Numa entrevista exclusiva à Euronews, o Presidente polaco Andrzej Duda sublinhou que a dissuasão, e não o medo, é a melhor estratégia de defesa da NATO.
Nos últimos meses, tem-se especulado sobre a possibilidade de os Estados Unidos reduzirem a sua presença militar na Polónia e noutros países do flanco oriental da NATO. Mas o Presidente polaco, Andrzej Duda, apressa-se a rejeitar essas preocupações.
Numa entrevista exclusiva à Euronews, reafirmou que as tropas americanas continuam a ser uma parte inabalável da infraestrutura de defesa da Polónia, e que a sua presença não está a enfraquecer, mas sim a evoluir.
"Há vários milhares de soldados americanos no nosso território a toda a hora, cerca de 10.000. E esta cooperação é estreita, constante e está a tornar-se mais forte, por isso não tenho dúvidas", afirmou Duda.
"Foi muito semelhante a uma rotação em Jasionka, que significa simplesmente transferir responsabilidades para as mãos de outras unidades. E aconteceu. Fomos informados disso, tal como fomos informados de que esses soldados seriam transferidos para outros locais na Polónia", acrescentou.
"Vou certamente persuadir o presidente dos Estados Unidos a ter mais unidades americanas aqui, para que garantam ainda mais a segurança."
Estabilidade tranquilizadora: Presença, não retirada
Duda é claro na sua opinião de que o flanco oriental da NATO não está a ser enfraquecido, mas sim a sofrer ajustes de rotina. Para ele, a presença a longo prazo das forças americanas na Polónia é uma garantia estratégica fundamental.
Apesar das especulações sobre a rotação das tropas em Jasionka, sublinhou que a aliança com os Estados Unidos continua a ser forte e pró-ativa.
No ano ado, antes da cimeira da NATO em Washington, Duda apelou a um aumento das despesas com a defesa entre os membros da aliança.
Este ano, durante as discussões em Bruxelas com o Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, propôs formalmente o aumento da contribuição para a defesa de 3 para 4% do PIB.
Para a Polónia, que partilha uma fronteira com a Bielorrússia e está próxima da guerra na Ucrânia, a questão é mais do que política — é existencial.
Outra componente essencial da política de dissuasão da Polónia é a presença contínua das tropas da NATO, especialmente das forças americanas, em solo polaco.
Negociar com Trump é um "jogo de negócios difícil"
Questionado sobre se estava desiludido com o segundo mandato do Presidente dos EUA, Donald Trump, Duda disse estar consciente de que Trump foi eleito pelos contribuintes americanos e que, por isso, deve ter em conta esses interesses em primeiro lugar.
"Embora eu tente sempre mostrar que os interesses que os Estados Unidos têm na Europa são também interesses estratégicos, que os Estados Unidos retiram benefícios mensuráveis das relações com a Europa. E este é o sistema de equilíbrio, que tem funcionado ininterruptamente desde a Segunda Guerra Mundial", acrescentou Duda.
Comentando a ideia de os EUA imporem pautas aduaneiras aos produtos europeus, o Presidente polaco afirmou que Trump é específico, uma vez que entrou na política vindo do mundo dos negócios.
"Durante a maior parte da sua vida, foi um homem de negócios num mercado económico americano muito difícil. Em setores extremamente competitivos nos Estados Unidos ... no setor do desenvolvimento. Era dono de casinos", explicou Duda.
"Portanto, trata-se de um homem a quem é ensinado um jogo comercial específico e que tem os seus próprios métodos e jogos comerciais difíceis, desenvolvidos ao longo de décadas. Transfere-os para a política e joga muito a sério".
"Mas isto (...) é simplesmente um jogo de negócios que o Presidente Donald Trump trouxe para a política neste momento e que está a seguir com firmeza no seu segundo mandato. Temos de negociar com ele, temos de negociar duramente com ele, pura e simplesmente", acrescentou Duda.
Avisos sobre a mentalidade KGB de Putin
Apesar das inúmeras controvérsias, Duda ainda espera que Trump e os EUA consigam negociar um acordo de paz que ponha fim à guerra de Moscovo na Ucrânia, porque a Rússia só conta com os EUA.
Recordou que, durante uma das suas visitas a Washington, avisou Trump e os seus associados de que o presidente russo não é um político comum. É um agente do KGB que tem condições completamente diferentes, e isso deve ser tido em conta, segundo Duda.
"Foi educado para ser um oficial dos serviços secretos soviéticos com competências muito específicas, que certamente tem e que utilizou na prática, trabalhando na Alemanha de Leste, na chamada RDA... como representante dos serviços secretos soviéticos russos", explicou o Presidente polaco.
"E isso deve ser tido em conta quando se fala com este homem. Não é propriamente um político. Em grande parte, continua a ser apenas um oficial dos serviços russos".
Lições da história
De acordo com Duda, nos anos que antecederam a invasão total da Ucrânia pela Rússia, no início de 2022, a Europa cometeu muitos erros na sua política em relação à Rússia, fazendo demasiadas concessões.
Duda também mencionou a cimeira da NATO em Bucareste, em 2008, durante a qual, apesar das promessas anteriores, a Geórgia e a Ucrânia não receberam o Plano de Ação para a Adesão (MAP). Este facto deveu-se à resistência da França e da Alemanha.
Isto, por sua vez, encorajou Putin a invadir a Geórgia em 2008 e a anexar a Crimeia em 2014.
"Na verdade, a Rússia estava a jogar com os grandes da Europa e a fortalecer-se para atacar mais uma vez, o que fez em 2022 com a sua agressão aberta, frontal e em grande escala, como dizemos, contra a Ucrânia", disse Duda.
Só os EUA podem mediar a paz, diz Duda
Duda afirmou que só os Estados Unidos — e, em particular, o seu homólogo norte-americano — têm o poder de pôr fim à guerra que a Rússia está a travar na Ucrânia.
Duda avisou também que um futuro acordo de paz exigirá compromissos dolorosos de ambas as partes, incluindo concessões da Ucrânia, e apelou a uma cooperação transatlântica renovada para garantir a estabilidade a longo prazo na região.
"Hoje, a minha conclusão é absolutamente inequívoca: não há ninguém fora dos Estados Unidos que possa travar Putin", disse Duda.
"É por isso que acredito que o Presidente Donald Trump, com a sua determinação, pode pôr fim a esta guerra".
A cooperação regional e a Iniciativa dos Três Mares
Andrzej Duda também falou sobre a Iniciativa dos Três Mares, da qual foi um dos fundadores em 2015, juntamente com a presidente croata, Kolinda Grabar Kitarović.
Um total de 13 países localizados nas regiões do Adriático, do Báltico e do Mar Negro, pertencentes à União Europeia, fazem parte da iniciativa para cooperar entre si no domínio dos transportes e da segurança energética, entre outros.
"Para nós, o mais importante era a segurança energética e as oportunidades de desenvolvimento empresarial, mas também o turismo", disse Duda.
A Iniciativa dos Três Mares não é uma competição para a União Europeia, mas, pelo contrário, um aprofundamento da cooperação regional dentro do bloco, acrescentou.
A cimeira do jubileu da Iniciativa dos Três Mares terá lugar em Varsóvia na segunda e na terça-feira.