O executivo europeu anunciou que irá retaliar contra as tarifas norte-americanas sobre o alumínio e o aço, caso estas se confirmem, considerando-as ilegais e contraproducentes.
A União Europeia (UE) reagirá para proteger os seus interesses contra as taxas aduaneiras "ilegais e economicamente contraproducentes" sobre o alumínio e o aço, anunciadas pelos Estados Unidos, caso estas se confirmem, afirmou esta segunda-feira a Comissão Europeia, num comunicado.
"A UE não vê qualquer justificação para a imposição de tarifas aduaneiras sobre as suas exportações. Reagiremos para proteger os interesses das empresas, dos trabalhadores e dos consumidores europeus contra medidas injustificadas", lê-se na referida declaração.
"A imposição de taxas aduaneiras seria ilegal e economicamente contraproducente, especialmente tendo em conta as cadeias de produção profundamente interligadas que a UE e os EUA estabeleceram através do comércio e investimento transatlânticos", acrescentou.
No domingo, o presidente dos Estados Unidos declarou que pretendia impor uma tarifa de 25% sobre todo o aço e alumínioque chegasse aos EUA, sem especificar se as importações europeias seriam afetadas.
A Comissão Europeia afirmou, no entanto, que não recebeu qualquer notificação oficial e que não responderá a anúncios "sem pormenores e esclarecimentos por escrito".
Trump já anunciou taxas contra o México, o Canadá e a China, tendo indicado que também irá visar a UE.
A UE afirma que o comércio entre o bloco e os EUA beneficia ambas as partes, com um excedente, no que toca a bens, de 155,8 mil milhões de euros para os europeus, e de 104 mil milhões de euros para os americanos, no que diz respeito aos serviços.
Durante uma entrevista à CNN, no domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o principal adversário dos EUA deve ser a China e que a Europa é um aliado.
“A União Europeia é o vosso primeiro problema? Não, penso que não. O vosso primeiro problema é a China, por isso devem concentrar-se no primeiro problema”, disse Macron ao canal de televisão norte-americano, acrescentando: “A Europa é um aliado para vocês. Se querem que a Europa se empenhe em mais investimento, segurança, defesa, se querem que a Europa se desenvolva, o que penso que é do interesse dos EUA, não devem prejudicar as economias europeias ameaçando-as com tarifas”.
O alumínio e o aço estiveram no centro de uma disputa comercial entre a UE e os EUA durante o primeiro mandato de Trump. Nessa altura, os EUA impam tarifas de 25% sobre o aço europeu e de 10% sobre o alumínio, invocando razões de "segurança nacional". A UE retaliou impondo taxas sobre o whisky Bourbon, as motas Harley-Davidsons e uma série de outros produtos. As tarifas aduaneiras foram temporariamente levantadas durante a istração Biden, mas apenas até março deste ano.
Um alto-funcionário da UE disse à Euronews que a Comissão foi informada pela istração norte-americana das declarações do presidente Donald Trump no domingo. A instituição europeia continua a esperar que o diálogo seja possível.
O porta-voz da UE disse ainda aos jornalistas que a UE continua “empenhada num diálogo construtivo com os EUA”, acrescentando que “agora é altura de colaboração e não de confronto”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, irá encontrar-se com o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, em Paris, na terça-feira, à margem de uma cimeira sobre a Inteligência Artifical. A agenda da reunião não foi revelada mas as relações comerciais entre a UE e os EUA estarão em destaque.
Lidar com a possibilidade de tarifas
“Podemos fazer como da última vez e retaliar sobre bens específicos nos EUA”, disse Varg Folkman, analista político do Centro de Política Europeia (EPC), à Euronews.
“A UE poderia fazer o mesmo que fez com o aço e impor uma ação de salvaguarda, que é uma barreira tarifária na UE em geral que protege os produtores comunitários. Essa medida ainda está em vigor desde que a impusemos em 2019 e vai vigorar até 2026”, acrescentou.
Os defensores do comércio livre acreditam que as ideias tarifárias apresentadas por Donald Trump não são propícias ao crescimento.
“No mundo moderno, o comércio é interdependente e muitos produtos e vários componentes de produtos são fabricados em diferentes países”, disse o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, à Euronews.
“Como aprendemos durante a experiência da COVID-19, até 50 países estavam envolvidos em diferentes componentes de uma vacina, o que ilustra a interdependência e a complexidade das cadeias de abastecimento”, acrescentou.
Outros sublinham que as medidas seriam contraproducentes também para os EUA: “O impacto nos EUA é precisamente o oposto do que Trump prometeu, que é baixar a inflação para melhorar a economia. E penso que o que os europeus precisam de ter em mente é que Trump não é imune à gravidade política”, disse Brett Bruen, presidente da Global Situation Room, à Euronews.
“Ele quer reciprocidade. Ele quer ter paridade com alguns dos nossos parceiros comerciais, e particularmente aqui na União Europeia. As coisas que têm incomodado os americanos são os regulamentos e as tarifas sobre coisas como a tecnologia e alguns outros produtos americanos que ainda enfrentam barreiras aqui no mercado europeu”, acrescentou.
Por último, uma outra possibilidade poderia ser que Donald Trump planeie utilizar a ameaça de tarifas para ganhar influência, pressionando assim os Estados-membros da UE a aumentar as suas despesas com a defesa ou a reduzir a regulamentação do setor tecnológico.