Só até abril desde ano, os portugueses gastaram cerca de 21 milhões de euros em fármacos injetáveis com o objetivo de redução de peso. Portugal estuda hipótese de comparticipação destes medicamentos.
Os novos fármacos injetáveis são vistos por muitos como uma solução ao nível do milagre para a perda de peso. Fomentado pelas transformações corporais de famosos e influenciadores, o interesse pelas recentes substâncias que podem ser utilizadas para emagrecer tem vindo a aumentar, de tal forma que o fenómeno “Ozempic” pode já ser contabilizado através dos milhões gastos pelos portugueses na farmácia.
De acordo com o jornal Público, que cita números fornecidos pela Autoridade Nacional para o Medicamento/Infarmed, nos primeiros quatro meses deste ano, os portugueses já gastaram cerca de 21 milhões de euros nestes fármacos injetáveis.
Falamos, especificamente, do Mounjaro, nome comercial para a substância tirzepatida e do mais recente Wegovy, nome comercial para a substância semaglutido, recentemente introduzido no mercado português. Ambos estão aprovados em Portugal e têm indicação clínica para o tramento da obesidade, ao contrário do mundialmente famoso Ozempic, que não entra sequer na contabilização destes valores.
Todos estes fármacos imitam o efeito de uma hormona chamada GLP-1 que tem um papel importante na regulação do açúcar no sangue, garantindo que este se mantém em níveis adequados. Além disso, esta hormona faz com que a comida saia do estômago mais devagar, tornando a digestão mais lenta, prolongando, dessa forma, a sensação de saciedade.
Disponível desde 2021, o conhecido Ozempic é apenas indicado para o tratamento da Diabetes tipo 2 (e comparticipado pelo Estado para esse efeito desde 2021), sendo muito usado off-label para o tratamento da obesidade. A questão chegou mesmo a levantar problemas de stock nas farmácias.
Em janeiro deste ano, e perante a escassez destes medicamentos, o Infarmed anunciou a realização de auditorias ao circuito de medicamentos antidiabéticos, como o Ozempic, monitorizando a disponibilidade dos fármacos, sobretudo os agonistas dos recetores GLP-1 (semaglutido, dulaglutido, liraglutido e exenatido) e dos sensores de medição de glicémia. Uma ação coordenada com a Agência Europeia de Medicamentos e com as autoridades congéneres do Infarmed nos restantes Estados-membros da União Europeia.
Portugueses gastam milhões para emagrecer
De acordo com o jornal Público, só nos primeiros dois meses de comercialização dos injetáveis para emagrecimento (novembro e dezembro de 2024), os portugueses compraram 10.680 unidades de tirzepatida. Nestes dois meses, foram gastos 2,6 milhões de euros nas farmácias só nesta substância. A mesma publicação indica que, este ano, o valor subiu em flecha, com os portugueses a gastarem nos primeiros quatro meses de 2025 quase 20 milhões (19.980.608 euros), adquirindo 81.226 unidades de fármaco.
Já o Wegovy, cuja substância ativa é o semaglutido (a mesma do Ozempic, mas numa dose superior) os dados dizem respeito a um mês de comercialização, uma vez que se trata de um medicamento recente, que chegou às farmácias a 7 de abril e chamou, de imediato, a atenção. Em apenas um mês foram gastos quase 1,2 milhões na euros na aquisição de mais de 6.800 unidades deste medicamento, cuja dosagem de 2,4 mg custa 244,80 euros, aponta a publicação.
De recordar que apesar de indicados para o tratamento da obesidade, estes medicamentos não são comparticipados e apenas podem ser utilizados com prescrição e acompanhamento médico.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) já alertou que medicamentos como o Mounjaro não devem ser utilizados para perda de peso por motivos estéticos em pessoas sem obesidade ou problemas de saúde relacionados com o peso.
Governo português estuda possibilidade de comparticipação
Em março deste ano, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia pediu a comparticipação deste tipo de medicamentos para tratar a obesidade e lamentou que os doentes com excesso de peso sejam criticados quando pedem esta medicação.
Na anterior legislatura, o grupo parlamentar do PS recomendou ao Governo a adoção de medidas para que os medicamentos utilizados no combate à obesidade sejam comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS).
No que toca à União Europeia, atualmente, não existe nenhum país que comparticipe oficialmente o Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade. França iniciou um processo que pode levar à comparticipação deste fármaco para perda de peso em casos específicos mas, pelo menos por enquanto, o medicamento está fora da lista de comparticipações do sistema de saúde do país.
No Reino Unido, tanto o Mounjaro como o Wegovy estão disponíveis no NHS, com critérios de elegibilidade e prazos de implementação específicos. O Mounjaro está disponível nos serviços especializados de controlo de peso do NHS (Serviço Nacional de Saúde britânico), enquanto o Wegovy está disponível através de clínicas especializadas em controlo de peso, após indicação de um médico de clínica geral.
Em Portugal, e de acordo com os dados mais recentes, relativos ao ano de 2022, mais de 53% da população portuguesa tem excesso de peso ou obesidade. Números um pouco acima da União Europeia onde, em 2022, aproximadamente 50,6% das pessoas com 16 anos ou mais apresentavam excesso de peso e cerca de 17% dos adultos eram considerados obesos.