Falsas informações sobre a adesão da Bulgária à zona euro têm vindo a distorcer o debate nacional sobre a adoção da moeda única.
À medida que a Bulgária avança no seu caminho para aderir à zona euro até 2026, informações falsas têm vindo a distorcer o debate nacional em torno da adoção do euro.
O partido pró-russo Vazrazhdane, também conhecido por Revival, tem sido um dos principais atores na disseminação de desinformação sobre a zona euro.
Em fevereiro, os seus membros tentaram invadir a sede da missão da União Europeia, em Sófia, como parte de um protesto contra a zona euro. Em resposta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou o ataque de "ultrajante".
A Bulgária aderiu à União Europeia em 2007, mas a data prevista para a sua adesão à zona euro foi adiada várias vezes.
A Europa pode confiscar as poupanças pessoais?
Rada Laykova, eurodeputada búlgara, afirmou que a Europa pode confiscar o dinheiro das poupanças pessoais e das pensões dos cidadãos, se estes não o gastarem dentro de um determinado prazo.
Na mesma entrevista de abril ao comentador búlgaro Martin Karbovski, Laykova acrescentou que a Europa estava a discutir a utilização deste dinheiro para financiar projetos militares.
Estas afirmações são falsas e fazem parte de uma narrativa de desinformação mais alargada, que acusa falsamente Bruxelas de querer mergulhar nas poupanças dos contribuintes.
Alegações semelhantes começaram a surgir na Internet depois de a Comissão Europeia ter feito dois grandes anúncios em março - os seus planos para mobilizar 800 mil milhões de euros para o rearmamento europeu ao longo dos próximos quatro anos, bem como uma proposta para lançar uma União da Poupança e do Investimento.
Na realidade, as poupanças dos europeus estão protegidas por uma série de mecanismos legais e não podem ser confiscadas indiscriminadamente.
Por outro lado, a União da Poupança e do Investimento é um projeto que visa incentivar os europeus a investir as suas poupanças em ativos da UE, em vez de as deixarem depositadas em contas bancárias.
"O partido Revival está a retirar as discussões reais que a Europa está a ter, retirando palavras do contexto de documentos oficiais relativos à União de Poupança e Investimento, por exemplo, e misturando-as com informações falsas", disse à Euronews Ruslan Stefanov, economista-chefe do Centro para o Estudo da Democracia.
O líder do partido Revival, Kostadin Kostadinov, também alegou que, após a adesão da Bulgária à zona euro, os cidadãos perderiam as suas poupanças devido a uma "taxa de câmbio diferente" da atual taxa fixa que está a ser implementada.
Esta afirmação é falsa, uma vez que o Parlamento búlgaro adotou uma lei sobre a introdução do euro que consagrava uma taxa de câmbio fixa entre o euro e o lev. A lei sobre a introdução do euro também estipula que as taxas de juro dos empréstimos não serão alteradas após a entrada na zona euro.
Uma campanha de desinformação ligada à Rússia
Os membros do partido Revival estão longe de ser os únicos a espalhar desinformação na Bulgária sobre a zona euro e a Europa em geral, uma vez que uma rede de canais Telegram, contas de redes sociais e meios de comunicação social propagam afirmações semelhantes.
O Pravda, uma vasta rede de mais de 190 sites que propagam narrativas pró-Kremlin em dezenas de línguas, desempenha um papel fundamental na divulgação de falsas narrativas.
O Centro de Informação, Democracia e Cidadania da Universidade Americana na Bulgária analisou mais de 640 000 publicações na rede entre dezembro de 2024 e março de 2025, revelando que a Bulgária se encontrava entre os dez países mais visados pela rede Pravda.
"Os esforços da Rússia para espalhar desinformação sobre a campanha da zona euro na Bulgária são altamente coordenados, são construídos num vasto e bem financiado ecossistema que mistura os meios de comunicação oficiais do Estado russo com uma rede de atores não oficiais, que são sites, blogs e influenciadores na Bulgária", disse Svetoslav Malinov, analista do Centro de Democracia, à Euronews.
Por que razão a Bulgária é vulnerável a esta desinformação?
A Bulgária foi um dos Estados satélites mais leais da União Soviética durante a Guerra Fria.
Esta relação histórica, associada a níveis de educação relativamente baixos no país, em comparação com o resto da Europa, torna a Bulgária particularmente vulnerável à desinformação russa.
"Um dos principais factores que tornam as campanhas contra a zona euro tão eficazes é a baixa literacia mediática na Bulgária", afirmou Malinov.
De acordo com o relatório nacional da Década Digital de 2023, 31% dos búlgaros possuem competências digitais básicas, abaixo da média da UE de 54%.
"O euro, enquanto símbolo visível da unidade da UE, torna-se um alvo fácil e poderoso para essas campanhas de desinformação da Rússia", concluiu Malinov.