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Quando o café se torna amargo: o fosso entre os produtores e o mercado

Quando o café se torna amargo: o fosso entre os produtores e o mercado
Direitos de autor REUTERS/Eric Vidal/Illustration -/File Photo
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A disparidade do preço entre o que o mercado paga aos produtores e aquele que cobra aos consumidores está a prejudicar inúmeras produções e famílias.

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No final de 2018, um quilo de café custava ao consumidor médio de café do Reino Unido sensivelmente 13 euros, mas o preço do mercado internacional para um café era de apenas um dólar, ou seja, 0,90 euros. Portanto, qual a razão para a disparidade entre o valor de mercado do café e o seu preço ao nível do retalho?

Nos últimos dois anos, a produção de café tem estado em crise devido aos preços de mercado historicamente baixos, tornando difícil para muitos produtores conseguirem sobreviver da sua colheita. O preço do café é - como o de muitas outras ‘commodities’ agrícolas - moderado pela oferta e procura. Se houver um excesso de oferta, o preço do café cai; se houver mais procura, o preço sobe.

José Sette, diretor executivo da Organização Internacional do Café (ICO na sigla em inglês) - uma organização intergovernamental para o café - explicou à Euronews que um excesso de oferta de café nos últimos dois anos é a razão da queda dos preços.

Sette não apontou o dedo a qualquer país em particular para o excedente de produção, mas sublinhou que vários países têm aumentado a sua produção ao longo do tempo.

"Eu indicaria, sobretudo, o Brasil, o Vietname, a Colômbia e as Honduras, mas não são os únicos", afirmou.

O que é que isto significa para os produtores de café?

De acordo com a Fundação Fairtrade, mais de 125 milhões de pessoas em todo o mundo dependem do café para a sua subsistência, com 25 milhões de pequenas propriedades a cultivarem cerca de 80% do café mundial.

Uma pesquisa da ICO sobre o impacto dos preços baixos do café nos países exportadores revelou que uma grande parte dos produtores de café enfrenta insegurança alimentar devido aos ganhos reduzidos. Um aumento na pobreza desses agregados familiares foi também observado em muitos países onde o café era uma atividade geradora de rendimentos.

Este estudo mostrou que um número crescente de produtores de café não conseguirá cobrir os seus custos de produção e receber um valor decente pela colheita.

A crise está a forçar muitos agricultores da América Central a abandonar a produção de café por outras culturas que ofereçam uma melhor remuneração ou, segundo a pesquisa, a procurar asilo nos Estados Unidos da América - o que agrava uma situação de migração já tensa.

Preço de mercado vs preço de retalho

No entanto, nos últimos anos, os consumidores na União Europeia viram o preço do café subir, apesar de os agricultores quase não verem nada desses lucros.

Portanto, por que é que o preço de retalho de um café é muito superior em comparação com o preço do café no mercado?

Sette explicou que o preço de retalho depende em grande parte de:

• impostos

• margens do setor retalhista

• margens dos setores de torrefação

• outras mudanças na estrutura de marketing

O preço do café no preço de retalho é apenas uma parte da equação, acrescentou o responsável da ICO. Para Sette, o mesmo acontece no preço de uma simples chávena de café.

“Se for a um café, o preço do café é apenas um dos componentes da estrutura de custos”, disse, salientando: “E é uma parte muito pequena. Por isso, coisas como a renda do espaço, custos de trabalho ou seguros de saúde têm um impacto muito maior sobre o preço de um café do que o preço da própria matéria-prima em si mesma”.

A situação vai melhorar em breve?

O diretor da ICO disse que mesmo que os preços tenham melhorado nos últimos dois meses, estes ainda estão num nível muito baixo.

"Podemos ter atingido o fundo neste processo, mas é um pouco cedo para ter certezas. Porém, ainda estamos muito longe de um preço que os produtores considerem satisfatório", declarou.

A própria organização intergovernamental está a tentar entrar em o com o setor privado num esforço para estabelecer um diálogo e propor boas ideias para abordar o problema, embora Sette tenha classificado este plano como um "projeto de longo prazo".

"As perspectivas de mudanças no curto prazo são reduzidas", concluiu.

A discussão está cada vez mais presente no setor e foi um dos temas dominantes do Fórum Mundial de Produtores de Café, que decorreu entre os dias 10 e 11 de julho, em Campinas, no Brasil. Paralelamente às questões económicas, o evento centrou-se também numa lógica de uma produção mais sustentável para o futuro, abordando questões sócioambientais, o clima e os riscos das alterações climáticas.

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