar os problemas que a globalização não resolveu e a fortalecer a solidariedade e a cooperação, para resolver os problemas comuns globais. Mas deixe-me dizer algo. As pessoas falam de protecionismo, de desglobalização e de uma globalização que não funciona. Prefiro pensar em termos de re-globalização. É preciso reorganizar a globalização. Houve uma primeira fase em que países como China e a Europa Oriental foram integrados no sistema, com grandes benefícios para as economias mundiais e para esses países. Agora precisamos de uma segunda vaga que integre continentes como a África, os países africanos e outros países de rendimentos médios-baixos e baixos na Ásia e na América Latina. Esses países têm de ser integrados e reintegrados no sistema global. O que dará um segundo impulso à globalização, ajudará a resolver as desigualdades associadas ao desenvolvimento tecnológico, durante a primeira onda da globalização. Pensemos as coisas em termos de re-globalização e fortalecimento do multilateralismo. É nesses termos que gosto de falar em novo multilateralismo”.

Temos de integrar as micro, médias e pequenas empresas enquanto motores do crescimento económico. Essas empresas criam empregos e movimentam mercadorias, mas em muitos países, não participam no sistema multilateral de comércio.
Ngozi Okonjo-Iweala
Diretora-geral da Organização Mundial do Comércio

euronews: “Quais são as acções necessárias para garantir que não avançamos para a desglobalização, mas sim, como disse, para a re- globalização, com uma visão diferente?”

Ngozi Okonjo-Iweala: “Em primeiro lugar, é preciso garantir que as coisas boas dos sistemas multilaterais, nomeadamente, o sistema de comércio, sejam mantidas e fortalecidas: a igualdade de condições, a justiça, a não discriminação, todos esses princípios e a estabilidade do sistema devem ser mantidos. É absolutamente necessário. Além disso, temos de integrar, na maioria dos países do mundo, as micro, médias e pequenas empresas enquanto motores do crescimento económico. Essas empresas criam empregos e movimentam mercadorias, mas em muitos países, não participam no sistema multilateral de comércio. Não fazem parte das cadeias de abastecimento nacionais, regionais e globais. Penso que é uma questão-chave sobre a qual é preciso pensar no âmbito da re-globalização para integrar as pequenas e médias empresas nas cadeias de valor, nas cadeias de abastecimento que fornecem produtos em todo o mundo. Outra área é a das mulheres, as mulheres e o comércio. Na maioria dos países, 50% ou mais das pequenas e médias empresas são propriedade de mulheres. Como podemos envolvê-las em todas essas ações? Como elaborar novas regras de comércio capazes de apoiar esses setores da nossa economia global? São coisas que estamos a analisar na OMC, para ver como é que a reglobalização pode integrar os que foram marginalizados no ado”.

euronews: “No dia 26 de abril, assinalou-se o dia europeu da política comercial. Conversou com Valdis Dombrovskis vice-presidente da União Europeia sobre as reformas da OMC. Pode falar-nos sobre isso? A União Europeia pode pesar na discussão, para reformar a Organização Mundial do Comércio?”

Ngozi Okonjo-Iweala: “O que a União Europeia faz é extremamente importante para a OMC e para o sistema comercial mundial. E temos discutido as várias ideias apresentadas pela União Europeia em relação à reforma da Organização Mundial do Comércio. Penso que essas ideias são muito úteis interessantes. Há várias questões sobre algumas das negociações em curso ao nível da OMC, por exemplo, os subsídios à pesca, as negociações em torno da sustentabilidade de nossos oceanos. Essas negociações decorrem há 20 anos. E eu sei que a União Europeia e todos os outros membros querem concluir esta ronda multilateral. Falámos sobre a forma como podemos fazê-lo e sobre sistema de resolução de litígios da OMC, que está parado, e sobre a forma como podemos relançá-lo e reformá-lo. Falamos em criar regras comerciais para as questões do século XXI. Acabei de mencionar as questões do comércio digital. Como fazê-lo? A Europa dá muito apoio nessas áreas. E chegamos ao comércio e ao clima. Como é que as regras da OMC podem ajudar na transição ecológica e na descarbonização das nossas economias e ajudar a reconstrução após a pandemia?

Temos de examinar os vários instrumentos que podem ser aplicados para ajudar a tornar o comércio mais reativo em relação ao meio ambiente.
Ngozi Okonjo-Iweala
Diretora-geral da Organização Mundial do Comércio

euronews: “Todos os membros da OMC comprometeram-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e muitos desses objetivos estão relacionados com a proteção do meio ambiente. Nesse processo mais amplo para moldar o novo multilateralismo e a re-globalização, como diz, como é que possível garantir que a política comercial responde aos desafios climáticos e ambientais?

Ngozi Okonjo-Iweala: “Penso que o comércio pode contribuir substancialmente para reduzir as emissões de carbono globalmente, para a descarbonização do mundo e para tornar o mundo mais ecológico. Há muitas oportunidades que podemos explorar. Em primeiro lugar, em 2016, os membros da OMC estavam a negociar um acordo sobre bens e serviços ambientais, o que ajudaria a incentivar um movimento em direção ao uso de tecnologias e bens mais limpos e ecológicos. Mas essas negociações estagnaram. Uma das coisas que podemos fazer e que estamos a tentar fazer é relançar essas negociações para ver se podemos concluí-las de uma forma benéfica para os membros da OMC e globalmente para o meio ambiente. E, claro, há a questão de saber como lidar com as emissões de carbono no âmbito do comércio e dos vários mecanismos, incluindo o mecanismo de ajustamento das emissões de carbono nas fronteiras que está a ser examinado e debatido pela União Europeia. Estamos também a estudar essa questão na OMC para ter certeza de que as decisões são coerentes com as regras da OMC. É o que está a acontecer. Mas temos de examinar os vários instrumentos que podem ser aplicados para ajudar a tornar o comércio mais reativo em relação ao meio ambiente. É uma área interessante e desafiante. E esperamos trabalhar mais com a União Europeia e outras entidades em relação à questão do meio ambiente”.

euronews: “Numa perspetiva de curto prazo, dentro de um a três anos, digamos, quais são os objetivos que gostaria de alcançar?”

Ngozi Okonjo-Iweala: “Dentro de um a três anos? Neste primeiro ano, espero que haja um conjunto de conquistas para a OMC e para o comércio. Antes de mais, é preciso transformar a OMC numa organização que obtenha resultados. É preciso mudar a imagem de que somos disfuncionais e não obtemos resultados. Há um grande potencial de mudança incluindo este ano, durante a 12ª conferência ministerial, em dezembro. Para isso temos de nos centrar nos resultados. Em primeiro lugar, temos a grande oportunidade de concluir as negociações sobre os subsídios à pesca, que se arrastam há 20 anos. Como já disse se a questão é apoiar a sustentabilidade de oceanos e dos nossos pescadores, mulheres e homens, temos de concluir essas negociações. Para mim, essa é a prioridade. Seria uma vitória. A segunda área em que gostaria de alcançar resultados é a do comércio e da saúde. Enquanto OMC, temos uma oportunidade única para responder aos problemas atuais da pandemia e já mostrámos que o comércio, o sistema multilateral de comércio, tem sido parte da solução. Gostaria que fizéssemos mais, depois de concluirmos as negociações sobre propriedade intelectual e transferência de tecnologia e know-how. Teríamos um instrumento que permitiria contribuir para resolver os problemas de o a produtos médicos, equipamentos e vacinas. É um grande contributo e poderia ser finalizado na nossa conferência ministerial. A terceira área é a agricultura. É uma área vital para todos os nossos membros, tanto nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos. E temos algumas questões relativas à segurança alimentar. O sistema de comércio multilateral também garantiu a estabilidade do fornecimento de alimentos em todo o mundo. A segurança alimentar é importante. Como chegar a acordos que seriam benéficos para os membros nessa área da agricultura? Há a questão dos subsídios, tanto industriais como nacionais, subsídios agrícolas importantes que levam os membros da OMC a temer que a concorrência não seja equitativa, ao nível do comércio entre países. Temos de olhar para essas questões. Gostaria que houvesse algum progresso nessa área. Deixe-me apenas dizer, que gostaria que houvesse progresso sobre o mecanismo de resolução de litígios, é vital para a formulação de regras na OMC. Há muitas oportunidades, dentro de um a três anos, para renovar a marca da organização".

Temos a grande oportunidade de concluir as negociações sobre os subsídios à pesca, que se arrastam há 20 anos. Como já disse se a questão é apoiar a sustentabilidade de oceanos e dos nossos pescadores, mulheres e homens, temos de concluir essas negociações.
Ngozi Okonjo-Iweala
Diretora-geral da Organização Mundial do Comércio

euronews: “Algumas dessas questões já se arrastam há anos. Nalguns casos não há avanços. Quando se trata de avançar e resolver algumas dessas questões importantes, será que não seria necessário uma abordagem mais virada para as pessoas, para responder a alguns desses problemas de desigualdade?"

Ngozi Okonjo-Iweala: “O comércio é um meio para atingir um fim. O objetivo é desenvolver e melhorar a vida das pessoas. Tem tudo a ver com pessoas. A OMC e os instrumentos da OMC devem ser usados para melhorar a vida das pessoas, a vida das pessoas mais pobres nos países ricos e a vida nos países pobres e em desenvolvimento. As regras comerciais devem permitir a inclusão dessas pessoas no sistema comercial mundial, para melhorar a vida das pessoas. Todos os resultados a que me refiro devem conduzir a melhorias na vida das pessoas, seja na agricultura, muitas pessoas nos países em desenvolvimento vivem da agricultura ou da pesca. A pesca é importante tanto para os países pobres como para os ricos. É preciso resultados na área do comércio e da saúde, o que nos pode ajudar a resolver a pandemia e resultados ao nível do meio ambiente. Em todas as áreas, temos a oportunidade de melhorar a vida das pessoas".

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