Depois de a Rússia ter afirmado que a Sérvia estava a fornecer munições à Ucrânia, Belgrado negou todas as alegações, com o presidente Aleksandar Vučić a afirmar que estava disposto a investigar as alegações em conjunto com Moscovo.
A Rússia acusou a Sérvia de exportar armas para a Ucrânia, considerando que se trata de uma "facada nas costas" de um dos mais antigos aliados europeus de Moscovo.
O Serviço de Informações Externas da Rússia (SVR) emitiu um comunicado na quinta-feira, afirmando que "as empresas de defesa sérvias, contrariamente à 'neutralidade' declarada por Belgrado de forma oficial, continuam a fornecer munições a Kiev".
A declaração alegava que a exportação de armas sérvias para a Ucrânia ava por intermediários da NATO, "principalmente a Chéquia, a Polónia e a Bulgária".
"Recentemente, opções exóticas envolvendo Estados africanos também foram usadas para este fim", disse o SVR.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vučić, negou as acusações na sexta-feira, dizendo que, embora o contrato com a Chéquia exista, não permite a exportação do material para outro país.
"Por exemplo, eles dizem corretamente que existe um contrato com a Chéquia. Mas não foi dada qualquer autorização e nenhuma (munição) foi entregue" à Ucrânia, disse Vučić à emissora estatal sérvia RTS.
Vučić acrescentou que já tinha discutido a questão das exportações de armas para a Ucrânia com o presidente russo, Vladimir Putin, recentemente, e que ficou acordado que Moscovo e Belgrado criariam um "grupo de trabalho" para determinar como é que as armas de fabrico sérvio chegaram à Ucrânia.
Moscovo critica "acões anti-russas"
Esta não é a primeira vez que Vučić tem de responder a afirmações semelhantes.
O Financial Times noticiou, em junho de 2024, que munições sérvias no valor de 750 milhões de euros tinham chegado indiretamente à Ucrânia.
Em março, Belgrado negou ter exportado armas para Kiev, depois de Moscovo ter exigido saber se tinha entregue milhares de rockets para a defesa da Ucrânia contra a invasão total da Rússia.
A presença de armas sérvias na Ucrânia, na sua maioria munições de calibre da era soviética adoptadas como padrão e fabricadas na antiga Jugoslávia, tem sido discutida publicamente desde 2023, mas não é claro por que razão o serviço de segurança externa russo decidiu reagir agora.
O SVR afirmou que as vendas de armas estão a ser efetuadas através de um "esquema simples que utiliza certificados de utilizador final e países intermediários falsos", servindo de "cobertura para ações anti-russas".
As acusações de Moscovo foram ainda mais longe, afirmando que "a contribuição dos trabalhadores da indústria de defesa sérvia para a guerra desencadeada pelo Ocidente, cujo resultado a Europa gostaria de ver como uma 'derrota estratégica' da Rússia, ascende a centenas de milhares de cartuchos ... bem como a um milhão de munições para armas ligeiras".
"Parece que o desejo dos trabalhadores da indústria de defesa sérvia e dos seus patronos de lucrarem com o sangue de povos eslavos fraternos os fez esquecer completamente quem são os seus verdadeiros amigos e quem são os seus inimigos", diz o comunicado.
Vučić afirmou que os ataques contra a Sérvia vindos do Leste e do Oeste são "frequentes" porque Belgrado "conduz políticas autónomas e independentes".
A Sérvia é um dos países dos Balcãs Ocidentais que é considerado um dos principais candidatos à adesão à UE. Ao mesmo tempo, Vučić tem mantido laços estreitos com a Rússia, inclusive após a invasão em grande escala da Ucrânia por Moscovo.
Vučić esteve entre os poucos líderes europeus que assistiram ao desfile do Dia da Vitória de Putin em Moscovo, a 9 de maio, uma decisão que Vučić defendeu dizendo que estava lá para celebrar a participação da Sérvia na libertação do continente do fascismo na Segunda Guerra Mundial.
A Sérvia também se recusou a aderir às sanções ocidentais contra a Rússia e não apoiou a maioria das declarações da UE que condenam a invasão em grande escala de Moscovo, embora tenha votado a favor da sua condenação na ONU.