A Europa está a investir na exploração mineira local para reduzir a dependência das importações e incentivar a transformação ecológica e digital. Visitamos um dos 47 projetos estratégicos da UE, que tem como objetivo aumentar a produção de matérias-primas para reduzir a dependência das importações.
As tensões e os conflitos geopolíticos, como o da Ucrânia, fizeram com que a UE se apercebesse da sua vulnerabilidade ao depender de apenas um ou até alguns países para obter recursos fundamentais.
A lógica do gás russo aplica-se também aos chamados materiais críticos, recursos naturais essenciais para a economia.
A UE quer agora tornar-se mais autossuficiente ao aumentar a capacidade interna de produção de matérias-primas e diversificar as fontes de abastecimento. Mas como? E a que preço? É esse o tema deste episódio de Europeans’ Stories.
A União Europeia precisa de matérias-primas críticas para atingir os objetivos de neutralidade climática do Pacto Ecológico nos campos da transição digital, da segurança e defesa e das indústrias espacial e da inovação.
A UE identificou 34 matérias-primas críticas, incluindo o lítio, o cobalto, os elementos de terras raras e o magnésio.
Mas muitas delas têm cadeias de abastecimento de alto risco. Por exemplo, 63 % do cobalto mundial é extraído na República Democrática do Congo e 100 % das terras raras utilizadas nos ímanes permanentes são refinadas na China.
Em 2024, a UE aprovou a Lei das Matérias-Primas Críticas, com o objetivo de aumentar a capacidade interna de matérias-primas estratégicas.
A lei estabelece que, até 2030, a Europa deve extrair 10 % das necessidades anuais da UE, transformar 40 % e reciclar 25 %. A percentagem de matérias-primas estratégicas provenientes de um único país terceiro para suprir as necessidades anuais da UE deve estar abaixo dos 65 %.
A exploração mineira está profundamente enraizada na história das montanhas de minério, que se estendem ao longo da fronteira entre a Chéquia e a Alemanha. Aqui, as reservas de estanho e tungsténio foram exploradas desde a Idade Média até aos anos 90, altura em que deixaram de ser rentáveis. Atualmente, tudo o que resta desse período é um museu, mas a transição energética está a dar origem a novas possibilidades.
O lítio é um elemento crucial para a produção de baterias e os especialistas estimam que entre três e cinco por cento das reservas mundiais de lítio estejam sob a cidade checa de Cínovec.
A Geomet, uma empresa privada com participação estatal, está a trabalhar para criar aquilo que diz ser uma cadeia de produção amiga do ambiente. Trata-se de um dos 47 projetos estratégicos selecionados pela Comissão Europeia para aumentar a capacidade interna de produção de matérias-primas estratégicas.
"Iremos extrair quase 3 milhões de toneladas de minério por ano e produzir cerca de 30 mil toneladas de produto final por ano", afirma Tomáš Vrbický, um geólogo que trabalha para a Geomet.
A empresa planeia não só extrair o minério, mas também produzir carbonato de lítio, um ingrediente fundamental utilizado na indústria das baterias. É raro uma empresa realizar o processo por completo de forma interna, sem recorrer a países terceiros: os desafios serão muitos e o custo mais elevado.
Quão realistas são os planos da Europa?
Até 2030, a Europa tem como objetivo extrair 10 % das necessidades anuais, transformar 40 % e reciclar 25 %.
Starý Jaromír, chefe do departamento do Serviço Geológico Checo, duvida que estes objetivos possam ser atingidos em tão pouco tempo.
"É um objetivo pouco realista, porque algumas das matérias-primas críticas para a União Europeia não se encontram no continente europeu e não são atualmente extraídas. Neste momento, é impossível garantir que algumas das matérias-primas críticas venham a ser tratadas em quantidades que possam suprir 10 % do consumo europeu."
Quando questionado sobre se a necessidade de matérias-primas críticas está a fazer com que a Europa não dê a devida importância à poluição que advém da exploração mineira, o geólogo Gabriel Zbyněk, do Serviço Geológico Checo, diz que os métodos de exploração mineira, bem como a legislação europeia, evoluíram no que diz respeito à forma como a exploração mineira é supervisionada e controlada, e acrescenta: "Estas matérias-primas são realmente essenciais para a UE. E seria um pouco hipócrita dizer que não precisamos de explorações mineiras internas, que o produto pode ser extraído noutro lugar do mundo e que não nos interessa a forma como isso é feito. Sobretudo quando não é no nosso território."
Toda a extração de minerais implica um certo grau de poluição que, embora não seja totalmente evitável, pode ser minimizado. O desafio que a Europa enfrenta agora é encontrar o equilíbrio certo entre a necessidade de uma indústria menos poluente e socialmente justa e os custos mais elevados que isso implica.