{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2022/03/29/russia-a-fadiga-das-sancoes-chegou-a-uniao-europeia" }, "headline": "R\u00fassia: a fadiga das san\u00e7\u00f5es chegou \u00e0 Uni\u00e3o Europeia?", "description": "O bloco comunit\u00e1rio est\u00e1, por agora, a avaliar o impacto de todas as medidas impostas at\u00e9 ao momento, mas a possibilidade de novas san\u00e7\u00f5es continua em aberto", "articleBody": "J\u00e1 ou mais de um m\u00eas desde que a R\u00fassia iniciou a invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia e o conflito n\u00e3o tem fim \u00e0 vista, pelo menos para j\u00e1. Perante a luta sangrenta e a amea\u00e7a existencial \u00e0 democracia, a Uni\u00e3o Europeia (UE) desencadeou uma ampla s\u00e9rie de san\u00e7\u00f5es, numa rea\u00e7\u00e3o contundente nunca antes vista em crises internacionais anteriores. 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A aus\u00eancia de novidades contrastou fortemente com as palavras contundentes do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, que citou nomes dos l\u00edderes da UE durante um discurso virtual em que se dirigiu aos chefes de Estado e de Governo da UE. \u0022De uma vez por todas. T\u00eam de decidir por v\u00f3s mesmos de que lado est\u00e3o\u0022, disse Zelenskyy a Viktor Orb\u00e1n, o primeiro-ministro h\u00fangaro, que se op\u00f4s a um embargo em mat\u00e9ria de energia. Ainda que o apelo de Zelenskyy n\u00e3o tenha sido suficiente para influenciar os l\u00edderes da UE, que se acostumaram com os discursos apaixonados do presidente, por outro lado, as suas palavras evidenciaram o dilema que cerca o bloco neste ponto espec\u00edfico do conflito: a UE pode dar-se ao luxo de se sentar e de esperar que as san\u00e7\u00f5es fa\u00e7am efeito? O quinto pacote de san\u00e7\u00f5es Durante o conflito, Bruxelas numerou cada pacote de san\u00e7\u00f5es para enfatizar a sua quantidade e o car\u00e1ter cumulativo. A \u00faltima conjunto, anunciada como o \u0022quarto\u0022 pacote de san\u00e7\u00f5es, estabeleceu, entre outras medidas, uma proibi\u00e7\u00e3o \u00e0 exporta\u00e7\u00e3o de bens de luxo made in UE acima de 300 euros e a remo\u00e7\u00e3o do estatuto de na\u00e7\u00e3o mais favorecida da R\u00fassia na Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio. A Comiss\u00e3o Europeia disse \u00e0 Euronews que \u0022n\u00e3o h\u00e1 nada de novo na calha\u0022 para um quinto pacote de san\u00e7\u00f5es, mas o executivo comunit\u00e1rio est\u00e1 pronto para dar op\u00e7\u00f5es aos Estados-membros op\u00e7\u00f5es de acordo com a evolu\u00e7\u00e3o da guerra. No entanto, acrescentou um porta-voz, a introdu\u00e7\u00e3o de mais san\u00e7\u00f5es n\u00e3o depende de um desenvolvimento espec\u00edfico no terreno e cabe aos Estados-Membros decidir se querem levar as coisas adiante. O uso de armas biol\u00f3gicas e qu\u00edmicas pela R\u00fassia contra os ucranianos seria uma \u0022mudan\u00e7a total de jogo\u0022 que exigiria uma resposta extraordin\u00e1ria n\u00e3o s\u00f3 da Uni\u00e3o Europeia, mas tamb\u00e9m da NATO, sublinhou o porta-voz. Por enquanto, o bloco est\u00e1 focado em endurecer as penalidades existentes, ajustar a sua implementa\u00e7\u00e3o e impedir que indiv\u00edduos e empresas que constem da lista negra encontrem uma sa\u00edda alternativa. A abordagem de aguardar para ver foi bem recebida em alguns pa\u00edses, como Alemanha e os Pa\u00edses Baixos, que t\u00eam la\u00e7os comerciais profundos com a R\u00fassia e que precisam de mais tempo para se adaptar ao novo normal. Por outro lado, tamb\u00e9m levantou preocupa\u00e7\u00f5es sobre a fadiga das san\u00e7\u00f5es. \u0022\u00c9 fundamental que as san\u00e7\u00f5es sejam totalmente eficazes, restringindo poss\u00edveis evas\u00f5es. As lacunas devem ser fechadas imediatamente\u0022, disse David McAllister, eurodeputado alem\u00e3o que preside \u00e0 comiss\u00e3o de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, em comunicado \u00e0 Euronews. \u0022Mais medidas restritivas continuam em cima da mesa, dependendo das a\u00e7\u00f5es do Kremlin\u0022, acrescentou. A eurodeputada sa Nathalie Loiseau, do grupo Renovar a Europa e colaboradora pr\u00f3xima do presidente Emmanuel Macron, discordou da avalia\u00e7\u00e3o, argumentando que o n\u00edvel \u0022impens\u00e1vel\u0022 de destrui\u00e7\u00e3o e o n\u00famero de mortos civis justificam colocar \u0022press\u00e3o adicional sobre a R\u00fassia para parar esta guerra brutal.\u0022 \u0022N\u00e3o penso que devemos esperar para desencadear san\u00e7\u00f5es adicionais\u0022, disse Loiseau \u00e0 Euronews. \u0022Sou a favor de uma proibi\u00e7\u00e3o total e tempor\u00e1ria do petr\u00f3leo e do carv\u00e3o russos para parar de financiar a guerra.\u0022 Os coment\u00e1rios de Loiseau encontraram eco nos de Gabrielius Landsbergis, ministro dos Neg\u00f3cios Estrangeiros da Litu\u00e2nia, que recentemente disse que a Europa n\u00e3o pode \u0022cansar-se de impor san\u00e7\u00f5es\u0022 e \u0022dar uma impress\u00e3o de fadiga.\u0022 Embora a Comiss\u00e3o Europeia se tenha recusado a fornecer detalhes espec\u00edficos para um poss\u00edvel quinto pacote de san\u00e7\u00f5es, as op\u00e7\u00f5es podem incluir restringir o o de navios russos \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, expandir o cat\u00e1logo de exporta\u00e7\u00f5es proibidas, ampliar a lista de oligarcas sancionados e expulsar mais bancos russos do sistema de mensagens SWIFT. Apesar de ter feito manchetes em todo o mundo, a proibi\u00e7\u00e3o do sistema SWIFT foi considerada dececionante ap\u00f3s o respetivo lan\u00e7amento porque visou apenas sete bancos e deixou visivelmente de fora a primeira e terceira maiores institui\u00e7\u00f5es banc\u00e1rias da R\u00fassia, o Sberbank e o Gazprombank, por causa do seu papel na gest\u00e3o de transa\u00e7\u00f5es relacionadas com a energia. \u0022Financiando os dois lados do conflito\u0022 Em Bruxelas e em outras capitais europeias, as autoridades insistem que o arsenal de san\u00e7\u00f5es da UE ainda \u00e9 amplo e rico e que os europeus devem sentir-se orgulhosos da resposta massiva contra o presidente russo, Vladimir Putin. Mas \u00e0 medida que a guerra entra no segundo m\u00eas, a importante quest\u00e3o da energia tomou, gradualmente, conta de todo o debate, ofuscando as san\u00e7\u00f5es anteriores e captando todas as aten\u00e7\u00f5es. \u0022A R\u00fassia est\u00e1 a cometer crimes graves e horr\u00edveis contra civis inocentes na Ucr\u00e2nia todos os dias\u0022, disse Urmas Paet, eurodeputado est\u00f3nio, \u00e0 Euronews. \u0022Enquanto estivermos a comprar energia da R\u00fassia, estamos a ajudar a m\u00e1quina de guerra russa a cometer essas atrocidades.\u0022 Desde que a invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia come\u00e7ou a 24 de fevereiro, a UE gastou mais de 21 mil milh\u00f5es de euros em combust\u00edveis f\u00f3sseis russos, incluindo 13 mil milh\u00f5es de euros em g\u00e1s, de acordo com uma ferramenta de rastreamento criada pelo Centro para a Investiga\u00e7\u00e3o da Energia e Ar Puro (CREA), uma organiza\u00e7\u00e3o de pesquisa independente. 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A isen\u00e7\u00e3o tornou-se gritante e altamente problem\u00e1tica para a UE, principalmente depois de os EUA, um pa\u00eds com maior grau de autossufici\u00eancia, anunciarem a proibi\u00e7\u00e3o total das importa\u00e7\u00f5es de energia da R\u00fassia. Blockmans acredita que os 27 ainda t\u00eam espa\u00e7o de manobra e podem melhorar a coordena\u00e7\u00e3o com os aliados para garantir que as san\u00e7\u00f5es em vigor se tornem \u00e0 prova de bala e inevit\u00e1veis. Mas, ressalva, o bloco comunit\u00e1rio encontra-se numa posi\u00e7\u00e3o contradit\u00f3ria, \u0022financiando os dois lados do conflito\u0022 ao comprar g\u00e1s a Moscovo e enviar armas para Kiev. Os l\u00edderes da UE tornaram-se dolorosamente conscientes das a\u00e7\u00f5es c\u00famplices e est\u00e3o a aumentar a press\u00e3o m\u00fatua para tomar medidas dr\u00e1sticas e fechar a torneira do Kremlin. Mas o consenso pol\u00edtico, crucial no bloco para aprovar novas san\u00e7\u00f5es, simplesmente n\u00e3o existe e parece improv\u00e1vel que se concretize enquanto a guerra estiver num ime. A pesar fortemente sobre as capitais europeias est\u00e1 a persistente crise de energia que aflige o continente desde o final do ver\u00e3o. Os pre\u00e7os do g\u00e1s dispararam devido a um desajuste entre oferta e a procura, originado faturas penosamente altas para consumidores e empresas. A guerra s\u00f3 serviu para exacerbar a crise e fez alguns l\u00edderes optarem pela cautela em mat\u00e9ria de abastecimento energ\u00e9tico. Mas a invas\u00e3o tamb\u00e9m revelou a grande vulnerabilidade da UE: a profunda e cara depend\u00eancia dos combust\u00edveis f\u00f3sseis russos. A Comiss\u00e3o Europeia revelou um plano ambicioso para reduzir as importa\u00e7\u00f5es de g\u00e1s russo em dois ter\u00e7os at\u00e9 ao final do ano, embora os detalhes concretos ainda estejam a ser elaborados. A iniciativa apresenta \u00e0 UE uma possibilidade \u00fanica de infligir grande dor ao Estado russo e de paralisar o dispendioso aparelho militar. A maior parte do g\u00e1s que a R\u00fassia envia para o bloco chega atrav\u00e9s de um gasoduto, o que significa que, se a UE come\u00e7ar a cortar consideravelmente as suas compras, a infraestrutura-chave ficar\u00e1 obsoleta e Moscovo n\u00e3o poder\u00e1 encontrar um substituto imediato para preencher a lacuna. \u0022Mesmo que [o plano] n\u00e3o seja uma san\u00e7\u00e3o\u0022, disse Blockmans, \u0022a m\u00e9dio prazo, \u00e9 provavelmente mais devastador do que as san\u00e7\u00f5es atuais, que ser\u00e3o eventualmente suspensas.\u0022 ", "dateCreated": "2022-03-28T16:01:24+02:00", "dateModified": "2022-03-29T16:49:31+02:00", "datePublished": "2022-03-29T16:49:29+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F57%2F56%2F14%2F1440x810_cmsv2_5e255934-5ba6-5fdb-9707-1e9e9340057d-6575614.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "O bloco comunit\u00e1rio est\u00e1, por agora, a avaliar o impacto de todas as medidas impostas at\u00e9 ao momento, mas a possibilidade de novas san\u00e7\u00f5es continua em aberto", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F57%2F56%2F14%2F432x243_cmsv2_5e255934-5ba6-5fdb-9707-1e9e9340057d-6575614.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Liboreiro", "givenName": "Jorge", "name": "Jorge Liboreiro", "url": "/perfis/1858", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@JorgeLiboreiro", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Correspondant \u00e0 Bruxelles" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Decifrar a Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
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Rússia: a fadiga das sanções chegou à União Europeia?

Rússia: a fadiga das sanções chegou à União Europeia?
Direitos de autor Michael Kappeler/AP
Direitos de autor Michael Kappeler/AP
De Jorge Liboreiro
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O bloco comunitário está, por agora, a avaliar o impacto de todas as medidas impostas até ao momento, mas a possibilidade de novas sanções continua em aberto

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Já ou mais de um mês desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia e o conflito não tem fim à vista, pelo menos para já.

Perante a luta sangrenta e a ameaça existencial à democracia, a União Europeia (UE) desencadeou uma ampla série de sanções, numa reação contundente nunca antes vista em crises internacionais anteriores.

Se os conflitos do ado foram caracterizados por ações letárgicas, por problemas internos e facciosismo, a guerra na Ucrânia injetou na UE um renovado espírito de determinação, unidade férrea e velocidade nunca antes vistos.

Os 27 Estados-membros puniram quase todos os setores imagináveis ​​da economia russa: o Banco Central, o sistema financeiro, a indústria aeronáutica, a indústria dos semicondutores, dos bens de luxo e até os meios de comunicação social estatais – todos foram vítimas da retaliação do bloco comunitário.

A dor das medidas de longo alcance já se está a sentir dentro da Rússia: as empresas ocidentais deixaram em massa o país, a inflação disparou para 12,5%, as reservas estrangeiras tornaram-se iníveis e a perspetiva de um incumprimento (default) soberano paira sobre o país.

Mas o Kremlin - inabalado pela condenação internacional - continua a campanha militar, ainda que o avanço tenha parado no terreno e as forças ucranianas lutem para expulsar o exército invasor.

Enquanto isso, a UE fez uma pausa para recuperar o fôlego do mês mais frenético da sua história.

A "trégua" ocorre após uma tentativa fracassada de impor um embargo aos produtos petrolíferos da Rússia, uma das fontes de receita mais lucrativas de Moscovo. A punição proposta, já adotada pelos EUA, revelou-se excessiva para alguns Estados-membros dependentes do petróleo russo, que temem que a potencial interrupção inevitavelmente superasse todos os possíveis benefícios.

Com o bloqueio energético de fora da mesa, pelo menos por enquanto, a resposta da UE está a entrar numa fase de reflexão para avaliar o sucesso prático do vasto catálogo de sanções.

Após um encontro de dois dias em Bruxelas, cuja lista de convidados incluiu o presidente dos EUA, Joe Biden, os líderes da UE evitaram fazer qualquer tipo de anúncio novo e prometeram, simplesmente, "fechar lacunas" e combater "uma real e possível hipótese de contornar" as medidas impostas até ao momento.

"Não se pode esquecer que o pacote de sanções em vigor neste momento é, de longe, o pacote mais duro que já vi na minha vida como político", disse o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, na semana ada.

A ausência de novidades contrastou fortemente com as palavras contundentes do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, que citou nomes dos líderes da UE durante um discurso virtual em que se dirigiu aos chefes de Estado e de Governo da UE.

"De uma vez por todas. Têm de decidir por vós mesmos de que lado estão", disse Zelenskyy a Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, que se opôs a um embargo em matéria de energia.

Ainda que o apelo de Zelenskyy não tenha sido suficiente para influenciar os líderes da UE, que se acostumaram com os discursos apaixonados do presidente, por outro lado, as suas palavras evidenciaram o dilema que cerca o bloco neste ponto específico do conflito: a UE pode dar-se ao luxo de se sentar e de esperar que as sanções façam efeito?

O quinto pacote de sanções

Durante o conflito, Bruxelas numerou cada pacote de sanções para enfatizar a sua quantidade e o caráter cumulativo. A última conjunto, anunciada como o "quarto" pacote de sanções, estabeleceu, entre outras medidas, uma proibição à exportação de bens de luxo made in UE acima de 300 euros e a remoção do estatuto de nação mais favorecida da Rússia na Organização Mundial do Comércio.

A Comissão Europeia disse à Euronews que "não há nada de novo na calha" para um quinto pacote de sanções, mas o executivo comunitário está pronto para dar opções aos Estados-membros opções de acordo com a evolução da guerra.

No entanto, acrescentou um porta-voz, a introdução de mais sanções não depende de um desenvolvimento específico no terreno e cabe aos Estados-Membros decidir se querem levar as coisas adiante.

O uso de armas biológicas e químicas pela Rússia contra os ucranianos seria uma "mudança total de jogo" que exigiria uma resposta extraordinária não só da União Europeia, mas também da NATO, sublinhou o porta-voz.

Por enquanto, o bloco está focado em endurecer as penalidades existentes, ajustar a sua implementação e impedir que indivíduos e empresas que constem da lista negra encontrem uma saída alternativa.

A abordagem de aguardar para ver foi bem recebida em alguns países, como Alemanha e os Países Baixos, que têm laços comerciais profundos com a Rússia e que precisam de mais tempo para se adaptar ao novo normal. Por outro lado, também levantou preocupações sobre a fadiga das sanções.

"É fundamental que as sanções sejam totalmente eficazes, restringindo possíveis evasões. As lacunas devem ser fechadas imediatamente", disse David McAllister, eurodeputado alemão que preside à comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, em comunicado à Euronews.

"Mais medidas restritivas continuam em cima da mesa, dependendo das ações do Kremlin", acrescentou.

A eurodeputada sa Nathalie Loiseau, do grupo Renovar a Europa e colaboradora próxima do presidente Emmanuel Macron, discordou da avaliação, argumentando que o nível "impensável" de destruição e o número de mortos civis justificam colocar "pressão adicional sobre a Rússia para parar esta guerra brutal."

"Não penso que devemos esperar para desencadear sanções adicionais", disse Loiseau à Euronews. "Sou a favor de uma proibição total e temporária do petróleo e do carvão russos para parar de financiar a guerra."

Os comentários de Loiseau encontraram eco nos de Gabrielius Landsbergis, ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, que recentemente disse que a Europa não pode "cansar-se de impor sanções" e "dar uma impressão de fadiga."

Embora a Comissão Europeia se tenha recusado a fornecer detalhes específicos para um possível quinto pacote de sanções, as opções podem incluir restringir o o de navios russos à União Europeia, expandir o catálogo de exportações proibidas, ampliar a lista de oligarcas sancionados e expulsar mais bancos russos do sistema de mensagens SWIFT.

Apesar de ter feito manchetes em todo o mundo, a proibição do sistema SWIFT foi considerada dececionante após o respetivo lançamento porque visou apenas sete bancos e deixou visivelmente de fora a primeira e terceira maiores instituições bancárias da Rússia, o Sberbank e o Gazprombank, por causa do seu papel na gestão de transações relacionadas com a energia.

"Financiando os dois lados do conflito"

Em Bruxelas e em outras capitais europeias, as autoridades insistem que o arsenal de sanções da UE ainda é amplo e rico e que os europeus devem sentir-se orgulhosos da resposta massiva contra o presidente russo, Vladimir Putin.

Mas à medida que a guerra entra no segundo mês, a importante questão da energia tomou, gradualmente, conta de todo o debate, ofuscando as sanções anteriores e captando todas as atenções.

"A Rússia está a cometer crimes graves e horríveis contra civis inocentes na Ucrânia todos os dias", disse Urmas Paet, eurodeputado estónio, à Euronews. "Enquanto estivermos a comprar energia da Rússia, estamos a ajudar a máquina de guerra russa a cometer essas atrocidades."

Desde que a invasão da Ucrânia começou a 24 de fevereiro, a UE gastou mais de 21 mil milhões de euros em combustíveis fósseis russos, incluindo 13 mil milhões de euros em gás, de acordo com uma ferramenta de rastreamento criada pelo Centro para a Investigação da Energia e Ar Puro (CREA), uma organização de pesquisa independente.

A recusa do bloco comunitário em atingir o setor de energia, que gera mais de 40% da receita do orçamento federal da Rússia, está a dificultar a eficácia de todas as outras sanções "massivas", como Bruxelas as chama, e a oferecer a Vladimir Putin uma tábua de salvação muito necessária para continuar a agressão.

“Nesse sentido, as sanções da UE não estão a produzir os efeitos de curto prazo que são proporcionais à violência massiva e devastação que o exército russo está a provocar na Ucrânia”, diz Steven Blockmans, diretor de investigação no Centro de Estudos de Políticas Europeias (CEPS).

A isenção tornou-se gritante e altamente problemática para a UE, principalmente depois de os EUA, um país com maior grau de autossuficiência, anunciarem a proibição total das importações de energia da Rússia.

Blockmans acredita que os 27 ainda têm espaço de manobra e podem melhorar a coordenação com os aliados para garantir que as sanções em vigor se tornem à prova de bala e inevitáveis. Mas, ressalva, o bloco comunitário encontra-se numa posição contraditória, "financiando os dois lados do conflito" ao comprar gás a Moscovo e enviar armas para Kiev.

Os líderes da UE tornaram-se dolorosamente conscientes das ações cúmplices e estão a aumentar a pressão mútua para tomar medidas drásticas e fechar a torneira do Kremlin. Mas o consenso político, crucial no bloco para aprovar novas sanções, simplesmente não existe e parece improvável que se concretize enquanto a guerra estiver num ime.

A pesar fortemente sobre as capitais europeias está a persistente crise de energia que aflige o continente desde o final do verão. Os preços do gás dispararam devido a um desajuste entre oferta e a procura, originado faturas penosamente altas para consumidores e empresas. A guerra só serviu para exacerbar a crise e fez alguns líderes optarem pela cautela em matéria de abastecimento energético.

Mas a invasão também revelou a grande vulnerabilidade da UE: a profunda e cara dependência dos combustíveis fósseis russos. A Comissão Europeia revelou um plano ambicioso para reduzir as importações de gás russo em dois terços até ao final do ano, embora os detalhes concretos ainda estejam a ser elaborados.

A iniciativa apresenta à UE uma possibilidade única de infligir grande dor ao Estado russo e de paralisar o dispendioso aparelho militar. A maior parte do gás que a Rússia envia para o bloco chega através de um gasoduto, o que significa que, se a UE começar a cortar consideravelmente as suas compras, a infraestrutura-chave ficará obsoleta e Moscovo não poderá encontrar um substituto imediato para preencher a lacuna.

"Mesmo que [o plano] não seja uma sanção", disse Blockmans, "a médio prazo, é provavelmente mais devastador do que as sanções atuais, que serão eventualmente suspensas."

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